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XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

Geotecnia e Desenvolvimento Urbano


COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

Comportamento Geomecânico de Solos Compactados: Resultados


de Ensaios em um Solo Residual de Arenito Botucatu utilizado
como Solo Reforçado no RS
Cleber de Freitas Floriano
PUCRS, Porto Alegre, Brasil, cleber.floriano@pucrs.br

Eduardo Moreira Pfeifer


PUCRS, Porto Alegre, Brasil, eduardo.pfeifer@acad.pucrs.br

Victor Gallina Bertaso


PUCRS, Porto Alegre, Brasil, victorgbertaso@outlook.com

Alan Donassollo
Maccaferri, Porto Alegre, Brasil, alan.donassollo@maccaferri.com.br

RESUMO: O trabalho compila resultados de ensaios realizados no âmbito de projeto, bem como,
apresenta resultados de ensaios realizados ao final da execução de uma estrutura de contenção em
sistema Terramesh às margens da RS-122 no estado do Rio Grande do Sul. Os ensaios adicionais,
tiveram intenção acadêmica de aprofundar estudos referente ao comportamento geomecânico do
aterro executado. A campanha de ensaios engloba a caracterização do solo residual de arenito
Botucatu, compondo ensaio de granulometria, Limite de Liquidez e Limite de Plasticidade, bem
como, ensaios mecânicos em laboratório como: compactação, ISC e Cisalhamento Direto (CD).

PALAVRAS-CHAVE: Comportamento geomecânico, Solo residual de arenito, Compactação, Solo


reforçado.

1 INTRODUÇÃO mecânicas de um solo de jazida que foi estudado


previamente para compor o corpo estrutural de
As obras de contenção e os corpos de aterro um aterro de um muro em Sistema Terramesh
geralmente são viabilizados com o uso de jazidas localizado na RS-122 no município de São
locais. No entanto, os materiais de jazida para Sebastião do Caí/RS, que compôs uma estrutura
composição de reaterro ou aterro estrutural de de contenção motivada por rupturas de taludes
solo, em primeira análise, são vistos laterais a esta rodovia (Figura 1). O solo presente
simplesmente como se fossem materiais que irão na obra, bem como o solo utilizado como jazida
compor o corpo de uma plataforma viária (uma é proveniente de ambiente residual da Formação
massa de enchimento). No entanto, deveria ser Botucatu cujo perfil estratigráfico condiciona
necessário ir além desta abordagem encontrada intemperismo evolutivo intenso e fracionado em
na maioria das especificações de serviço, de horizontes A, B, C e Saprolítico (Figura 2), com
modo a identificar propriedades mecânicas pedogênese mais evoluída no horizonte B (solo
diretas, como exemplo, a resistência ao maduro vermelho laterizado, pouco espesso). O
cisalhamento do solo compactado, trabalho compila resultados de ensaios
possibilitando identificar se este tem potencial de realizados no âmbito de projeto, bem como,
uso direto, ou precisa ser melhorado, ou ainda apresenta resultados de ensaios realizados ao
inevitavelmente ser descartado. Neste contexto, final da execução da estrutura, que tiveram
o presente trabalho apresenta as características intenção acadêmica de aprofundar estudos
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referente ao comportamento mecânico do aterro


