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Revista da Biologia (2011) Vol. Esp.

Biogeografia: 41-48 Revisão

Abordagens atuais em biogeografia


marinha
Current approaches in marine biogeography

Thaís Pires Miranda, Antonio Carlos Marques


Laboratório de Evolução Marinha, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade de São
Paulo, SP Brasil

Resumo. A biogeografia marinha estuda a história da distribuição geográfica dos táxons Contatos dos autores:
marinhos, tendo as áreas de endemismo e os traços generalizados como unidades básicas thaispmir@ib.usp .br
analíticas. Estudos em biogeografia marinha são incipientes para a maioria dos táxons marinhos, marques@ib.usp.br
principalmente devido às dificuldades de caracterização e compreensão das barreiras que
determinam cladogêneses dos grupos. Atualmente, o estudo da distribuição geográfica de Apoio: FAPESP, CAPES-
táxons marinhos não apresenta uma metodologia analítica estrita e muito das idiossincrasias PROAP, CNPq
dessa área são ignoradas em abordagens biogeográficas. Neste artigo, procuramos revisar os
conceitos de homologia biogeográfica, barreiras e metodologias em biogeografia marinha, Recebido 20out10
ressaltando a importância dessa disciplina em estudos de biodiversidade e conservação. Aceito 15abr11
Palavras–chave. Biogeografia, barreiras, biodiversidade, áreas de endemismo, traços generalizados, Publicado 07nov11
taxonomia, distribuição geográfica, conservação.

Abstract. Marine biogeography focuses on the history of geographic distribution of marine


taxa, with areas of endemism and generalized tracks as basic units of analysis. Studies in marine
biogeography are incipient for the majority of marine taxa, mainly because of difficulties
in characterizing and understanding the barriers that causes cladogenesis of the groups.
Currently, the study of geographical distribution of marine taxa does not have a strict analytical
methodology, and many idiosyncrasies of the realm are ignored in biogeographic approaches.
Herein we provided a review of the concepts of biogeographic homology, barriers and
methodologies used in marine biogeography, and we stressed the importance of this discipline
in studies of biodiversity and conservation.
Key words. Biogeography, barriers, biodiversity, areas of endemism, generalized tracks, taxonomy,
geographic distribution, conservation.

Introdução à biogeografia: definições e pressu- de habitats e conservação ambiental.


