BIOENGENHARIA NO CONTROLE DE EROSÕES: ESTUDO DE CASO EM TALUDE

RODOVIÁRIO

Letícia Costa Lima1; Luiz Fernando Pinheiros Neves2

Mônica Pessoa Neves (Orientadora) 3

1 Aluna do Curso de Engenharia Ambiental do Centro

Universitário de Belo Horizonte - UniBH. Belo Horizonte,
MG. leticia.lima.2@hotmail.com

2 Aluno do Curso de Engenharia Ambiental do Centro

Universitário1.de leticia.lima.2@hotmail.com;
Belo Horizonte - UniBH. Belo Horizonte,
MG. luizfpneves@hotmail.com
2. luizfpneves@hotmail.com;
3 Mestre em Geologia Regional. UNESP, 1998. Professora
do Centro Universitário de Belo Horizonte – UniBH. Belo
Horizonte, MG. monica.neves@prof.unibh.br

RESUMO: O Brasil é um país que apresenta o clima tropical em muitas regiões, esse fator aliado a alta
pluviosidade em determinadas épocas do ano, ajuda na aceleração de processos erosivos e faz com que haja
necessidade de desenvolver e aplicar métodos e técnicas para conter esses fenômenos. De uns anos para cá a
bioengenharia de solos, ou engenharia natural, preencheu essa lacuna, consistindo basicamente na integração de
elementos orgânicos ativos e elementos inertes para a estabilização de solos e sedimentos evitando assim a
erosão. O trabalho foi desenvolvido em um talude rodoviário que apresentava processos de erosão e foi
recuperado por biotecnologia a partir da introdução de biomantas. Essa técnica protege e recompõe o solo já
degradado por diversos fenômenos superficiais, já que esses locais estão muito expostos a processos naturais e
antrópicos. Para caracterização do solo, foram realizados diversos ensaios físicos no Laboratório de Mecânica de
Solos do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Com isso, foi possível sua caracterização textural, que
corrobora com as rochas graníticas que são encontradas nessa região, ou seja, o material estudado foi
classificado como um solo de alteração de composição argilo arenoso segundo o diagrama trilinear.
PALAVRAS-CHAVE: Biomantas. Bioengenharia. Controle de Erosões. Áreas Degradadas.

.
ASBSTRACT: Brazil is a country that presents the tropical climate in many regions, this fact accelerates erosive
processes and makes it necessary to develop and apply methods and techniques to contain these phenomena. For
some years now, bioengineering of soils or natural engineering has filled this gap, basically consisting of the
integration of active organic elements and inert elements for the stabilization of soils and sediments, thus avoiding
erosion. The work was developed in a road slope that presented erosion processes and was recovered by
biotechnology from the introduction of biomass. This technique protects and recomposes the already degraded soil
by diverse superficial phenomena, since these places are very exposed to natural and anthropic processes. To
characterize the soil, several physical tests were performed at the Soil Mechanics Laboratory of the University
Center of Belo Horizonte (UNI-BH). With this, it was possible to characterize the textural material, which
corroborates the granitic rocks found in this region, that is, the studied material was classified as a sandy clay
composition alteration soil according to the trilinear diagram.
KEYWORDS: Biodegradable Blanket. Bioengineering. Erosion Controlling. Degraded Areas.

