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XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia

Geotécnica
IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas
IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens
VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens
15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP

O Controle Tecnológico De Uma Pequena Contenção Em Solo


Grampeado Na Cidade de Porto Alegre/RS

Debora Benetti
Engenheira Civil, Porto Alegre, Brasil, debora.benetti@edu.pucrs.br

Cleber de Freitas Floriano


Engenheiro Civil, Professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil,
cleber.floriano@pucrs.br

RESUMO: As injeções executadas para os solos grampeados são de suma importância para o funcionamento
do sistema de contenção. O controle tecnológico de uma obra de solo grampeado tem por objetivo testar a
capacidade destas injeções, não somente através dos critérios normativos de resistência da calda de cimento,
mas também como resposta à interface com o solo quando consolidado através de ensaio de arrancamento.
Este trabalho teve por objetivo avaliar o uso da técnica de solo grampeado em um solo residual de granito
em uma obra localizada na cidade de Porto Alegre/RS, a partir de alguns controles tecnológicos como: RCS
(Resistência à Compressão Simples) da calda de cimento de injeção dos grampos e ensaio de arrancamento
de grampo para verificação da tensão de aderência (qs) em grampo protótipo. Para a verificação da RCS
foram moldados in loco mais de 50 corpos de prova de calda de cimento e alguns concretos da obra. Já o
ensaio de arrancamento foi realizado na obra após 28 dias da injeção da calda de cimento, cujo fator água-
cimento especificado foi de 0,5 para o cimento CPII-32. Foi possível realizar um mapa das resistências de
cada grampo injetado. A partir do ensaio de arrancamento de grampo foi possível obter e interpretar a
relação força-deslocamento através de cargas e descargas com um conjunto macaco-bomba-manômetro,
podendo observar que o valor de qs deve ser interpretado em função dos deslocamentos obtidos. Mesmo com
a cura dos corpos de provas ao ar, 85% das amostras ensaiadas variaram de 20 a 32 MPa, sendo que 15%
ficaram em torno de 19 MPa. O ensaio de arrancamento indicou que o valor de qs adotado deve estar na faixa
de valores entre 180 e 245 kPa.

PALAVRAS-CHAVE: Solo Grampeado, Controle Tecnológico, Ensaio de Arrancamento, Resistência à


Compressão Simples.

ABSTRACT: The injections performed for stapled soils are of paramount importance for the functioning of
the containment system. The technological control of a stapled soil work aims to test the capacity of these
injections, not only through the normative criteria of cement grout resistance, but also in response to the
interface with the soil when consolidated, by pullout test. This work aimed to evaluate the use of the stapled
soil technique in a residual granite soil in a work located in the city of Porto Alegre / RS, using some
technological controls, such as: RCS (Resistance to Simple Compression) of the grout staple injection
cement and staple pullout test to check the adhesion tension (q s) in prototype staple. For the verification of
the RCS, more than 50 specimens of cement grout and some concrete from the construction site were molded
in loco. The pullout test, on the other hand, was carried out at the construction site 28 days after the injection
of the cement solution, whose specified water-cement factor was 0.5 for the CPII-32 cement. The pullout test
result can be related to the direct shear test performed for the system anchoring soil. It was possible to make
a map of the resistances of each injected clamp. From the clamp pullout test, it was possible to obtain and
interpret the force-displacement relationship through loads and discharges with a monkey-pump-manometer
set, observing that the value of qs must be interpreted as a function of the displacements obtained. Even with
the curing of the specimens in the air, 85% of the samples tested ranged from 20 to 32 MPa, with 15% being
around 19 MPa. The pullout test indicated that the value of qs adopted must be in the range of values
between 180 and 245 kPa.

