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Universidade Federal do Rio de Janeiro, CCMN, IGEO, Departamento de Geologia. Laboratório de Solos.
Av. Athos da Silveira Ramos, 274, bloco J0, s/J0-005. 21.941-916, Campus Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
E-mails: rafaferro@oi.com.br; hpolivanov@gmail.com
Recebido em: 12/11/2018 Aprovado em: 18/02/2019
DOI: http://dx.doi.org/10.11137/2019_1_682_694
Resumo
Os problemas relacionados à erosão dos solos incluem perdas de áreas agricultáveis e instabilização de taludes.
Assim, obter índices que relitam a erodibilidade dos solos de uma região pode proporcionar um melhor planejamento
ocupacional de áreas ainda pouco degradadas. Nesse trabalho foi estudado um peril em um talude de corte que rele-
te a geologia da área, tendo sido analisados os horizontes B (pedológicos) e C (solos saprolíticos) da sub-bacia do rio
Sana (Macaé/RJ). Para tanto, foi realizado o reconhecimento de campo de feições erosivas, em que se veriicou uma
predominância de terracetes de pisoteio de gado, e a coleta de amostras deformadas e indeformadas para a realização
de análises laboratoriais de caracterização física, mineralógica e geotécnica, através de ensaios de cisalhamento direto
nas condições de umidade natural e inundada. Os resultados dos ensaios de cisalhamento direto, através da variação da
coesão obtida nos dois estados de umidade apontaram que os solos saprolíticos são mais erodíveis que os solos pedoló-
gicos, o que também foi corroborado por índices de classiicação envolvendo granulometria e consistência, coincidindo
com as observações de campo, com feições erosivas predominando nos horizontes C. Logo, a região de estudo é bem
suscesptivel à erosão se não houver uma política de manejo e ocupação adequada, pois os solos pedológicos da região
são bem rasos e sua erosão possibilita a exposição dos horizontes C, bem mais erodíveis.
Palavras-chave: Erodibilidade; Coesão; Cisalhamento direto
Abstract
The issues associated to soil erosion include losses of arable lands and slopes destabilization. Thus, obtaining
indexes which relect the soil erodibility of a region can provide a better occupational planning in poorly degraded are-
as. In this work, a soil proile exposed at a cut slope face which relects the regional geology was studied by Sana river
sub-basin (Macaé/RJ) pedological (B) and saprolitic soils (C) analysis. In order to do so, ield recognition of erosive
features was carried out, in which was found the predominance of cattle-tracks. In addition, disturbed and undisturbed
soils samples were collected for physical, mineralogical and geotechnical characterization through direct shear tests
with natural moisture content and looded samples. The results of the direct shear tests, by means of cohesion variation
acquired in these two moisture states show that the saprolitic soils are more erodible than the pedological ones, which
was also corroborated by classiication indexes related to grain size distribution and consistency and ield observations
which concluded that erosive features are predominant in C horizons. So, the study region is very susceptible to erosion
unless there is an appropriate management and occupation policy, because the local pedological soils are very shallow
and their erosion allow C horizons exposure, which are more erodible.
Keywords: Erodibility; Cohesion; Diretc shear
entre 6°C e 35 °C (Jeronymo & Silva, 2011), que os terracetes como formas erosivas de pequena esca-
associado ao aspecto rugoso do relevo promove a la geradas e intensiicadas pelo constante caminhar
ocorrência de chuvas orográicas. De acordo com do gado, formando trilhas anastomosadas. Na área
Nascimento (2011), a partir de dados pluviométricos de estudo observou-se que os terracetes apresentam
de 41 anos disponibilizados pela ANA, a maior pre- em sua vizinhança uma mistura de feições laminares
cipitação ocorre no alto curso da bacia hidrográica e lineares, porém quando a feição erosiva se apre-
de Macaé, com valores médios de 2500 mm anuais, senta bem pronunciada, mesmo na presença de ter-
ratiicando uma proporcionalidade direta entre a ele- racetes, essa foi classiicada como produto de erosão
vação do relevo e a precipitação laminar, em sulcos, ravina ou voçoroca.
Tabela 3 Caracterização Física dos solos . Argila (A), Silte (S), Finos Totais (FT) = Argila + Silte, Areia Fina (AF), Areia Média (AM),
Areia Grossa (AG), Areia Total (AT), Pedregulho (P), Limite de Liquidez (LL), Limite de Plasticidade (LP), Índice de Plasticidade (IP),
IA (Índice de Atividade), SM (areia siltosa), AA (areia argilosa), AS (areia siltosa). Dados de obtenção direta: Massa especíica dos
grãos (rs), umidade (h), Peso especíico natural (gnat). Dados obtidos indiretamente através de correlações entre índices: porosidade
(η), índice de vazios (e) e Saturação na condição de umidade natural (S).
siicação SUCS (Casagrande, 1948), todos os solos à plasticidade, de acordo com Jenkings (1947), os
são SM (areia siltosa). O Índice de Atividade de solos pedológicos B são medianamente plásticos
Skempton (1953) indica que todos os solos possuem (7%<IP<15%) e os solos saprolíticos são fracamente
a fração argila inativa (IA <0,75), indicando poten- plásticos (1%<IP<7%).
cial da argila para conferir coesão e plasticidade ao
solo relativamente baixo, fato que é corroborado A relação silte/argila, proposta por Van Wam-
pela presença de argilominerais do tipo 1:1 (caulini- beke (1962) para a distinção de solos altamente
ta) da análise mineralógica, ratiicando sua suscepti- intemperizados de solos mais jovens, indica que o
bilidade à erosão. solo B vermelho é o mais intemperizado, com valor
da razão silte/argila de 0,58, seguido do horizonte
De acordo com o IAEG (1979), os solos B amarelo (0,77), C amarelo (1,33) e C vermelho
B amarelo, C amarelo e C vermelho possuem alta (2,17), estes dois últimos com razões superiores a 1,
porosidade (45%<η<50%), e o solo B vermelho indicando solos mais jovens.
possui média porosidade (35%<η<45%). Os solos
pedológicos (B) são classiicados como muito úmi- A classiicação da erodibilidade dos solos
dos (50%<h<80%) e os solos saprolíticos são clas- com base em índices de consistência, granulometria
siicados como úmidos (25%<h<50%). Em relação e índices físicos é exibida na Tabela 4.