executado.
A campanha de ensaios engloba a
caracterização do material da jazida, compondo
ensaio de granulometria, Limite de Liquidez e
Limite de Plasticidade. Também, foram
realizados ensaios mecânicos em laboratório
como: compactação, ISC e Cisalhamento Direto
(CD). Ainda, foi coletado um bloco indeformado Figura 1. Obra em solo reforçado na RS-122.
do corpo do aterro compactado. Com tais
amostras, foram realizados três envoltórias de
CD. Duas destas envoltórias foram realizadas A
B
com corpos de prova (CPs) coincidente com a
superfície compactada e com direções paralelas C
e perpendiculares ao plano de compactação. A
S
terceira envoltória foi obtida a uma profundidade
de 30 cm da camada compactada.
De antemão, o aterro da obra foi viabilizado Figura 2. Jazida da obra demarcando os horizontes de
sem o uso de reforço com fibra, no entanto, solo.
paralelamente, foi realizado um estudo para
verificar a potencialidade da adição de fibras de
polipropileno àquele solo compactado. Estes 2 MATERIAS E MÉTODOS
resultados foram comprovados através de
ensaios ISC e CD e comparado com os 2.1 Amostragem
resultados obtidos para o solo sem adição de
fibra do mesmo material coletado. Bohrer et al. (2017) coletaram dois blocos
Enfim, o conjunto de estudos apresentados indeformados e realizaram ensaios de campo e
neste trabalho tem intuito de destacar a de laboratório a partir destas amostragens ainda
importância de identificar parâmetros de no âmbito do projeto executivo da contenção.
resistência mecânica (Ø’ e c’) dos reaterros e Complementarmente Antunes (2017) realizou
aterros estruturais. Também, sugere-se que as uma segunda campanha de ensaios laboratoriais
especificações de serviço para obras de também com amostragem indeformada, embora
infraestrutura incorporem a verificação de com intuito de analisar a permeabilidade e
resistência ao cisalhamento dos solos sucção.
compactados via ensaio CD, em especial para os No contexto do presente trabalho foi coletado
solos compactados que terão função estrutural, outro bloco indeformado com dimensões
semelhante ao que ocorre no controle da 30x30x30 cm, porém o local de coleta foi a
qualidade de uma peça de concreto através de superfície do aterro já compactado da obra
ensaios de RCS (parâmetro fck). O controle de executada, na última camada de compactação.
resistência é importante, pois tais parâmetros do As coletas buscaram seguir o que preconiza a
solo são aqueles que definem a estabilidade de NBR 9604/2016, com o bloco entalhado a partir
um corpo de aterro, bem como a magnitude de de ferramentas manuais até a profundidade de 50
empuxos ativos, que por conseguinte, definem a cm. Depois de esculpido, o bloco coletado para
robustez de uma estrutura de contenção. o presente trabalho, foi envolvido por parafina
líquida e armado com tecido de filó para
preservar as características físicas. Em seguida,
foi cuidadosamente colocado dentro de uma
caixa de madeira confeccionada, a fim de sobrar
2 cm entre bloco e caixa (Figura 3), sendo este
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espaço completado com serragem para absorver da umidade ótima do solo obtidos através do
possíveis impactos durante o transporte até o ensaio de compactação. O ISC foi realizado após
laboratório de mecânica dos solos da Pontifícia quatro dias de imersão na água, onde também foi
Universidade Católica do Rio Grande do Sul. medida a expansão do material.
Primeiramente, foi medida a umidade de topo e Para a mistura solo-fibra, também foram
do fundo do bloco, onde obteve-se: 8,1% e 8,6%, realizados ensaios de compactação e ISC, a fim
respectivamente. de comparar os resultados com e sem a adição da
fibra.

2.4 Cisalhamento Direto

Para estes ensaios, um conjunto de nove corpos


de prova foram entalhados do bloco indeformado
e outros seis de dentro dos cilindros
compactados na energia normal de Proctor,
sendo três com a adição de fibra e três sem a
fibra, totalizando 15 Cps.
Cada CP foi cuidadosamente extrudido para a
caixa de cisalhamento do equipamento Controls
Figura 3. Coleta de amostra indeformada na última 7-T0206/AZ, a patir do anel biselado.
camada de compactação em campo. Para cada CP, o deslocamento horizontal de
até 10 mm foi aplicado em umas das partes da
Para a caracterização do solo do aterro caixa em relação à outra, com uma velocidade
executado, foi coletada e armazenada a sobra da constante de 0,041 mm/s (suficiente para
escavação para a coleta do bloco. dissipar a poro-pressão no cisalhamento)
medindo a força tangencial necessária a deslocar
2.2 Caracterização o plano de cisalhamento imposto ao corpo de
prova. As leituras foram obtidas através do anel
Foram utilizados os procedimentos da NBR dinamométrico calibrado. Também, foram
6457/2016 e a NBR 6458/2016 para o ensaio de medidos os deslocamentos horizontais e
determinação do peso específico real dos grãos, verticais durante a aplicação da carga. O ensaio
bem como a NBR 7181/2016 para realização e de cisalhamento direto seguiu os procedimentos
análise da curva granulométrica do solo. sugeridos pela norma inglesa BS-1377 (BSI,
Antunes (2017) e Boher et al. (2017) também 1990) e pela norma americana ASTM D 3080-9
mostram resultados de caracterização seguindo a (ASTM, 1990), além de Head (1982).
normatização vigente para o presente perfil de Dos nove corpos de prova provenientes do
solo. bloco indeformado do aterro compactado, seis
foram retirados paralelamente ao plano de
2.3 Compactação e ISC compactação (três no topo do bloco e três na base
do bloco). Outros três CPs foram retirados em
A NBR 7182/2016 foi tomada como direções perpendiculares ao plano de
referência para a realização do ensaio de compactação do solo junto aos primeiros 10 cm
compactação do material, onde foi utilizada do topo do bloco. A Figura 4 mostra o aspecto
energia normal do Proctor com o reuso de do bloco e a lapidação no entorno do anel
material a cada ponto da curva. biselado de 2 cm de altura e 5 cm de diâmetro
Os ensaios para a determinação do ISC foram aproximadamente.
realizado de acordo com a NBR 9895/2016. Os Antes dos cisalhamentos, as amostras foram
corpos de prova foram moldados com os valores inundadas dentro da caixa cisalhante e adensadas
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durante 3 horas até o início de cada ensaio. a adição da fibra.


