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Rubens Vieira
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Est. de São Paulo - IPT, São Paulo, Brasil, rvieira@ipt.br
RESUMO: Para determinar o fator de empolamento dos solos escavados em duas jazidas situadas
na cidade de Vitória, onde ocorrem solos sedimentares da formação Barreiras, e em uma jazida
situada na cidade de Goiânia, em área de solos resultantes da alteração de rochas do Complexo
Goiano, foram realizados ensaios de campo em verdadeira grandeza que consistiram basicamente
em medir as densidades e umidades dos solos escavados, tal como estes se encontravam na
natureza, e destes quando embarcados em caminhões. Para as medições dos volumes escavados e
dos embarcados, contou-se com apoio de levantamentos topográficos de precisão. A caracterização
geotécnica dos solos foi realizada em laboratório a partir de coleta de amostras indeformadas e
deformadas. Os resultados obtidos permitem concluir que o empolamento não depende unicamente
do tipo de solo das jazidas, como indicado na maioria da bibliografia pesquisada, mas é altamente
influenciado pela sua densidade in situ, podendo variar significativamente para um mesmo tipo de
solo dentro da mesma jazida. Além do mais, se for válida a hipótese, a ser comprovada em outros
solos, de que a massa específica seca solta do solo embarcado varia de maneira pouco significativa
numa dada área de empréstimo, como os dados obtidos nesta investigação sugerem, a variação do
empolamento com a densidade seca in situ pode ser considerada linear. Propõe-se que, em locais
como os estudados neste trabalho, o controle tecnológico do fator de empolamento seja feito a
partir da determinação da sua massa específica seca natural, obtida em ensaios sobre amostras
indeformadas coletadas à medida que a escavação progride.
1 INTRODUÇÃO ρcorte
f = −1 (2)
ρ solto
Um fenômeno característico dos solos,
importante nos trabalhos de terraplenagem, é o sendo ρcorte e ρsolto respectivamente os valores
empolamento ou expansão volumétrica do solo. das massas específicas do material do corte e do
Após a escavação, o solo apresenta um volume material após desmonte.
solto (Vsolto) maior do que aquele em que se Para o cálculo do volume de transporte em
encontrava em seu estado natural (Vcorte). O obras de terraplenagem é usual a adoção de
fator de empolamento, geralmente apresentado valores de fator de empolamento dos solos
em porcentagem, é definido pela expressão: indicados na literatura técnica (Tabelas 1 a 4) e
menos frequentemente a realização de ensaios
Vsolto − Vcorte de campo para a sua obtenção nas condições
f = (1) reais em que este se encontra na natureza.
Vcorte
Ricardo e Catalani (1990) e Trenter (2001)
ou então em termos de massa específica: apresentam valores do fator de empolamento
como sendo uma função somente do tipo de De modo geral, todas as publicações
solo. Por outro lado, Pereira (1961) considera concordam que quanto maior a porcentagem de
também o estado em que o solo se encontra finos, maior é o fator de empolamento. Por
(natural ou compactado) e finalmente o Manual exemplo, apresentam valores desde 10% para
Caterpillar de Terraplenagem (apud solos granulares até 43% para solos coesivos no
portal.riocusto.com.br) considera o tipo de solo estado natural. Além disso, os dados das
e a sua condição de umidade. Tabelas 1 e 3 sugerem que a umidade não influi
significativamente no valor do empolamento.
Tabela 1. Valores do fator de empolamento segundo Outro aspecto que se destaca nas publicações
Ricardo e Catalani (1990)
consultadas é a utilização de nomenclatura não
Empola-
Material
mento (%)
técnica para definir os materiais investigados,
tais como “terra comum” ou “terra molhada”, o
Solo arenoso seco 12
que dificulta a interpretação geotécnica dos
Terra comum seca (solos dados e a sua síntese. Nesse aspecto, a
25
argilo-siltosos com areia)
classificação utilizada por Trenter (2001) está
Terra comum úmida 25 melhor explicitada, além do que fornece faixa
Solos argilosos 40 de valores para o fator de empolamento em
função do tipo de solo.