postos A biogeografia compreende o estudo da
história dos seres vivos e sua distribuição geo-
A biogeografia é uma ciência interdisciplinar gráfica no espaço (Morrone e Crisci, 1995; Cris-
que se diferencia das outras áreas da ciência ci e col., 2000), podendo ser dividida em dois
pela heterogeneidade de seus princípios e me- principais ramos: a biogeografia histórica e a
todologias (Morrone, 2004). Existem vários ra- biogeografia ecológica.
mos dentro da biogeografia (e.g., biogeografia A biogeografia histórica enfoca o efeito dos
ecológica ou histórica, marinha ou terrestre, eventos de grande escala temporal (e.g., evolu-
de conservação), os quais, apesar de suas di- tivos, tectônicos) sobre os padrões de distribui-
vergências conceituais, lidam com os mesmos ção e história das espécies e táxons supra-espe-
padrões e, portanto, estão integrados espaço- cíficos (Nelson e Platnick, 1981; Humphries e
-temporalmente. Apesar de sua complexidade Parenti, 1999; Crisci e col., 2000; Morrone, 2009).
e vastidão conceitual-metodológica, o interesse Já a biogeografia ecológica analisa padrões nos
em biogeografia cresceu extraordinariamente níveis populacional e específico, enfatizando os
nos últimos anos (Morrone, 2009), mesmo em efeitos dos processos ecológicos (e.g., tempera-
áreas pouco estudadas, como a biogeografia tura, umidade, salinidade, disponibilidade de
marinha. Esse ramo da biogeografia vem sendo alimento) que ocorrem em escalas mais curtas
foco de muito interesse atual, principalmente de tempo (Nelson e Platnick, 1981; Cox e Moore,
devido às crescentes preocupações com perdas
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1993, Morrone, 2009). O problema dessa sepa- estudos biogeográficos. O primeiro obstáculo
ração está na pouca interação entre essas duas relaciona-se à confiabilidade das identificações
vertentes e isso se reflete em uma predominân- das espécies e, consequentemente, à determina-
cia de estudos narrativos sobre os analíticos, o ção dos pontos geográficos com a presença real
que pode gerar conclusões baseadas apenas em de um determinado táxon. O segundo obstáculo
divergências de opiniões, não comparáveis em é a ausência de cladogramas no nível específico
sua essência, e não baseadas em metodologias que permitam a inferência das distribuições em
rigorosas de estudo (Morrone e Crisci, 1995; um contexto filogenético, mesmo que haja da-
Crisci e col., 2000). dos fidedignos sobre a distribuição dos táxons.
Historicamente, a dispersão e a vicariância Assim, os estudos taxonômicos e filogenéticos
são os principais modelos de explicação para amplos e de qualidade são condições essenciais
a distribuição dos organismos e, consequente- para análises de distribuição geográfica e infe-
mente, os principais causadores de oposições rências de áreas de endemismo e traços genera-
de ideias em biogeografia histórica (Morrone e lizados, tanto para a biota como um todo como
Crisci, 1995; Morrone, 2009). A ideia de Hennig, para comunidades específicas.
de que tanto a dispersão quanto a vicariância
podem explicar a distribuição dos organismos, Homologia biogeográfica primária e barreiras
associada à anagênese, cladogênese e paleoge- geográficas no ambiente marinho
ografia, originou a biogeografia filogenética, a
qual estuda a história dos grupos monofiléticos Estudos na área marinha precisam ser intensifi-
hierárquicos no tempo e no espaço (Brundin, cados e focados sob uma ótica evolutiva, e não
1981). Contraposta à biogeografia filogenéti- simplesmente considerados como “difíceis”
ca, a pan-biogeografia considera a vicariância ou “impossíveis”, a ponto de se relegar a bio-
como principal modelo explicativo para a dis- geografia apenas aos grupos continentais. Um
tribuição dos organismos, sendo a história geo- exemplo notável de aplicação de um enfoque
lógica da Terra o principal fator para explicar os biogeográfico estrito é o trabalho de van Soest
padrões de subdivisão e isolamento das biotas e Hajdu (1997), o qual justamente conclama a
(Croizat, 1958). A união das ideias de Hennig e necessidade de mais estudos na área, mas este
Croizat permitiu o surgimento da biogeografia é, sem dúvida, uma exceção.
cladística, a qual relaciona as espécies com suas Briggs (1974) foi um dos primeiros auto-
áreas de distribuição por meio do uso de clado- res a delimitar e caracterizar zonas zoogeográ-
gramas (Cox e Moore, 1993; Morrone e Crisci, ficas e províncias marinhas em nível mundial,
1995) buscando, assim, uma compreensão filo- considerando-se padrões de distribuição e ciclo
genética para as áreas ocupadas pelos táxons. de vida de táxons provenientes de plataformas
Estudos biogeográficos iniciam-se por continentais, regiões de mar aberto e de pro-
meio de análises de áreas de distribuição geo- fundidade. Apesar da abordagem baseada em
gráfica (Crisci e col., 2000), as quais têm as áreas centros de origem, a importância histórica deste
de endemismo ou os traços generalizados como trabalho está no pioneirismo relacionado à des-
unidades básicas de estudo, também denomi- crição e sistematização dos conceitos em bio-
nadas hipóteses de homologia biogeográfica geografia marinha, os quais comumente eram
primária (Morrone, 2001, 2009). Estas hipóteses apontados de forma fragmentada em estudos
estão relacionadas à pan-biogeografia de Croi- de outras áreas. Como ressaltado pelo autor,
zat (1958), na qual os táxons estão integrados o acúmulo de conhecimentos em biologia ma-
espaço-temporalmente numa mesma biota, ou rinha ainda é escasso, principalmente devido
seja, possuem uma história biogeográfica co- à grande extensão territorial dos oceanos, sua
mum. O teste cladístico para os componentes tridimensionalidade e à hostilidade de alguns
