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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

RAYSSA PAIXÃO FRANÇA


THAIS PAIXÃO FRANÇA

PETROPÓLIS
Relatório de Campo

Seropédica
2023
RAYSSA PAIXÃO FRANÇA
THAÍS PAIXÃO FRANÇA

Petrópolis

Relatório do trabalho de campo realizado na cidade de


Petropólis (RJ) para disciplina de Trabalho de Campo
Aplicado do curso de Geografia da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro como atividade avaliativa.

Seropédica
2023
Resumo
Neste relatório será abordado a análise feita pela experiência vivida no trabalho de campo
referente às disciplinas de Trabalho de Campo Aplicado e Geomorfologia do Brasil
Aplicada ao Ensino, com base na visualização da vivência da movimentação urbana de
Petrópolis após as tragédias ambientais de fevereiro de 2022.
Desde as grandes navegações e as expedições no Novo mundo, existiu o fascínio pela
exposição ao ambiente, essencialmente desde as cartas escritas por biólogos e botânicos à sua
passagem pelo continente sul americano. A valorização pelo campo incorporou a ciência
geográfica a análise da observação do ‘ao redor’, assim como, este fator diferenciou a
geografia na aplicação do seu método de análise das outras ciências.
Desse modo, entendemos que a ciência geográfica necessita da experiência para compreender
os seus fenômenos, com relação a teoria e a vivência. Com isso, o trabalho de campo
possibilita a aprendizagem através da vivência, da experiência; não apenas pelo conhecimento
terceirizado ou repassado por alguém, mas auxilia na edificação do entendimento individual do
geógrafo, assim como contribui para o enriquecimento com a atualização de conteúdos para
Geografia e seu acervo teórico.
Assim, nos dias 10 e 11 de Julho foi realizado o trabalho de campo na cidade de Petrópolis, na
qual pudemos encontrar a presença de elementos que compõem o espaço em meio ao
desenvolvimento, resistência e herança histórica.

História
O nome da cidade está associado à construção do Palácio de Verão, que foi nomeado em
homenagem ao Imperador Dom Pedro II – sua origem étnica é portuguesa, sendo do latim
“petrus”, Pedro. E do grego “pólis”, cidade, dessa forma, a cidade é nomeada como Petrópolis ,
cidade de Pedro. Seu primeiro registro aparece após a abertura da nova estrada que fazia a
ligação do Rio de Janeiro com Minas Gerais, esse novo caminho foi considerado um atalho
pois encurtava em cinco dias de viagem e o caminho possuía um terreno menos irregular,
fazendo com que o ouro chegasse mais rápido ao Porto do Rio de Janeiro.
A construção da cidade Petrópolis diferentemente das demais cidades do Rio Janeiro houve a
presença de um planejamento urbano, o qual foi realizado pelo Major Júlio Frederico Koeler,
sua estética ficou conhecida por utilizar elementos da arquitetura europeia, especialmente em
assimilação aos padrões alemães que após um curto período da implementação do projeto do
Palácio Imperial houveram a chegada dos imigrantes. Petrópolis foi planejada em faixas de
zoneamento e sistema de abastecimento d’água e esgotamento sanitário, enquanto na capital os
dejetos em penicos, e recipientes de metal ou porcelana eram jogados nas ruas e vias de
circulação; em alguns casos os dejetos eram levados em baldes e despejados no rio mais
próximo. O sistema implementado divergia da ideia da utilização do curso d’ água com a
funcionalidade de coletor dos dejetos, mas tinha por intuito ser um elemento harmônico da
paisagem como a arquitetura dos países europeus.
Dessa forma iremos percorrer sobre os pontos visitados na cidade de Petrópolis, na aula campo
nos dias 10 e 11 de julho.