Para todas as envoltórias objetivou-se três
tensões normais: 50 kPa, 100 kPa e 200 kPa.
3 RESULTADOS

3.1 Caracterização

Quanto a gralumetria, Bohrer et al. (2017)


realizaram ensaios com e sem uso de
defloculante, identifciando que este solo
apresenta uma grande quantidade de argila (37%
naquela amostra). No entanto, o ensaio realizado
sem defloculante, a quantidade de silte e areia
fina, especialmente, indicam presença de argilas
agrumadas (Figura 5). Os ensaios realizados no
Figura 4. Bloco indeformado com anel de CD sendo laboratório da PUCRS também identifcaram esta
esculpido. caracterítica, porém, indicaram percentual
menor de partículas finas (27,3%). Sendo assim
2.5 Fibra de Polipropileno o presente solo pode ser classificado como uma
areia argilo-siltosa.
As fibras FibroMac® que foram utilizadas como
elemento de reforço pra o solo estudado, são
fibras poliméricas de polipropileno de seção
circular com diâmetro de 18 μm, 12 mm de
comprimento, peso específico de 0,91 g/cm³,
temperatura de fusão de 160°C, módulo de
elasticidade de 3.000 MPa e resistência à tração
de 300 MPa, dados fornecidos no catálogo da
empresa Maccafferi do Brasil, que é a
fornecedora do produto. Essas fibras são
produzidas através do processo de extrusão. Figura 5. Curvas granulometricas do solo estudado
Para a determinação da porcentagem de fibra (BOHRER, 2017).
a ser utilizada, foram analisados diversos
trabalhos e a adição de 0,5% foi a mais Os limites de Atterberg das amostras ensaiadas
destacada. De acordo com Corte (2013), este teor estão apresentados na Tabela 1.
de inclusão de fibras é muito utilizado por
Tabela 1. Limites de Atterberg.
garantir adequada trabalhabilidade à mistura,
Propriedade/Parâmetro Sigla Valor Unid.
possibilitando a moldagem dos corpos de prova Limite de liquidez LL 30 %
e a homogeneidade dos mesmos. Também, por Limite de plasticidade LP 19 -
volta deste percentual ocorre a convergência de Limite de liquidez* LL 26 %
melhores resultados de resistência do material Limite de plasticidade* LP NP -
compósito considerando solos de granulometria * Dados de Bohrer et al. (2017).
similar ao testado neste contexto.
Sendo assim, foi escolhida a adição de 0,5% A massa específica real dos grãos tem
em relação ao peso seco de solo, com adição resultado médio de 2,66 g/cm³ com desvio médio
aleatória das fibras. Para a mistura solo-fibra, de mais ou menos 0,04.
foram realizados ensaios de compactação, ISC e
CD, a fim de comparar os resultados com e sem 3.2 Compactação, ISC e expansão
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Os estudos realizados para obtenção de índices obtido após imersão (ISC=3,2%) e o solo sem
do material na compactação foram todos obtidos levar a imersão (ISC=23,0%).
na energia normal de Proctor.
A massa específica aparente seca e a
umidade ótima do solo para os diversos ensaios
de Proctor realizados foi de 1,81 g/cm³ e 14,9%, ~5mm
respecitivamente. Os valores encontrados na
coleta de Bohrer et al. (2017) foi de 1,87 g/cm³ e
13,0%. Quadros (2017) também realizou ensaio
de Proctor numa amostra desta jazida e obteve os
seguintes resultados: 1,77 g/cm³ e 13,0%.
Os valores de ISC também foram obtidos
para amostras com e sem a adição de fibra. O
Figura 6. Comportamento mecânico no ISC.
valor do ISC obtido para a amostra após imersão
de quatro dias foi de 3,2% para o solo natural e
3.3 Resistências ao Cisalhamento do solo
de 10,8% para o solo com a adição de 0,5% de
natural
fibra. As expansões foram de 0,13% e 0,08%,
respectivamente.
Bohrer et al. (2017) a apartir de blocos
Percebe-se um grande incremento de
indeformados retirados da jazida em questão
resistência por parte da fibra sobre o solo puro
(horizonte B/C) realizaram ensaios de
(solo residual de arenito compactado),
Cisalhamento Direto no LACTEC da UFPR.
promovendo um acréscimo de 240% ao valor do
Duas envoltórias foram realizadas, uma com
ISC e uma redução de 38,5% na expansão do
ruptura dos CPs na umidade natural e outra com
material. Da Silva (2007) também encontrou
CPs inundados. A primeira resultou no limite
comportamento mecânico semelhante quando
superior dos parâmetros de resistência de pico de
analisou um solo predominantemente argiloso,
todos as condições ensaiadas para este solo
observando um aumento de 52,9% no ISC e
(ϕ'=37,8° e c'=35,7kPa). Quando inundado (grau
redução de 36,5% na expansão do solo na sua
de saturação médio 96%) obteve-se praticamente
mistura mais eficiente.
o limite inferior (ϕ'=28,9° e c'=0kPa) das
Através da análise da Figura 6 é possível
resistências de pico, apenas sendo superior a uma
identificar o comprimento médio de ancoragem
envoltória obtida a partir de corpos de prova
da fibra, em torno de 5 mm de penetração, isto é,
provenietes do fundo da camada de compactação
o ponto em que a fibra deixa de ter expressiva
do aterro executado.
participação na resistência do solo e rompe por
arrancamento. Esse ponto corresponde a
3.4 Resistências ao Cisalhamento do solo
aproximadamente metade do comprimento da
compactado em laboratório
fibra.
Quadros (2017) construiu uma curva de
Cabe salientar que todos os ensaios remoldados
ISC com as respectivas umidades de ensaio de
tiveram o procedimento padrão de serem
Proctor, neste caso, o autor obteve ISC de 23,0%
submetidos a inundação.
com umidade de 11,6%, porém as amostras não
Dos solos compactados em laboratório, os
foram rompidas depois da imersão de 4 dias, mas
ensaios de Cisalhamento Direto obtidos na
sim, logo após o ensaio, pois o autor teve o
campanha de Bohrer et al. (2017), tiveram
intiuto de correlacionar o ISC com ensaios DCP
parâmetros de resistência de pico (ϕ'=28,3° e
de campo. Embora pertencentente a uma outra
c'=6,0kPa) muito próximos da condição
amostragem, mas de solo correspondente, nota-
inundada daquela mesma amostragem
se uma grande sensibilidade à inundação do solo
indeformada, mas ainda superiores.
compactado, quando se compara o resutado
Os ensaios realizados no âmbito deste
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trabalho, foram aqueles obtidos a partir da volumétrica no cisalhamento para as tensões


