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XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas


IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens
VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens
15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP

Obras de Contenção e Drenagem na Área de APP do Cond. Terra


Nova Nature em Porto Alegre/RS
Cleber de Freitas Floriano
Diretor, SF Engenharia Diferenciada Ltda., Porto Alegre, Brasil, cleber@souzafloriano.com

Raphael de Camargo do Amarante


Diretor, RCA Engenharia e Infraestrutura Ltda., Porto Alegre, Brasil, r.amarante@rcainfraestrutura.com.br

RESUMO: No munício de Porto Alegre os granitoides de meia encosta da zona leste e sul da cidade foram
bastante explorados antes da metade do século XX. O beneficiamento mineral era feito por jazidas de solo e
rocha. No entanto, não havia atenção no tocante a recuperação da área degrada. Sendo assim, os problemas
edáficos, de estabilidade de taludes e de macrodrenagem foram herdados. Enquanto tais problemas não forem
remediados, se tornam ameaças a biota preservada e a atividade humana de entorno. Neste contexto, se
encontram as obras de contenção e drenagem da APP (3,5 hectares) de um dos maiores condomínios do Brasil,
o Terra Nova Nature, com cerca de 5.000 moradores, cuja área de lazer está inserida numa atual APP municipal
que precisou de recente remediação. O objetivo principal do presente trabalho é de apresentar as obras que
foram setorizadas em quatro áreas, apresentando o diagnóstico, elaboração dos projetos, as execuções e os
controles dos sistemas de contenção, bioengenharia e drenagem realizados.

PALAVRAS-CHAVE: Recuperação de Área Degrada, Contenções; Controle Tecnológico.

ABSTRACT: In Porto Alegre the granite slopes on the east and south side of the city were extensively explored
before the middle of the 20th century. Mineral processing was done by soil and rock. However, there was no
attention to the recovery of the degraded area. Thus, the soil, slope stability and macro drainage problems were
inherited. As long as these problems are not remedied, they become threats to biodiversity and the surrounding
human activity. In this context, there are the containment and drainage works of the APP (3.5 hectares) of one
of the largest condominiums in Brazil, Terra Nova Nature, with about 5,000 residents, whose leisure area is
inserted in a current APP that needed recent remediation. The main objective of this work is to present the
various works, divided into four areas, showing the diagnosis, design of the projects, the executions and
controls of the retaining, bioengineering and drainage systems.

KEYWORDS: Recovery of Degraded Area, Retaining; Technological Control.

1 Introdução

Cidades com grande concentração urbana sofreram alteração radicais de seus meios físico, biótico e
antrópico de origem. Até a metade do século XX pouco ou nada se relatava com atenção a recuperação de
áreas degradas urbanas. Sendo assim, os problemas edáficos, de estabilidade de taludes e de macrodrenagem
foram sendo ampliados e herdados por conta destes descasos sequenciais de planejamento e ações. Belo
Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, são exemplos, cada qual com suas peculiaridades, apresentam
inadequações continuadas do uso do espaço urbano no que tange a preservação e adaptações das condições
naturais geomorfológicas e hídricas. A cidade de Porto Alegre, embora em escala relativamente menor, sofre
das mesmas adversas situações. Enquanto os problemas de degradação não forem remediados, se tornam
ameaças a biota preservada e a atividade humana de entorno. Observa-se que não se trata apenas de uma
disciplina a ser tocada de forma pontual, mas sim, são situações multidisciplinares, a serem abordadas em
escala macro e que ainda necessitam de domínio efetivo sob os fenômenos geotécnicos e hidráulicos.
Inserido em um contexto como o descrito acima, se encontram as obras de contenção e drenagem da
APP em questão, uma antiga pedreira (a 50 anos pelo menos) com 3,5 hectares, administrado por um dos
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maiores condomínios do Brasil, o Terra Nova Nature, localizado na Av. Bento Gonçalves, 1515, com cerca de
5.000 moradores, cuja área de lazer está inserida na APP. O objetivo principal do presente trabalho, portanto,
é de relatar as quatro áreas, mostrando o diagnóstico, elaboração do projeto, as execuções e os controles dos
sistemas de contenção, bioengenharia e drenagem neste local atípico.
As áreas 1, 2, 3 e 4, foram assim denominadas. Na área 1, ocorreu a ruptura de solo junto a um muro de
divisa, o qual motivou a interdição da área de laser do condomínio no ano de 2005. Este local, trata-se de uma
zona de descarga da remanescente cava da pedreira. Para retenção da bacia, foi projetada uma descarga
controlada com descida em degraus e colchão reno com 70 m de extensão. Na área 2, os problemas são
contínuos de erosão superficial. Neste caso, a solução adotada, buscou organizar os caminhos de drenagem e
aplicar: plantio de espécies locais, semeadura, retentores fibrosos e biomanta fixada ao terreno. Na área 3, o
talude é limítrofe com a área da piscina coletiva de 245.000 litros. Nesta área, foi executado solução de solo
grampeado com faceamento verde e tela metálica de alta resistência. Na área 4, o processo erosivo foi
marcante, neste caso, duas soluções foram adotadas: bioengenharia e solo grampeado com faceamento em
concreto projetado.