Mirante do Cristo.
Petrópolis se localiza na faixa territorial onde ocorreu o falhamento do relevo durante o Ciclo
Brasiliano (620 m.a.) na atual Serra do Mar ainda no período do Gondwana com a separação
das placas sul americana e africana. Esse trecho conhecido como Serra do Órgãos reúne além
de Petrópolis, as cidades de Teresópolis, Guapimirim e Magé, as quais possuem pelo dna
orográfico similar pela uma matriz familiar de formação e a constituição litológica da presença
predominante de rochas ígneas e metamórficas, desse modo caracterizando em um relevo de
natureza cristalina.
Localizado na Serra da Estrela, o relevo acidentado resulta em caminho verticalizado pois
possui uma grande variação altimétrica com vertentes íngremes e rochosas, assim como há a
presença de solos litólicos (pouco desenvolvidos) e os latossolos vermelho/amarelo.
O sistema de bacias hidrográficas foi um dos pontos igualmente abordados durante a passagem
pelo mirante, no qual foi explicado sobre a processo de ligação do sistema de bacias entre a
Baixada Fluminense no Rio Guandu que perpassando pelo Rio Piabanha em Petrópolis e
seguindo o fluxo até seu desaguamento no Paraíba do Sul no município de Três Rios.

R. Washington Luis
O local visitado em seguida mostra a construção da padronização dos canais da cidade, que
existem sobre a constituição do modelo estabelecido pela carta de Koeler da qual estabelece
que a frente de todas as casas deveria ficar voltadas para os rios, e o esgoto deveria ser
direcionado para fossas nos fundos, que dispensava o tradicional estilo colonial em que as
casas eram erguidas de fundos para os rios que funcionavam como local de descarte de dejetos.
Além da ideia de saneamento, é importante salientar que a estruturação dos canais faz com que
os rios (Piabanha, Palatino e Quitandinha) sofram alterações em seus cursos desde o
surgimento da cidade junto a ocupação do solo contribuem para a modificação das
características de cobertura, resultando na alteração da dinâmica das bacias hidrográficas da
área. Essa alteração da dinâmica fluvial pode se ligar diretamente aos problemas frequentes das
grandes enchentes, como mostram os dados os quais apontam o Quitandinha como maior área
de alterações e consequente do alto índice de inundações, como visto na última tragédia em
2022, na enxurrada que arrastou dois ônibus. Além do canal estreito, o ponto visitado na Rua
Washington Luís também possuía a encosta junto a uma construção civil que acrescentou ao
fluxo d’água uma tsunami de lama que bloqueou a via.

Morro das Oficinas


Próximo ao famoso polo comercial têxtil da cidade, no bairro Alto da Serra foi um dos pontos
mais afetados pelos deslizamentos ocorridos no início de 2022 devido a alta pluviosidade
atingida, chegando ao nível de 500 mm de chuva.
Pudemos observar as consequências deixadas pela tragédia na região, especialmente no relevo
a frente onde havia a exposição grandes pedaços de rochas, apresentando uma intensificação
nas áreas mais côncavas. Em contraste às áreas divergentes do relevo, que foram menos
afetadas devido à sua formação convexa.
O solo espesso e a vegetação presente foram um dos pontos sinalizados na nossa parada no
morro da oficina remetendo acerca da importância da vegetação durante as aulas de
geomorfologia. A vegetação da mata atlântica, caracterizada por ser higrófila, latifoliada e
perenifólia presente no território petropolitano tornou-se um exemplo materializado das
funções da flora. Anteriormente mencionado em aula, a vegetação foi um dos fatores essenciais
na diminuição do impactos gerados pelos escorregamentos no solo, atuando como uma barreira
biológica no freamento dos deslizamentos no morro da oficina. Sendo este um dos pontos
atingidos mais fortemente durante a inundação devido a chuva extrema chegando ao ponto da
Prefeitura decretar estado de calamidade. Durante o período de restauração, a população nativa
teve de ser atendida pela comunidade de outras cidades, pois os estragos deixados pela
inundação se tornaram maiores que a capacidade normalmente exercida pela gestão do
município. Um ano depois, vemos os esforços na reconstrução da cidade que aos poucos se
mostra voltar ao que era; já a comunidade permanece ainda em resistência pelo seu território
em meio a esperança de reviver as paisagens que incorporaram o seu pertencimento e sentido
de lugar.
Rua do Túnel
Por causa da hidrografia da cidade, onde dois rios se encontram em seu centro, colabora com o
alto índice de enchentes, até que na década de 60, para combater as enchentes no centro
histórico, foi construído um túnel extravasor para que as águas do rio Palatinato pudessem se
desviar do encontro do Quitandinha, parte dessa construção foi feita em galerias subterrâneas
desaguando no rio Itamarati. Contudo, o túnel extravasor não recebia manutenção desde a
década de sua edificação, e junto ao fenômeno do crescimento da cidade que fez com que a
população passasse a ocupar os locais da área do túnel e as encostas do bairro Quissamã, fez
com que nas últimas chuvas torrenciais que aconteceram em fevereiro de 2022, contribuíssem
para enfraquecer os trechos que já estavam desgastados, assim mostrando que existiam alguns
paredes da galeria, onde haviam desvio da água para a parte inferior das casas, fazendo com
que houvesse a formação de crateras nas ruas e o desabamento de parte das casas. Hoje, ainda
se vêem sobre as ruas do bairro do Quissamã as cicatrizes desse desastre, onde é possível ver
casas desabitadas porém parte dos moradores permanecem em seus espaços mostrando a
capacidade de recuperação após a crise.

