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Environmental impacts caused by motocross's sports practice: a case study in Sapé region,
in the Ipameri-GO municipality
RESUMO
O presente trabalho apresenta os principais impactos ambientais provocados pela prática
esportiva do motocross, na região do Sapé, município de Ipameri-GO. A modalidade do
motociclismo intitulada trial ocorre quando os chamados trilheiros percorrem as trilhas de
difícil acesso devido à vegetação nativa, pedregosidade ou pela inclinação do relevo local.
Essa prática traz danos irreversíveis para o Cerrado da área, pois o atrito provocado pelos
pneus devasta a vegetação rasteira e cria incisões profundas no solo desencadeando processos
erosivos acelerados. O prejuízo ambiental pode ver percebido, também devido ao lixo deixado
pelos praticantes desse esporte. Conclui-se que há necessidade de uma intervenção na
percepção ambiental dos personagens dessa modalidade de motociclismo, a fim de
conscientizá-los, sendo a Educação Ambiental uma das ações que podem ser realizadas com
os trilheiros a fim de amenizar os impactos detectados.
ABSTRACT
This study presents the main environmental impacts caused by the motocross sport practice,
in the region of Sapé, municipality of Ipameri-GO. The modality of motocross called trial
occurs when the so-called trackers traverse hard-to-reach trails due to native vegetation, stony
or sloping local relief. This action brings irreversible damages to the Cerrado vegetation of the
area, as the friction caused by the tires devastates the undergrowth and creates deep incisions
in the soil, triggering and accelerating erosive processes. The environmental damage can be
perceived also due to the trash left by the practitioners of this sport. It was concluded that it is
necessary an intervention in the environmental perception of the characters of this modality,
in order to warn them.Therefore Environmental Education is one of the actions that can be
carried out with the trackers in order to mitigate the impacts detected.
INTRODUÇÃO
O Planeta Terra apresenta uma grande diversidade de climas, isso faz com que haja
uma complexidade nos tipos de vegetação. Esses padrões em grande escala são denominados
de biomas. Isso quer dizer que a distribuição dos biomas na superfície terrestre “[...]
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relaciona-se principalmente com os climas e, dentre os seus elementos, mais diretamente com
a temperatura e a precipitação, seja a quantidade de chuva, seja a sua distribuição ao longo do
ano” (WALTER, 1986 citado por BATALHA, 2011, p.22).
Assim, um bioma corresponde, de maneira mais simples, a uma formação vegetal,
porém inclui não só as plantas, mas também os demais organismos. Devem ser levados em
consideração seu domínio fitogeográfico, morfoclimático, o tipo vegetacional, sua
fitofisionomia e a cobertura vegetacional.
Desse modo, o Cerrado é considerado um dos pontos quentes “hot spots” para a
conservação da biodiversidade no mundo. Enquanto alguns autores o definem como um
bioma, outros como Coutinho (2006) o classificam como domínio, pois para o autor, o termo
“bioma” é um tipo de ambiente bem mais uniforme em suas características gerais, em seus
processos ecológicos, enquanto que o termo “domínio” é muito mais heterogêneo. Logo, tais
termos não podem ser utilizados como sinônimos.
Ainda de acordo com o autor, considerar o Cerrado que não é um “patrimônio
nacional” pela Constituição Federal (1988), como um bioma “[...] é particularmente perigoso
para a preservação e conservação das matas de galeria, matas tropicais estacionais sempre
verdes [...]” dentre outros domínios que requerem uma atenção maior (COUTINHO, 2006, p.
20).
O MOTOCROSS NO BRASIL
ANO FILIADOS
2009 409
2010 556
4
2011 419
2012 396
2013 588
2014 552
2015 675
2016 569
2017 (1º Semestre) 512
Quadro 1 - Filiados à Federação de Motociclismo de Goiás (2009 a 2017)
Fonte: Organizado pela autora (2017) com base nos dados do portal da CBM (2017).