bióticos identificados (i.e., para as hipóteses de ambientes, os quais dificultam as atividades ob-
homologia biogeográfica primária) constitui servacionais humanas, tais como, as regiões de
a homologia biogeográfica secundária, a qual profundidade e de mar aberto.
corresponde o principal objetivo da biogeogra- Atualmente, os estudos em biogeografia
fia cladística (Morrone, 2001, 2004, 2009). marinha concentram-se, em sua maioria, na ca-
Dificuldades taxonômicas, independentes racterização de padrões de distribuição geográ-
do domínio ambiental de interesse, seja esse fica (e.g., Anderson e col., 2009; Gibbons e col.,
terrestre ou marinho, constituem entraves aos 2010a, b; Olu e col., 2010) e na delimitação de
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homologias biogeográficas primárias (i.e., áre- humana (por meio de “fouling”, água de lastro
as de endemismo ou traços generalizados). Os de navios, etc.). O estudo dos ciclos de vida das
estudos em homologia biogeográfica primária espécies é um aspecto pouco explorado e de
estão particularmente mais direcionados à in- suma importância para a compreensão da evo-
ferência e delimitação de áreas de endemismo lução no tempo e espaço, uma vez que aborda-
por meio de métodos de parcimônia, principal- gens biogeográficas não podem negligenciar a
mente em regiões austrais, tais como o sudeste relação entre a biologia dos grupos e suas áreas
do Pacífico e continente antártico (viz., Glasby e de endemismo. Um exemplo neste sentido é Gi-
Alvarez, 1999; Moreno e col., 2006; Marques e bbons e col. (2010a), que relacionaram dados de
Peña Cantero, 2010). São poucos os estudos que riqueza, distribuição geográfica e estratégias de
empregam traços generalizados na delimitação ciclo de vida dentre os Hydrozoa, e concluem
de áreas de endemismo (e.g., Hajdu, 1998; Var- que os táxons holoplanctônicos possuem maior
gas e col., 2008) ou outras metodologias pan- capacidade de dispersão em relação aos bentô-
-biogeográficas para a reconstrução da história nicos. Posteriormente, Gibbons e col. (2010b)
de áreas no ambiente marinho (e.g., Myers e Lo- novamente usam dados de presença/ausência
wry, 2009). Estudos comparando diferentes me- de espécies de Hydrozoa associados a diferen-
todologias aplicadas na definição de áreas de tes estratégias de ciclo de vida desse grupo para
endemismo marinhas são preliminares e raros concluir que os táxons holoplanctônicos apre-
(Vargas e col., 2008), provavelmente por exigir sentam menor estrutura biogeográfica em re-
uma grande quantidade de registros taxonômi- lação aos táxons bentônicos. Ambos os estudos
cos fidedignos com dados georreferenciados, o corroboram o paradigma clássico marinho da
que não ocorre na maioria das bases de dados maior distribuição geográfica em grupos com
disponíveis atualmente. Isso demanda que o maior potencial dispersivo.
pesquisador realize todo o trabalho taxonômico Dentre os fatores físicos, há uma dificulda-
preliminar e básico para estas inferências. de inerente em se compreender a vicariância no
Em biogeografia histórica marinha, o nú- ambiente marinho, ou seja, se delimitar a exis-
mero de estudos é até menor que a definição tência de barreiras históricas ou atuais que de-
de homologias primárias. Alguns exemplos são terminaram a cladogênese dos grupos (Myers,
Garraffoni e col. (2006) com o uso de análise de 1997; Heads, 2005). Porém, do ponto de vista
parcimônia de endemicidade (PAE) na delimi- teórico (viz., Nelson e Platnick, 1981), não há
tação de padrões biogeográficos mundiais para razão para descartar o modelo vicariante como
espécies de terebelídeos e van Soest e Hajdu fator explicativo para compreender os padrões
(1997), que aplicam diferentes metodologias de de distribuições dos organismos marinhos. He-
biogeografia cladística (análise de componen- ads (2005) critica justamente o amplo uso do
tes, análise de parcimônia de Brooks e análise conceito de dispersão de Darwin-Wallace em
de enunciados de 3-áreas) para a construção de estudos do ambiente marinho, discutindo al-
cladogramas gerais de área em nível mundial ternativas relacionadas à pan-biogeografia de
para espécies de esponjas. Croizat e, consequentemente, à pressuposição
Pelo exposto, podemos supor que a com- do processo de vicariância como principal fator
preensão sobre a distribuição geográfica de responsável pelo estabelecimento do endemis-
táxons marinhos não é uma tarefa simples. A mo em uma determinada área.
inexistência de estudos em biogeografia para a Atualmente, observa-se que inferências so-
maioria dos grupos marinhos pode ser credita- bre a distribuição de organismos marinhos ex-
da ao fato de que a ideia de evolução biológica perimentam, em grande medida, uma ausência
conjunta à evolução geológica/ambiental não é de metodologia analítica biogeográfica formal,
tão evidente no meio marinho, seja por fatores estando, portanto, toda a disciplina em um es-
biológicos ou físicos. Entre os fatores biológi- tágio anterior à própria elaboração dos padrões
cos, há uma compreensão comum de que exis- e/ou de artefatos perpetuáveis concertados de
te amplo potencial de dispersão no ambiente distribuição. Como ressaltado por Myers (1997),
marinho, causado pelo fato de que a maioria embora ainda não compreendamos correta-
dos organismos possui estágios dispersivos em mente o funcionamento das barreiras geográfi-
seus ciclos de vida (sejam esses larvas, como cas no ambiente marinho, sua existência pode
ocorre em decápodes, ou adultos, como em hi- ser evidenciada por meio da descontinuidade
drozoários), além da intensa e histórica forésia que elas produzem na distribuição das espé-
44 Miranda & Marques: Abordagens atuais em biogeografia marinha