Tabela 2. Valores do fator de empolamento, modificado Para avaliar o fator de empolamento dos
de Pereira (1961)
solos escavados em jazidas de duas obras de
Estado do Empolamento grande porte situadas em Vitória e Goiânia, em
Material
solo (%)
formações geológicas distintas, realizaram-se
Natural 11 ensaios de campo e laboratório cujos detalhes e
Areia
Compactado 17 resultados estão apresentados a seguir. Os
Argila
Natural 43 dados obtidos nessa investigação contribuem
Compactado 59 para o entendimento dos fatores que
Terra Natural 25 influenciam no empolamento dos solos.
comum Compactado 39
2 LOCAIS ESTUDADOS E ASPECTOS
Tabela 3. Valores do fator de empolamento, modificado GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS
do manual da Caterpillar
Empola- Massa específica 2.1 Locais Estudados
Material mento (kg/m3)
(%) Corte Solto Foram selecionados três locais para estudo na
Areia seca 10 1320 1140 cidade de Vitória-ES e um na cidade de
1470 a 1290 a Goiânia-GO.
Areia molhada 10 a 15
2340 2130 Em Vitória, os locais foram denominados de
Argila seca 40 1620 1170 Jazida A, Jazida B (distante cerca de 15 km da
Argila molhada 40 2100 1500 jazida A) e Jazida C (distante cerca de 14 km da
Terra seca 15 a 35 1020 750 jazida A e cerca de 6 km da jazida B). As três
Terra molhada 25 2100 1680 jazidas foram investigadas geotecnicamente,
mas os ensaios de empolamento foram
Tabela 4. Fatores de empolamento segundo Trenter realizados somente nas Jazidas A e B.
(2001) Em Goiânia, na única jazida estudada, foram
Empolamento selecionados para caracterização geotécnica
Solo
(%) quatro locais distintos, denominados de D1 a
Granular 10 a 15 D4. Os ensaios de empolamento foram
Coesivo 25 a 40 realizados em três desses locais, a saber: D1,
Turfa 25 a 45 D2 (distante 880m de D1) e D4 (distante 600 m
Vegetal 25 a 45 do D1 e 360m de D2).
2.2 Aspectos Geológicos das Jazidas máfico-ultramáfico (Complexo Goiano). Estes
solos têm composição predominantemente
Nas Jazidas A, B e C ocorrem solos argilosa de coloração vermelha escura com
sedimentares da Formação Barreiras. Essa grânulos de quartzo esparsos e às vezes veios de
formação acompanha o litoral brasileiro, quartzo que resistiram aos processos
estendendo-se desde o Estado do Rio de Janeiro intempéricos e hoje aparecem em meio ao solo.
até o Amapá. Segundo estudos paleontológicos Apresentam ainda minerais máficos e raras
e sedimentológicos (Arai 2006), é constituída lamelas de mica em alguns pontos. A Figura 2
por sedimentos continentais com forte apresenta um detalhe deste solo e da sua
influência marinha, decorrente da elevação amostragem para ensaios de laboratório.
eustática ocorrida entre 12 e 20 milhões de anos
atrás. A Figura 1 apresenta um detalhe das 2.3 Características Geotécnicas dos Solos das
camadas de solos estudadas e que estão Jazidas
caracterizadas a seguir.
2.3.1 Jazidas A, B e C
100
Peneiras (ASTM) N0 200 100 50 40 30 16 10 4 9.5 mm 19 25 38
0 confirmando os resultados de granulometria.
90 10
80 20 60
70 30
linha U
60 40 50
linha A
50 50
CH
40 60 40
Jazida A
30
Jazida B 70
20
Jazida C 80 30
10 90
M H ou
0 100 20
0.0005 0.001 0.01 0.1 1 10 50 CL OH
ARGILA SILT E AREIA FINA AREIA MÉDIA A. GROSSA PEDREGULHO
CLASSIFICAÇÃO
NBR 6502/1995 DIÂMETRO DOS GRÃOS (mm)
M L ou
10
OL
Figura 3. Jazidas A, B e C: curvas granulométricas CL-M L
agrupadas por área de empréstimo. 0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
LIMITE DE LIQUIDEZ (%)
GRANULOMETRIA
Peneiras (ASTM) 0 50 9.5 mm
N 200 100 40 30 16 10 4 19 25 38
100 0
Jazida A - amarela Jazida B - amarela Jazida B - amarela
90 10
Jazida A - vermelha Jazida B - vermelha Jazida C - vermelha
80 20
Jazida A - variegada
70 30
60 40
20
Variegada 80 2000
Amarela
10 90
Jazida A - amarela
0 100
1950 Jazida A - vermelha
0.0005 0.001 0.01 0.1 1 10 50
ARGILA SILTE AREIA FINA AREIA MÉDIA A. GROSSA PEDREGULHO
CLASSIFICAÇÃO
NBR 6502/1995 DIÂMETRO DOS GRÃOS (mm)
Jazida A - variegada
1900
Figura 4. Jazidas A, B e C: curvas granulométricas Jazida B - amarela
90 10
80 20
60
30
70
linha U
50
60 40
linha A
50 50
CH
40 60
40
30 70
20 80
30
10 90
M H ou
20
0 100 CL OH
0.0005 0.001 0.01 0.1 1 10 50
ARGILA SILTE AREIA FINA AREIA MÉDIA A. GROSSA PEDREGULHO
CLASSIFICAÇÃO
NBR 6502/1995 DIÂMETRO DOS GRÃOS (mm) M L ou
10
OL
Figura 7. Jazida D: curvas granulométricas obtidas. CL-M L
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Como se pode constatar, esses solos são LIMITE DE LIQUIDEZ (%)
argilas areno-siltosas, sendo a fração areia Figura 8. Jazida D: posição dos solos na Carta de
Plasticidade.