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1 INTRODUÇÃO
Entende-se por talude uma superfície de terreno
inclinado, resultado de uma escavação ou aterro
estabilizado que pode ser também ser de origem
natural. No caso, os taludes rodoviários são
superfícies inclinadas que limitam um maciço de
terra, de rocha ou de terra, localizados nos entornos
das rodovias. Estes também podem ser naturais,
como nos casos de encostas, ou artificiais, como os
taludes de cortes e aterros (ROMANINI, 2016).
Por se tratar de superfícies inclinadas, muitas vezes
esses locais são suscetíveis a processos erosivos,
desencadeados por chuvas, gravidade e outros
eventos naturais, ocasionando sérios transtornos
para o meio ambiente e para a sociedade.
Nesse caso, o estudo das erosões é uma ferramenta
muito importante, pois faz parte do planejamento do
uso da terra, além do controle ambiental de áreas
severamente impactadas por esses processos.
Os processos erosivos ocorrem pela desagregação e
remoção do solo ou fragmentos e partículas de
rochas, pela ação combinada da gravidade com a
água, vento e gelo. Destaca-se a água como o
principal agente erosivo, cujo início do processo se
dá por meio do desprendimento das partículas pelo
impacto das gotas de chuva e pelo escoamento
superficial.
Existem diversos tipos de erosão, e estas são
classificadas de acordo com os agentes causadores.
Para esse estudo, é importante citar os tipos, onde o
agente principal é a água, sendo: erosão laminar,
erosão em sulcos e erosão subterrânea. Isto porque,
no Brasil, os maiores problemas com erosão e
desestabilização de encostas e taludes
causados principalmente pela ação da
(GALETI, 1979).
Outros fatores que podem acelerar os processos
erosivos estão relacionados às propriedades físicas
2
dos solos tais como: textura, densidade aparente,
porosidade, teor de matéria orgânica, teor e
estabilidade de agregados e o pH do solo. Essas
propriedades precisam ser avaliadas ao longo do
tempo, pois podem evoluir e sofrer modificação,
transformando certos solos susceptíveis ou mais
resistentes aos processos erosivos.
Sobre a atuação desses processos em taludes
rodoviários, esse é um problema muito frequente,
associado principalmente ao tipo de solo, declividade
natural ou pelos cortes e infiltração de água. Essas
características fazem com que a resistência do solo
seja muitas vezes ultrapassada, causando
rompimentos, erosão e movimentação.
Fatores ligados às características geotécnicas
também devem ser considerados, a partir da
alteração no estado de tensões atuantes no maciço,
que tende a gerar instabilidade na região a montante
do talude. Esse fato provoca o aparecimento de
trincas, que durante a ocorrência de chuvas podem
ser preenchidas por água, reduzindo a resistência
dos materiais envolvidos, assim como a ocorrência
de diversos processos erosivos (MATOS, 2009).
Associados aos fenômenos citados anteriormente, a
pesquisa em questão visa ao estudo em um talude
rodoviário com processos erosivos atuantes. O
processo de recuperação e controle está sendo
realizado com a utilização de biomantas antierosivas
em um projeto da empresa Deflor, especializada
nesse tipo de trabalho.
Biomanta é uma técnica de revegetação de taludes,
que atua na proteção, reforço, recuperação e
controle de processos erosivos. Essa técnica é
utilizada há muito tempo. Sabe-se que antigas
são
civilizações lançavam mão desse artifício para
água
proteção de margens de rios, diques, canais de
abastecimento e drenagem. Também em no
continente Americano, a civilização Inca desenvolveu
técnicas simples no controle da erosão e diminuição
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da velocidade da água sobre o solo, por meio do que geotécnica voltado para aplicação de a
se chama de bioengenharia de solos (LUCENA, bioengenharia, estabilidade de taludes e
2009). encostas e projetos voltados a bioengenharia.
Na segunda etapa, foi realizada a visita a uma
A partir do exposto, esse trabalho também retratará
obra situada no bairro Vila Kennedy, localizado
a importância da biotecnologia aplicada aos
em Contagem/MG. Esse local trata-se do objeto
processos erosivos presentes em taludes
dessa pesquisa e se encontra em um talude
rodoviários, contribuindo com a preservação do meio
rodoviário apresentando processos erosivos,
ambiente e a segurança.
situado às margens da BR-040. Nessa etapa,
Por se tratar de um estudo de caso, foram realizadas
foram apresentadas de uma maneira geral,
algumas coletas de dados e materiais para se ter
diversas espécies de sementes e vegetações
resultado quanto ao ângulo de inclinação do talude,
brotadas. Em seguida, obetivemos informações
textura do solo, geologia da área, existência ou não
sobre o maquinário e equipamentos necessários
de cobertura vegetal e índice pluviométrico.
para o trabalho de instalação das biomantas.
2 METODOLOGIA Já as técnicas aplicadas e o modo de operação