cies. Essa incompreensão sobre barreiras pode biogeografia marinha usam as metodologias
ser creditada à maior complexidade dos ecos- biogeográficas tradicionais que foram prima-
sistemas marinhos, os quais são caracterizados riamente propostas para táxons terrestres, seja
por vários regimes de correntes e frentes oce- na área de pan-biogeografia ou de biogeografia
ânicas, diferenças de temperatura, salinidade, cladística.
profundidade, gradientes latitudinais, relevo e Particularmente para as áreas de endemis-
composição de fundo, além das distintas comu- mo, vários métodos foram propostos para sua
nidades que se estabelecem de acordo com as identificação, tais como modelos nulos (Mast e
condições abióticas de cada local (viz., Acha e Nyffeler, 2003; Giokas e Sfenthourakis, 2008),
col., 2004; Lucas e col., 2005, para regimes oce- agrupamentos de áreas (Harold e Mooi, 1994;
ânicos no Atlântico sul). Desta forma, uma va- Deo e DeSalle, 2006), análises de parcimônia
riável ambiental que pode funcionar como bar- (Rosen, 1988; Morrone, 1994; Morrone e Esca-
reira geográfica para uma comunidade de uma lante, 2002) e algoritmos particulares de otimi-
área (e.g., tipo de substrato e/ou composição de zação (Szumik e col., 2002; Szumik e Goloboff,
fundo oceânico para os hidróides bentônicos do 2004). Nenhuma dessas metodologias leva em
sudoeste do Atlântico), pode não ter qualquer consideração a complexidade e tridimensiona-
influência para outra comunidade que ocupa lidade do ambiente marinho e suas idiossincra-
esta mesma área e que seja influenciada por sias abióticas, tais como regimes de correntes
outras variáveis ambientais (e.g., temperatura oceânicas, temperatura, salinidade, profundi-
e luminosidade da coluna d’água para o fito- dade, entre outras.
plâncton do sudoeste do Atlântico). Assim, fica A profundidade, por exemplo, é uma das
evidente que barreiras atuam sobre biologias variáveis ambientais que mais influencia na
uniformes dos organismos marinhos, e não so- composição de comunidades marinhas. Para
bre táxons ou sobre a biota como um todo. Okolodkov (2010), por exemplo, a biogeografia
Entretanto, abordagens relacionadas à marinha deveria estar dividida em biogeografia
existência de barreiras biogeográficas marinhas do pelagial e biogeografia do bentos, sendo que
têm sido mais frequentes na última década a biogeografia do pelagial poderia ainda estar
(viz., Myers, 1997; McCartney e col., 2000; He- dividida em biogeografia oceânica e biogeogra-
ads, 2005), assim como outros estudos em bio- fia costeira. Essa separação não é sem sentido,
geografia marinha (viz. Engle e Summers, 2000; já que em uma mesma coluna d’água poderia
De Grave, 2001; Garraffoni e col., 2006; Moreno se encontrar, por exemplo, uma área de ende-
e col., 2006; Winfield e col., 2006; Myers e Lo- mismo bentônica a 2.000m de profundidade e
wry, 2009; Marques e Peña Cantero, 2010). Em outra planctônica, nos primeiros 20m de pro-
um estudo recente, Olu e col. (2010) demonstra- fundidade que, inclusive, podem ser baseadas
ram que a profundidade é a variável determi- nos mesmos táxons. Novamente, é determinan-
nante da estrutura da comunidade da megafau- te se compreender a distribuição das espécies (e
na de áreas mais profundas (abaixo dos 330m) suas fases) marinhas sob a ótica das múltiplas
da região Atlântica-Equatorial e, portanto, atua biologias encerradas no ambiente.
como barreira para a distribuição dessas espé- As correntes e massas de água oceânicas
cies. Mas este tipo de abordagem é uma exceção também são variáveis importantes na determi-
nos estudos biogeográficos marinhos. nação da distribuição de organismos marinhos.
A presença de uma espécie (ou um conjunto
Metodologias de análises biogeográficas e delas) em determinado ponto do litoral sudeste
suas relações com o ambiente marinho do Brasil, por exemplo, poderia simplesmen-
te ser devido à penetração de uma massa de
Não há metodologias estritas ou únicas para água profunda que flui do litoral argentino em
análises biogeográficas no ambiente marinho. direção ao Brasil em uma determinada época
Como consequência, até o momento, a maior do ano, possibilitando o estabelecimento dessa
parte das propostas de “províncias marinhas” comunidade de espécies típicas do litoral ar-
continua sendo baseada em cenários interpre- gentino no litoral sudeste do Brasil, inclusive
tativos/narrativos (e.g., Briggs, 1974; Palacio, com distribuições aparentemente descontínuas.
1982) ou em revisões da literatura (e.g., Spal- Assim, o possível estabelecimento de uma área
ding e col., 2007), sem base metodológica e ana- de endemismo devido à presença dessa espé-
lítica estrita. Os poucos estudos existentes em cie, por exemplo, não poderia ser considerada
