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RIOS; GUIRRA; SILVA (2013)

MARCAS EROSIVAS NOS SOLOS COMO INDICADORAS DE DESERTIFICAÇÃO NO MÉDIO CURSO


DA BACIA DO RIO SALITRE / CAMPO FORMOSO – BA.
2 3
M. L. Rios¹; B.S.Guirra ; A. S. Silva
¹Geógrafo e Professor, IF Baiano Campus Senhor do Bonfim. E-mail: marciogeog@gmail.com.
2
Graduando, Licenciatura em Ciências Agrárias, IF Baiano Campus Senhor do Bonfim.
3
Professor, Instituto Federal Baiano, IF Baiano Campus Senhor do Bonfim.

Artigo submetido em junho/2013 e aceito em setembro/2013

RESUMO
A desertificação é definida como um processo de aplicou-se questionários semi-estruturados aos
destruição do potencial produtivo, sendo resultante de moradores desses povoados. Em seguida, fez-se a
vários fatores, incluindo aqueles causados por variações interpretação e classificação de um recorte de Imagem
climáticas e atividades humanas, associadas, do Satélite CBRES. Com o Software Spring 5.1.8
principalmente, ao uso inadequado dos solos, da água e delimitou-se uma área continua de solo exposto e em
da vegetação, provocando a degradação das terras nas estágio avançado de degradação. Posteriormente, foi
zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas. Portanto, o mensurada a dimensão de uma das inúmeras voçorocas
presente trabalho se propõe a investigar alguns encontradas na área, estimando a perda de solo (m³). O
aspectos sobre a degradação dos solos, a partir da último passo foi a sistematização dos dados e a edição
discussão sobre a existência de marcas erosivas na do mapa do núcleo de desertificação do médio curso do
superfície (sulcos, ravinas, voçorocas, e erosão laminar) rio salitre utilizando o Arcgis 9.2. A área que
visando auxiliar na compreensão do processo de compreende as comunidades de Salgado, Lagoa Branca,
desertificação numa mancha espacial localizada no Taboa, Poço da Pedra, Saquinho e Abreus, forma um
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médio curso da sub-bacia do rio Salitre, nas polígono com 61,5 Km , que apresenta área de solos
proximidades das comunidades de Lagoa Branca, Taboa desnudos e em avançado estágio de degradação,
e Poço da Pedra no município de Campo Formoso – detectada pela forte presença de marcas erosivas
BA. A área foi georreferenciada em algumas das lineares e laminares, constituindo possivelmente um
extremidades, já em processo de desertificação, onde núcleo de desertificação.

PALAVRAS-CHAVE: mapeamento; erosão dos solos, núcleo de desertificação.

EROSIVE BRANDS IN SOIL AS INDICATOR OF COURSE DESERTIFICATION MIDDLE RIVER BASIN


SALITRE / CAMPO FORMOSO – BA.
ABSTRACT
Desertification is defined as a process of destruction of residents of these villages. Then, it was the
productive potential, resulting from various factors, interpretation and classification of a satellite image
including those caused by climatic variations and human cropping CBRES. With Spring 5.1.8 Software was
activities, mainly associated to the inappropriate use of delimited an area of exposed soil and remains in an
soil, water and vegetation, causing land degradation in advanced stage of degradation. It was later measured
arid, semi-arid and dry sub-humid. Therefore, this study the size of one of the numerous gullies found in the
aims to investigate some aspects of soil degradation, area, estimating soil loss (m³). The last step was
from the discussion about the existence of erosional systematic data and map editing core desertification
surface marks (ridges, ravines, gullies and sheet erosion) segment of the river saltpeter using Arcgis 9.2. The area
aiming to assist in understanding the process of includes the communities of Salt, White Pond, Cattail,
desertification in a spot space located in the middle Stone Pit, Sachet and Abreus, form a polygon with 61.5
course of the sub-basin of the Salitre, near the km2 area that features bare soils and in advanced stage
communities of White Pond, Cattail and Stone Pit in of degradation, detected by the presence of strong
Campo Formoso - BA. The area was geo-referenced in brands erosive linear, laminar, possibly constituting a
some of the edges, now in the process of desertification, core of desertification.
which was applied to semi-structured questionnaires to
KEY-WORDS: mapping, soil erosion, desertification core.