constituída de areia fina e média. Na Carta de
Plasticidade eles se posicionam na região Os valores do índice de laterização L obtidos
correspondente à classificação CL. As análises foram quase sempre superiores a 0,30, condição
mineralógicas da fração argila indicaram a em que o solo é considerado laterítico. O valor
presença predominante de caulinita, com teor médio foi 0,47 ± 0,17.
acima de 95%, e de argilo-minerais do grupo
1950
e) Levantamento topográfico da superfície do
solo já carregado na caçamba. Os passos b e
1900 e permitiram calcular o volume do material
depositado na caçamba.
f) Levantamento topográfico da superfície do
1850
terreno após a escavação. Os passos c e f
permitiram calcular o volume de material
1800 escavado na condição natural.
g) Pesagem do caminhão carregado. Os passos
a e g permitiram obter a massa de solo
1750
escavado e a massa específica do mesmo nas
condições naturais e de transporte.
1700 h) Durante ou após as escavações foram
colhidas amostras deformadas de solos para
determinação da umidade natural.
1650
1600
1550
9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
Umidade (%)
3 ENSAIOS DE EMPOLAMENTO
B 1 8,228 10,704 30,1 14240 15,8 1.494 1.148 onde ρd é a massa específica seca. Admitindo-
(ama-
relo) 2 7,955 9,617 20,9 13250 15,4 1.443 1.194 se agora, como os dados das Tabelas 7 e 8
sugerem, que o valor de ρd solto é constante para
Tabela 8. Resultados da Jazida D uma dada área de empréstimo, o fator de
Massa especifica
Local
Cami-
Volumes (m3) Empo-
lamento
Massa do
Umidade
natural
seca (kg/m3) empolamento deve variar linearmente com o
nhão Esca-
vado
Embar-
cado
(%)
solo (kg)
(%) Esca-
vado
Embar-
cado
valor de ρd no corte, sendo o coeficiente
1 9,548 10,395 8,9 14.450 21,5 1246 1144 angular da reta igual a 1/ρd solto. Na Figura 11,
D1
2 12,824 14,045 9,5 19.250 21,4 1236 1129 mostra-se a variação do fator f com ρd no corte,
1 8,977 10,768 20,0 14.590 22,4 1328 1107
D2
2 9,367 11,310 20,7 15.050 22,6 1311 1085
para as áreas de empréstimo de Vitória e de
D4 1 8,598 10,312 19,9 14.530 22,6 1378 1149 Goiânia, podendo-se verificar que para cada
local realmente os dados se ajustam bem a uma
3.4 Análise dos Resultados correlação linear. Os coeficientes de determi-
nação r2 foram iguais a 0,97 para as jazidas de
Nas Jazidas A e B, cujos resultados foram Vitória e de 0,93 para a jazida de Goiânia.
analisados conjuntamente, os fatores de Os resultados aqui apresentados permitem
empolamento variaram de maneira muito concluir que o fator f não depende unicamente
expressiva, de 11,4 a 31,0%, para massas do tipo de material, como parte da literatura
específicas secas naturais variando de 1.288 a técnica indica, mas é fortemente influenciado
1.552 kg/m3 e umidades de 15,4 a 21,8%. Na pela densidade seca do solo na sua condição in
Jazida D a variação no fator f foi de 8,9 a situ. Além do mais, se for válida a hipótese de
20,7%, com massas específicas secas naturais que ρd solto varia de maneira pouco
variando de 1.236 a 1.378 kg/m3 e umidades de significativa numa dada área de empréstimo,
21,4 a 22,6%. como os dados das jazidas A, B e D sugerem, a
Deve-se destacar que as faixas de variação do empolamento com a densidade seca
empolamento para cada jazida podem ser ainda in situ é linear e conhecida, com coeficiente
mais amplas que as mencionadas, tendo em angular igual a 1/ρd solto e passando pelo ponto
vista os valores de massa específica com coordenadas γd corte = γd solto e f=0.
