Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Parte integrante da Tese de Doutorado
2*
Eng. Agrícola, Pós-Doutoranda, PPGCS/UFSM, Bolsista CAPES, Avenida Rorâima, 1000, CCR/Prédio 42, Sala 3314,
CEP 97105-900, Santa Maria, RS. email: pfranco20@hotmail.com.
3
Eng. Agrônomo, Prof. Adjunto, Dr., UFRGS. email: cassolea@orion.ufrgs.br.;
4
Eng. Agrônomo, Prof. Adjunto, Dr., DS/UFPel. email: pauletto@ufpel.tche.br;
5
Eng. Agrônomo, Prof. Associado, Dr., UFRGS. Email alberto.inda@ufrgs.br
location where a coal mining was taking permite a estimativa da erosão absoluta,
place. Simulated rainfall of 85 mm h-1 intensity facilitando o planejamento conservacionista.
and 90 minutes duration were applied over Entretanto modelos quantitativos exigem um
bare soil at laboratory interrill plot of 0.35 m2 maior conhecimento por parte do usuário,
settled on 0.09 m m-1 slope. The estimate of além de requerer mais informações do que os
the factor Ki applying mathematical models modelos qualitativos.
had been determined physical and chemical A aplicação de modelos quantitativos em
attributes of the soil. The factor Ki determined processos de erosão e seu controle é,
at laboratory condition under simulated rainfall atualmente, uma eficiente estratégia que vem
is 1.82 x 106 kg s m-4, but the value of Ki sendo utilizada no planejamento do uso,
estimated by means of the equation of WEPP manejo e conservação do solo. Vários
model overestimated the experimental value, modelos de predição da erosão hídrica do
whereas the model that considers the clay solo foram desenvolvidos recentemente,
and Fe oxides contents gives a value of Ki cujas relações se baseiam em processos e
very closed to that obtained at laboratory interações de suas variáveis. Dentre esses
conditions. modelos, o WEPP (Water Erosion Prediction
Project) é um dos mais relevantes, pois
Key words: interrill erosion, interrill soil considera a erosão em entressulcos e em
detachment, hydraulic flow characteristics, sulcos separadamente (FLANAGAN &
soil erosion models, simulated rainfall. NEARINNG, 1995). Pelo motivo do WEPP ser
idealizado sobre princípios físicos básicos, o
INTRODUÇÃO conhecimento dos processos envolvidos na
erosão hídrica e suas interações se torna de
O processo de erosão hídrica do solo suma importância, pois poderá colaborar na
pode ocorrer em entressulcos ou em sulcos estimativa de perdas de solo nas áreas em
(MEYER et al., 1975). A erosão em que se quer estudar as perdas por erosão
entressulcos é essencialmente independente hídrica.
da erosão em sulcos, ocorrendo em áreas A erodibilidade do solo é a recíproca de
relativamente curtas e geralmente orientadas sua resistência e representa a sua
segundo o microrelevo superficial. Nessas suscetibilidade de erodir em diferentes taxas,
áreas, ocorre escoamento superficial devido às características dos atributos físicos,
uniforme e laminar, que contribui para o fluxo químicos e mineralógicos (WISCHMEIER &
concentrado nos sulcos. Segundo FOSTER et MANNERING, 1969; FOSTER, 1982).
al. (1985) na erosão em entressulcos a Conforme FLANAGAN & NEARINNG (1995),
desagregação das partículas de solo ocorre o modelo WEPP considera o fator Ki para a
pelo impacto das gotas de chuva e o erodibilidade em entressulcos e o fator Kr
transporte pelo escoamento laminar, para representar a erodibilidade do solo em
incrementado pela turbulência produzida pelo sulcos.
impacto das gotas de chuva, suspendendo e Entre os atributos do solo que afetam a
mantendo suspensas as partículas de solo. erodibilidade em entressulcos, a distribuição
A erosão do solo pode ser estimada de de diâmetro das partículas do solo
forma quantitativa e qualitativa. Segundo (granulometria) é um dos principais. Quando
CHAVES et al. (1996) as duas formas mais arenosa é a granulometria do solo, maior
apresentam vantagens e desvantagens. A é a possibilidade dele sofrer erosão, ou seja,
análise qualitativa não permite a obtenção de maior a facilidade de desagregação das
valores numéricos, importante para a partículas de solo. Por outro lado, solos mais
estimativa da degradação do solo e da argilosos favorecem uma maior formação de
sedimentação. Já a análise quantitativa agregados estáveis em água, reduzindo a
R. Bras. Agrociência, Pelotas, v.18 n. 2-4, p175-187, 2012.
176
FRANCO et al. Erodibilidade do solo em entressulcos determinada experimentalmente e por modelos matemáticos...