O desenvolvimento do trabalho ocorreu por meio das e execução consistem dos seguintes processos:

seguintes etapas e procedimentos metodológicos: - colocação de bermalongas (retentores) à

montante e jusante do talude (atua na contenção
- Pesquisa bibliográfica e coleta de dados para o
de possíveis sedimentos carreados pela água); -
referencial teórico;
coveamento do talude (utilizado para aumentar
- Realização de curso sobre Erosão e Controle de a rugosidade do talude diminuindo a velocidade
Sedimentos, oferecido pela empresa DEFLOR, da lâmina d'água e obviamente abrigando as
especialista em bioengenharia; sementes que serão bombeadas na
hidrossemeadura); - escolha das sementes a
- Acompanhamento em campo da aplicação da
serem lançadas (objetiva mesclar as culturas
biomanta;
entre leguminosas e gramíneas, já que as
- Integração de dados finais.
gramíneas fornecem a forragem do solo e as
Essas etapas serão descritas com detalhe a seguir: leguminosas têm raízes mais profundas e
enriquecem o solo com nutrientes alimentando
 Pesquisa bibliográfica: uma das etapas mais
assim as gramíneas); e por fim -
importantes da pesquisa, já que grande parte
hidrossemeadura e instalação das biomantas
desse estudo se baseia no entendimento sobre
(fase onde são realizados o espaçamento das
os processos exógenos atuantes, como erosão e
covas e também grampeada a biomanta no
intemperismo. Também foi levado em
talude, nesse caso em áreas fora das covas).
consideração uma revisão sobre taludes
rodoviários e seus métodos construtivos.  Na fase de acompanhamento em campo foi
realizado também o estudo sobre os
 No mês de Setembro de 2017, foi realizado o
componentes texturais do solo, o ângulo de
curso intitulado Erosão e Controle de
inclinação que apresenta essa estrutura, tipos de
Sedimentos foram divididos e duas etapas: a
processos erosivos atuantes, bem como as
primeira teórica, com temas aplicados a
características geológicas da área.
 4

 Para os estudos sobre a texturas e A malha viária do município de Contagem (MG), é

características físicas do solo incialmente foi composta por 3 rotas viárias principais: Anel
realizado um furo a trado com 30 cm de Rodoviário (BR-262), Rodovia BR-040 e a BR-381
profundidade. Esse material foi encaminhado com grande fluxo de veículos.
para o Laboratório de Mecânica de Solos do
Essa região é quase em sua totalidade composta por
Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH),
rochas do Complexo Belo Horizonte (Figura 2),
Em que foram analisadas as seguintes
representados por ortognaisses cinzas, bandados,
características: cor, consistência do solo, grau de
com bandas leucocráticas graníticas e mesocráticas
cimentação, plasticidade e granulometria. Essas
granodioríticas, migmatitos e granodioritos
análises foram realizadas conforme as seguintes
leucocráticos (CPRM, 2009).
ABNT NBRs: Para a realização do ensaio de teor
Figura 1 - Localização do talude situado próximo ao
de umidade, utilizou-se o método conforme
bairro Vila Kennedy em Contagem, imagem sem
ABNT NBR 6457 (2016) que contempla escala
Amostras de Solo -. Preparação para ensaios de
compactação e ensaios de caracterização. Para
identificar a cor do solo, consistência com
penetração do polegar, grau de cimentação e
plasticidade utilizou-se a norma ASTM 2488
descrita como: Standard Practice for Description
and Identification of Soils (Visual-Manual
Procedure). Para caracterização da
granulometria, aplicou se o método de ensaio de
acordo com norma NBR 7181 (2016) que
contempla Solo – Análise granulométrica. Fonte - GOOGLE MAPS, 2017
Figura 2 - Geologia da região de Contagem sendo
Por fim, foi realizada a integração de todos os dados
caracterizada pela unidade de cor rosa que equivale
para que o artigo fosse finalizado. ao Complexo Belo Horizonte

2.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A área em estudo está situada próximo ao bairro Vila

Kennedy, às margens da BR-040, nas coordenadas
aproximadas 19°54’07ˮS e 44°02’58ˮO (Figura 1),
localizado no município de Contagem (MG), na
regional Ressaca.

Segundo dados do IBGE (2017), esse município tem

população com cerca de 658.580 habitantes e
apresenta 6 regionais sendo elas: Eldorado, Fonte - MEIRELLES E FERREIRA, 2009

