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Carta de solos da bacia do ribeirão Cambé na área urbano-rural de Londrina, PR.

Article  in  Semina Ciências Exatas e Tecnológicas · December 1995


DOI: 10.5433/1679-0375.1995v16n4p536

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1 author:

Geraldo César Rocha


Federal University of Juiz de Fora
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CARTA DE SOLOS DA BACIA DO RIBEIRÃO CAMBÉ NA ÁREA URBANO-RURAL DE
LONDRINA, PR

GERALDO CÉSAR ROCHA 1

ROCHA, G.C. Carta de solos da bacia do ribeirão Cambé na área urbano-rural de Londrina, PR. Semina:
Ci. Exatas/Tecnológicas, v. 16, n. 4, p. 536-549, dez. 1995.

RESUMO: Foram estudados os solos situados na bacia do ribeirão Cambé, em Londrina, Pr. Essa bacia, pela sua
localização, sofre vários tipos de agressão ambiental. Em uma área rural-urbana de aproximadamente 75 km2 foram
mapeados cinco tipos de solos: latossolo roxo distrófico (LRd), terra roxa estruturada dístrófica/eutrófica (TRd/e), terra
roxa estruturada latossólica distrôfica/eutrófica (TRLd/e), hidromórficos indiscriminados (Hi) e litólico eutrófico (Re).
Todos eles possuem elevada acidez, argilas de baixa atividade química e são na maioria solos distróficos. Esses
solos estão organizados em dois pedoambientes bem distintos, onde predominam latossolos (pedoambiente 1, a
noroeste da área) e litólicos e terras roxas estruturadas (pedoambiente 2, a sudeste da bacia). O pedoambiente 1, de
característica urbano-rural, deve ser manejado de acordo principalmente com as feições geotécnicas de seus solos,
enquanto o pedoambiente 2, mais rural, deve ser utilizado segundo critérios agronômicos de conservação e aptidão
agrícola de seus solos.

PALAVRAS-CHAVE: carta de solos; morfologia e classificação de solos; pedologia ambiental.

1. INTRODUÇÃO mento prévio. Existem evidências de lançamento de


esgotos domésticos clandestinos nas galerias pluviais
O conhecimento da população de solos de uma do sistema. Observa-se também a deposição de lixo
determinada área é imprescindível para estudos aplica- urbano associada à implantação de aterros, sem ne-
dos ao meio ambiente, agricultura e planejamento urba- nhum controle ambiental. Os recursos hídricos da
no. microbacia tem sido também utilizados para captação
Características específicas de cada tipo de solo de água para uso doméstico e industrial, irrigação e ati-
como espessura, porosidade, percentagem de argila e vidades recreativas da população de baixa renda. E de-
relevo, assim como composição e propriedades quími- vido à sua abrangência, a área da microbacia é o
cas, são parâmetros importantes para o entendimento embasamento para a expansão urbana de Londrina,
e manejo adequado do ambiente natural. além de sediar atividades rurais diversas.
A microbacia hidrográfica do ribeirão Cambé loca- Todos esses fatos constituem-se em justificativas
liza-se predominantemente no Município de Londrina, para a confecção da carta de solos da microbacia do
PR, estando uma pequena parte situada no Município Cambé, objetivo principal desse trabalho, o qual é pro-
de Cambé. Apresenta área de aproximadamente 75 km 2 , posto para subsidiar as ações de planejamento urbano-
tendo o ribeirão Cambé nascentes próximas ao trevo da rural para o município de Londrina.
BR 369 e desaguando no ribeirão Três Bocas, após
percorrer um trajeto de cerca de 26 km. Engloba parte 2. DESCRIÇÃO GERAL DA ÁREA
do núcleo urbano da cidade de Londrina, alimentando
os lagos Igapó I, II e lll. 2 . 1 . Localização
Trabalhos de campo do autor evidenciaram que esta
bacia está atualmente sujeita a todo tipo de agressão A área de estudo engloba parte do núcleo urbano
ambiental, sendo utilizada por diversas indústrias para e uma interface urbano-rural da cidade de Londrina, si-
descarga de efluentes, na maioria dos casos sem trata- tuados a norte do Estado do Paraná. (Figura 1).

1 - UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora - Departamento de Geociências - Campus Universitário - Juiz de Fora - Minas Gerais -
Brasil - CEP 36036-330.