onde: DMP é o diâmetro médio ponderado de (%),sendo todos os teores obtidos com
agregados em mm; DMi é o diâmetro médio dispersante químico NaOH.
da classe i em mm. Magri é a massa de A erodibilidade do solo em entressulcos
agregados + material inerte na classe i (g) e também foi estimada conforme o modelo
mi é a massa da material inerte na classe i sugerido por NUNES & CASSOL (2008). O
em g. modelo obtido considera apenas o conteúdo
O modelo WEPP, conforme proposto por de argila e o teor de Fe extraído com oxalato
ALBERTS et al. (1995), a erodibilidade do de amônio ácido (Feo) e é expresso da
solo em entressulcos para solos que contém seguinte forma:
30% ou mais de areia na superfície pode ser K i N = 1,982 - 8,886 x 10-4 ( Arg ) - 0,228 ( Feo ) x 106
estimada utilizando-se a porcentagem de
areia muito fina (AMF), de acordo com a (10)
seguinte equação: onde: KiN é a erodibilidade do solo em
K ib = 2728000 + 19210000 × AMF
entressulcos (kg s m-4); Arg é o teor de argila
obtido por dispersão com NaOH 1N (g kg-1) e
(7) Feo é o teor de ferro extraído com oxalato de
onde: Kib é o fator de erodibilidade do solo em amônio (SCHWERTMANN, 1964).
entressulcos (kg s m-4) e refere-se à
erodibilidade básica do solo em entressulcos RESULTADOS E DISCUSSÃO
para uma declividade de 45º e AMF é a fração
de areia muito fina na superfície do solo (g g- O escoamento superficial foi laminar e de
1
). Se a fração AMF for maior que 0,4 (g g-1) natureza subcrítica, caracterizado pelo
deve ser considerado um valor máximo de 0,4 número de Reynolds de 14,25 e pelo número
(g g-1) na equação. de Froude de 0,62 (Tabela 1). Para o
A erodibilidade do solo em entressulcos escoamento superficial ser considerado
também foi estimada conforme o modelo laminar, o número de Reynolds deve ser
sugerido por ALBUQUERQUE (1998), que inferior a 500 e, para ser considerado
ajustou a seguinte subcrítico, o número de Froude deve ser
equação: inferior a 1,0 (GUY et al., 1990). Desta forma
KiA=7,19×105 −(2,2×105 ×DMPA
kc) −(7,2×10 ×∆pH) + (148
5
×M) pode-se dizer que ocorreu um escoamento
(8) característico da erosão em entressulcos.
onde: KiA é o fator de erodibilidade do solo em As menores taxas médias de
entressulcos (kg s m-4); DMPAkc é o diâmetro desagregação de solo em entressulcos (Di)
médio ponderado dos agregados em água ocorreram no início da chuva, aumentando até
(mm); ∆pH é a diferença entre o pH em KCl e em torno de 75 minutos quando tenderam a
o pH em água; M é um parâmetro textural de tornar-se constantes (Figura 1). Por isso, para
WISCHMEIER et al. (1971) que é determinado o cálculo do Di médio para a determinação do
pela seguinte equação: fator de erodibilidade do solo em entressulcos
M = ( Sil + AMF ).(100 − Arg ) (Tabela 1) foi utilizada a média dos últimos 15
(9) minutos de chuva simulada (Figura 1).
onde: Sil é o teor silte (%); AMF é o teor de
areia muito fina (%); Arg é o teor de argila
Tabela 1 - Taxa média de desagregação (Di), fator erodibilidade do solo em entressulcos (Ki) e
características hidráulicas do escoamento de um Argissolo Vermelho Eutrófico típico determinados
em condições de laboratório, com quatro repetições, sob chuva com duração de 90 minutos,
intensidade de 85 mm h-1 (I= 0,0000236 m s-1) e declividade de 0,09 m m-1 (Sf = 0,4560)
Di Ki qi q Vs Vm h v Re Fr ƒ
-2 -1 -4 -1 -1 -1 -1 -1
kg m s kg s m ms m² s ms ms m m² s ----adimensional----
-4 6
4,64x10 1,82x10 2,27 E-05 1,35E-05 0,068 0,046 0,00031 9,43E-07 14,3 0,85 1,21
qi: descarga unitária do escoamento; q: descarga líquida total do escoamento por unidade de largura; Vs: velocidade
superficial do escoamento; Vm: velocidade média do escoamento; h: altura de lâmina; T: temperatura; v : viscosidade
cinemática do escoamento a temperatura de 22,8 °C; Re: número de Reynolds; Fr: número de Froude; e ƒ: coeficiente de
perda de carga do escoamento.