Industrial, Nacional, Petrolândia, Ressaca, Riacho, Essas rochas apresentam diferentes estágios de
Sede e Vargem das Flores (PREFEITURA DE alteração e seu relevo é tipificado por espigões,
CONTAGEM, 2017). colinas de topo plano a arqueado e encostas
policonvexas de declividades variadas, nos flancos

dessas feições e nas transições. Entre elas ocorrem
com frequência anfiteatros de encostas côncavas e
drenagem convergente e nichos resultantes da
estabilização de antigas voçorocas (PORTAL PBH,
2017).
Os solos originários dessas rochas apresentam
regolitos espessos, com saprolito profundo,
demonstrando intensa atuação de intemperismo
químico. Pedologicamente são classificados por
argissolos vermelho amarelo em associação com
cambissolo (com horizonte B pouco espesso) ambos
distróficos com pouca argila e alto teor de silte e
areia. Ocorrem também argissolos vermelho
amarelo associados a latossolos vermelho amarelo
ambos distróficos, com textura argilosa
consistência alta.
Com relação aos dados pluviométricos do município,
segundo Clima-Data-Org (2016), o clima é quente e
temperado, com mais incidência de chuva no verão
se comparado ao inverno, com temperaturas médias
de 20.7°C.
O índice de pluviosidade média anual é de 1410 mm,
sendo agosto o mês mais seco e dezembro o mais
chuvoso. O primeiro apresenta precipitação média
de 11 mm e o segundo de 304 mm (Figura 3).
Figura 3 – Climograma do município de Contagem
Fonte - CLIMA-DATA-CONTAGEM, 2016
5
3 REFERENCIAL TEÓRICO
Essa seção abordará os conceitos referentes à
erosão e seus agentes. Esses processos atuam na
superfície da terra com modificações visíveis e
perceptíveis na paisagem e que muitas vezes
interferem em nosso dia a dia, pois se tratam de
processos associados à dinâmica superficial.
3.1 PROCESSOS EROSIVOS
De acordo com Guerra 2012, a referência do livro de
Selby de 1993, Hillsope Materials and Processes,
que conceitua muito bem todo o processo de erosão
dos solos. Segundo a bibliografia retratada acima,
um sulco pode aprofundar e alargar o seu canal, até
e uma ravina, definida como uma expansão de um
canal de drenagem, o qual caracteriza um fluxo
efémero de água, possuindo laterais ingremes,
cabeceira vertical, largura maior do que 30 cm e
atingindo profundidades superiores a 60 cm. As
ravinas, segundo Selby (1993), podem surgir numa
ruptura da encosta, ou em áreas onde a vegetação
superficial é removida. Segundo os estudos de
Guerra 2012, é mais frequente em materiais, tais
como: solos profundos, solos de origem vulcânica,
aluviões, coluviões, cascalho, em áreas não
consolidadas e detritos resultantes de movimentos
de massa. Aponta ainda que o aumento do
escoamento superficial conjuntamente com a
remoção do coberto vegetal, o aumento das terras
queimadas e o sobre pastoreio, podem dar origem à
erosão por ravinas.
Define-se por erosão o processo de desagregação e
remoção de partículas do solo ou de fragmentos de
partículas de rochas, pela ação combinada da
gravidade com a água, vento, gelo e organismos
(plantas e animais) (SALOMÃO e IWASA, 1995 apud
ABGE, 2004).
Os processos erosivos podem ser desencadeados
de forma natural, condicionados a diversos fatores
 6