2 Geologia e geotecnia do solo local

O relato do contexto geológico é bastante esclarecedor. No local, encontra-se solos residuais que se
originaram do intemperismo daquelas rochas. Por isso, o comportamento geomecânico, hidráulico e potencial
edáfica tem forte relação com a mineralogia primária do embasamento cristalizado.
Segundo Ramgrab et al. (2004) na folha Porto Alegre SH-22 manifesta-se a suíte Intrusiva Dom
Feliciano - Litofácies Serra do Herval composta por Sienogranito aflorada em Stocks, como pode ser
observado na Figura 1, dando destaque para o local de estudo que se encontra no centro do litólito aflorante.

Figura 1. Folha Porto Alegre SH-22 (Ramgrab, 2004) identificando a litofácie Serra do Herval.

O maciço, também é denominado de granito Ponta Grossa (uma subclassificação) do período pré-
cambriano com idade aproximada de 540 milhões de anos de sua cristalização. Os afloramentos destas rochas
intrusivas predominam no oeste do município. Possui granulação média a grosseira, de tonalidade
predominantemente róseo-avermelhada (é o que se observa). Constitui-se de diversos minerais silicatados,
considerado como um granito sub-alcalino e monzonítico, fortemente quartzítico.
A rocha granítica no local, quando aflorante, apresenta-se bastante degradada, transitando para a
formação de um solo litológico residual pouco desenvolvido pedogenicamente, podendo, muitas vezes, ser
identificada como horizonte C saprolítico.
A figura 2 mostra o perfil do solo, que apresenta insipiente camada orgânica. O horizonte C, por sua
vez, tem características areno-siltoso e preservam coesão pela cimentação residual. Enquanto no horizonte B
(de espessura baixa), quando existente, são solos argilo-arenosos menos porosos, de resistência mais baixa,
com cimentação evolutiva e estabilização química, o que o torna mais valente aos processos erosivos
nitidamente visíveis nos solos de horizonte C destes maciços.
Cabe observar que a maior parte da vegetação existente no local, possivelmente tem origem após estas
intervenções, portanto são florestas secundárias.
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Horizonte A

Horizonte B

Horizonte C a Saprólito

Figura 2. Seção transversal esquemática do perfil geológico e imagem do local (setor 4).

Segundo a classificação de solos do CPRM constam de PV1 - Solos indiferenciados de Argissolos