4,0E-04
(kg m-² s-1)
3,0E-04
2,0E-04
1,0E-04
0 20 40 60 80 100
Tempo (min)
A taxa média de desagregação de solo em e por CASSOL et al. (2004) de 2,55 x 106 kg s
entressulcos foi de 4,64 x 10-4 kg m-2 s-1 m-4, que também trabalharam com Argissolos
(Tabela 1) Esse valor para o Argissolo do Rio Grande do Sul. Já Braida & CASSOL
Vermelho estudado foi próximo do valor (1996), em um solo com textura mais arenosa
encontrado por CASSOL et al. (2004) que obtiveram Ki de 5,10 x106 kg s m-4 e
trabalharam com Argissolo Vermelho Distrófico ROCKENBACH (1992) para um solo com
típico de Eldorado do Sul - RS e por BEZERRA textura franco-arenosa determinou um Ki de
& CANTALICE (2006), que trabalharam com 3,35 x 106 kg s m-4.
Argissolo Vermelho - Amarelo de Carpina - PE O fator de erodibilidade do solo em
com teores de argila de, respectivamente, entressulcos é dependente apenas das
206,5 g kg-1 e de 228,0 g kg-1, próximos do teor características intrínsecas do solo, como a
de argila do Argissolo estudado. textura, características das unidades
O valor médio do fator de erodibilidade do estruturais. Entretanto, como citado
solo em entressulcos (Ki) para o Argissolo foi anteriormente, existem variações nos dados
de 1,82 x 106 kg s m-4 (Tabela 1). O valor de erodibilidade em entressulcos entre
obtido é próximo dos determinados por autores. Essas variações podem ser função
REICHERT et al. (2001) de 1,77x106, por das variações na granulometria dos solos.
BEZZERA & CANTALICE (2006) de 1,87x106 Contudo, geralmente, a taxa de
R. Bras. Agrociência, Pelotas, v.18 n. 2-4, p175-187, 2012.
181
FRANCO et al. Erodibilidade do solo em entressulcos determinada experimentalmente e por modelos matemáticos...
Modelo de K iA = 7,19 × 10 5 − (2,2 × 10 5 × DMPA kc ) − (7,2 × 10 5 × ∆pH ) + (148 × M ) KiA= 1,0 x 106
Albuquerque (1998)3 (3)
A redução do fator de erodibilidade do solo pela equação que considera o teor de argila e
em entressulcos com o aumento do teor Feo de óxidos de ferro de baixa cristalinidade o de
pode ser devido ao fato desses óxidos óxidos de ferro (Feo), pois mais se aproxima
apresentarem elevada área superficial mais dos resultados determinados em
específica, atribuída ao seu pequeno laboratórios.
tamanho e às irregularidades superficiais,
constituindo-se em importantes agentes de AGRADECIMENTOS
ligação entre os constituintes do solo
(RÖMKENS et al., 1977) aumentando, dessa À Coordenação de Aperfeiçoamento de
forma, a estabilidade dos agregados Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela
(AZEVEDO & BONUMÁ, 2004), a qual reduz concessão da bolsa de doutorado, à
a erodibilidade do solo em entressulcos. Companhia Riograndense de Mineração
O fator de erodibilidade do solo em (CRM) pela disponibilização da área de
entressulcos foi melhor estimado pela relação estudo, e à Universidade Federal de Pelotas
que considera o teor de argila e o de óxidos (UFPEL) pelo apoio logístico durante as
de ferro de baixa cristalinidade (Feo), pois se coletas e análises.
aproxima mais dos resultados determinados
experimentalmente em laboratório sob chuva REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
simulada. Esse modelo é bastante promissor
para ser utilizado na estimativa do fator de ALBERTS, E.E.; NEARING, M.A.; WELTZ, M.
erodibilidade do solo em entressulcos de uma A.; RISSE, L.M.; PIERSON, F.B.; ZHANG,
forma bem menos trabalhosa e dispendiosa. J.M.; LAFLEN, J.M.; SIMANTON, J.R. Soil
Os atributos necessários são de fácil e rápida component. In: FLANAGAN, D. C.; NEARING,
obtenção, apenas é necessária a obtenção M. A. (Eds.). Water Erosion Prediction Project -
do teor de argila e do ferro relativo aos óxidos WEPP. West Lafayette: USDA, 1995. p.1-47.
de ferro de baixa cristalinidade. (Report, 10).