de ordem geológica e ambiental, nesse caso seu 3.2 ESTABILIDADE DE TALUDES

desenvolvimento ocorre em condições de equilíbrio
com a formação do solo. Já no caso de erosão
acelerada ou antrópica, sua intensidade é superior à
formação do solo, não permitindo, em muitos casos,
sua recuperação natural.
Alguns fatores são fundamentais e condicionantes
para a erosão, tais como: chuva, cobertura vegetal,
relevo, tipos de solos e o substrato rochoso.
Nos processos erosivos atuantes em taludes, todos
esses fatores, em devidas proporções, precisam ser
levados em consideração, já que naturalmente esses
locais são desprovidos de vegetação, sendo
atingidos pelos impactos diretos da água de chuva, e
pelo fato de conter inclinação ou declividade no
relevo. Nesse caso, a velocidade do escoamento
superficial da água com consequente perda do solo,
também são muito relevantes.
No Brasil, os maiores problemas com erosão e
desestabilização de encostas e taludes
causados principalmente pela ação da água
(GALETI, 1979). Existem diversos tipos de erosão,
classificadas de acordo com os agentes causadores.
Para este estudo é importante citar três tipos, em
que todos o agente principal é a água: erosão
laminar, em sulcos e subterrânea. No primeiro tipo, o
agente carrega material da superfície de maneira
homogênea, em lâminas, sem formar sulcos, ou
seja, há um desgaste por igual. Na erosão em
sulcos, formam-se escoadouros por onde
materiais vão sendo transportados. Estes sulcos
aprofundam-se e alargam-se com o decorrer do
processo. Já a subterrânea a água penetra no solo e
tem o seu percurso barrado por uma camada de
material impermeável, sendo assim, a mesma
começa a escoar sobre a superfície deste material e
logo depois vai emergir nas encostas. (GALETI,
1979).
Atualmente o estudo e controle da estabilidade de
taludes e encostas podem ser relacionados a três
grandes áreas de aplicação: construção e
recuperação de grandes obras civis (rodovias,
ferrovias, barragens, etc), exploração mineral e
consolidação de ocupações urbanas em áreas de
encostas (ABGE, 2004).
Segundo os autores acima, algumas das técnicas de
estabilização mais simples como retaludamento,
drenagem e proteção superficial e estruturas de
contenção envolvendo muros de arrimo são
conhecidos desde a antiguidade.
Com o desenvolvimento da engenharia e técnicas
aplicadas a essas obras, o principal aspecto de um
projeto de estabilização moderno, refere-se à
escolha da solução mais adequadas com uma
relação custo/benefício bem tratada.
Em casos de maciços terrosos, as propriedades
são
apresentadas pelo solo podem influenciar
diretamente. Sua suscetibilidade quanto aos
movimentos de massa e quanto ao mecanismo de
estabilização atuante, dependem de vários fatores:
peso específico, porosidade, índice de vazios,
mineralogia, granulometria, plasticidade,
permeabilidade, etc.
Estruturas reliquiares e processos de laterização,
também devem ser levados em conta, bem como se
o talude é formado por materiais inconsolidados
os
como solos coluvionares e tálus (ABGE, 2004).
Em caso de taludes em maciços rochosos, de
acordo com Guidicini e Nieble (2011) apud Maciel
Filho e Nummer (2011), existem basicamente quatro
técnicas para a estabilidades destes. A primeira é a
partir de mudança na geometria, que importa
basicamente em diminuir a altura do talude, ou
melhor, reduzindo seu ângulo. A segunda é com
relação à drenagem de água subterrânea, que irá

melhorar a sua estabilidade. A terceira é o reforço do
maciço que pode ser artificial, viável
economicamente em taludes pequenos, pode ser
utilizado também gabiões. Por último, tem-se o
controle de desmonte que resulta no aumento
considerável na estabilidade (MACIEL FILHO e
NUMMER, 2011).
O presente trabalho trata da estabilidade de talude
em solo acometido por processos erosivos. A
solução foi a partir da utilização de biomantas. Por
conseguinte, nos subitens a seguir serão abordados
esse tipo de técnica.
3.2.1 A UTILIZAÇÃO DE VEGETAÇÃO
ESTABILIDADE DE TALUDE
A importância da vegetação na estabilidade de
taludes e encostas é facilmente notada quando esta
é suprimida, pois a partir disso os processos
erosivos vão aumentando.
Os efeitos positivos do uso da vegetação são
variados, e podem ser aplicados em áreas de
mineração, rodovias, ferrovias, barragens, proteção
de margens de corpos d´água, e qualquer outra,
onde existam cortes ou aterros, formando superfícies
inclinadas (COELHO, 2005).
No entanto, o emprego inadequado dessa cobertura
pode colocar em risco e estabilidade do talude, ou
seja, o uso de alguma espécie não adequada pode
aumentar a intensidade da erosão. Segundo Coelho
(2005) esses efeitos podem ser:
 O acúmulo de gotículas de água nas folhas pode
formar uma gota com um potencial desagregador
muito maior;
 A associação inadequada de espécies de
diferentes alturas pode causar deficiências nas
espécies mais baixas, favorecendo
escoamento superficial;
7
 Dependendo da vegetação utilizada, pode haver
o aumento da turbulência no escoamento
superficial (STOCKING,1996 apud COELHO,
2005);
 Tipos de vegetação podem causar sobrecarga
no talude;
 Ventos nas partes aéreas da vegetação podem
transferir forças para as raízes da mesma,
desestabilizando o solo;
 A penetração de raízes em fissuras já existentes
e junções de rochas aumentam a infiltração e
podem agravar o intemperismo, favorecendo a
NA
instabilidade do talude (GREENWAY, 1987 apud
COELHO, 2005);
 Raízes e árvores secas podem contribuir para
concentrar o fluxo da água pluvial e provocar
sulcamentos e ravinamentos, e;
 Espécies que necessitam de grande quantidade
de água, podem causar trincas e aberturas,
principalmente em solos expansivos, e reduzir a
umidade do solo.
Técnicas com revegetação em taludes rodoviários
também são realizadas pelo Departamento Nacional
de Infraestutura de Transporte (DNIT). Em sua
norma DNIT 074/2006–ES sobre "Tratamento
ambiental de taludes e encostas por intermédio de
dispositivos de controle de processos erosivos –
Especificação de serviço" define e fixa a sistemática
do tratamento ambiental de superfícies de taludes de
corte, aterros e encostas a montante da rodovia, de
modo a reduzir custos de manutenção e controlar
processos erosivos utilizando técnicas de
bioengenharia.
Para tal, essa norma indica o plantio de espécies
vegetais do gênero Bambusa (bambu), Cymbopogon
o
Citratus (capim limão), Capim Vetiver, com a
implantação de dispositivos especiais de controle do
processo erosivo, tais como: - diques de bambu;