Anais do Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação, 2013 1


ISBN nº978-85-67562-01-8
RIOS; GUIRRA; SILVA (2013)

MARCAS EROSIVAS NOS SOLOS COMO INDICADORAS DE DESERTIFICAÇÃO NO MÉDIO CURSO


DA BACIA DO RIO SALITRE / CAMPO FORMOSO – BA.
INTRODUÇÃO

O fenômeno da desertificação tem sido bastante estudado no Brasil nos últimos anos,
embora questionado sobre sua real definição, seu conceito é capaz de trazer para discussão os
problemas associados a degradação ambiental presente nos espaços semiáridos e subúmidos
brasileiros.
Uma das definições mais adotadas baseia-se na Convenção das Nações Unidas de
Combate à Desertificação - UNCCD, ressaltada pelo Programa de Ação Nacional de Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca - PAN-Brasil, que apresenta a desertificação como
sendo a degradação das terras nas zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultante de
vários fatores, incluindo aqueles causados por variações climáticas e atividades humanas,
associadas principalmente ao uso inadequado dos solos, da água e da vegetação (BRASIL, 2004).
O conceito adotado pelo PAN-Brasil também admite que a desertificação têm causas na
ação antrópica agressiva e mal planejada, realizada em espaços vulneráveis à aceleração e
desencadeamento de processo de degradação com difícil regeneração e recomposição.
Magalhães (2009) afirma que no médio prazo os processos de desertificação são mais afetados
pela pressão das atividades humanas. O autor coloca que no caso do nordeste brasileiro tudo
começa com a derrubada da caatinga, entendendo que o desmatamento leva à - destruição da
biodiversidade com a redução da flora e da fauna; aceleração de processos erosivos, com
consequente perdas de solos e fertilidade; intensificação do escoamento superficial da água,
reduzindo a infiltração no solo e diminuindo sua umidade, impactando na disponibilidade de
recursos hídricos e até mesmo no secamento de fontes de água; redução da produtividade da
terra, afetando diretamente as comunidades rurais do semiárido.
Conforme Sá et al. (2010) a desertificação se trata de uma degradação extrema e se aplica
à terra, a cobertura vegetal e a biodiversidade e denota perda da qualidade produtiva em zonas
áridas, semiáridas e subúmidas. No semiárido brasileiro o autor enfatiza que o processo e
desertificação não só se manifesta pela sensibilidade natural do ambiente, mas, sobretudo pelo
uso imposto nesse espaço.
Tendo causas humanas ou naturais a desertificação se constitui como um processo
intenso de alteração ambiental em espaços que se caracterizam por apresentar uma baixa
precipitação anual com má distribuição, alta evapotranspiração e ecossistema relativamente
frágil. Em alguns locais no semiárido brasileiro as alterações são tão flagrantes que eles foram
reconhecidos como Núcleos de Desertificação, isto é, locais que representam o efeito máximo do
processo de degradação (MATALLO JÚNIOR, 2001) ou como apresentado por Sampaio, Araujo e
Sampaio (2005) sendo uma área com grandes manchas desnudas e/ou com cobertura vegetal
baixa e sinais claros de erosão do solo. Nestas áreas verifica-se a devastação do bioma caatinga e
a exposição dos solos às chuvas intensas, o que acarreta a intensificação de processos erosivos.
Nos estudos sobre desertificação em uma determinada área, indicadores são construídos
para determinar a existência e a intensidade do fenômeno, assim como, seu monitoramento.
Matallo Júnior (2001) em seu trabalho sobre indicadores de desertificação analisa diversos
estudos realizados no Brasil e apresenta grande número de indicadores, ao final destaca
proposta metodológica da UNCCD, que apresenta 18 indicadores divididos em dois grupos: 1 -
indicadores de situação, associados ao clima e a socioeconomia. O grupo 2 – Indicadores de