Am. Soc. Civil Engineering, v.121, p.547-553, REICHERT, J.M.; VEIGA, M. da; CABEDA,
1995. M.S.V. Selamento superficial e infiltração de
água em solos do Rio Grande do Sul. R. Bras.
KEMPER, W.D.; ROSENAU, R.C. Aggregate Ci. Solo, Campinas, SP, v.16, p. 289-298,
stability and size distribution. In: KLUTE, A. 1992.
(Ed.). Methods of Soil Analysis. 2. ed.
Madison: American Society of Agronomy, Soil REICHERT, J.M.; SCHÄFER, M.J.; ELTZ,
Science Society of America, 1986. p. 425- F.L.F. & NORTON, L.D. Erosão em sulcos e
441. entressulcos em razão do formato de parcela
em Argissolo Vermelho-Amarelo arênico. Pesq.
LIEBENOW, A.M.; ELLIOT, W.J.; LAFLEN, Agropec. Bras., v. 36, n. 7, p. 965-973, 2001
J.M.; KOHL, K.D. et al. Interrill erodibility:
collection and analysis of data from cropland ROCKENBACH, C.A Erosão em entressulco
soils. Transactions of ASAE. 33, p. 1882-1888, sob diferentes coberturas por resíduos de trigo
1990. em um solo Podzólico Vermelho-Amarelo sob
chuva simulada. Porto Alegre, 1992. 108p.
MEYER, L.D. & HARMON, W.C. Multiple Programa de Pós-Graduação em Ciência do
intensity rainfall simulator for erosion research Solo, Universidade Federal do Rio Grande do
on row sideslopes. Transactions of ASAE, sul. (Dissertação de Mestrado)
22:100-103, 1979.
RÖMKENS, M.J.M.; ROTH, C.B.; NELSON,
MEYER, L.D. & HARMON, W.C. Susceptibility D.W. Erodibility of select clay subsoils in
of agricultural soils to interrill erosion. Soil Sci. relation to physical and chemical properties.
Soc. Am. J., Madison, Wisconsin, USA, v.48, Soil Sci. Soc. Am. J., Madison, Wisconsin,
p.1152-1157, 1984. USA, v.41, p.954-960, 1977.
MEYER, L.D.; FOSTER, G.R. & ROMKENS, SCHAFER, M.J.; REICHERT, J.M.; CASSOL,
M.J.M. Source of soil eroded by water from E.A.; ELTZ, F.L.P. & REINERT, D.J. Erosão em
upland slopes. In: Present and prospective sulcos em diferentes preparos e estados de
technology for predicting sediment yields and consolidação do solo. Rev. Bras. Ci. Solo, v.25,
sources. Washington, USDA, 1975. p. 177-189. p.419-430, 2001.
NUNES, M.C.M. Erosão Hídrica em
Entressulcos de Latossolos do Rio Grande do SCHWERTMANN, U. Differenzierung der eisen
Sul. Porto Alegre, 2006. 160p. Programa de oxide des bodens durch extraktion unit saurer
Pós-Graduação em Ciência do Solo, ammoniumoxalat-losung. Z. Pflanzenernaehr:
Universidade Federal do Rio Grande do sul. Bodenkd, 1964. p.194-202.
(Tese de Doutorado)
SIMONS, D.B. & SENTURK, F. Sediment
NUNES, M.C.M. & CASSOL, E.A. Estimativa transport technology: water and sediment
da erodibilidade em entressulcos de Latossolos dynamics. In: Water resources publications.
do Rio Grande do Sul. R. Bras. Ci. Solo, [Colorado], [s.ed.], 1992. 897p.
32:2839-2845, 2008.
SINGH, V.P. Analytical solutions of cinematic
PALMEIRA, P.R.T., PAULETTO, E.A., for erosion on a plane: II Rainfall of finite
TEIXEIRA, C.F.A., GOMES, A. da S., SILVA, duration. Adv. Water Res., 6:88-95, 1983.
J.B. Agregação de um Planossolo submetido
a diferentes sistemas de cultivo. Rev. Bras. SOUZA, M.D. Infiltração de água em Latossolo
Cienc. Solo, Viçosa, v. 23, p. 189-195, 1999. Roxo distrófico submetido a diferentes
R. Bras. Agrociência, Pelotas, v.18 n. 2-4, p175-187, 2012.
186
FRANCO et al. Erodibilidade do solo em entressulcos determinada experimentalmente e por modelos matemáticos...