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temporalmente permanente, nem poderia en- sões sistemáticas para os táxons marinhos, en-
volver toda a área entre o sudeste do Brasil e volvendo desde o levantamento de fauna/flora
Argentina – o correto seria interpretá-la como (seja por coleta em campo e/ou coleções de mu-
sazonal e ligada ao movimento da corrente oce- seus), mapeamento de distribuições geográficas
ânica responsável por sua existência no sudeste e construção de filogenias. No Brasil, por exem-
do Brasil. plo, há uma escassez de filogenias no nível es-
Essas considerações não implicam que as pecífico, mesmo para os táxons marinhos com
metodologias tradicionais de estudos em bio- fauna melhor conhecida (e.g., Copepoda, Cha-
geografia devam ser simplesmente abandona- etognata; viz., Migotto e Marques, 2006), o que
das ou descartadas nos estudos de biogeografia dificulta a elaboração de hipóteses de homo-
marinha. Apenas alertam para a necessidade de logia biogeográfica secundária. Dessa forma,
uma compreensão e análise que levem em con- podemos afirmar que há uma necessidade ur-
sideração estes aspectos únicos do ambiente. gente de estudos taxonômicos para organismos
Uma área de endemismo proposta para o meio marinhos antes da delimitação de homologias
do Atlântico, por exemplo, faz sentido se tiver biogeográficas.
também sua posição na coluna d’água localiza- Com relação à área de conservação, estu-
da, e não simplesmente ser considerada como dos e classificações biogeográficas dos ecossis-
bidimensional. Ainda, se por acaso essa área temas são fundamentais para o estabelecimen-
for comparada ou discutida em relação à de to de áreas de proteção no ambiente marinho,
outras comunidades, essas discussões devem principalmente pela representatividade desse
ser feitas sempre levando-se em consideração a ambiente ser subestimada em relação ao que
batimetria, ou a massa d’água única ou predo- existe mundialmente para outras regiões (Spal-
minante das regiões, por exemplo. Desta forma, ding e col., 2007). Lourie e Vincent (2004) apon-
as metodologias biogeográficas tradicionais po- tam e discutem cinco principais áreas nas quais
dem e devem ser empregadas em biogeografia a biogeografia pode contribuir para estudos em
marinha, mas isso deve ser feito com cautela, conservação: (1) mapas de distribuição geográ-
sempre se considerando a tridimensionalidade fica das espécies, (2) modelos de distribuição,
do ambiente marinho e as variáveis ambientais (3) classificações biológicas adequadas para a
que podem atuar na distribuição geográfica identificação de áreas, (4) identificação dos pro-
das espécies. Esses cuidados e prevenções são cessos que determinam e mantêm as distribui-
importantes para o aprimoramento, adequa- ções das espécies e (5) ferramentas adequadas
ção e uso das metodologias biogeográficas em para analisar os dados, e todas estas se aplicam
ambientes complexos e diferenciados, tal como ao ambiente marinho.
o ambiente marinho, e resultarão em padrões Whittaker e col. (2005) faz uma revisão
mais congruentes e melhor descritores do am- crítica às aplicações de alguns aspectos da bio-
biente. geografia em estudos de conservação e afirma
que a ciência biogeográfica ainda é pobre den-
O cenário atual dos estudos em biogeografia tro da área de biologia da conservação, sendo
marinha uma “Cinderella within Conservation Biology”
(Whittaker e col., 2005:3). Entretanto, recente-
Atualmente, a atividade relacionada à biodi- mente, o número de estudos em biogeografia
versidade marinha tem incentivado a criação da conservação vem aumentando (e.g., Lourie
de bases de dados, aumento e organização de e Vincent, 2004; Leslie, 2005), incluindo estudos
coleções de museus, formação de taxonomis- que apresentam classificações biogeográficas
tas, entre outros (viz., O’Dor e col., 2010). Es- baseadas na literatura para áreas costeiras ma-
sas medidas são importantes como base para rinhas (e.g., Spalding, 2007) com proposta de
o desenvolvimento de estudos biogeográficos conservação de ambientes. Ainda assim, os am-
com novas abordagens e também para criar um bientes para os quais existem estudos nessa área
arcabouço para outras disciplinas, tais como, relacionam-se, em sua maioria, às águas costei-
conservação, ecologia, filogeografia, genética, ras e de plataforma, para as quais a atenção e o
entre outras. A existência de uma maior diver- interesse humano estão mais voltados (Kochin
sidade de filos marinhos em relação aos terres- e Levin, 2003; Spalding, 2007). Como ressaltado
tres (Myers, 1997; Okolodkov, 2010) não implica por Kochin e Levin (2003), uma maior atenção
em uma maior quantidade satisfatória de revi- e disponibilização de recursos devem ser vol-
46 Miranda & Marques: Abordagens atuais em biogeografia marinha