KEYWORDS: Stapled Soil, Technological Control, Pulling Test, Resistance to Simple Compression.
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1 Introdução

Solo grampeado é uma técnica de melhoria de solos que permite a contenção de taludes naturais ou
taludes resultantes do processo de escavação. O grampeamento do solo é obtido através da inclusão de
elementos lineares passivos, semi-rígidos, denominados grampos ou chumbadores. De modo geral, os
grampos são compostos por barras ou tubos de aço que introduzem esforços resistentes de tração e
cisalhamento e na grande maioria dos casos, são moldados in situ por meio das operações de perfuração e
fixação de armação com injeção de calda de cimento.
Em uma estrutura de contenção ou em estabilização de escavações, a técnica utilizada em relação aos
grampos se dá por meio do posicionamento sub-horizontal das ancoragens. Os esforços são principalmente
de tração quando o material tem rigidez compatível com a de solos. Por outro lado, quando a rigidez do
maciço é elevada, como ocorre em rochas, o grampo funciona como um chumbador e os esforços resultam
em combinação de tração e cisalhamento.
A técnica de solo grampeado possui certa similaridade quando comparado com outras obras de
contenção de encostas e estabilização de taludes como: terra armada e cortina atirantada. Destaca-se, o
método da cortina atirantada, onde os tirantes agem como intervenções ativas, enquanto os grampos no solo
possuem trabalho inicial passivo. Ortigão et al. (1995), demonstram que isso ocorre porque os tirantes são
protendidos com cargas de 150 a 1000 kN quando a contenção está pronta, garantindo que não ocorram
deslocamentos da face. Além disso, os esforços de tração são constantes ao longo de todo o comprimento
livre. No caso dos grampos, a protensão não ocorre. No entanto, cargas de 5 a 10 kN são aplicadas para
garantir o contato entre a face e o solo contido (BRUCE, JEWELL, 1986; ORTIGÃO; PALMEIRA; ZIRLIS,
1995).
Ainda não existe norma brasileira para a técnica em solo grampeado. A referência normativa
atualmente está em caminhamento para pauta sob audiência pública. Tal documento recebe o título de
“Muros e taludes em solo reforçado em aterros e solo grampeado (COMITÊ ESPECIAL DE MUROS E
TALUDES EM SOLOS REFORÇADO, ABNT, 2019). A norma fará a substituição da NBR 1986 – Terra
Armada – Especificação.
Para fins de projeto, a resistência ao cisalhamento da interface solo-grampo é um dos parâmetros mais
importantes. Este parâmetro é determinado a partir da experiência dos projetistas, de correlações empíricas
com materiais de referência e se baseiam, fundamentalmente, no tipo de solo e resultados de ensaios de
campo (arrancamento, sondagens a percussão e pressiométricos). A realização de ensaios de arrancamento in
situ é extremamente importante para a quantificação deste parâmetro e, consequentemente, para a elaboração
de projetos mais econômicos e seguros. No entanto, não há uma metodologia generalizada. Diferentes
enfoques conceituais quanto ao mecanismo de ruptura do conjunto solo-grampo, assim como quanto à forma
da superfície potencial de ruptura e natureza das forças atuantes, têm sido apresentados em vários trabalhos
publicados na literatura (STOCKER et al., 1979; SHEN et al., 1981; SCHLOSSER, 1983; JURAN et al.,
1988; BRIDLE, 1989; ANTHOINE, 1990).
Neste contexto de obra que envolve ancoragens, o controle de qualidade deveria ser uma prática
corriqueira para a obra, independentemente do seu porte. O controle de qualidade da obra de solo grampeado
está relacionado à qualidade dos materiais e a compatibilidade com as premissas de projeto. Alguns ensaios
são necessários, pois existem materiais que são produzidos na obra, como é caso da calda de injeção e o
concreto de elementos complementares. Ainda, é de fundamental importância para o funcionamento do
sistema em solo grampeado, o ensaio de arrancamento. Este ensaio deve ser realizado para definir a condição
real da resistência lateral solo-calda (qs) que naturalmente é uma função de múltiplas variáveis, entre elas:
tipo de solo, método de perfuração, aplicação da injeção e propriedades físicas da calda de cimento. Por este
motivo, em qualquer obra com este conceito, deve-se realizar este ensaio, de modo a definir a real condição
de ancoragem em que se encora os grampos na obra.
Portanto, o objetivo deste trabalho é avaliar o controle da qualidade de uma contenção de solo
grampeado em uma obra localizada na cidade de Porto Alegre/RS, através da execução de ensaios que
verificam a resistência a compressão simples (RCS) da calda de cimento das injeções de cada grampo e com
o ensaio de arrancamento de um grampo protótipo ancorado no solo residual instalado no talude da obra.
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2 Metodologia