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FIGURA 1 - Localização da área de estudo

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Semina Cl Exatas/Tecn, v. 16. n. 4, p. 53&-549
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F I G U R A 2 - Carta de solos da bacia do ribeirão C a m b é

SeminaCi.Exatas/Tecn.,v. 16. n. 4, p. 536-549


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2.2. Geologia erosivos sérios quando os solos se encontrarem
desprotegidos.
As rochas que ocorrem na área pertencem à For
mação Serra Geral e são de idade Triássico/Cretácea, 2.5. Vegetação e Uso do Solo
formadas há 120 milhões de anos (PETRl & FÚLFARO,
1983; POPP, 1981). São rochas ígneas básicas que A mata original, classificada como floresta tropical
ocorrem na forma de derrames ou como corpos intrusivos subperenifólia (MAACK, 1981; DEMATTÊ, 1973), está
associados. praticamente ausente na área estudada, a qual mostra
O vulcanismo não se deu na forma clássica de grande parte coberta por pastagem, sendo também co-
cones vulcânicos, mas sim através das fissuras ou fra- mum a vegetação típica das várzeas. A noroeste da área,
turas das rochas existentes, por onde o magma básico o núcleo urbano avança através de rodovias, edificações
chegou até a superfície. A composição mineralógica e indústrias (Figura 1), tomando o lugar de remanes-
dessas rochas é representada principalmente por centes da vegetação que porventura existam. Já a su-
plagioclásio (labradorita) e piroxênio (augita); ocorrem deste predominam áreas rurais, com extensas pasta-
subordinadamente titano-magnetita, quartzo, apatita, gens nas encostas e topos do relevo.
feldspato potássico e minerais opacos.
Os afloramentos rochosos são mais comuns a 3. MATERIAIS E MÉTODOS DE T R A B A L H O
sudeste da área, provavelmente relacionados ao enxa-
me de diques básicos orientados (diabásicos), que cor- 3.1. Materiais
tam os próprios basaltos existentes. Deve-se mencio-
nar que essas formas litológicas discordantes aumen- Utilizaram-se fotografias aéreas em branco e preto
tam em quantidade à medida que se caminha em dire- na escala 1:25.000 (ITCF - Paraná, 1981) e a planta
ção ao sul do município de Londrina, mantendo a mes- planialtimétrica da cidade de Londrina na escala 1:20.000
ma orientação NW-SE e influenciando grandemente a (SUOV - PML, Londrina) como mapas básicos. Como
conformação do relevo. material de apoio foram utilizadas imagens do satélite
Landsat TM 22276D em escala 1:50.000, de 25 de março
2.3. Relevo de 1988, em composição colorida das bandas 2 (azul),
5 (verde) e 7 (vermelho); foram obtidas por fotografia do
Geomorfologicamente, a área estudada se situa monitor de computador na Universidade de Gottingen
no Planalto de Guarapuava ou Terceiro Planalto, onde (Alemanha).
se evidencia, ao lado de pequenos espigões que cons- As ferramentas e instrumentos de campo foram
tituem divisores de águas secundários, apenas suaves os recomendados por LEMOS & SANTOS (1982) e SOIL
colinas e platôs. Não ocorrem linhas de serras elevadas SURVEYSTAFF(1962).
acima do nivel geral do planalto, sendo a paisagem
modelada durante o neo-terciário e quaternário, e com 3.2. Métodos de Campo e Escritório
declive exibindo um suave abaulamento tectônico em
arco aberto para leste (MAACK, 1981). No entanto, as O local desta pesquisa abrange a bacia hidrográfica
feições diferenciais do relevo local, o qual tem altitudes do ribeirão Cambé, área que foi delimitada nas fotografi-
variando de 390 a 650 metros, permitem subdividi-lo em as aéreas e nas imagens de satélites, as quais foram
dois tipos bem característicos: a noroeste da área pre- interpretadas para definição de padrões referentes a
domina uma topografia suave ondulada, com topos ar- possíveis tipos diferenciados de solos.
redondados, encostas longas e suaves e vales em "U" Em seguida todo o local foi percorrido a pé em
aberto. Já a sudeste observam-se topos angulosos, com transversais á linha de drenagem principal, onde os so-
encostas abruptas originando vales fechados em "V". los foram descritos morfologicamente em cortes de es-
tradas previamente preparados (com altura mínima de 2
2.4. Clima metros), pequenas trincheiras (até 1 metro) e tradagem.
Além das descrições, os solos foram amostrados em
Pela classificação de Koppen o clima da área é do cada horizonte do perfil, material que foi enviado para
tipo Cfa, ou seja, clima subtropical úmido. CORREA et análises laboratoriais de rotina.
al. (1982) o definem como úmido e mesotérmico, sem Os resultados analíticos, a morfologia de campo e
deficiência hídrica no inverno. A média anual de chuvas a localização dos solos na vertente foram usados para
é de 1615 mm, sendo as mesmas bem distribuídas ao se definir as unidades de mapeamento da área, ou seja,
longo do ano; entretanto, elas podem causar problemas utilizaram-se critérios de campo e laboratório. Caracte-