remoldagem do material que constitui o aterro da normais de 100 e 200 kPa, com destaque para a
obra. Neste caso, realizou-se duas envoltórias: a amostra de 200 kPa, que sofreu quatro vezes
primeira com o solo puro (com, ϕ'=34,2° e mais contração que a amostra de 100 kPa.
c'=7,1kPa), obtido a partir do cilindro de Porém, a amostra de 50 kPa do solo-fibra
compactação na energia normal de Proctor; e a pronunciou-se com expansão no seu volume
segunda (ϕ'=36,6° e c'=36,3kPa), adicionado-se final, após breve contração nos primeiros
0,5% de fibra polimérica dispersa ao solo, milímetros de deslocamento.
compactado também na PN. Observando os gráficos de ambos os
Analisando os resultados, foi possível solos conhecidos, foi possível traçar a envoltória
identificar que a inserção de fibras no material de resistência dos solos. Essas envoltórias
não proporcionou uma resistência ao apresentaram ajustes lineares muito próximos da
cisalhamento de pico tão pronunciada como unidade, com R² ≈ 0,97.
ocorreu no solo puro. A resistência ao Nota-se um acentuado crescimento de
cisalhamento pós pico apresenta valores 414% no intercepto coesivo a partir da adição da
praticamente constantes preservando a fibra ao solo residual de arenito compactado,
resistência última mesmo com deslocamentos enquanto que o ângulo de atrito interno teve um
acima de 6 mm. Nota-se também que a fibra, acréscimo menos expressivo, de apenas 6%.
promove ganho de resistência à tração no solo, Diversos autores chegaram a respostas similares,
proporcionando um retardo no desenvolvimento convergindo sempre para ganhos de resistência
de resistência de pico sob tensões mais elevadas, nos solos com textura semelhante ao que está em
devido à queda nos valores de rigidez e módulo pauta.
cisalhante da composição (Figura 7). Feuerharmel (2000) obteve valores muito
parecidos em sua mistura mais eficiente, com um
aumento de 401,03% na coesão e 8,46% no
ângulo de atrito interno do solo. Trindade et al.
(2004) também encontraram um pequeno
aumento de 5,41% no ângulo de atrito, enquanto
que o aumento na coesão foi mais significativo,
73,21%. Porém, Bonafé (2004) e Da Silva
(2007) encontraram valores um pouco mais
elevados no acréscimo do ângulo de atrito das
misturas solo-fibra, 15,58% e 57,3 %
respectivamente, não obstante, ambos tiveram
uma pequena redução no valor da coesão das
misturas. É importante destacar que os
comprimentos das fibras utilizadas por estes
autores são diferentes das utilizadas neste
trabalho, tendo o comprimento de 24 mm nos
experimentos de Bonafé (2004) e 20 mm de Da
Figura 7. Medidas no CD com e sem fibra. Silva (2007). Outro ponto importante é que
existe variação de granulometria e tipologia de
Através dos gráficos de deslocamento material. Neste contexto, os solos ensaiados por
horizontal x deslocamento vertical, foi possível tais autores indicam terem maior percentual de
identificar que as três amostras ensaiadas sobre o argila do que o solo avaliado neste trabalho. O
solo puro sofreram compressão, ou seja, tiveram solo de Bonafé (2004) apresenta 85% de
redução no valor de seu volume final. Já para as partículas tamanho argila, enquanto que o
amostras do solo-fibra, houve contração material de Da Silva (2007) apresentou 69%.
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O fato é que a introdução da fibra no realizada. Salienta-se que houve muita