vermelhos e Argilosos vermelho-amarelo. Na associação com a estratigrafia, encontra-se esta tipologia nas
capas de solos preservadas (não escavadas) do horizonte B. Por outro lado, os solos de horizonte C a
saprolítico, são Cambissolos hápico com Neossolos litólicos ou Neossolos Regolíticos.
Embora tenha-se maciços cristalizados em stoks, sem indícios de metamorfismo de natureza macrorregional,
nota-se a presença de hidrotermalismo com a preservação do quartzo em forma de veios especialmente no
estrato saprolíco, e, por vez, ficam preservados na porção inferior do horizonte C. Já no topo do Horizonte C
e no Horizonte B os traços hidrotermais são apagados pela intensa ação do intemperismo. Observa-se em geral
um solo de horizonte C a Saprolítico com 10 m de espessura antes de encontrar massas de rocha em condições
mineralógicas primárias.
Para este cenário, a coesão aparente pode atingir valores superiores a 20kPa, mesmo em condição de
umidade elevada, uma vez que os taludes permanecem verticalizados após eventos pluviométricos mais
intensos.
Fundamentado nas observações geológicas, entende-se que a causa da degradação da área, passa pela
ação de erosão superficial (laminar) e não de rupturas generalizadas por falta de resistência mecânica dos
maciços de corte associados à remanescente jazida.

3 Erodibilidade

O método frequentemente utilizado na estimativa das perdas de solo por erosão hídrica é a USLE
(Universal Soil Loss Equation). O principal parâmetro que abastece essa equação é o fator de erodibilidade ou
“fator K”, sendo intrínseco aos solos e dependente de atributos físicos, químicos e mineralógicos. Os demais
fatores têm relação climática, de manejo e geomorfológicos.
A perda de solo natural (Ei) e a projeção após remediação (Ef) para os solos da APP estão apresentadas
na Tabela 1. Procurou-se estabelecer patamares em que a taxa anual de solo perdido por erosão esteja inferior
a 6 t/ha.ano com redução progressiva à medida que a vegetação se reestabelece a partir do tratamento com
bioengenharia.
As condições de níveis freáticos são transientes e não se consegue medir nível d´água em furos. A grande
dependência da intensidade e duração de chuvas. Os solos de horizonte B são menos permeáveis, portanto, a
água escoa em superfície por este horizonte, e, quando é interceptada por taludes de cortes, esta passa a escoar
pelo horizonte C mais granular e com um potencial erosivo muito maior. Eis a causa principal da degradação.
Pelizzoli (2019) mostra a curva de sucção do solo de horizonte C, o grau de saturação influencia na
coesão aparente. O presente solo, perde efeito de sução com grau de saturação em torno de 28%. No entanto,
mesmo com o solo inundado, ou seja, com grau de saturação acima deste patamar, nota-se estabilidade dos
taludes, pois estes apresentam valores consideráveis de coesão real, resultante da cimentação residual do
maciço, comprovados pelos resultados nos ensaios de Cisalhamento Direto.
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Tabela 1. Perda de solo por erodibilidade.


R*K*L*S*C*P=E (t/ha.ano)

AREA 1 AREA 2 AREA 3 AREA 4

R= 1249,13 1249,13 1249,13 1249,13


K= 0,32 0,32 0,32 0,32
L= 1,17 0,96 0,71 0,60
S= 0,08 0,09 0,10 0,09
C= 0,60 0,35 0,35 0,35
P= 1,00 1,00 1,00 1,00

Ei= 23,83 11,76 9,64 7,86


Condição alto moderado baixo baixo
Ef= 5,96 1,68 4,13 2,02
Condição muito baixo muito baixo muito baixo muito baixo

4. Investigação Geotécnica

O conjunto de informações de campo e laboratório foram os seguintes: sondagem à trado; ensaios SPT;
coleta de bloco indeformado; ensaio de Cisalhamento Direto inundado no horizonte B; ensaio de Cisalhamento
Direto inundado no horizonte C; caracterização químicas do solo de superfície (horizonte C); granulometria,
umidade e massa específica real dos grãos.
O resumo de propriedades índices e parâmetros geotécnicos podem ser observados na Tabela 2.