Semina Ci. Exatas/Tecn, v. 16, ri. 4, p. 536-549


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rísticas específicas foram empregadas nessa definição, Saturação em Al: pela fórmula 100AI/A1+S
listando-se inicialmente aquelas obtidas em campo,
como os horizontes diagnósticos, suas profundidades 4. DESCRIÇÃO DOS S O L O S
e estruturas, a cor e a drenagem; e as obtidas após
análises de laboratório, como a textura, caráter eutrófico/ Foram identificadas e mapeadas na área cinco
distrófico, caráter álico, acidez e atividade das argilas. unidades de mapeamento de solos, definidas de acordo
As unidades de mapeamento foram plotadas no mapa com as características citadas e mostradas na Figura
básico planialtimétrico. 2. Cada unidade ou tipo de solo será descrita a seguir:
A p ó s a d e l i m i t a ç ã o dos tipos de solos, f e z - s e
a descrição c o m p l e t a dos perfis representativos de 4 . 1 . Latossolo Roxo Distrófico (LRd)
cada unidade de s o l o , em trincheiras de 2 m e t r o s
de p r o f u n d i d a d e . C o n f e c c i o n o u - s e em s e g u i d a o Este solo ocupa aproximadamente 29 quilômetros
mapa pedológico da área na escala original 1:25.000 quadrados, correspondente a 3 9 % da área estudada.
(Figura 2). Dispõe-se nas partes mais elevadas das vertentes, em
relevo suave ondulado com declives entre 4 a 8%, nas
3.3. M é t o d o s de L a b o r a t ó r i o cotas entre 620 e 630 metros.
Esta unidade agrupa os solos mais intemperizados
Para as análises físicas e químicas de rotina, as da área. São solos profundos, muito lixiviados e poro-
amostras de solo foram secas ao ar e passadas em sos devido à sua localização nas partes altas e mais
peneira de 2 m m , obtendo-se a Terra Fina Seca ao Ar planas da topografia, que permite percolação profunda
(TFSA). As análises foram realizadas no IAPAR em das águas das chuvas em seu perfil. São os solos mais
Londrina, PR. antigos da região (ROCHA, 1990). Apresentam horizon-
te B latossólico típico c o m estrutura maciça composta
3.3.1. A n á l i s e Física de pequenos agregados, ditos "pó de café", e cor pre-
dominante bruno avermelhado escuro (2,5YR3/4).
Granulometria: foi empregado o método da pipeta São solos com elevada acidez, localmente com
(CAMARGO et al., 1986; MUZILLl, 1978). alta saturação de alumínio (álícos).
Apesar de muito argilosos, suas argilas são de
3.3.2. A n á l i s e s Q u í m i c a s baixa atividade de troca iônica, apresentando também
saturação em bases abaixo de 5 0 % (distróficos).
pH: em CaCl 2 0,01M E m t e r m o s f í s i c o s , s ã o s o l o s d e alta
Ca, Mg e AI: e m KCI 1N permeabilidade, pouco propensos à erosão. Apesar de
H e Al: método IAC, a pH 7,0 (CAMARGO et al., muito argilosos, seus minerais de argila se agregam
1986) uns aos outros, formando partículas de tamanho areia,
K e P: método de Mehlich as quais entretanto, apresentam boa plasticidade.
C: método de Walkey e Black No Quadro 1 estão os resultados das análises físi-
Valor S: somatória de Ca, Mg e K cas e químicas deste solo. Em seguida, tem-se as ca-
Valor T (CTC): somatória de S com (H+Al) racterísticas ambientais e morfológicas do perfil típico
Valor V: pela fórmula Sx100/T desta unidade.

QUADRO 1 - RESULTADOS DE ANÁLISES FÍSICAS E QUÍMICAS DO LATOSSOLO ROXO DISTRÓFICO (LRd)

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Unidade Latossolo Roxo Distrófico (LRd) profundidade.