d) da quase constância da massa específica
35 seca do solo carregado nos caminhões para
y Jazidas A e B
30 y y uma dada jazida resulta que o fator de
Jazida D y empolamento é função linear da massa
25
específica seca do solo na condição natural.
Empolamento, f (%)
f=0,0868ρd-97,2
y y
20 2
(r =0,93)
y
y e) em locais como os estudados neste
15 trabalho, em que a massa específica seca
y f=0,0835ρd-96,9 solta medida nos caminhões varie pouco,
10
2
(r =0,97) propõe-se que o controle tecnológico do
5 fator de empolamento seja feito a partir da
0 yyyy yy
determinação da massa específica seca
1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 natural obtida em ensaios sobre amostras
Massa específica aparente seca, (kg/m3)
indeformadas coletadas à medida que a
Figura 11. Variação do grau de empolamento com a escavação progride.
massa específica seca do solo in situ para as Jazidas A e
B e Jazida D.
Finalmente, em investigações futuras, é
importante avaliar qual o efeito de variações
Portanto, em locais como os aqui estudados,
mais significativas do que as observadas neste
em que a massa específica seca solta varie
estudo na granulometria, plasticidade e teor de
pouco, para realizar o controle tecnológico do
umidade dos solos de uma jazida no valor da
fator de empolamento dos solos escavados,
densidade seca solta do solo.
bastaria determinar a massa específica seca
solta, medida nos caminhões, e a massa
AGRADECIMENTOS
específica seca natural em ensaios sobre
amostras indeformadas coletadas à medida que
Os autores agradecem às equipes técnicas
a escavação progride.
envolvidas na presente pesquisa e em particular
ao Geólogo Edson Del Monte pelo suporte nos
4 CONCLUSÕES
estudos geológicos das jazidas.
Os ensaios de empolamento realizados em solos
REFERÊNCIAS
das Jazidas A e B, constituídas de solos
sedimentares da Formação Barreiras, e da Arai, M. (2006) - A Formação Barreiras: recentes
Jazida D, constituída de solos resultantes da avanços e antigas questões. Geologia USP, Série
alteração de rochas do Complexo Goiano, Científica, v. 6, n. 2. São Paulo, out. 2006.
permitiram concluir que: Pereira, A. L. (1961) - Equipamentos de Terraplenagem:
a) o fator de empolamento, diferentemente do Características e Emprego. Ed. Ao Livro Técnico
Ltda. P.272.
que sugere a literatura, pode ser altamente Ignatius, S. G. (1991) - Solos Tropicais: Proposta de
variável para um mesmo tipo de solo. Índice Classificatório. Solos e Rochas – Revista
b) embora houvesse em cada jazida estudada Brasileira de Geotecnia, ABMS, v. 14, n. 2, p. 89-93.
neste trabalho variações na granulometria, Radambrasil (1983) - Mapa Geológico da Folha SE-22,
plasticidade e teor de umidade dos solos e 1:1.000.000. Ministério das Minas e Energia,
Brasília.
grandes variações na densidade seca do Ricardo, H.S. e Catalani, G. (1990)– Manual Prático de
material in situ, a densidade seca do Escavação: Terraplenagem e Escavação de Rocha.
material solto pouco variou. Ed. Pini, 2ª edição, p.668, São Paulo.
c) o valor da densidade seca solta foi Trenter, N.A. (2001) - Earthworks: a guide. Editora
essencialmente igual nas jazidas A e B, que Thomas Telford, 1ª edition, Londres.
Caterpillar Brasil S.A. - Manual Caterpillar de
apresentavam solos de mesma origem Terraplenagem. Disponível em
geológica mas eram distantes 15 km uma <http://www.portal.riocusto.com.br/file/arquivos/tabe
da outra. Isso permitiu que os dados dessas lasEMPO.doc> (consulta em 20/01/2012).
duas jazidas fossem analisados em
conjunto neste trabalho.