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desertificação, que podem identificar o fenômeno em nível ambiental, sendo organizados nos
temas biológicos, físicos, agrícolas e densidade demográfica. Já no Anexo 7 do PAN-Brasil
(BRASIL, 2004) estabelece 35 indicadores de desertificação abordando diversos temas de caráter
natural, social e econômico, de uso e ocupação, devastação da cobertura vegetal, degradação
dos solos, qualidade e disponibilidade dos recursos.
É recorrente nas discussões sobre desertificação o destaque à degradação dos solos como
característica marcante do processo. Nesse sentido, Sá et al. (2010) ao comentar sobre
condicionantes para o processo de desertificação no nordeste brasileiro destaca a degradação
dos solos, que é definida pelos autores como um processo que reduz a capacidade atual ou
potencial do solo em produzir bens e serviços, frisando a diminuição da qualidade e quantidade
da produção de biomassa no solo.
Sampaio, Araújo e Sampaio (2005, p. 99) afirmam que a erosão é a mais grave das causas
de degradação dos solos do semiárido Nordestino, por sua irreversibilidade. Ela pesa ainda mais
pela grande extensão de solos já excessivamente rasos, pelo regime de chuvas com aguaceiros
intensos e pela agricultura praticada em áreas de declividade alta e sem qualquer medida de
prevenção. Neste sentido, verifica-se a importância dos estudos sobre degradação dos solos, em
particular da erosão, nas discussões a respeito da formação e evolução de áreas desertificadas,
ou até mesmo, como mecanismo para compreensão da dinâmica do processo de desertificação.
A erosão dos solos é um fenômeno complexo, determinado pela interação de fatores
controladores como a chuva, as propriedades do solo, as características da topografia e a
cobertura vegetal, que devem ser compreendidos de forma detalhada para o melhor
entendimento do processo erosivo e das taxas de erosão. Guerra (2003) afirma que a intervenção
do homem pode alterar esses fatores, apressando ou retardando os processos erosivos. Enfim, é
a partir da conjunção desses fatores que certas áreas tendem a erodir mais que outras.
Muitas das vezes a erosão dos solos no semiárido brasileiro reduz intensamente sua
fertilidade, capacidade de produção vegetal e a manutenção do equilíbrio ambiental,
comprometendo a capacidade de regeneração do sistema ecológico, caracterizando o estágio
inicial do processo de desertificação.
Com isso, o presente trabalho se propõe a investigar alguns aspectos sobre a degradação
dos solos, a partir da discussão sobre a existência de marcas erosivas na superfície (sulcos,
ravinas, voçorocas, e erosão laminar) visando auxiliar na compreensão do processo de
desertificação numa mancha espacial localizada no médio curso da sub-bacia do rio Salitre, nas
proximidades das comunidades de Lagoa Branca, Taboa e Poço da Pedra no município de Campo
Formoso – BA.

MATERIAIS E MÉTODOS
A área de estudo está situada entre os povoados de Lagoa Branca e Poço da Pedra, a 57 e
69 km, respectivamente, a noroeste da sede do município de Campo Formoso – BA, posicionado
no Centro-Norte da Bahia, a 414 km de Salvador. Esta se localiza no médio curso da sub-bacia
hidrográfica do Salitre, que possui uma área de 13.602 Km2, tendo suas cabeceiras na parte norte
da Chapada Diamantina e foz no rio São Francisco, no município de Juazeiro, logo a jusante da
barragem de Sobradinho (BAHIA, 2003).
Geologicamente a área é dominada pela formação caatinga, que se estende por toda a
bacia do Salitre, onde se evidencia espécies regionalmente conhecidas como umbuzeiro,
quixabeira, aroeira, marmeleiro, caroá, quebra-faca, faveleiro, pinhão brabo, carqueja, jurema e

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cactáceas diversas, como xique-xique, mandacaru, facheiro, coroa de frade, palmatora-de-