Ponto principal do Encontro do Rios da cidade.


Nesta parada fomos levados a compreender a dinâmica realizada pelo circuito hidrográfico
petropolitano, sendo este ponto de confluência do rio principal da cidade, o rio Piabanha. O que
torna o ponto mais frágil devido ao encontro dos rios Quitandinha, Piabanha e Palatino
terminando em Três Rios.
Museu Imperial e Catedral de São Pedro de Alcântara e a relação com
turismo
Os pontos a seguir são de extrema importância para a movimentação econômica petropolitana.
É relevante destacarmos que a cidade de Petrópolis é conhecida pelo seu grande valor
histórico, e atrai turistas para visitar os diversos pontos históricos espalhados pela cidade, como
as igrejas, os casarões históricos e os museus, sendo o principal deles, o Museu Imperial. Dessa
forma, é importante ressaltar que nas últimas décadas, os museus além de oferecerem um
entretenimento e contextualizações históricas, têm também aumentado as ofertas de
apropriação de seus espaços por parte do público. No Museu Imperial, por exemplo, são
oferecidas cafeterias, uma biblioteca, lojas de souvenirs, espetáculos de música e teatro, e
atividades educativas. Além dos museus, é necessário destacar também a importância das
igrejas, sobretudo da Catedral de São Pedro de Alcântara, hoje um dos principais cartões
postais da cidade, que além de sua importância histórica e religiosa ela também é parte de um
marco de sua urbanização.

Conclusão
Assim, entendemos que a experiência vivida nos dias de visitação aos pontos referentes
confirmam a ideia sobre o aprendizado por meio da exposição da metabolização do espaço, em
sua dinâmica das forças territoriais físicas e abstratas as quais dialogam por seu território no
espaço. O trabalho de campo em Petrópolis culminou para o enriquecimento dos
conhecimentos geográficos sobre os estudos desenvolvidos durante o semestre, ao analisarmos
os conceitos hidrológicos, climáticos, biogeográficos, geomorfologicos em junção a análise
urbanística do planejamento territorial da cidade. A materialização experienciada pelo trabalho
de campo auxilia o pesquisador, em questão ao geógrafo a ter uma dimensão para além da ótica
bidimensional proporcionada pela teoria que nos é apresentada, incentivada e até mesmo
requerida no ambiente acadêmico, neste sentido o campo nos permitiu através do contato fazer
a reconciliação de um estudo da natureza em sua essência e não apenas como algo aparte de
nós; assim como, nos permitiu termos a oportunidade adquirir um olhar mais próximo a
comunidade presente, entendermos a importância da aquela área geograficamente ocupada
como seu lugar e os elementos culturais referenciados pela cidade.

Referências Bibliográficas.

SANTOS, Milton. Espaço e método. São Paulo: Edusp, 2008.


FERREIRA DE FREITAS, Anniele Sarah. LEAL DE MENEZES, Paulo Márcio.
SALOMÃO GRAÇA, Alan José. VIEIRA DE ALMEIDA, Camila. Estudo
Histórico Geográfico da Evolução Administrativa do Município de
Petrópolis e sua Toponímia. Anais do I Simpósio Brasileiro de Cartografia
Histórica. Paraty-RJ, 2011.
DA SILVA SANTOS, Kairo. DE SOUZA ANTUNES, Fernando. DO COUTO
FERNANDES, Manoel. Os Rios, A Cidade E O Mapa Como Objeto De
Análise Da Dinâmica Da Paisagem. Mercator. Fortaleza-Ce, 2018.
BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência.
Revista Brasileira de Educação. Tradução João Wanderley Geraldi. Campinas.
Abril 2011.

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