A. DESCRIÇÃO GERAL OBSERVAÇÕES: Poros comuns e muito pequenos no


Ap e AB e muitos poros pequenos no Bw. Forte atração
CLASSIFICAÇÃO: Latossolo Roxo Distrófico, Tb, magnética no perfil. Descrição feita no mês de março.
acidez elevada, muito argiloso, relevo suave ondulado.
LOCALIZAÇÃO: 100m ao norte da Av. Tiradentes. 4.2. Terra Roxa Estruturada Distrófica/Eutrófica
SITUAÇÃO, DECLIVE E COBERTURA VEGETAL (TRd/e)
SOBRE O PERFIL: Trincheira situada no topo da en-
costa com declive de 8% e sob cobertura de pasto. Esta unidade cobre 23 km 2 , correspondendo a 31 %
ALTITUDE: 620 metros. da área. Estes solos situam-se predominantemente nas
LITOLOGIA: Rochas básicas (basalto). encostas do reievo, ocupando o segundo lugar em área.
FORMAÇÃO GEOLÓGICA: Formação Serra Ge- Estão em altitudes variáveis de 400 a 620 metros sobre
ral. relevo ondulado.
PERÍODO: Triássico/Cretáceo. Abrangem solos normalmente profundos, apesar
MATERIAL ORIGINÁRIO: Produto de alteração de de terem sido incluídos nesta unidade algumas associ-
rochas básicas. ações com Terra Roxa Estruturada Rasa e Pedregosa.
PEDREGOSIDADE: Não pedregosa. São solos que apresentam potencial erosivo devido à
ROCHOSIDADE: Não rochosa. existência de horizonte B textural com cerosidade e
RELEVO LOCAL: Suave ondulado. estrutura bem desenvolvida; o que acontece é que este
EROSÃO: Laminar moderada. horizonte se comporta como uma camada semi-perme-
DRENAGEM: Acentuadamente drenado. ável, favorecendo a erosão dos horizontes superficiais,
VEGETAÇÃO PRIMÁRIA: Floresta Tropical já que dificulta a drenagem vertical. Assim, são solos
Subperenifólia. que exigem práticas conservacionistas mais intensas
CLIMA: Cfa (Koppen). para o uso agrícola, assim como cuidados especiais
USO ATUAL: Pastagem. para os demais usos. O horizonte B textural, quando
atingido em trabalhos com máquinas, pode levar à difi-
B. DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA culdades de tráfego destas, devido ao seu alto teor em
argiias, o que acarreta alta pegajosidade para este ma-
Ap 0-20cm, bruno avermelhado escuro (2,5YR3/4, terial.
úmido); muito argiloso; fraca pequena a média Nesta unidade foram agrupados tanto os solos de
granular; macio, friável, ligeiramente plástico e caráter eutrófico (V>50%), assim como as variedades
ligeiramente pegajoso; transição clara e distróficas (V<50%), devido às mudanças relativamente
ondulada. rápidas que se verificam em sua fertilidade química na
AB 20-40cm, bruno avermelhado escuro (2,5YR3/4, paisagem, ou seja, apresentam grande variabilidade
úmido); muito argiloso; fraca pequena a média espacial química.
blocos subangulares; macro, friável, plástico e Entretanto, todos são solos com argilas de baixa
pegajoso; transição gradual e ondulada. atividade de troca iônica e acidez elevada. São
B2w 40-180cm+, vermelho escuro (2,5YR3/6, úmido); texturalmente argilosos, apresentando em alguns locais
muito argiloso; fraca média blocos subangulares concentrações pedregosas ao longo do perfil. No Qua-
que se desfaz em forte muito pequena granular dro 2 estão os resultados físicos e químicos obtidos
com aspecto de maciça porosa; ligeiramente para uma variedade distrófica deste solo, sendo em se-
duro, muito friávei; plástico e pegajoso. guida mostradas as características morfológicas e
RAÍZES: comuns e fasciculares no Ap, diminuindo em ambientais do perfil típico.

QUADRO 2 -RESULTADOS DE ANÁLISES FÍSICAS E QUÍMICAS DA TERRA ROXA ESTRUTURADA DISTRÓFICA (TRd)

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Unidade Terra Roxa Estruturada Distrófica B2t 40-150cm+, vermelho escuro (2,5YR3/6, úmido);
muito argiloso; forte, média, prismática
A. DESCRIÇÃO GERAL composta de moderada média, blocos
subangulares; cerosidade forte e abundante;
CLASSIFICAÇÃO: Terra Roxa Estruturada ligeiramente duro, plástico e pegajoso.
Distrófica, Tb, acidez elevada, muito argilosa, relevo RAÍZES: poucas nos horizontes A e B.
ondulado. OBSERVAÇÕES: Poros comuns muito pequenos em
LOCALIZAÇÃO: 10 metros ao norte do canal do todo o perfil.
ribeirão Cambé (margem esquerda), nos fundos da Atração magnética em todo o perfil.
Sociedade Rural do Paraná, em Londrina, PR. Descrição feita em julho de 1991.
SITUAÇÃO, DECLIVE E COBERTURA VEGETAL
SOBRE O PERFIL: Trincheira situada no terço inferior 4.3. Terra Roxa Estruturada Latossólica Distrófica/
da encosta com declive de 2 0 % sob cobertura de gra- Eutrófica (TRLd/e)
ma.
ALTITUDE: 605 metros. Este solo c o b r e 15 k m 2 da área trabalhada
LITOLOGIA: Rochas básicas (basalto). correspondendo a 2 0 % da mesma. Localiza-se no ter-
FORMAÇÃO GEOLÓGICA: Formação Serra Ge- ço superior das encostas, em relevo suave ondulado
ral. em torno de 7% de declividade. A altitude local varia ao
PERÍODO: Triássico/Cretáceo. redor de 610 metros.
MATERIAL ORIGINÁRIO: Produto de alteração de Esta unidade apresenta solos "intergrade" com
rochas básicas. horizonte B textural bem estruturado e com cerosidade,
RELEVO LOCAL: Ondulado. ã profundidade média de 50 cm, e horizonte B laíossõlico
EROSÃO: Laminar forte. granular e com estrutura "pó-de-café" a 10Ocm.
DRENAGEM: Bem drenado. São solos de ocorrência comum na região, (RO-
V E G E T A Ç Ã O P R I M Á R I A : Floresta T r o p i c a l CHA, 1986), os quais por sua estruturação diferencial
Subperenifólia. ao longo do perfil, têm como conseqüência uma dinâmi-
CLIMA: Cfa (Koppen). ca irregular de água, fato importante para seu manejo
USO ATUAL: Área em pousio. adequado. Em termos agrícolas, há que se verificar o
quanto essa característica vai interferir no espaçamento
B. DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA entre curvas de nível, ou no efetivo impedimento físico
para o crescimento das raízes.
A 0-12cm, bruno avermelhado escuro (2,5YR3/4, Além disso, tratam-se de solos com razoável po-
úmido); muito argiloso; fraca pequena a média tencial erosivo, já que apresentam uma camada de
granular; macio, friável, plástico e pegajoso; espessura em torno de 40cm, a quai vai modificar a
transição gradual e plana. drenagem da água das chuvas ao longo do perfil.
AB 12-40cm, bruno avermelhado escuro (2,5YR3/4, São solos distróficos ou eutróficos, ácidos e com
úmido); muito argiloso; moderada, pequena, argilas de baixa atividade (Quadro 3). Apresentam clas-
blocos subangulares; ligeiramente duro, friável, se textural muito argilosa e são profundos. Em seguida
plástico e pegajoso; transição gradual e plana. é descrito o perfil típico da classe distrófica.