A obra de contenção em estudo trata-se de um solo grampeado com faceamento em tela metálica da
alta resistência e bioengenharia associada, com extensão de 70m e altura de até 10m, em taludes com
inclinações da ordem de 55°. Neste contexto, foi executado um sistema de drenagem superficial com
descidas d’água em concreto, complementando a funcionalidade da contenção.
A região de estudo localiza-se na cidade de Porto Alegre/RS em uma área condominial na qual passou
por processo de recuperação. Neste local já ocorreu no passado movimentações de solo e rocha por conta de
exploração mineral. Atualmente a área é protegida ambientalmente e as obras que estão sendo realizadas no
local pertencem ao processo de melhoria e adequação da área de lazer. Os taludes no local na sua maior parte
são de corte em solo residual de granito.
Nesta localidade foi realizado um conjunto de obras de recuperação de área degrada em que uma delas
foi objeto do presente trabalho, no que tange, especialmente ao entendimento do sistema de contenção
aplicado (solo grampeado com faceamento verde em tela metálica de alta resistência) e a realização do
controle tecnológico desta. A obra foi motivada pela necessidade de segurança das edificações de lazer à
montante, incluindo uma piscina de 240 m³. A Figura 1 mostra as características do terreno antes e após a
obra.

Figura 1. Imagem da Área de Estudo e a Solução.

O talude de corte logo a jusante da área de banho, encontra-se mais verticalizado no topo e mais
abatido na base. Esta condicionante está atrelada às coesões distintas de horizontes B e C, associadas à
degradação de superfície pela erosão. Os solos do horizonte B, mais argilosos, embora menos resistentes ao
cisalhamento, são mais eficientes aos processos erosivos de superfície e apresentam acentuada evolução
pedogênica que conduzem para uma maior coesão efetiva neste estrato. Por outro lado, os solos do horizonte
C, embora tenham maior resistência ao cisalhamento quando confinados, se demostram mais frágeis aos
processos erosivos e evidentemente menor potencial edáfico, permitindo que os taludes fiquem com faces
expostas.
Os parâmetros necessários ao projeto em solo grampeado foram obtidos por investigações geotécnicas
e por ensaios nos grampos por parte da empresa executora. Embora quase que a totalidade dos problemas do
local estudado estejam associados aos maciços de solo, considera-se de extrema importância o relato da
geologia local, pois, são solos residuais, portanto, originaram-se do intemperismo destas mesmas rochas. Por
isso, o comportamento geomecânico, hidráulico e potencial edáfica tem forte relação com a mineralogia
primária do embasamento cristalizado.
Outro ponto a ser considerado, é a elevada permeabilidade nos solos da região. A área demonstra que
a maior parte da água precipitada é bem drenada pelo terreno, ou seja, infiltra-se e percola com celeridade.
Nessas condições, os níveis freáticos são transientes e dependem muito da intensidade e, sobretudo, da
duração das chuvas.
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A curva granulométrica do solo do horizonte B/C demosntra composição predominantemente arenosa


da amostra, identificando solos granulares constituídos de pedregulhos, mas com uma composição argilo-
siltosa de 11%.
A solução da área estudada consta de um sistema de grampeamento (solo grampeado) e os critérios
aqui estabelecidos foram fornecidos pela empresa executora. Os grampos devem estar espaçados a uma
distância máxima definida a depender do sistema utilizado, bem como o comprimento destas ancoragens
devem ser definidas em função das características do contato grampo-solo e das propriedades estabelecidas
para este grampo.
A solução encontrada leva o conceito de grampeamento-muro a qual deve apresentar rigidez suficiente
para funcionar como um muro, garantindo estabilidade externa como uma contenção deste tipo bem como
deve-se garantir a estabilidade interna.
Os grampos devem ter espaçamentos e ancoragem suficientes para permitir que o sistema funcione de
tal maneira. Para isso, prevê-se a instalação dos grampos associado a telas metálicas, de modo que o
conjunto ancoragem-placas-tela e eventualmente reforços com cabos proporcione estabilidade requerida
interna. A Figura 3 apresenta a seção do grampeamento.

