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RENSENHA

Fundamentos da Engenharia Ambiental


Leandro Santos Silva

KOHLRAUSCH, F.; JUNG, C. F. Áreas ambientais degradadas: causas e


recuperação. In: Congresso Nacional de Excelência em Gestão. Rio de janeiro, 2015.

O artigo estudado tem como objetivo principal apresentar os resultados de uma


pesquisa que teve por finalidade analisar as contribuições científicas a partir de
estudos sobre áreas ambientalmente degradadas e ações para recuperação,
apontando como principais causas do surgimento dessas áreas a agricultura, a
mineração da fração areia/argila/caulim e a mineração de metais (ouro, ferro, bauxita).
Todas as publicações referiram a necessidade de um meio ambiente preservado e de
processos que otimizem a recuperação das áreas degradadas. Possui ainda, a
finalidade de analisar as causas que levam ao surgimento das áreas degradadas, a
localização das mesmas e a ocorrência de ações para a recuperação destas áreas.
O autor cita alguns conceitos de área degradada, comenta que área degradada
ou paisagens degradadas pode ser compreendido como locais onde existem (ou
existiram) processos causadores de danos ao meio ambiente, pelos quais se perdem
ou se reduzem algumas de suas propriedades, tais como a qualidade produtiva dos
recursos naturais. Pode ser entendida como uma consequência das atividades que
direta ou indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da
população ou criarem condições adversas às atividades sociais e econômicas,
afetarem desfavoravelmente os fatores bióticos e as condições estéticas ou sanitárias
do Meio Ambiente e lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões
ambientais estabelecidos.
Das áreas degradadas, 98,8% estão relacionadas às atividades de produção e
extrativismo, e 1,2% a ações como mineração, construção de estradas, represas,
áreas industriais, disposição do lixo urbano de forma incorreta, erradicação da mata
ciliar e de galeria, entre outras, resultando em impacto imediato sobre o solo. São os
impactos ambientais, quase sempre notados através das inundações, deslizamentos,
desmoronamentos, produção de lixo, erosões, entre outros. Diz que o impacto
ambiental não é só um resultado da ação humana sobre o ambiente, mas sim a
relação entre as mudanças sociais e ecológicas em constante movimento e que
geralmente estes estão relacionados à falta de planejamento urbano.
O autor destaca a necessidade de se agrupar e estabelecer a classificação por
porte, potencial de impacto, tipo de atividade e localização, informações estas que
dispôs em um quadro.
Segundo o texto a questão da degradação ambiental é antiga pois desde seu
surgimento na Terra, o homem tenta compreender e transformar o mundo à sua volta.
O homem desde a pré-história interfere consciente ou inconscientemente no
meio ambiente, mais especificamente na distribuição da vegetação, seja pela
dispersão de sementes durante processos migratórios, pela proteção de espécies
consideradas úteis ou sagradas, pela seleção de espécies para domesticação, pela
caça ou domesticação de animais necessários à polinização de espécies da floresta
ou através de outros processos que envolvem fatores bióticos e abióticos. O
desmatamento e a exploração dos recursos florestais, nas áreas de colonização, foi
obra das primeiras gerações de imigrantes, mas que a poluição em maior escala, do
solo e dos recursos hídricos, ocorreu a partir das últimas gerações, com a introdução
de herbicidas e agrotóxicos nas lavouras, o que alterou profundamente as
propriedades físico-químicas do solo e de fontes de água.
Falando-se de degradação ambiental a nível Brasil o texto explica que a
enorme demanda por recursos naturais ocasionou uma exploração desmedida, uma
rápida degradação desse meio e o aumento da degradação ambiental e que o Brasil,
desde seu descobrimento, sofreu um processo de desbravamento extrativista e que o
conceito de progresso e desenvolvimento significou, durante séculos, explorar ao
máximo a flora e a fauna.
Comenta que a política ambiental brasileira passou a estruturar-se somente a
partir da década de 30 do século XX com a elaboração do Código Florestal, do Código
de Caça e Pesca e o do Código das Águas e posteriormente, através do ordenamento