Tabela 2. Propriedades e parâmetros geotécnicos dos solos


Propriedade índice ou parâmetro geotécnico Horizonte B Horizonte C
Ângulo de Atrito (°) 27 44
Coesão (kPa) 20 12
Índice de Vazios 0,55 0,88
Umidade natural (%) 10,3 16
Massa específica real dos grãos (g/cm³) 2,53 2,39
Massa específica natural (g/cm³) 1,72 1,61

Os ensaios químicos foram realizados no laboratório da Faculdade de Agronomia da Universidade


Federal do Rio Grande do Sul com a intenção de avaliar a capacidade edáfica natural do solo, bem como
contribui para o entendimento de outros processos físicos, como as erosões, e, por fim, para corrigi-lo
quimicamente. Destaca-se neste contexto, o pH ácido (5,4) do solo, devido à grande quantidade de silicatos.
Por outro lado, a quantidade de alumínio é baixa, ou seja, o solo apresenta baixa toxidade, mas também
apresenta baixo percentual de Matéria Orgânica (M.O.). Enfim, trata-se de um solo pobre para o
desenvolvimento vegetativo.
Outros emais ensaios foram realizados no Laboratório de Mecânica dos Solos e Geomateriais LMS-
GEO da PUCRS. A granulometria do solo do horizonte C, de amostra retirada junto a Área 1, demostra que
há predomina areia e pedregulho, com uma fração argilo-siltosa de 11%. Para as condições idealizada de
compactação na energia normal de Proctor o solo apresenta CBR de 7%.

5. Projetos e Obras executadas

Neste capítulo serão descritos os quatro locais estudados e suas intervenções realizadas.

5.1 Área 1

A Área 1, como pode ser vista na figura 3, consta de um caminho de drenagem específico dentro da
atual Área de Preservação Permanente. A bacia responsável pela demanda de água em direção ao local, que
deflagrou o problema geotécnico, é justamente a cava da antiga pedreira a montante do problema.
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(a) (b)
Figura 3. imagens da Área 1. (a) durante execução. (b) final da execução.

A solução definida para a área 1 foi a de uma descida d’água em gabiões, a qual permitiu que a água
escoe pela estrutura evitando progressão da erosão. Para isso, foi projetado e executado gabiões caixa
embutidos no terreno, fazendo a função de muro e descida em degraus ao mesmo tempo. Assim, a água é
conduzida pelo colchão reno revestido por geotextil NT RT-14 até a posição extrema onde pequenos degraus
em gabião caixa finalmente descarregam a água em local de menor energia.
O muro de gabião de montante, apresenta 8 m de largura e 5 níveis de mudança de cota. Já o colchão
reno estará disposto em seção trapezoidal com segmento de 3m, sendo 1m de base. Complementarmente a
solução principal, um sistema de bioengenharia foi executado para que a vegetação retomasse, de modo a
recuperar a área degradada. Notou-se que a taxa de crescimento vegetativo neste ponto foi bastante superior
aos demais devido a elevada luminosidade.
A estrutura está dimensionada para chuvas com tempo de recorrência de 100 anos a vazão
correspondente é menor que 1 m³/s. A lâmina para estas vazões é pequena, da ordem de 20 cm, são perenes,
pois somente ocorre quando o acumulado de chuva é superior a 50mm.

5.2 Área 2

Neste local, mostrado na figura 4, os taludes apresentam declividades médias de 38° formatados por
cortes da antiga pedreira, anteriores a execução da infraestrutura ali presente. Os solos expostos são de
horizonte C com uma superfície friável, muitas vezes nua ou pouco vegetada.
A solução consta da aplicação de um sistema de bioengenharia, com preliminar tratamento de calcário
dolomítico de modo a elevar o PH para 7,0. Após o tratamento, o solo recebeu semeadura manual por todo o
talude. Para alguns locais foi realizado o plantio direto de espécies locais selecionadas de herbáceas, espaçadas
a cada 50cm e em linhas a cada 2 metros, pelo menos.