Figura 3. Seção do Grampeamento.

Foi considerada a profundidade de superfície cuja redução de coesão aparente mobiliza um FS=1,0. A
partir desta situação, define-se que o comprimento de grampos deve ser equivalente a este comprimento mais
o comprimento de ancoragem dado pela carga de trabalho T. Assim:

L =Lanc. + Lm (1)

Lanc. – Comprimento ancorado


Lm – Espessura mobilizada por redução de coesão equivale a 1,2m, onde,

𝑇 𝑡𝑟𝑎𝑏
Lanc.= 𝜋 . 𝐷 . 𝑞𝑠
(2)

Utilizando carga de trabalho de 80kN, diâmetro de perfuração de 75mm e qs de material arenoso


equivalente a 120 kPa, tem-se que: L= 2,8m+1,2m = 4m.

2.1 Controle Tecnológico

O controle tecnológico foi dividido em obtenção e resutados dos ensaios de arracamento de grampo e
ensaios de resistência à compressão.

2.1.1 Ensaio de Arrancamento de Grampo

O ensaio de arrancamento de grampos não segue nenhuma prescrição normativa, apenas ocorrem
indicações. Assim, através da literatura especializada que os procedimentos e recomendações de ensaios,
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esquemas de montagem dos ensaios e interpretações do comportamento de arrancamento do grampo, serão


apresentados.
O objetivo principal do ensaio de arrancamento é determinar a resistência ao cisalhamento da interface
solo-grampo (qs). Este parâmetro é constantemente estimado durante a fase projeto e posteriormente
verificado por meio de ensaios de arrancamento durante a construção.
O ensaio de arrancamento consiste em se aplicar cargas de tração, por meio de macaco hidráulico à
barra de aço ancorada no terreno. Diante disto, registra-se o deslocamento de arrancamento da cabeça do
grampo. Da curva deslocamento x carga, obtém-se a máxima carga axial de tração cortante no grampo do
ensaio de arrancamento. A resistência ao arrancamento (qs), obtida no ensaio, possui unidade de tensão e é
definida como:

𝐹𝑚 á𝑥
qs = 𝜋 . 𝐷 . 𝐿𝑎𝑛𝑐𝑜𝑟𝑎𝑑𝑜
(3)

onde:
qs: Resistência ao arrancamento mobilizada;
Fmáx: Máxima carga axial de tração cortante no grampo;
D: Diâmetro da perfuração;
Lancorado: Comprimento ancorado ou injetado do grampo.
O ensaio de arrancamento no grampo consistiu, inicialmente, na aplicação de sobrecarga de 5, 10 e 20
kgf/cm2, mantendo a pressão de 20 kgf/cm2, ocorrendo uma estabilização por 5 minutos. O deslocamento foi
observado através de leituras na placa e na barra. Após foi realizada a descarga de 10 e 5 kgf/cm2 observando
novamente as leituras. O ensaio prosseguiu aplicando-se as cargas iniciais descritas acima, porém em cada
ciclo acrescentando consecutivamente os carregamentos de 40, 60, 80, 100, 120, 180, 200 e 220 e kgf/cm².
Consequentemente, a descarga continuou sendo feita.