Parâmetro
Autor(es) B amarelo B vermelho C amarelo C vermelho
de Análise
Meireles Não fortemente Não fortemente Não fortemente Não fortemente
LL e IP
(1967) erodível erodível erodível erodível
Bastos Não potencialmente Potencialmente Potencialmente Potencialmente
IP
(1999) erodível erodível erodível erodível
Baixa resistência à Baixa resistência à Boa a regular re- Baixa resistência à
Índices de consistência DNER (1979) LP e IP
erosão erosão sistência à erosão erosão
Santos e Não fortemente Não fortemente Não fortemente Não fortemente
LL e IP
Castro (1967) erodíveis erodíveis erodíveis erodíveis
Santos Média resistência à Média resistência à Baixa resistência à Baixa resistência à
IP
(2001) erosão erosão erosão erosão
Gray e Sotir
Classif. SUCS Alta erodibilidade Alta erodibilidade Alta erodibilidade Alta erodibilidade
(1996)
% passante
Meireles Passível de forte Passível de forte Passível de forte Passível de forte
na peneira
(1967) erosão erosão erosão erosão
#200
% passante
Bastos Potencialmente Potencialmente Potencialmente Potencialmente
na peneira
Granulometria (1999)
#200
erodível erodível erodível erodível
% de areia
Fragassi
ina e de % Erodível Erodível Erodível Erodível
(2001)
silte
% passante
Boa a regular re- Boa a regular re- Boa a regular re- Boa a regular re-
DNER (1979) na peneira
sistência à erosão sistência à erosão sistência à erosão sistência à erosão
#40
IP e %
Índices de consistência e Alcântara
passante na Média erodibilidade Média erodibilidade Alta erodibilidade Média erodibilidade
Granulometria (1997)
peneira #200
Bastos Índice de Baixa resistência à Baixa resistência à Baixa resistência à Baixa resistência à
(1999) vazios (e) erosão erosão erosão erosão
Grau de
Índices Físicos Fácio (1991) intermediário Menos erodível Mais erodível intermediário
Saturação
Mendes Peso especíi-
Mais erodível Menos erodível intermediário intermediário
(2006) co dos sólidos
Tabela 4 Erodibilidade dos solos baseada em índices de consistência, granulometria e índices físicos.
Figura 10 Difratograma do solo B amarelo com a indicação A presença da Caulinita na fração argila pode
dos picos de Caulinita (K), Ilita (I) e Gibbsita(G). Curva preta ser explicada pela característica de elevada lixiviação
(condição natural), Curva vermelha (condição glicolada) e Cur-
va Azul (condição aquecida). do ambiente de formação desses solos, acarretando
em solos com baixa capacidade de troca catiônica
(CTC), conforme ressaltam Castro et al. (2014).
Ainda segundo esses autores, a presença de Gibbsita
(mais acentuada nos horizontes amarelos, em espe-
cial no B amarelo) pode ser explicada pelo intenso
intemperismo químico (hidrólise total), atuante em
clima quente e úmido, sobre rochas de composição
granítica, o que é o caso da área de estudo. Confor-
me Ferreira et al. (1999) destacam, embora esses so-
los apresentem baixa CTC, a caulinita e a gibbsita
Figura 11 - Difratograma do solo B vermelho com a indicação são responsáveis pelo desenvolvimento de estrutura
dos picos de Caulinita (K), Ilita (I) e Gibbsita(G). Curva preta
(condição natural), Curva vermelha (condição glicolada) e Cur- granular e são importantes para a manutenção das
va Azul (condição aquecida). partículas do solo loculadas.
A presença da Ilita na fração argila de todos Os dados permitem constatar que os solos co-
os solos analisados indica que houve intemperização luvionares/pedológicos (horizontes B) apresentaram
de micas, as quais apresentam concentrações eleva- coesões maiores e ângulos de atrito menores que os
das em solos mais jovens, conforme aponta Erna- solos saprolíticos/residuais jovens (horizontes C), o
ni (2008), o que é corroborado pelos picos de ilita que pode ser explicado, em parte, pelo maior teor de
mais desenvolvidos nos horizontes residuais jovens argila dos horizontes de origem coluvionar. Dafalla
C amarelo e C vermelho deste estudo. (2013) ressalta que materiais arenosos com maior
conteúdo de argila submetidos a ensaios de cisalha-
Os resultados do ensaio de cisalhamento di- mento direto apresentaram consistente aumento da
reto na condição natural e inundada encontram-se coesão, resultado também observado nesse estudo.
representados nas Figuras 14 e 15, respectivamente. Soares et al. (2001), realizaram ensaios de cisalha-
E as coesões natural e inundada dos solos analisados mento direto em solos coluviais de textura silto-a-
encontram-se na Tabela 5. renosa, e de baixa plasticidade, semelhantes ao do
Figura 14 Gráicos de
tensão normal x tensão
cisalhante para a condição
de umidade natural.
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