(a) (b)
Figura 4. imagens da Área 2. (a) talude antes da intervenção. (b) talude após intervenção.
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Em algumas posições, também foi aplicado hidrogel e hormônio de crescimento, junto ao plantio, para
a manutenção de umidade e enraizamento, respectivamente.
Na região onde o talude tem maior altura e declividade, foram fixados retentores fibrosos com
estaqueamento de bambu a cada 50 cm. A biomanta de 400 g/m² cobriu os retentores fibrosos, tensionando
contra o terreno através de grampos metálicos de 15 cm de comprimento.
Avaliação da estabilidade global foi conduzida com razão de poro-pressão 0,3. Neste caso, o fator de
segurança por Morngerstern-Price foi de 1,35. Enquanto, por análises utilizando níveis freáticos elevados, o
FS atinge 1,41. Nota-se, portanto, que os valores atendem a NBR-11682 no que tange a níveis médio de perda
de vida humana e de danos ambientais.
Neste contexto, entende-se que os problemas destes taludes citados estão associados a movimentos de
partículas em superfície, por conta da ação erosiva laminar, bem como a falta de capacidade edáfica do presente
solo de horizonte C (material cortado no passado). Para tais problemas, vem a calhar a solução com
bioengenharia que tem a intenção de proteger e preservar a superfície com o crescimento e manutenção de
vegetação local.
A solução de bioengenharia sob o ponto de vista de estabilidade somente tem impacto num aumento de
coesão superficial do solo por conta do crescimento de raízes. Por isso, é importante destacar que a vegetação
apresenta pouca interferência na estabilidade global.

5.3 Área 3

Este é o local de maior atenção sobre os problemas que motivaram a interdição da área em 2005.
Inclusive, em estudos anteriores, foi local de monitoramento topográfico de deslocamentos em diversos pontos
de referência. Embora, não se teve resultado conclusivo sobre os deslocamentos medidos.
O talude de corte logo a jusante da área de banho, de forma geral, encontra-se mais verticalizado no topo
e mais abatido na base, como se nota na figura 5. Esta condicionante está expressamente atrelada às coesões
distintas de horizontes B e C, associadas a degradação de superfície pela erosão.
Através de uma retroanálise (FS=1,0) reduzindo coesão efetiva, notou-se que a profundidade da
superfície de ruptura limita-se a 3m, e, muito provavelmente não ocorrerá o mecanismo, uma vez que o solo
está confinado na posição da potencial superfície com FS=1. No entanto, é uma medida prudente de estabelecer
um cenário em que, na eventualidade de queda de coesão dos solos, a massa teórica mobilizada será essa.
O modelo de cálculo infere, portanto, que o escoamento superficial sobre o talude, ou mesmo as
variações térmicas, são capazes de deteriorar a superfície e promover a degradação do talude pelo efeito de
nulidade de coesão superficial.
A solução do setor 3, consta de um sistema de grampeamento (solo grampeado verde), buscando o
conceito de muro interno, com pouquíssima movimentação de massa (cortes). Os grampos com carga de
trabalho de 80 kN ficaram espaçados a cada 2,0 m e com comprimento de 4m, sucedendo perfurações de 75
mm com calda de cimento sob injeção de baixa pressão (até 2MPa).

(a) (b)
Figura 5. imagens da Área 3. (a) talude antes da intervenção. (b) talude após intervenção.
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O sistema de grampeamento verde objetivou o crescimento vegetativo sem prejuízo à estrutura de


contenção e preconiza o reestabelecimento edáfico. Por este motivo, coube a aplicação de tela metálica de alta
resistência capaz de suportar as supostas solicitações provenientes de mecanismos de ruptura entre grampos.
Neste caso foi aplicada a tela Deltax® g80/2 com cabos de contorno ancorados em 3m. A tela foi fixada por
placas metálicas P25 associada a um tratamento preliminar do solo com aplicação de biomanta de 400 g/m².
Embora não se tenha considerado o efeito da coesão no dimensionamento para as rupturas superficiais,
sabe-se que esta parcela pode atuar e estará presente como segurança adicional, tanto nos mecanismos de
rupturas superficiais, quanto naqueles que solicitam o sistema entre grampos.

5.4 Área 4

Na área 4, como pode ser visto na figura 6, houve um descontrole do sistema de drenagem de forma
geral. O escoamento superficial foi responsável pela ocorrência de processos erosivos intensos em boa parte
dos taludes. Existem dois caminhos preferencias de drenagem: um que corresponde a passagem de
macrodrenagem pluvial e cloacal existente, e outra, uma descarga concretada da drenagem superficial do
terreno vizinho.