septos de rip-rap de solo vegetativo ou solo cimento;
septos de pneus usados, pela construção de bacias
de siltagem, pela aplicação de mantas ou telas
vegetais biodegradáveis ou retentores de
sedimentos, com ou não o reforço de telas metálicas
ou plásticas grampeadas no solo.
Uma das técnicas também utilizadas é a partir do
uso de geomantas. Estas constituem uma proteção
do talude baseada na cobertura superficial, gerando
uma cobertura capaz de reduzir o impacto das gotas
de chuva e o desprendimento de partículas do solo
durante o escoamento. É um tipo de revestimento
flexível, geossintético e com malha tridimensional
onde é lançado um coquetel de sementes que ao se
desenvolveram reforçam a proteção já oferecida pela
manta, tornando a cobertura ainda mais efetiva ao
combate a erosão (FERNANDES et al., 2009).
Já o uso de biomantas, em parte semelhante às
geomantas, apresenta característica biodegradável,
ou seja, mais sustentável, diferente da segunda.
Tem por finalidade, proteger o solo enquanto a
vegetação não se estabelece, já que o talude é
imediatamente forrado, com isso protege o solo de
efeitos erosivos.
São fabricadas a partir de fibras vegetais, como a
palha agrícola, a fibra de coco e as fibras sintéticas.
As fibras são costuradas formando uma trama
resistente, porém flexível a tração. Existem diversos
tipos de biomantas. O que diferencia uma de outra é
a matriz orgânica, ou seja, se a fibra é de coco ou
palha, por exemplo, e o estruturante (FERNANDES
et al., 2009).
As biomantas podem ser armadas com telas de
polipropileno fornecendo-lhe maior resistência
(DEFLOR, 2006). De acordo com o uso que se
deseja fazer, associado a inclinação do talude e as
condições do solo, escolhe-se a biomanta que
apresenta a melhor resistência (DEFLOR, 2006).
Com isso o talude aos poucos recupera seu aspecto
8
de uma forma mais natural, já que todo o material é
biodegradado.
Outras técnicas também podem ser utilizadas como
suporte para a revegetação, auxiliando também na
estabilização e no combate a erosão, uma delas é o
uso de gabiões. Estes podem ser usados como
drenagem no encontro de duas encostas ou em
casos onde somente o emprego da vegetação não é
suficiente para estabilizar o talude. Nesse caso os
dois são utilizados, um como suporte ao outro, já que
o gabião tem grande interação com o uso da
vegetação, pois permite a passagem da água e é
facilmente incorporado à vegetação, que o envolve e
preenche seus vazios.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 IMPLANTAÇÃO DA BIOMANTA
Para a realização do processo de instalação da
biomanta, foram realizadas inicialmente a
implantação das bermalongas que são retentores de
sentimento à montante e jusante do talude, que
atuam na contenção de possíveis sedimentos
carreados pela água (Figura 4).
Após esse procedimento, foi feito o coveamento do
talude, com objetivo de aumentar a rugosidade do
talude, diminuindo a velocidade da lâmina d'água e
obviamente abrigando as sementes que serão
bombeadas na hidrossemeadura.
Figura 4 - Implantação das bermalongas e
coveamento do talude e estudo
Fonte - AUTORES, 2017