2.1.2 Ensaio de Resistência a Compressão

Para os ensaios de resistência a compressão foi realizada a preparação da calda de cimento, através de
cimento Portland CPII-32 e fator água/cimento igual a 0,5. A calda de cimento foi preparada em quantidade
suficiente para o preenchimento dos furos, sendo em misturador de pá de alta turbulência, respeitando as
recomendações da NBR 7681 (ABNT, 2013).
Ao longo da execução dos grampos, foi feita a moldagem de trinta e oito corpos de prova e não se
realizou o processo de cura imersa. Os corpos de prova ficaram armazenados em local fechado e protegidos
de intempéries. Foram realizadas medidas de diâmetros e alturas e os corpos de prova foram preparados de
acordo com as recomendações da NBR 5739 (ABNT, 2018).
Aos 28 dias, realizou-se o ensaio de compressão uniaxial nos corpos de prova, obedecendo a idade de
rompimento de cada um dos corpos de prova. Neste ensaio os corpos de prova foram submetidos a um
carregamento que aumenta progressivamente até a ruptura da amostra. O valor da força exercida no
momento da ruptura indica a resistência máxima que a calda de cimento suporta.
Os grampos foram executados e numerados segundo a localização da Figura 4, que correspondem a
distribuição no talude de altura variável.
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Figura 4. Localização dos Grampos do Solo Grampeado.

3 Resultados e Análises

Os resultados de resistência à compressão simples da calda de cimento para cada injeção realizada é
apresentada na Figura 5. Nota-se que alguns valores se repetem, pois algumas bateladas serviram para injetar
mais de um grampo.

Figura 5. Mapa da Resistência à Compressão Simples das Amostras.

As resistências à compressão simples da calda de cimento oscilaram de 15,7 a 32,17 MPa, com
exceção de dois corpos de prova que apresentaram 9,0 MPa. A amostra, embora ensaiada, encontrava-se
danifica, provavelmente por ocorrência de dano mecânico no transporte.
A dosagem (fator água-cimento) foi fixada em 0,5. Sendo que o controle de dosagem foi feito com
lançamento em volume de água medido diretamente com marcador no tambor de mistura e posteriormente o
lançamento do cimento. Terminando a mistura, repetia-se o procedimento. Nestas situações a variabilidade
de dosagem é pequena. Sendo assim, as variações mais acentuadas de resultados concentram-se na técnica de
moldagem e cura do CPs, especialmente em campo.
Pode-se dizer, portanto, que a variabilidade de resultados é ocasionada devido a diferentes fatores,
como por exemplo, uma possível armazenagem dos corpos de prova em local desnivelado logo após a
moldagem na obra, a não cura em câmara úmida ou imersa das amostras e as pequenas variações de dosagem
tornam-se condicionantes para a dispersibilidade dos resultados. A respeito do processo de cura, os CPs 2A
e 2B foram curados imersos, enquanto os CPs 1F e 1G foram curados ao ar. Este comparativo foi realizado
justamente para estabelecer uma relação sob o ponto de vista de resistência na interferência do processo de
cura. Os resultados mostram que a cura imersa apresentou 21,5 MPa e 22,6 MPa, para os CPs 2A e 2B,
respectivamente. Enquanto à cura ao ar, a resistência obtida foi de 19,2 MPa e 18,5 MPa, para os CPs 1F e
1G.
A cura submersa proporciona cerca de 14,36% de diferença em comparação ao processo de cura ao ar.
No entanto, a calda de injeção no furo é curada em uma condição intermediária, ou seja, nem na condição ao
ar, nem na condição imersa, mas sim, em meio a um solo com sua umidade natural. Isto significa que a cura
é um importante fator para determinação da resistência da calda de injeção. Admite-se que devido às
condições de confinamento do solo e a baixa perda por evaporação, o resultado dentro do furo de injeção se
aproxima mais da condição de cura imersa do que da cura ao ar. Segundo a NBR 5629 (ABNT, 2018) a
resistência mínima para amostras de calda de cimento é de 20 MPa.
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Assim sendo, cerca de 65,8% das amostras ensaiadas apresentam resistência à compressão igual ou
maior que 20 MPa, sendo que o desvio padrão das amostras é de 4,23. Porém, dado o exposto, entende-se
que o mais provável é que todas as injeções atendam o quesito mínimo da norma.
Por outro lado, o ensaio de arrancamento foi executado na haste 17E, estabelecida como um protótipo
com comprimento de ancoragem de 1,5m e livre de 2,5m. A Figura 6 apresenta os resultados obtidos no
ensaio de arrancamento.

Figura 6. Interpretação do Ensaio de Arranacamento.