QUADRO 3 - RESULTADOS DE ANÁLISES FÍSICAS E QUÍMICAS DA TERRA ROXA ESTRUTURADA LATOLIZADA


DISTRÓFICA (TRLd)

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Unidade Terra Roxa Estruturada Latossolizada ligeiramente duro, friável, plástico e pegajoso;
Distrófica transição gradual e irregular.
B22w 60-180cm+, vermelho escuro {2,5YR3/6, úmido);
A. DESCRIÇÃO GERAL muito argiloso; fraca média, blocos subangulares
que se desfaz em forte muito pequena granular
C L A S S I F I C A Ç Ã O : T e r r a Roxa Estruturada com aspecto de maciça porosa; ligeiramente
Latossolizada Distrófica, Tb, ácida, muito argilosa, rele- duro, muito friável, plástico e pegajoso.
vo suave ondulado. RAÍZES: Comuns e fasciculares no A, diminuindo em
LOCALIZAÇÃO: Encosta leste do vale do Rubi, 200 profundidade.
metros a norte da ligação entre os lagos Igapó I e II. OBSERVAÇÕES: Poros comuns muito pequenos nos
SITUAÇÃO, DECLIVE E COBERTURA VEGETAL horizontes A e B21 e muitos poros muito pequenos no
SOBRE O PERFIL: Trincheira situada no terço superior B22w. Forte atração magnética no perfil. Descrição e
da encosta, com declive de 7%, sob cobertura de pas- amostragem em maio/91.
to.
ALTITUDE: 610 metros. 4.4. Hidromórficos Indiscriminados (Hi)
LITOLOGIA: Rochas básicas (basalto).
FORMAÇÃO GEOLÓGICA: Formação Serra Ge- Os solos hidromórficos distribuem-se por 2 km 2 da
ral. área estudada, perfazendo 2% dos solos levantados.
PERÍODO: Triássico/Cretáceo. No mapa estão designados por Hi, quando não defini-
MATERIAL ORIGINÁRIO: Produto de alteração de dos em termos de fertilidade química; He, quando
rochas básicas. eutróficos (V>50%), e Hd, quando distróficos (V<50%).
RELEVO LOCAL: Suave ondulado. Estas unidades encontram-se nas partes mais baixas
EROSÃO: Laminar ligeira. e planas da topografia, nos fundos dos vales e ao longo
V E G E T A Ç Ã O P R I M Á R I A : Floresta Tropical da drenagem, em deciives em torno de 3% e altitudes
Subperenifólia. variando de 580 a 590 metros.
CLIMA: Cfa (Koppen). São solos de coloração cinza escura, saturados
USO ATUAL: Pastagem. de água na maior parte do ano, com drenagem deficien-
te e ambiente químico redutor. A saturação em água às
B. DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA vezes dificulta a abertura de trincheira neste solo, sen-
do necessário o uso do trado holandês para a
A 0-20cm, bruno avermelhado escuro (2,5YR3/4, amostragem do perfil.
úmido); muito argiloso; fraca pequena a média Possuem argilas de baixa reatividade e acidez ele-
granular; macio, friável, ligeiramente plástico e vada (Quadro 4). O percentual de argila é menor que
ligeiramente pegajoso; transição clara e dos outros solos da área estudada, sendo a classe
ondulada. textural variável de muito argilosa a argilosa. O horizon-
B211 20-60cm, vermelho escuro (2,5YR3/6, te B hidromórfico apresenta estrutura maciça. Este ho-
úmido); muito argiloso; moderada, pequena rizonte foi também encontrado em profundidade associ-
prismática; cerosidade forte e comum; ado aos solos próximos da linha de drenagem da área.

QUADRO 4 - RESULTADOS DE ANÁLISES FÍSICAS E QUÍMICAS DO HIDROMÓRFICO INDISCRIMINADO EUTRÓFICO (Hi)

Em seguida tem-se a descrição de um perfil hidromórfico de característica eutrófica.