espinho entre outras. A caatinga é do tipo hiperxerófila de formação caducifólia espinhosa, seu
porte é predominantemente arbustivo-arbórea, com baixa densidade espacial.
A região apresenta clima semiárido com temperatura máxima (média anual) em torno de
30°, pluviosidade na faixa de 400 a 600 mm/ano, podendo chegar a 300mm, concentrados
normalmente em três meses. A evapotranspiração potencial girando em torno de 2.100 mm/ano,
não existindo excedente hídrico durante o ano. Compõe uma área com índice de aridez elevado,
portanto, com altos riscos de estiagem (CPRM, 2005; BAHIA, 2003).
Para o desenvolvimento desse trabalho foi necessário a organização de distintos
procedimentos que foram articulados e integrados. Realizou-se inicialmente o levantamento dos
dados acerca do local a ser pesquisado, obtendo informações de cartas topográficas, geológicas,
pedológicas, fitogeográficas, geomorfológicas, dados do IBGE, CPRM, Embrapa, Prefeitura de
Campo Formoso e Instituto de Meio Ambiente da Bahia – INEMA, além de Imagens de Satélite
cedidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE. Posteriormente realizou-se a
seleção, ou seja, compilação dos dados.
O segundo passo foi a visita de campo para georreferenciamento de algumas das
extremidades da área em processo de desertificação e para construção de perfil topográfico,
utilizando-se GPS de navegação. Também em campo, foi fotografada diversas marcas erosivas e
pontos de acumulação de sedimentos e ao mesmo tempo determinou-se as dimensões de uma
das inúmeras voçorocas encontradas na área. Foi medida o direcionamento do fluxo com GPS de
Navegação e medidas de largura, comprimento e profundidade com a utilização de corda, fita
métrica e régua de madeira com 3 metros. Foram apontados 12 pontos de medida ao longo da
incisão erosiva, espaçados a cada 5 metros. Em seguida, mensurou-se a perda de solo
proporcionada pela existência da voçoroca.
O terceiro passo foi a interpretação e classificação da Imagem do Satélite CBRES - Sensor
HRC, banda pancromática com resolução espacial de 2,5 m (aquisição gratuita via INPE). Em
seguida, foi digitalizado (sobrepondo a imagem) no Software Spring 5.1.8 polígonos que
permitiram delimitar as áreas de solo exposto e em estágio avançado de degradação. A
interpretação foi baseada na textura, tonalidade e densidade da cobertura vegetal com áreas de
solos expostos. A validação do polígono classificado na interpretação foi feita a partir da
comparação com os pontos georreferenciados e fotografados no campo.
Na última etapa ocorreu a confecção do mapa, delimitando a área dominada por marcas
erosivas. É importante frisar que as características das paisagens fotografadas foram
extrapolados a partir da interpretação da imagem de satélite. Utilizou-se os softwares Excel e
CorelDraw, além dos Sistemas de Informação Geográfica ArcGis 9.2. e o Spring 5.1.8.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relação às condições topográficas do local foi verificada a existência de uma área
rebaixada, seguindo o curso do rio Salitre. A intensa degradação está encaixada nessa pequena
área de depressão relativa (Figura 01), onde as encostas passam a apresentar maiores
declividades, possuindo trechos acima de 10%, com comprimento de encosta que pode chegar a
2 Km. Nessas condições topográficas há forte tendência para o desencadeamento e aceleração
de processos erosivos.

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Figura 01 – Depressão do relevo em trecho do médio curso do rio Salitre (proximidades da


comunidade de Taboa – município de Campo Formoso-BA). A área degradada por intensos
processos erosivos está encaixada nessas condições topográficas.

O relevo é um fator decisivo na dinâmica ambiental da área do vale do Salitre. Nos longos
trechos planos, inferior a 3% de declividade, em direção às cabeceiras oeste-leste da bacia, pouco
se verifica a existência de áreas com solos degradados, mas, nos trechos nas proximidades do
leito do rio principal (depressão) com maiores declividades topográficas, se verifica a alta
densidade de ravinas, voçorocas e cicatrizes de erosão laminar e, até mesmo, cicatrizes de
movimentos de massa (rastejamentos e escorregamentos).
Nas localidades estudadas do médio Salitre é visível uma grande área de solo exposto,
que em associação com as chuvas concentradas e torrenciais da região(apesar do baixo índice
pluviométrico) desencadeiam inevitavelmente a erosão por salpicamento, que é, segundo Guerra
(1999), o impacto da gota da chuva no solo, e representa o estágio mais inicial do processo
erosivo, pois rompe os agregados e prepara as partículas que compõem o solo para serem
transportadas pelo escoamento superficial. Para Bertoni e Lombardi Neto (2008), o impacto da
gota de chuva além de romper os torrões e provocar o movimento de pequenas partículas,
compacta o solo e reduz a infiltração da água, ampliando o volume hídrico das enxurradas e
consequentemente, a maior possibilidade de perda de solo.
O escoamento superficial difuso ou em lençol das águas pluviais nas encostas provocam a
erosão laminar, que é a eliminação muitas vezes por completo do horizonte pedológico superior
(BARCELAR, 2000; BIGARELLA, 2003). Nesse caso, a remoção de lâminas de solos ocorre de forma
progressiva, sobretudo aqueles constituídos de partículas mais finas e pouco coesas, pois as
partículas maiores (areias) possuem tamanhos relativamente grandes para serem arrastados pelo
fluxo de águas difuso (BIGARELLA, 2003).
A figura 02 apresenta marcas da erosão laminar que é recorrente em toda a área de
estudo. É comum a exposição de raízes de plantas, ocasionada pelo rebaixamento da superfície
provocada pela remoção de parte do horizonte A do solo (Figura 02 foto a), da mesma forma
ocorre com a grande presença de rochas soltas na superfície, evidenciando a remoção das
partículas menores do solo, o que aumenta a concentração de sedimentos maiores na superfície
(Figura 02 foto b).

