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IV Encontro de Recursos Hídricos em Sergipe - 23 a 25 de março de 2011, Aracaju-SE

RISCOS GEOMORFOLÓGICO/HIDROLÓGICO NO BAIRRO PORTO


DANTAS EM ARACAJU/SE

Alizete dos Santos1 Wesley Alves dos Santos2 Hélio Mário de Araújo3

Resumo: O espaço urbano, caracterizado pelo crescimento rápido e desordenado, tem


propiciado a formação das chamadas áreas de riscos ambientais. Baseado nessa discussão, o
presente trabalho apresenta as características dos riscos geomorfológicos e hidrológicos
existentes no bairro Porto Dantas, em Aracaju/SE. Para tanto, além do referencial
bibliográfico, torna-se necessário a pesquisa de campo a qual permitiu identificar os processos
morfogenéticos atuantes na formação dos riscos, bem como, avaliar a estrutura das moradias.
A população da área de estudo está assentada em regiões fluvio-lagunares e encostas, que se
caracterizam como ambiente físico frágil à pressão urbana. A estrutura urbana desordenada e
as transformações ambientais locais desenvolvem potenciais de risco geomorfológico
(movimento de massa e erosão acelerada) e hidrológico (enchentes e alagamentos). Os riscos
são identificados pela possibilidade de ocorrência de danos induzidos ou não pela ação
antrópica. A análise permite identificar as prioridades da ação do poder público para o
planejamento e ordenamento territorial.

Palavras – chave: Risco Ambiental; Processos Morfogenéticos; Assentamentos.

INTRODUÇÃO
O processo de urbanização brasileira se caracterizou pela forma acelerada e desordenada
de ocupação da população. Essa dinâmica de transformação do ambiente físico em um
ambiente antropizado, acarretou-se na utilização de áreas de alto grau de fragilidade à
ocupação. Esse fato mostra a necessidade de realizar estudos que atentem para as perdas
humanas e/ou econômicas presentes no espaço urbano a partir da dinâmica ambiental.
Segundo Cunha & Guerra (1996) a atuação desordenada das construtoras no espaço
urbano (Estado, imobiliárias e populações menos favorecidas) resulta na proliferação de áreas
de riscos, e conseqüentemente em danos socioambientais.
Nessa perspectiva, entende-se por áreas de risco, a possibilidade de perigo, perda ou
dano do ponto de vista social e econômico a que a população esteja submetida caso ocorram
escorregamentos e processos correlatos, geológicos e/ou hidrológicos induzidos ou não
(CUNHA, 1991).

1
Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFS/CAPES, Geografia Licenciatura – UFS,
Membro do Grupo de Pesquisa em Dinâmica Ambiental e Geomorfologia – DAGEO/DGE/UFS/CNPq;
2
Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFS/CAPES, Especialização em Didática e
Metodologia do Ensino Superior – FSLF, Geografia Licenciatura – UNIT;
3
Professor Doutor do Departamento de Geografia – DGE/UFS, líder do Grupo de Pesquisa em Dinâmica
Ambiental e Geomorfologia – DAGEO/DGE/UFS/CNPq.
IV Encontro de Recursos Hídricos em Sergipe - 23 a 25 de março de 2011, Aracaju-SE

Em Aracaju, assim como em muitas cidades brasileiras de médio e grande porte, a


ocupação de moradias em ambientes físicos caracterizados como frágeis ao uso e ocupação,
coloca a população, de baixo poder aquisitivo, em situação de riscos ambientais como:
alagamentos ou enchentes (áreas fluvio-lagunares, terraços fluviais, vales inundáveis, beira de
córregos etc.), ou pela dinâmica das encostas (movimentos de massa, erosão acelerada, etc.).
Azambuja (2007) menciona que a ocupação irregular e a degradação dos recursos
naturais aumentam o desequilíbrio entre a pedogênese e a morfogênese em escala local, um
exemplo é a retomada de erosão linear e voçorocamento de encosta próximas às áreas de
ocupações urbanas recentes. Outros fatores estão associados aos riscos a inundações, por
serem mais visíveis quando há ocorrência de chuva forte, enchentes fluviais e marés muito
altas, que são intensificados em áreas urbanas pelas obras de drenagem inexistentes, ou mal
elaborada/aplicada que se transformam em barramentos à livre passagem da água.
Assim, levando-se em consideração os fatores associados a formação de áreas de
riscos geomorfológicos e hidrológicos, o presente trabalho se propõe identificar o tipo do
risco ambiental predominante no bairro Porto Dantas-Aracaju.

MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho realizou-se em dois momentos, sendo eles, gabinete e campo. Na
fase inicial, fez-se necessário as leituras bibliográficas e uso de documento cartográfico para
subsidiar as observações em campo.
No trabalho de campo fizeram-se várias observações in loco e utilizou-se o GPS como
instrumento de apoio, bem como a câmera fotográfica digital para registrar a dinâmica
superficial e cicatrizes (ravinas e voçorocas). Esta fase, auxiliada através da caderneta de
campo, possibilitou descrever sobre a interferência dos processos morfogenéticos na produção
das áreas de risco e localizar as moradias em situação de risco geomorfológico e hidrológico
do espaço que compete aos bairros Porto Dantas e Coqueiral.
Para a definição das moradias em risco foram observados os seguintes parâmetros:
proximidade das moradias do corte da vertente, cicatrizes de movimentos de massa, presença
de raízes de árvores expostas, incidência de erosão nas raízes da vegetação de médio e grande
portes muito próxima das casas, inclinação da vertente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
IV Encontro de Recursos Hídricos em Sergipe - 23 a 25 de março de 2011, Aracaju-SE