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Unidade Hidromórfico indiscriminado Eutrófíco (He) granular; ligeiramente duro friável,
ligeiramente plástico e ligeiramente
A. DESCRIÇÃO GERAL pegajoso; transição gradual e
piana.
CLASSIFICAÇÃO: Hidromórfico Indiscriminado 2 a Camada 20-65cm+; cinzento muito escuro
Eutrófico, Tb, acidez elevada, muito argiloso a argiloso, (2,5YR N3/, seco); argila; maciça;
relevo plano. ligeiramente duro firme, ligeiramente
LOCALIZAÇÃO: Encontro do ribeirão Cambé com plástico e ligeiramente pegajoso.
ribeirão Três Bocas.
SITUAÇÃO, DECLÍVE E COBERTURA VEGETAL RAÍZES: Abundantes e fasciculares na 1 a camada.
SOBRE O PERFIL: Ponto de observação situado no
fundo do vale, com deciive de 2% e vegetação de OBSERVAÇÕES: Sem poros visíveis no perfil. Descri-
gramíneas. ção feita em abril/91.
ALTITUDE: 480 metros.
LITOLOGIA: Rochas básicas (basalto).
FORMAÇÂO GEOLÓGICA: Formação Serra Ge- 4.5. LITÓLICO EUTRÓFICO (Re)
ral.
PERÍODO: Triássico/Cretáceo. Este solo engloba 6 km 2 , o que representa 8% da
MATERIAL ORIGINÁRIO: Sedimentos área mapeada. Locaiiza-se principalmente nas meias-
inconsolidados. encostas das áreas a sudeste da bacia. Está em altitu-
PEDREGOSIDADE: Ausente. des próximas a 590 metros, em relevo forte ondulado a
ROCHOSIDADE: Ausente. ondulado.
RELEVO LOCAL: Plano. São solos rasos, com seqüência de horizontes A/
EROSÃO: Ausente. C ou A/R, isto é, não apresentam o horizonte B em
DRENAGEM: Mal drenado. profundidade. Na área de ocorrência desta unidade é
VEGETAÇÃO PRIMÁRIA: Campo de várzea. comum a presença de blocos e matacões de basalto
CLIMA: Cfa (Koppen). em alteração na superfície dos solos, sendo que a ro-
USO ATUAL: Área com vegetação natural. cha fresca encontra-se aflorante ou próxima à superfí-
cie do terreno.
B. DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA Como as demais unidades que ocorrem na área,
estes solos possuem argilas de baixa atividade e aci-
1 a Camada 0-20cm; bruno acinzentado (2,5YR5/2, dez elevada (Quadro 5). Entretanto são eutróficos, com
seco); argila; moderada pequena saturação de bases acima de 50%.

QUADRO 5 - RESULTADOS DE ANÁLISES FÍSICAS E QUÍMICAS DO LITÓLICO EUTRÓFICO (Re)

Em s e g u i d a m o s t r a - s e a c a r a c t e r i z a ç ã o vada, muito argiloso, relevo forte ondulado.


morfológica do perfil modal desta unidade. LOCALIZAÇÃO: Parque Arthur Thomas, 50 metros
a leste da represa, na trilha do parque.
Unidade Litólico E u t r ó f i c o (Re) SITUAÇÃO, DECLIVE E COBERTURA VEGETAL
SOBRE O PERFIL: Trincheira situada no terço inferior
A. DESCRIÇÃO GERAL da encosta, em deciive de 30% sob cultura de milho.
ALTITUDE: 590 metros.
CLASSIFICAÇÃO: Litólico Eutrófico, Tb, acidez ele- LITOLOGIA: Rochas básicas (basalto).