Na sequência, foram selecionadas as sementes para
a semeadura. Nesse caso, foram misturados tipos de
leguminosas e gramíneas, já que as gramíneas
fornecem a forragem do solo e as leguminosas têm
raízes mais profundas e enriquecem o solo com
nutrientes alimentando assim as gramíneas (Figura
5).
Figura 5 - Sementes de leguminosas e gramíneas
a serem plantadas na fase inicial do projeto de
biomantas no local de estudo. A- Feijão Guandu; B-
Brachiarão; C- Aveia Preta; D- Brachiária
Decumbens
A B
C D
Fonte - AUTORES, 2017
Após esse procedimento de hidrossemeadura, foi
realizada a instalação das biomantas, com dispersão
das telas vegetais (Figura 6).
Figura 6 - Dispensão das telas vegetais no local de
estudo
Fonte - AUTORES, 2017
9
4.2 MEDIÇÃO DA INCLINAÇÃO DO TALUDE
Sobre a inclinação do talude de corte, a mesma deve
garantir a sua estabilidade, evitando o
desprendimento de barreiras. A inclinação deste tipo
de talude é variável com a natureza do terreno,
sendo as Normas recomendam o seguinte:
-Terrenos com possibilidade de escorregamento ou
desmoronamento: V/H = 1/1;
-Terrenos sem possibilidade de escorregamento ou
desmoronamento: V/H = 3/2;
-Terrenos de rocha viva: vertical
No talude em estudo a inclinação para efeito de
cálculo foi o de 1:1, um ângulo de inclinação igual a
45°.
4.3 COLETA E ANÁLISE DO SOLO
A perfuração para a coleta de amostra deformada de
solo, alcançou inicialmente uma profundidade de
15cm. Nessa profundidade foi identificado o
horizonte O, ou seja, uma camada rica em matéria
orgânica. Após esse intervalo, foi perfurado mais
15cm, onde foi identificado o horizonte B, sendo
identificada como a camada ideal para as análises a
serem realizadas no Laboratório de Mecânica dos
Solos situado no UNI-BH.
A amostra, referente a 500 gramas de solo, foi
acondicionada em um saco de amostra e identificado
com o nome do projeto, autores e os tipos de
análises físicas a serem realizadas, tais como: cor,
estrutura, consistência do solo molhado, umidade e
granulometria
A Figura 7 mostra a coleta desse material no talude
em estudo.
 10

Figura 7- Coleta de amostra de solo no local de  A umidade é a relação entre a massa

estudo
presente em um certo volume de solo de água e a
massa das partículas sólidas, no mesmo volume
expressa em percentagem (ABNT NBR 6457, 2016).
Para a determinação do teor de umidade, foi
necessário cerca de 50g de solo. Esse material,
após pesado em balança de precisão, foi inserido em
uma cápsula com tampa. Em seguida, se pesou o
solo úmido mais cápsula (precisão de 0,01g), após
esse procedimento, a cápsula foi colocada na estufa
e ar a 105 ° por 24 horas. Depois de secar, realizou
se a pesagem depois de fria, caracterizando 22,74%
Fonte - AUTORES, 2017 de umidade. Após esse procedimento, foi constatado
um solo úmido, pois a água não é visível, mas é
5 SÍNTESE DOS RESULTADOS
sensível ao tato.
A síntese dos resultados obtidos no laboratório de
 A plasticidade é a maior ou menor
mecânica dos solos ao longo do segundo semestre
capacidade dos solos de serem moldados, sob
do ano de 2017 estão na Tabela 1 a seguir:
certas condições de umidade, sem variação do
Tabela 1- Resultados das análises de parâmetros volume. Sobre esse ensaio, foi verificado no teste de
físicos do solo
compressão que a mesma permaneceu baixa, já que
Parâmetro Resultado
para w<Wp torrão não foi formado.
Cor Bruno Avermelhado
 A consistência é a propriedade do solo que
Estrutura Laminar
reflete as forças de coesão e de aderência,
Consistência Média presentes sob diferentes graus de umidade. Esta é
definida a partir de amostras em estado úmido,
Plasticidade do solo úmido Baixa
molhado e seco. Sobre a consistência do solo à
Grau de cimentação Médio ranhura com a unha, foi constatado valores ≅6 mm,
Fonte - AUTORES, 2017
ou seja, caracterizando consistência média.