jurídico brasileiro, como com a Lei 6938/81.
No item 3 que trata sobre os procedimentos metodológicos adotados para o
estudo, o autor define os critérios utilizados para seleção dos estudos que
compuseram a pesquisa, que foram: (i) conter a expressão “degradada” ou
“degradadas” no título; (ii) possuir texto ou resumo em língua portuguesa ou
espanhola; (iii) estar relacionado ao contexto de degradação ambiental; (iv) ser artigo
científico; (v) ter sido publicado de 2004 a 2014; (vi) fazer alusão ao local da área
degradada em estudo; e (vii) citar a causa da degradação ambiental da área em
estudo.
É clara e muito importante a confiabilidade na apresentação de um estudo
como este, dessa forma, os artigos foram pesquisados em bases confiáveis, a saber:
Scielo, Periódicos CAPES e Google Acadêmico. Foram selecionados 100 artigos em
cada base de dados e descartados os trabalhos que não possuíam enfoque em fatores
bióticos. Desta maneira, os artigos utilizados para esta revisão totalizaram 54 estudos.
O Autor construiu uma planilha eletrônica como instrumento de organização
das seguintes informações: (i) ano da publicação; (ii) título; (iii) autores; (iv) local da
área degradada – em estudo; (v) causa da degradação; (vi) periódico; (vi) local de
publicação; (vii) classificação Qualis e ISSN. Os artigos foram listados por ano de
publicação, referente ao período de 2004 a 2014, com a descrição dos respectivos
locais de estudo, inseridos em um quadro e em seguida elaborou uma síntese do
número de estudos em função do ano de publicação em forma de gráfico. Além disso
lançou mão do uso de uma Matriz de publicações, por estado, em função das causas
de degradação ambiental no Brasil. As causas listadas compreendem processos
relacionados à mineração, produção agrossilvipastoril, à manutenção da vida urbana
e degradações de origem natural em ambientes antropizados ou não.
Os artigos que citam como as causas de degradação a mineração totalizam
43% das publicações. Causas ligadas à origem agrossilvipastoril são mencionadas
em 28% das publicações, seguida pelas causas de manutenção da vida urbana com
20% e pelas de origem natural com 9%. Como constatamos, a mineração é a causa
de degradação mais ocorrente na amostra de artigos selecionados. Em Santa
Catarina, 3 dos 5 trabalhos citam áreas degradadas pela mineração. As 4 publicações
que referiram áreas degradadas em outros países, 3 citaram como a causa da
degradação a mineração.
Dentre os artigos analisados, 52% não realizou nenhuma forma de recuperação
ou regeneração da área identificada como degradada, mas descreveu processos,
listou e catalogou os seres vivos encontrados na área ou em seu entorno.
A regeneração natural da área foi descrita em 9% das publicações e em 39%
delas houve relato de procedimentos para a recuperação das áreas com plantio de
mudas, dispersão de sementes, distribuição de fungos, etc.
O autor em sua análise destaca o estado de Minas Gerais, pois, a taxa de 28%
dos trabalhos analisados ter a área em estudo localizada no estado pode estar
vinculada ao Vale do Rio Doce que de acordo com a história, os solos deste vale,
foram utilizados, em sua maioria, para pastagens com a utilização constante do fogo
como técnica de renovação destas, além de ser um solo com a ocorrência de minérios.
Acrescenta que o crescimento econômico brasileiro e a criação de Brasília
geraram forte pressão sob extensas áreas de Cerrado em Minas Gerais, sendo este
último fator importante que implicou a criação de estrutura viária em regiões ocupadas
por Cerrado, principalmente a Rodovia Rio-Brasília. Talvez em função da exploração
que vem sofrendo há séculos não só da mineração, mas também da agricultura,
algumas cidades de Minas Gerais apresentam áreas com estados avançados de
degradação.
A mineração é considerada umas das causas mais expressivas de áreas
degradas, dessa forma, o autor no item 5.1 que analisa as causas da degradação diz
que a mineração agrega a extração de petróleo, a mineração da fração
areia/argila/caulim, a mineração de sal, de carvão e de metais como ouro, ferro e
bauxita podem ser, provavelmente, caracterizadas como atividades que geram
grandes distúrbios. Destaca a exploração mineral que é uma das atividades que mais