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Figura 02- Fotos apresentado marcas na paisagem da erosão laminar. a- raízes expostas a
superfície; b- alta pedregosidade na superfície do solo.

Nas encostas, sob declividade acima de 10% é evidente a presença de pedestais de solo
protegidos pela massa de raízes das plantas (Figura 03). Esses pedestais ocorrem quando uma
porção de solo (remanescentes da superfície inicial) resiste a ação erosiva em função da presença
de plantas, que além de protegerem o solo do salpicamento, também sustentam a porção de
terra da ação do escoamento superficial. Para Casseti (2005) os pedestais indicam a ocorrência
de salpicamento intercalado com remoção das partículas pelo escoamento superficial.
Esse fenômeno evidência uma erosão diferencial numa encosta, onde as áreas
circunvizinhas sofrem maior remoção de solo do que no pedestal. Como as áreas rebaixadas são
predominantes sobre os pedestais é fácil evidenciar uma grande perda de solo por erosão.

Figura 03 - Marcas da erosão nas encostas. Foto a- pedestal de solo protegidos pela massa de
raízes das plantas; foto b – representa paisagem a qual está inserida o fenômeno apresentado
na foto a.

Conforme a figura 04, o que é bastante comum na paisagem da área em estudo são as
marcas deixadas pelo processo de erosão linear. Esse tipo de erosão ocorre quando o fluxo de
água superficial começa a se concentrar linearmente ao longo de uma determinada encosta,
devido a pequenas irregularidades no terreno, gerando pequenas incisões no solo, e a medida
que o fluxo vai aumentando, o processo erosivo se intensifica, dando origem a canais
conhecidos como ravinas (GUERRA, 1999). A existência de ravinas ou sulcos numa determinada
encosta exibem um estágio erosivo mais avançado, pois a formação de canais pressupõe grande
quantidade de solo removido (BIGARELA, 2003; Bertoni e Lombardi Neto, 2008).

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Figura 04 – Aspecto de ravinas. Foto a – exibe incisão mais agressiva, ravina em estágio mias
avançado; Foto b – Pequenos sulcos.

Em muitas das situações as incisões lineares estão numa escala métrica,


consideravelmente em um estágio de erosão mais avançado, constituindo voçorocas, fenômeno
relativamente comum entre as comunidades Lagoa Branca, Taboa e Poço da Pedra. De acordo
com Guerra (2003) voçorocas são feições relativamente permanentes nas encostas, estando
associadas com processos de erosão acelerada e, dessa forma, com a instabilidade da paisagem.
O autor considera voçorocas as incisões lineares que apresentam dimensões maiores que 50 cm
de largura e profundidade, critério utilizado para diferenciar ravinas de voçorocas.
Bigarella (2003) também afirma que as voçorocas originam-se de um desequilíbrio
hidrológico causado, principalmente, pela ocupação das terras a partir da remoção generalizada
da vegetação protetora. Mas, é importante frisar que esse tipo de erosão pode está associado a
uma condição natural do ambiente. Bacellar (2000) apesar de considerar que as voçorocas
podem ser geradas por intervenções antrópicas, admite que são comuns voçorocamentos
antigos, anteriores a ocupação humana, portanto com causas naturais, como um reflexo de
mudanças ambientais, sejam elas climáticas ou geomorfológicas. “As modificações antrópicas são
suficientes para gerar voçorocas, mas a atuação do homem não é definitivamente um pré-
requisito para seu desenvolvimento” (BACELLAR, 2000, p. 17).
Independentemente de se considerar o voçorocamento uma condição associada a
evolução natural do relevo ou como sinais do impacto da ação antrópica, representa amplo e
avançado estágio de degradação das terras e de dissecação da encosta, representado pelo
movimento de sedimentos vertente abaixo, provocando desequilíbrio na qualidade dos solos, na
biota local e nos canais fluviais.
Na comunidade de Taboa são encontradas inúmeras voçorocas, desse modo, optou-se
por medir as dimensões de apenas uma linha de incisão e mensurar a perda de solo ocorrida no
local (Figura 05). As medidas ocorreram a partir da alta encosta, de montante para jusante, num
ponto onde o sulco atinge 0,5m de profundidade até a conexão com o rio Salitre.
Essa incisão possui 320 metros (m) de comprimento, largura média de 5,9 m,
profundidade média de 2 m, com dimensões que abrange uma área de aproximadamente 1.888
m2, e correspondendo a um volume de solo retirado em torno de 3.776 m³. Este dado é apenas
um valor aproximado, já que a forma do canal interfere na exatidão da informação mensurada.