Os deslocamentos que promovem as deformações plásticas em níveis de tensões de tração, são


capazes de quebrar a estabilidade do carregamento e são similares aos deslocamentos mobilizados para
estado de tensões confinantes (acima de 200kPa) na posição da curva onde não ocorram mais variações do
deslocamento vertical, ou seja, onde a ruptura se desenvolve a volume constante.
A ruptura ocorreu por cisalhamento do solo dentro do furo e não pelo contato propriamente dito ou
mesmo pela ruptura da calda de cimento. Isso pode ser explicado pelo fato que a injeção em pressões baixas
(bainha) foi suficiente para permitir que a tensão de aderência que corresponde a resistência lateral até
180kPa praticamente sem necessidade de reequilíbrio de carga para a manutenção da força de tração. A partir
desta tensão, até 245kPa é necessário manter a carga, mas ainda ocorre crescimento de tensão aderente, mas
com taxa de crescimento do deslocamento acima de 1mm em 5min.
As pressões baixas na cavidade se equilibram com o estado de tensões geostático do solo. Portanto, o
comportamento mecânico quanto à resistência ao cisalhamento, no instante do arrancamento, pode ser
relacionada com o estado de confinamento em que a cavidade de perfuração consolidada se encontra.
Observando os deslocamentos durante ensaio de arrancamento, no presente caso, as tensões de tração
no grampo passam a não estabilizar em um tempo de 5 min quando estes atingem valores da ordem de
4,5mm. Neste instante, assume-se que ocorreu o início da ruptura (teórica) do contato calda-solo, que na
verdade é a ruptura do solo propriamente dita. A condição de ruptura teórica se estende até a ordem de
8,5mm de deslocamento, quando estes disparam a carregamentos constantes. A partir de então, observa-se a
ruptura física do contato, o qual é dito arrancamento, porém, o solo já sofreu ruptura.
Assim, para garantir a ancoragem de forma eficiente, o valor de resistência ao cisalhamento na
interface solo-grampo de cálculo para as ancoragens deve ser inferior a 180kPa, ou seja, o instante da ruptura
do solo onde s deformações plásticas disparam e não do arrancamento generalizado do grampo.
O valor de resistência ao cisalhamento na interface solo-grampo obtido a partir do ensaio de
arrancamento para este caso encontra-se dentro da faixa de valores propostos por Byrne et al., (1993) de 120-
240 kPa e corroboram com os valores encontrados por Azambuja et al., (2003), embora correspondam a
situações de ensaios e materiais com características distintas, deve-se observar à semelhança.

4 Conclusão
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O controle de qualidade em obras é de suma importância para determinar se as premissas de projeto


estão de fato sendo atendidas, bem como traz uma importante ferramenta para a condução de futuros
trabalhos e demonstração da qualidade executiva da obra em solo grampeado. O controle de qualidade
acompanhado neste trabalho foram dois: ensaio de RCS das caldas de injeção e o ensaio de arrancamento
para obtenção do parâmetro qs.
Pode-se observar que a cura dos CPs é de suma importância para os resultados dos ensaios de RCS.
Foram executadas mais de 40 rupturas à compressão simples, as quais com cura ao ar. Tomando esta
consideração, os valores de RCS da calda de cimento atenderia os quesitos de resistência mínima de 20 MPa.
A partir do ensaio de arrancamento foi possível obter valores de resistência ao cisalhamento da
interface solo-grampo de 245 kPa com deslocamentos da ordem de 8,5mm. No entanto, interpretou-se que
este valor deve ser tomado com cautela, pois quando atinge-se resistência lateral de 180 kPa o solo entra em
plastificação, demostrando que esta deveria ser a resistência ao arrancamento (qs) máximo estabelecido,
atendendo ao preconizado no projeto que foi de 120 kPa. O deslocamento necessário para a total mobilização
da resistência ao cisalhamento da interface dos grampos submetidos ao ensaio de arrancamento mostrou-se
da ordem de 0,21% do comprimento do grampo.
Por fim, o comportamento geomecânico da contenção em solo grampeado pode ser balizado por
resultados de ensaios como os que foram realizados e avaliados neste trabalho.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao cond. Terra Nova Nature, a RCA Infraestrutura e SF Engenharia


Diferenciada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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