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FORMAÇÃO GEOLÓGICA: Formação Serra Ge- área, não se mostra suficiente para revelar como essas
ral. unidades ou tipos de solos estão se relacionando em
PERÍODO: Triássico/Cretáceo. profundidade. Uma maneira de evidenciar isso é se ten-
MATERIAL DE ORIGEM: Produto de alteração de tar a visualização da distribuição espacial dos horizon-
rochas básicas. tes ao longo das encostas, como será mostrado na
PEDREGOSIDADE: Pedregosa. descrição dos pedoambientes. Essa representação não
ROCHOSIDADE: Rochosa. teria objetivo de substituir o mapa pedológico mas sim
RELEVO LOCAL: Forte ondulado a ondulado. complementá-lo.
EROSÃO: Laminar moderada. Uma abordagem evolutiva entre os dois sistemas
DRENAGEM: Bem drenado (horizonte A). estudados, com base no trabalho de ROCHA (1990) fei-
V E G E T A Ç Ã O P R I M Á R I A : Floresta Tropical to na região, e também VOLKOFF (1984-1985) e MONIZ
Subperenifólia. e BUOL (1973), permite se aplicar também na área es-
CLIMA: Cfa (Koppen). tudada a hipótese de desmonte de platôs latossólicos.
USO ATUAL: Cultivo de milho. Partindo-se da idéia da existência prévia de uma exten-
sa cobertura latossólica na região, a qual estaria topo-
B. DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA graficamente na cota dos topos atuais do relevo, os pro-
cessos geomorfológicos de entalhe da drenagem seri-
A 0-30cm; bruno avermelhado escuro (2,5YR 3/4, am responsáveis pelo desmonte daquele antigo platô,
úmido); muito argiloso; moderada pequena representado ainda hoje pelo pedoambiente 1; haveria o
granular; duro friável ligeiramente plástico e desenvolvimento concomitante, nas encostas, de uma
ligeiramente pegajoso; transição abrupta e estruturação mais desenvolvida nos solos, formando os
plana. horizontes B texturais. Essa "superfície" latossólica par-
R 30-50cm+; rocha basáltica semi alterada, dura, cialmente remanescente a noroeste da área, estaria sen-
de cor cinzento escura (2,5Y N4/). Ás vezes do "desmontada" pelo avanço, para montante, dos ma-
apresenta camada de alteração de cor teriais mais estruturados e menos permeáveis, repre-
amarelo-brunada (1OYR 6/8), friável. sentados pelo pedoambiente 2. Esses pedoambientes
serão mais detalhadamente caracterizados a seguir.
RAÍZES: Muitas, fasciculares no horizonte A.
OBSERVAÇÕES: Poros comuns muito pequenos no 5.1. Pedoambiente 1
A. Descrição e amostragens feitas no mês de abril/91.
Fazendo-se cortes transversais nesses dois con-
5. OS SISTEMAS PEDOLÓGICOS DA BACIA DO juntos pedológicos, pode-se observar melhor as diferen-
RIBEIRÃO CAMBÉ ças desses ambientes e dos horizontes dos solos em
profundidade.
O mapa de solos mostrado na Figura 2 apresenta A Figura 3 apresenta uma seção segundo a dire-
a distribuição dos solos em área. Uma análise desse ção leste-oeste, feita a partir do trevo rodoviário até o
mapa sugere que na bacia do ribeirão Cambé existem limite norte da área. Nesta seção estão as característi-
dois ambientes distintos em termos de predominância cas que definem o pedoambiente típico do noroeste da
de solos, a saber, dois pedoambientes bem nítidos área da bacia. Neste tipo de representação, que tem
(RESENDE et al., 1988): a noroeste da área predomi- um propósito complementar ao mapa de solos, procu-
nam latossolos, solos profundos e bem permeáveis, si- ra-se enfatizar a cobertura pedológica como um todo,
tuados em relevo pouco declivoso; já a sudeste da ba- (ROCHA, 1986), com suas variações internas condicio-
cia, em topografia ondulada, são mais característicos nadas pelas mudanças topográficas aliadas aos pro-
os solos litólicos e as terras roxas estruturadas. As- cessos pedogenéticos; observa-se que nesse corte as
sim, pode-se falar em dois sistemas pedológicos para a unidades de m a p e a m e n t o não são representadas,
área trabalhada. Observa-se que o mapa pedológico da pois os solos são vistos c o m o um continuum na
Figura 2, ao exibir as unidades de solos distribuídas em paisagem.

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FIGURA 3 - Sistema de solos a noroeste da área (pedoambiente 1)

Evidencia-se dessa maneira feições como espes- cos de rocha basáltica semi-alterada, interrompendo a
sura, comportamento espacial e características inter- presença do horizonte B da cobertura pedológica nessa
nas dos horizontes, assim como profundidade dos so- cota. Aqui, então, tem-se solos rasos, litólicos, que
los, pedregosidade dos solos e hidromorfismo, mostran- apresentam potencial erosivo devido à sua pouca es-
do também a interrelação entre essas feições. pessura (somente horizonte A). E a camada imediata-
Observando-se a Figura 3, a partir dos topos do mente inferior (horizonte C), rica em fragmentos
relevo em direção ao vale, nota-se a predominância do intemperizados e bastante fraturada, denota caracterís-
material latossólico muito permeável e profundo, nas ticas geotécnicas de baixa resistência para as estrutu-
partes altas e planas da topografia. Esse pedoambiente ras de edificações, assim como se mostra inadequada
se caracteriza por encostas longas e suaves, onde na ao uso agrícola intensivo.
profundidade em direção ao vale o material latossólico é Já no fundo do vale, a saturação em água durante
gradualmente substituído por uma cobertura menos per- a maior parte do ano, condicionando solos hidrornórficos,
meável e mais estruturada (horizonte B textural). Deve- está relacionada com ambiente químico redutor, além
se destacar, por exemplo, que ao longo dessa transi- de favorecer características físicas como estruturação
ção a dinâmica vertical da água em profundidade será maciça e alta plasticidade. São solos que para o uso
diferenciada, percoíando mais lentamente através do agrícola ou urbano devem ser totalmente drenados, mas
h o r i z o n t e B t e x t u r a l e m a i s r a p i d a m e n t e no B que por outro lado apresentam grande importância eco-
latossólico. Esse fato por si só tem importância lógica como refúgio e fonte de água para animais nas
geotécnica, já que vai influir na velocidade de drenagem épocas mais secas do ano. Portanto, são solos que
das águas pluviais em áreas com edificações, ou mes- apresentam complexidade química e física que preci-
mo em locais com fossas sanitárias. E mesmo em áre- sam ser observadas no manejo.
as com atividades agrícolas, é sabido que a presença
de horizontes B texturais pode acentuar processos erosivos 5.2. Pedoambiente 2
caso não se recorra à práticas de conservação do solo.
Na parte inferior das encostas desse primeiro Na Figura 4 tem-se a transeção típica da área situ-
pedoambiente o solo se enriquece de fragmentos e blo- ada a sudeste da bacia do Ribeirão Cambé.