tados aos estudos no ambiente marinho, para marinha é uma linha de pesquisa que, apesar
que as falhas e problemas encontrados nessa de ainda apresentar estudos incipientes, está se
linha de pesquisa possam ser resolvidos urgen- desenvolvendo em sua teoria e métodos, princi-
temente. palmente com os constantes incentivos em estu-
dos de biodiversidade e conservação marinha.
Considerações finais
Agradecimentos
A biogeografia é uma ciência que tem se desen-
volvido amplamente nos últimos anos, princi- A Silvio Nihei pelo convite em participar deste
palmente com relação às diferentes áreas em número. Aos colegas Gabriel Genzano (Univer-
que pode ser aplicada e às diferentes metodolo- sidad Nacional de Mar del Plata, Argentina) e
gias propostas (e.g., Brooks, 1981; Nelson e Pla- Hermes Mianzan (Instituto Nacional de Investi-
tnick, 1981; Rosen, 1988; Harold e Mooi, 1994; gación y Desarrollo Pesquero, Argentina) pelas
Morrone, 1994; Nelson e Ladiges, 1996; Szumik constantes colaborações nesta área de estudo.
e col., 2002; Mast e Nyffeler, 2003; Szumik e Go- Aos dois revisores anônimos pelos comentários
loboff, 2004; Porzecanski e Cracraft, 2005; Deo e e sugestões para a melhoria do texto. TPM teve
DeSalle, 2006; Giokas e Sfenthourakis, 2008). A apoio financeiro da FAPESP (Proc. 2006/58226-
ausência de uma teoria biogeográfica unificada 0, 2010/06927-0), CAPES-PROAP e CNPq (Proc.
e a ampla variedade de metodologias contri- 142269/2010-7); ACM teve apoio financeiro
buem com a existência de pensamentos opostos da FAPESP (Proc. 2004/09961-4, 2010/52324-
e extremos nesta linha de pesquisa (Morrone, 6, 2011/50242-5), CNPq (557333/2005-9,
2009). 305735/2006-3, 490348/2006-8, 562143/2010-6,
A biogeografia marinha é o ramo temático 563106/2010-7) e CAPES (PRODOC e PRO-
da biogeografia que detém o menor número de CAD).
estudos e metodologias desenvolvidas. Como
ressaltado por Tronolone (2008), o conheci- Contribuição dos autores
mento atual existente para o ambiente marinho
concentra-se nos níveis tróficos de topo, devido Ambos os autores desenvolveram as ideias,
principalmente à importância econômica dire- conteúdo e discussões do texto.
ta desses organismos. Essa situação agrava-se
com a existência de poucos taxonomistas em Bibliografia
muitos grupos marinhos (Marques e Lamas, Acha, E.M., Mianzan, H., Guerrero, R.A., Favero, M.
2006; Migotto e Marques, 2006), dificultando a e Bava, J. (2004). Marine fronts at the continental
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