Para as análises físicas do solo foram utilizados  A granulometria do solo é caracterizada pela

vários equipamentos (Figura 8), onde os mesmos distribuição de suas partículas constituintes, de

foram realizados em várias etapas seguindo os natureza inorgânica ou mineral, em classes de

procedimentos descritos mostradas na sequência tamanho granulométricos (ABNT – NBR 7181, 2006).

abaixo: Para tal análise foram empregados três métodos: o

do tato (Figura 9), o de peneiramento e o de
 Para a determinação da cor do solo foi
sedimentação, este para obtenção da fração argila.
utilizada amostra úmida, com isso a mesma foi
Com isso, foi determinado que a textura do solo é
classificada predominantemente como reddish
argilo arenosa.
brown, ou seja, bruno avermelhado (AGEITEC,
2017).
 11

Figura 8 - Equipamentos para análise de solo, Figura 10 – Diagrama Trilinear

peneiras, balança e estufa

Fonte- AUTORES, 2017 Fonte - MACIEL E NUMMER, 2011

Figura 9 – Análises de parâmetros físicos no solo

Esse material é produto de alteração de granito,
rocha constituída mineralogicamente por quartzo,
feldspatos e micas. Os dois últimos quando alterados
quimicamente transformam-se em argilo minerais,
sendo o quartzo o constituinte arenoso.

Essa constituição granulométrica e textural pode se

comportar de forma drenante, facilitando com que as
plantas absorvam água na velocidade certa, evitando
a raiz de apodrecer.

Esse fato refletiu diretamente no crescimento e

desenvolvimento das gramíneas e leguminosas, pois
as raízes atingiram profundidades satisfatórias
Fonte- AUTORES, 2017 gerando uma maior estabilidade ao talude.

Sobre os estudos do talude têm-se que a inclinação

De acordo com o diagrama trilinear para
da saia do aterro ou da rampa do corte, é expressa
classificação textural (Figura 10), este material foi
em uma relação v:h (ou v/h), entre os catetos vertical
classificado como argilo arenoso. Em termos
(v) e horizontal 72 (h) de um triângulo retângulo cuja
quantitativos, na profundidade de 30cm foi obtido
hipotenusa coincide com a superfície inclinada
12,8% de areia grossa, 38,48% de areia fina, 17,1%
(Figura 11) (matematicamente, o talude expressa a
de silte e 31,62% de argila.
tangente do ângulo que a superfície inclinada forma
A partir da constituição argilo arenosa e plasticidade
com o horizonte) (CARVALHO, 2015).
moderada, pode-se classificar esse solo,
pedologicamente, como argissolos bruno
avermelhado associados a latossolos, com textura
argilosa e consistência média.

Figura 11 – Análise da inclinação do talude
Fonte – CARVALHO, 2015.
O talude de corte estudado apresenta
aproximadamente 6m de comprimento e 6m de
altura (Figura 12). Assim, sua inclinação para efeito
de cálculo é de 1:1, ou seja, um ângulo de inclinação
igual a 45°.
Com está inclinação é aconselhável para garantir
sua estabilidade já que o material que o compõe é
solo e não rocha.
Figura 10 – Vista do talude estudado após três
meses da implantação da biomanta antierosiva
Fonte – AUTORES, 2017.
6. CONCLUSÃO
O trabalho foi desenvolvido a partir do estudo em
talude rodoviário situado às margens da BR-040,
em Contagem/MG. Esse talude continha processos
erosivos superficiais em solo de característica argilo
arenosa.
Para o desenvolvimento desse trabalho foram
realizadas análises físicas de amostra solo no
Laboratório de Mecânica de Solos do Centro
Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH).
resultados ajudaram a compreender de uma forma
12
mais ampla os processos ocorridos e também
auxiliar na melhor técnica para a sua contenção.
Para isso foi utilizada a técnica de biomanta
antierosiva, que demonstrou ser eficaz e justificável
para esse estudo de caso. Vale ressaltar que não é
necessária manutenção periódica, pois a mesma
protege imediatamente o solo, até que a vegetação
se estabeleça.
Com isso, houve uma proteção imediata do solo
contra a erosão superficial, diminuindo a evaporação
da água, proporcionando rapidez no processo de
revegetação, reduzindo assim, o escoamento
superficial, ajudando a conter a erodibilidade com o
uso da incorporação da matéria orgânica.
Dessa forma, essa técnica se mostrou viável para o
desenvolvimento de espécies e no crescimento de
leguminosas e gramíneas, garantindo com isso a
estabilidade o talude.
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