(a) (b)
Figura 6. Imagens da Área 4. (a) talude antes da intervenção. (b) solução em solo grampeado com
faceamento em concreto projetado.

A solução da área 4, portanto, passou pela construção de um eficiente sistema de drenagem com valas e
descidas em degraus. Como a erosão avançou intensivamente, partiu-se para a solução de grampeamento com
faceamaento em 8 cm de concreto projetado armado. Na base desta estrutura foi realizado um revestimento
com bioengenharia nos mesmos moldes apresentados na área 2.

6. Controle técnológico

O controle tecnológico corresponde a aprovação da qualidade executiva. Neste contexto, para as obras
com injeção de pasta de cimento, mais de 40 CPs foram submetidos ao rompimento. Um mapa de valores de
RCS foi gerado e compilado por Benetti (2019), como pode ser visto na figura 7. Neste caso, notou-se
importante interferência na cura da pasta de cimento, sendo que os CPs com cura seca apresentaram resistência
17% inferior aos CPs com cura imersa.

Figura 7. Mapa de resistência por furo injetado após 28 dias de cura da pasta de cimento.
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Realizou-se também o controle de resistência de contato através do ensaio de arrancamento de grampo


protótipo. O ensaio foi televisionado e posteriormente interpretado. Através deste, identificou-se que o valor
de “qs” pode ser considerado 180 kPa, neste estágio de carga ocorreu plastificação do solo. No entanto, a
ruptura ocorreu, de fato, com 245 kPa, atendendo ao que foi adotado em projeto como 120 kPa, como pode ser
observado na figura 8.

Figura 8. Gráfico deslocamento versus qs do ensaio de arrancamento realizado no horizonte C.

7. Conclusão

As soluções empregas e executadas mostraram-se eficientes sob o ponto de vista técnico e econômico,
apresentado bom desempenho, garantido a segurança da área e permitindo o término da interdição da APP.
Entretanto, as manutenções, em especial das soluções de bioengenharia, através da rega e repasse e
refertilização, são indispensáveis, pois as causas principais dos problemas de degradação desta APP são devido
a mecanismos de erosão, causados justamente pela degradação da área no período em que era explorada como
jazida, em especial ao remover a camada de solo mais valente ao escoamento (horizonte B argiloso) expondo
o horizonte C degradativo.
Cabe destacar que foi necessária uma efetiva integração dos conhecimentos técnicos em geotecnia,
hidrologia e agronomia, bem como a celeridade administrativa e de órgão ambientais para que fosse possível
proporcionar o sucesso da recuperação desta área degradada.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Condomínio Terra Nova Nature (financiador), e as Empresas New Engenharia
(fiscalização), SF Engenharia Diferenciada (projetos e supervisão) e a RCA Infraestrutura (Execução).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2009). NBR 11682. Estabilidade de Taludes. Rio de Janeiro
Benetti, D. (2019) O controle tecnológico de uma contenção em solo grampeado. Trabalho de Conclusão,
Curso de Engenharia Civil, Escola Politécnica, PUCRS, Porto Alegre, 2019.
Pelizzoli, L. (2019) Análise do comportamento geomecânico de um solo areno-siltoso em situação não
saturada compactado em laboratório. Trabalho de Conclusão, Curso de Engenharia Civil, Escola
Politécnica, PUCRS, Porto Alegre, 2019.
Ramgrab, G.E.; Wildner, W.; Lopes, R.C.; Favilla, C.A.C.; Silva, M.A.S.; Sachs, L.L.B.; Silva, V.A.; Batista,
I.H. Ramdabrasil: Folha Sh. 22 - Porto Alegre. In: Schobbenhaus, C.; Gonçalves, J.H.; Santos, J.O.S.;
Abram, M.B.; Leão Neto, R.; Matos, G.M.M.E.; Vidotti, R.M.; Ramos, M.A.B.; Jesus, J.D.A. de (eds.).
Carta Geológica Do Brasil Ao Milionésimo, Sistema De Informações Geográficas: Programa Geologia Do
Brasil. Brasília, Df: Cprm, 2004. Cd-Rom.

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