IMPACTOS AMBIENTAIS
Faria et al. (2010) advertem sobre os impactos ambientais provocados pelo Turismo
Ecológico e Ecoturismo, para os autores, na prática há uma distinção entre os dois. Enquanto
neste (Ecoturismo) há uma preocupação com a preservação e a sustentabilidade, já no
primeiro não há uma inquietação com os possíveis impactos que podem ser provocados pelos
fluxos ou dinâmicas estabelecidas. Os autores citam o Turismo Radical como uma dessas
modalidades.
O Arquiteto e urbanista Sérgio Torres Moraes (2007) amante dos esportes radicais,
antigo competidor brasileiro de montain bike e praticante assíduo das trilhas de bikes por todo
o mundo, deixou em seu blog a seguinte nota sobre os motoqueiros:
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O barulho e a fumaça espantam a fauna, a velocidade e a força do motor transmitida
no terreno através dos pneus (especialmente em terrenos molhados) causam erosão,
deslizamentos e agridem a mata, a prepotência dos motoqueiros desrespeita os
outros usuários das trilhas que estão a pé ou em bicicleta. Os praticantes de
motociclismo em trilhas dificilmente têm consciência da agressão que causam ao
meio ambiente e às pessoas (MORAES, 2007, s.p.).
Figura 1 - Vala (80 cm) provocada por trilheiros em Macacos, município de Nova Lima-MG
Fonte: Faria et al. (2010, p.5)
METODOLOGIA
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A pesquisa foi realizada na área rural, na serra do Sapé, na margem esquerda do rio
Corumbá, um dos principais afluentes do rio Paranaíba, no município de Ipameri-GO, distante
cerca de 20 km da cidade de Caldas Novas (Figura 2). A área é constituída por um relevo que
varia de moderadamente a fortemente inclinado que inviabiliza sua utilização para atividade
agropecuária, por outro lado, essas características topográficas atraem os praticantes de
motocross, denominados de trilheiros, de Caldas Novas, Ipameri e municípios vizinhos que
gostam desse tipo de ambiente para a sua prática esportiva.
Após a escolha do tema e do objeto a ser pesquisado realizou-se pesquisa bibliográfica
para o levantamento teórico pertinente. Para suprir a escassa disponibilidade de informações
sobre a área, foram necessárias entrevistas informais com moradores das proximidades das
trilhas, bem como, com quatro (4) trilheiros que frequentam a referida área.
Após a pesquisa documental, foram realizados trabalhos de campo para a coleta de
dados utilizando informações do Google Earth (Figura 1), buscando identificar as trilhas
sobre a Serra na região do Sapé, no município homônimo no Sul do Estado de Goiás. Foram
realizados registros fotográficos dos pontos mais críticos da trilha para evidenciar a situação
ambiental da área investigada.
A Serra do Sapé possui altimetria moderada entre 800 e 900m de altitude. Está
localizada à margem esquerda do rio Corumbá. A sua topografia heterogênea favorece a
prática de esportes radicais, neste caso, destaca-se o motocross em trilhas. Na borda da
referida serra existem três morros menores (Figura 3) utilizados pelos motoqueiros para
chegar ao topo principal da área.
No primeiro morro que fica há 200 metros da rodovia estadual GO-206 existem quatro
(4) trilhas profundas abertas para as subidas (Figuras 4A, 4B, 4C e 4D) que se transformaram
em sulcos e/ou ravinas. Essas trilhas vão sendo abandonadas à medida que as motos não
conseguem mais trafegar por elas, devido à profundidade das incisões erosivas instaladas.
A B C D
No topo da serra, após o terceiro morro, os trilheiros mais aventureiros estendem seu
passeio na parte mais elevada da região (Figura 6). A área apresenta sinais de degradação
devido ao contínuo e progressivo tráfego de motos, que devasta a vegetação rasteira e cria
trilhas profundas no solo desencadeando os processos erosivos acelerados.