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Figura 4 - Sistema de solos a sudeste da área (pedoambiente 2)

Pode-se visualizar um relevo com pendentes cur- sua pouca espessura (somente horizonte A), abun-
tas e mais d e c l i v o s o que o p e d o a m b i e n t e 1, dância de f r a g m e n t o s de rocha e pouca
condicionando um sistema de soios formado por terras permeabilidade do perfil como um todo. É interes-
roxas estruturadas e soios litólicos. sante observar que esses materiais não ocupam o
Os topos de relevo e grande parte das encostas fundo dos vales (como o fazem no pedoambiente
estão principalmente ocupados por uma cobertura de 1), mas sim as partes médias das encostas já mui-
material pedológico bem estruturado e pouco permeá- to declivosas desse pedoambiente, acentuando o
vel (horizonte B textural), a qual se caracteriza por alto potencial erosivo de toda a cobertura pedoiógica
potencial erosivo devido à sua baixa capacidade de infil- dessa área. Assim, esse segundo pedoambiente,
tração da água das chuvas, favorecendo assim o de uso predominantemente rural, deverá receber
escorrimento superficial. Por tratar-se de uma área ru- atenção especial com relação às práticas de con-
ral, o uso desses solos para pastagem por exemplo servação e manejo de seus soios.
favoreceria a tendência ao risco erosivo, já que o pisoteio
excessivo pelo gado leva à compactação nos primeiros 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
centímetros do solo e conseqüentemente facilita a ero-
são. A carta de soios ou mapa pedológico não é sufici-
O segundo tipo de cobertura pedológica em im- ente para se ter uma visão tridimensional da população
portância nesse pedoambiente está representado de solos estudada. O uso de transeções mostrando o
pelos solos litólicos, os quais ocupam boa parte comportamento espacial dos horizontes ao longo das
das encostas da área. Apresentam potencial agrí- encostas complementa e enriquece o mapa, fornecen-
cola devido à sua fertilidade química, mas são tam- do uma visão dos solos de maneira integrada na paisa-
bém materiais muito passíveis de erosão, devido à gem, isto é, como uma cobertura pedológica contínua.

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Assim, a separação de dois pedoambientes para a área construção do trevo somente sobre os latossolos, os
pesquisada, sugerida na carta de solos, foi bastante quais apresentam características geotécnicas mais fa-
evidenciada nas transeções. No pedoambiente 1, de uso voráveis às obras de engenharia. Por outro lado, a cons-
principalmente urbano, predomina o iatossoio roxo, se- trução do aterro sanitário atual de Londrina já teve apoio
guido pela terra roxa estruturada; são solos com carac- na carta de solos, o que levou à sua localização sobre
terísticas estruturais distintas, o que se reflete nos seus os latossoios mapeados, solos com excelentes carac-
comportamentos geotécnicos; desse modo, observan- terísticas para compactação e impermeabilização. Já
do-se por exemplo o trevo rodoviário a noroeste da área para o pedoambiente 2, a predominância de terras ro-
da bacia, nota-se a sua inadequada localização, na tran- xas estruturadas e solos litólicos em área de uso rural,
sição entre os solos, o que tem acarretado problemas alerta para a necessidade de práticas conservacionistas
erosivos no local. É certo que não havia na época da rigorosas no uso agrícola, já que tratam-se de solos
construção o mapa de solos, e provavelmente não se rasos, como pode ser visto nas transeções, com alto
avalia a importância desse; o ideal entretanto seria a potencial erosivo.

ROCHA, G.C. Soil map of the ribeirão Cambé hidrographic basin at the urban-rural area of Londrina, Paraná state,
Brazil. Semina: Ci. Exatas/Tecnológicas, v. 16, n. 4, p. 536-549, Dec. 1995.

ABSTRACT: The soils of the ribeirão Cambé hidrographic basin located at Londrina, PR, Brazil, were studied. An area
of 75 kmz shows five soil classes: Iatossolo roxo distrófico (LRd); terra roxa estruturada distrófica/eutrófica (TRd/e);
terra roxa estruturada latossólica eutrófica/distrófica (TRLd/e), hidromórficos (Hi) and litólico eutrófico (Re). All of them
have high acidity, small activity clays and are predominantly distrophics. Those soils are organized in two soil systems:
the first one, where latossolic soils predominate (pedoenvironment 1, at NW of the area), and the second one, where
litholic soils and ultisols occur (pedoenvironment 2, at SE of the basin). The pedoenvironment 1, located at a urban-
rural site, must be used in accordance with its geotechnical parameters, while the pedoenvironment 2, basically rural,
must be managed following the agronomic capacity of its soils.

KEY-WORDS: soil map; morphology and soil classification; soil systems; environmental pedology.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Semina Ci. Exatas/Tecn., V. 16, n. 4, p. 536-549


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