contribui para a qualidade de vida da sociedade contemporânea, sendo considerado
um dos setores básicos para o desenvolvimento econômico e social de muitos países,
inclusive o Brasil. Esta gera muitos impactos, como os inerentes à própria atividade e
como os que podem ser minimizados se houver manutenção adequada. Podem
provocar um conjunto de efeitos indesejáveis relativos à poluição ambiental, aos
conflitos de uso e ocupação de solos, à geração de áreas degradadas, etc.
A taxa de 27% das áreas das publicações na classificação “Agrossilvipastoril”,
que inclui agricultura, a agropecuária e a silvicultura, possui uma relação com a
história de desbravamento extrativista na colonização do Brasil visto que o conceito
de progresso e desenvolvimento significou, durante séculos, explorar ao máximo a
flora e a fauna. Exemplifica expondo que no final do século XVIII, praticamente toda a
área de Floresta Ombrófila Densa no Município de Paraty, RJ, foi removida para o
plantio de cana-de-açúcar.
Para o autor a colonização no Estado do Paraná culminou na devastação de
grandes áreas florestadas em todo o Estado. Os programas de restauração de áreas
degradadas enfatizam a utilização de espécies nativas mas, muitas vezes, não se
conhecem as espécies indicadas para reflorestamentos locais, uma vez que essas
áreas são pouco conhecidas floristicamente.
A cobertura florestal, que originalmente ocupava grandes áreas, foi cedendo
espaço para atividades antrópicas, com maior destaque para a agricultura e pecuária.
A implantação de obras de infraestrutura totalizou cerca de 9% das áreas
degradadas citadas pelos artigos analisados. Obras como as usinas hidrelétricas
também causam impactos sobre a vegetação, além da supressão total ou parcial da
mata ciliar pela formação do reservatório, pelo uso de equipamentos pesados, que
compactam o solo, permanecendo sem qualquer condição para que nele se processe
a regeneração natural, exigindo, portanto, o emprego de técnicas adequadas de
recuperação como forma de amenizar o impacto ambiental.
A construção de moradias em áreas irregulares e a formação de áreas
degradadas urbanas, que foi citada em 9% dos artigos analisados, pode ser justificada
pela afirmativa de que o desenvolvimento dos grandes centros urbanos resultou na
supressão e degradação das áreas florestais, podendo-se citar, como exemplo, a
redução da Mata Atlântica, que antes ocupava grande parte da costa litorânea
brasileira, restando, atualmente, de sua área original, apenas fragmentos.
No que se refere ao item 5.2 Recuperação de áreas degradas o autor explica
que no Brasil são poucos os trabalhos que tratam da avaliação do sucesso dos
reflorestamentos e da eficiência das técnicas utilizadas até então e que a falta de
planejamento no uso dos recursos naturais tem resultado na degradação dos
ecossistemas florestais.
Diferente da recuperação, o processo de regeneração natural foi acompanhado
em 9% dos artigos analisados e que esta forma de recuperação pode sofrer influências
ambientais e que para sua descrição deve ser analisado em uma série de fases
consecutivas, as quais afetam o seu êxito e o resultado final.
Artigos que estudaram áreas degradadas por disposição incorreta de resíduos,
totalizaram apenas 2%. O texto ilustra que a recuperação de uma área degradada por
deposição inadequada de lixo envolve a remoção total dos resíduos depositados,
transportando-os para um aterro sanitário, seguida da deposição de solo natural da
região na área escavada.
Na conclusão o autor finaliza destacando que a amostra de artigos analisados
sobre áreas degradadas identifica a distribuição de um problema ambiental que pode
ser decorrente de um planejamento de desenvolvimento econômico, social e
ambiental falho ou inexistente, entretanto a relação entre o homem e o meio ambiente
depende da percepção que o homem tem dele mesmo da natureza e da vida.
O desenvolvimento econômico não só pode, como deveria estar sempre aliado
à preservação ambiental. A existência de áreas degradadas que necessitam de
recuperação indica que indivíduos, empresas ou o poder público não planejaram ou
não executaram de forma eficiente o processo, seja ele produtivo, de extração ou de
manutenção da vida.

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