A área que abrange o bairro Porto Dantas encontra-se na parte Norte do município de
Aracaju. A presença da Área de Preservação Ambiental do Morro do Urubu criada em 1993
não barrou a crescente ocupação irregular da população carente em seu entorno.
O espaço que compete a APA caracteriza-se pelo seu grau elevado de altitude e a
presença do remanescente de Mata Atlântica. Há ocorrência de terraços marinhos planos e
baixos pertencentes à margem direita do rio Sergipe em que apresenta uma ocupação mais
antiga, já a Invasão do Coqueiral em terrenos das encostas do Morro e da planície flúvio -
marinha, com ou sem mangue, apresentando no prolongamento desta Invasão a ponte sobre o
Rio do Sal (SILVA, 2004).
Segundo Chagas (2009) a construção da Avenida Euclides da Cunha, em 1975,
favoreceu a expansão urbana para essa área do município. Ocorreu de forma lenta e gradual,
mas foi com a construção da ponte interligando o município de Aracaju a Nossa Senhora do
Socorro em 1990 que se intensificou a ocupação desordenada nas áreas do Porto Dantas.
O aterro de áreas alagadiças e a falta do ordenamento urbano condicionam a
convivência precária da população com picos de enchentes, principalmente no período de
chuva, que no município ocorre entre o outono/inverno (ARAÚJO, 2010).
Nas encostas do Morro do Urubu, devido à acentuada declividade da encosta, as
moradias foram implantadas em patamares, através do seccionamento da vertente sem
acompanhamento de técnicos, ocasionando a alteração da geometria da encosta e a remoção
da cobertura vegetal e da camada superficial do solo. Com isso, há o aumento da possibilidade
de ocorrência de voçorocamento e/ou movimentos de massa localizados. Em algumas
moradias o risco de escorregamento é duplo, podendo ocorrer tanto no talude localizado atrás
dela, como no patamar em que está assentada. Essa situação ocorre com as mordias
assentadas no terço médio do talude.
A ocupação mais antiga se deu nas áreas de terraços próximas da Av. Euclides da
Cunha, depois adentrando para a base do Morro do Urubu, atualmente algumas casas chega a
menos de um metro de distância. A existência de cicatrizes erosivas comprova a ocorrência de
movimentos de massa local e evidenciam a situação de risco a qual a população está exposta.
A ausência de serviços eficazes de coleta de lixo e carência de educação ambiental
favorece a deposição dos resíduos em encostas e nas ruas do relevo plano que comprometem
o fluxo das águas e a dinâmica superficial, em conseqüência, desencadeiam e estimulam a
acelerada provocando a retirada de nutrientes e estabilidade do solo.
IV Encontro de Recursos Hídricos em Sergipe - 23 a 25 de março de 2011, Aracaju-SE

Conclusões
A análise e descrição das situações de risco existentes nas vertentes e regiões fluvio -
lagunares do bairro Porto Dantas constitui-se numa importante ferramenta para o
planejamento do uso e ocupação do solo, assim como para definição de estratégias de
intervenção do poder público junto à população instalada nesta área.
A população do Bairro Porto Dantas, predominantemente de poder aquisitivo baixo,
vê-se obrigada a habitar as áreas ambientalmente impróprias para ocupação, ficando assim,
sujeita aos processos causadores de risco.
Assim, enquanto a situações de riscos geomorfológicos estão associadas à dinâmica de
encostas, com ocorrência de moradias sujeitas a processos de escorregamentos localizados,
tombamento de árvores, erosão por voçorocamento. Os de risco hidrológicos, referem-se às
enchentes e alagamentos que podem trazer além de perdas financeiras, danos à saúde.

Referências Bibliográficas
ARAÚJO, H. M. de; SOUZA, A. C.; COSTA, J. de J.; SANTOS, G. J. dos. O Clima de
Aracaju na Interface com a Geomorfologia de Encostas. Revista Scientia Plena, Vol. 6,
nº8, 2010.

AZAMBUJA, R. N. Análise Geomorfológica em áreas de Expansão Urbana no Município


de Garanhus/PE. Dissertação (Mestrado em Geografia), Universidade Federal de
Pernambuco, 2007.

CUNHA, M. a. (Coord.). Ocupação de Encostas. São Paulo: Instituto de Pesquisa


Tecnológicas, 1991.

CHAGAS, D. C. O.. Indicadores de Qualidade Ambiental como Subsídio ao


Planejamento Ambiental da Área de Proteção Ambiental Morro do Urubu (Aracaju,
SE). São Cristóvão, SE, 2009. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente)
PREDEMA/UFS, São Cristóvão, 2009.

MATOS, A. A. Percepção e gestão ambiental na APA Morro do Urubu-Aracaju/SE.


Dissertação (Mestrado em Mestrado Em Desenvolvimento e Meio Ambiente)
PRODEMA/UFS, São Cristóvão, 2010.
SILVA, K. da C. T. O urbano, o rural e o ambiental nas transformações do Bairro Porto
Dantas, no norte da cidade de Aracaju-SE. Dissertação (mestrado em Geografia),
NPGEO/UFS, São Cristóvão, 2004.

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