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Figura 05 – Voçoroca na comunidade de Taboa – Campo Formoso – Bahia.

De forma geral, a voçoroca apresentada possui pequenas dimensões em comparação com


outras estudadas em diversas regiões do Brasil, com incisões que ultrapassam 20 metros de
largura e profundidade, com comprimento de várias centenas de metros. Mas, é fundamental
considerar que as condições pedológicas e climáticas da área em estudo são bem distintas do
restante do país. Os solos são, de maneira geral, rasos e o índice pluviométrico inferior a 500
mm, mesmo assim, a área entre as comunidades de Lagoa Branca, Taboa e Poço da Pedra (área
de aproximadamente 25 Km²) possuem dezenas de voçorocas ativas, em sistemas ramificados,
com inúmeros canais. Nesse sentido, para as condições de clima semiárido, ocorre na área um
avançado estágio de degradação por voçoroca. E como consequência a acumulação de
sedimentos ao longo da linha de drenagem do rio Salitre.
Após o reconhecimento a campo por sensoriamento remoto e generalização das
características apresentadas acima, e a partir da interpretação de imagens CBERS 2B (Sensor
Prism) e visitas em vários pontos do médio curso da bacia do Salitre, foi possível reconhecer
áreas semelhantes com processos de degradação dos solos similares, que ultrapassam os espaços
circunvizinhos à Taboa, Poço da Pedra e Lagoa Branca e se estendem ao longo de
aproximadamente 25 km, desde à comunidade de Salgado, ao sul, até o Povoado de Abreus, ao
norte, numa área de 61,5 Km² (Figura 06).
Vale enfatizar, que para a confirmação da existência de um pequeno núcleo de
desertificação nessa área, seria prudente a confrontação com outros indicadores, haja vista, que
o processo de desertificação possui intrinsecamente um caráter multidisciplinar. Portanto,
informações que dizem respeito a redução da biomassa e da biodiversidade da caatinga, a
catalogação de espécies vegetais indicadoras de degradação, a minoração da quantidade e
diversidade da fauna, a salinização dos solos, a redução da fertilidade dos solos, a diminuição da
qualidade da água e de sua disponibilidade na superfície, a redução da vazão em poços (teste de
bombeamento), a dados históricos sobre insolação e precipitação, a dados sociais e econômicos
que comprovem o empobrecimento da área, dentre outros indicadores, que em conjunto
poderão efetivamente afirmar a existência de um núcleo de desertificação.

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Figura 06 - Mapa da área degradada, correspondente ao provável Núcleo de Desertificação do


Médio Salitre.

A degradação física dos solos provocadas pela erosão é tão marcante na área estudada,
que provocou a redução da capacidade de adensamento da cobertura vegetal, comprovada pela
predominância espacial de áreas com solos expostos associados a alta densidade de ravinas e
voçorocas. Essas manchas desnudas não estão atreladas ao preparo da terra para o cultivo
agrícola, pelo contrário, são áreas onde a caatinga não consegue brotar e se desenvolver. Nesse
momento, é importante destacar que a deterioração intensiva dos solos restringe a regeneração
da caatinga e interfere na dinâmica da biota local, conduzindo o ambiente para o estágio de
desertificação. Apesar de ser apenas um indicador, a degradação dos solos no médio vale do
Salitre representa um forte indício para a formação de um núcleo de desertificação.

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CONCLUSÃO
Na área do médio curso do rio Salitre no município de Campo Formoso -BA,
correspondente as comunidades de Salgado, Lagoa Branca, Taboa, Poço da Pedra, Saquinho e
Abreus, tem-se a presença de manchas de solo exposto com vegetação (caatinga) em dificuldade
de regeneração e também marcas de intenso e generalizado processo de erosão linear e laminar,
características marcantes em um núcleo de desertificação, que possivelmente formou-se nesse
local.

REFERÊNCIAS

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