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Na maior parte da Serra predomina solos rasos ou afloramento rochoso,
principalmente nas escarpas que a circundam (Figura 9). O intenso atrito provocado pelos
pneus das motos, para conseguir subir o elevado aclive desgasta o terreno, provocando o
surgimento de impactos ambientais, mesmo em áreas com solos rasos ou inexistentes, ou seja,
diretamente sobre a rocha causando sua fragmentação/pulverização criando trilhas que se
aprofundam cada vez mais em função do uso ininterrupto (Figura 10).
Figura 9. Afloramento rochoso na escarpa da Serra Figura 10. Trilhas na escarpa da Serra do Sapé.
do Sapé.
Fonte: Arquivo Pessoal (15 de junho de 2017)
Nos pontos em que o solo é mais profundo e as trilhas foram abandonadas pelos
trilheiros é possível notar que a vegetação tem surgido nas incisões erosivas (Figura 11).
Contudo os praticantes do motocross, abrem novas trilhas que concentram o escoamento
superficial que tem desencadeado o surgimento e evolução de ravinas no sopé das áreas mais
elevadas.
Segundo Oliveira (2012, p. 59), as ravinas são erosões que possuem até 50 cm de
largura e profundidade, portanto, em alguns pontos da área estudada são comuns erosões que
se encaixam nessa classificação, conforme evidenciado na Figura 12. Para o autor, é de sua
importância estudar, acompanhar o processo e realizar obras de contenção visando evitar que
“as ravinas evoluam e se transformem em voçorocas”, ou seja, impedir que a incisão erosiva
aumente suas dimensões e atinja o lençol freático.
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Figura 11 – Vegetação da trilha mais antiga (à Figura 12. Ravina profunda e instável no sopé do
esquerda do 1º morro) primeiro morro.
Fonte: Arquivo Pessoal (15 de junho de 2017)
O impacto ambiental não está apenas nas trilhas abertas pelas motos, na destruição do
solo e da vegetação. Os trilheiros não têm deixado apenas marcas no terreno, mas,
infelizmente, deixam também resíduos sólidos de natureza variada como garrafas plásticas
(Figura 13) e embalagens de salgadinhos (Figura 14), geralmente utilizados por eles durante
os percursos.
Figura 13 - Lixo deixado pelos trilheiros – garrafa Figura 14 - Lixo deixado pelos trilheiros –
plástica. embalagem plástica.
Fonte: Arquivo Pessoal (15 de junho de 2017)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Cerrado: Ecologia e Caracterização. Planaltina, DF: Embrapa Cerrados; Brasília: Embrapa
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BERTONI, José; LOMBARDI NETO, Francisco. Conservação do Solo. 9. ed. São Paulo:
Ícone, 2014.
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm>. Acesso em: 20 jul. 2017.
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<http://www.cbm.esp.br/sistema/filiacao.php?organizador=FMG>. Acesso em: 19 jul. 2017.
COUTINHO, Leopoldo Magno. O conceito de bioma. Acta Bot. Bras. [online]. 2006, vol.20,
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FARIA, Ana Carolina Viana et al. Turismo e Impactos Ambientais: um estudo sobre a
trilha e a Cachoeira dos Macacos – Distrito São Sebastião das Águas Claras, Nova Lima/MG.
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<file:///C:/Users/Ros%C3%A2ngela/Downloads/1643-6300-1-PB%20(1).pdf >. Acesso em:
12 jul. 2017.
GALVÃO, Maria Velloso (Org). Geografia do Brasil: Região Centro Oeste. Rio de Janeiro:
IBGE, 1998.
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TRIPOLI, Rubens. História do Motocross pela Confederação Brasileira De Motociclismo.
s.d. Disponível em: <http://www.cbm.esp.br/institucional.php?sub=historia>. Acesso em: 10
jul. 2017.
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