material compactado proporciona aumento dificuldade de manter a amostragem
efetivo de resistência ao cisalhamento, pois os indeformada, pois o bloco nesta posição
filamentos poliméricos detêm elevada encontrava-se mais úmido e friável.
resistência à tração, fazendo com que a ruptura A envoltória com R² igual a 0,9153, um
do compósito seja comandada pela capacidade ângulo de atrito de 26,7º e coesão de 0 kPa, foi
aderente entre estes filamentos e a matriz de solo. possível de ser obtida com apenas duas tensões,
A resposta mecânica está na redução de rigidez, 50 e 100 kPa, passando pela origem.
porém com ganho de resistência. Como a Observa-se equivalência de ângulo de
resistência ao cisalhamento permanece atrito das amostras cisalhadas paralela e
mobilizada pela coalescência entre fibra e matriz perpendicular ao plano de compactação de
de solo durante o desenvolvimento da superfície campo, enquanto que a envoltória do fundo
de cisalhamento, independente da tensão normal, demonstraram queda de resistência expressiva
não existe queda de resistência na ruptura ao cisalhamento.
(formação de pico) e sim na manutenção das As resistências de pico das amostras
tensões cisalhantes no plano induzido. cisalhadas perpendiculares ao plano de
Com os resultados obtidos através dos compactação foram sutilmente maiores que as
ensaios realizados com o solo reforçado com amostras paralelas, refletindo no resultado numa
fibra de polipropileno, é possível afirmar que a diferença de coesão de 5,1 kPa. É de se esperar
inserção de fibra promove ganho de resistência que exista um arranjo com alinhamento das
ao solo. Ainda, é importante destacar que as partículas (principalmente as argilosas quando a
resistências obtidas a partir de amostras compactação ocorre através de rolo liso) na
inundadas podem ser consideradas como direção do plano de compactação, que faz com
patamares inferiores. que ocorra um leve ganho de resistência à
ruptura. Enquanto que no plano de cisalhamento
3.5 Resistências ao Cisalhamento do aterro alinhado com o plano de compactação espera-se
executado que as partículas estejam acomodadas
paralelamente a direção do cisalhamento,
Através do bloco de amostra impactando em uma menor resistência. Embora,
indeformada coletado no corpo do aterro deve-se notar que a amostragem pequena para
executado, foram realizados ensaios de tais constatações físicas.
cisalhamento direto paralelos ao plano de
compactação para verificar os parâmetros de 3.6 Resumo dos Parâmetros e Interpretações
resistência da massa compactada. Neste caso, foi
obtida uma envoltória com R² igual a 0,9825, A Tabela 2 mostra um resumo de todos os
ângulo de atrito de 36,26º e coesão de 23,91 kPa. parâmetros de resistência obtidos para as
Os ensaios perpendiculares tendem a diversas situações de ensaios compilados e
retratar as condições de ocorrência de uma realizados no âmbito desta trabalho. Na Figura 9
ruptura rotacional em campo, sendo assim, apresenta-se as envoltórias de resistência,
espera-se aproximação da parametrização destacando os limites inferior (solo natural
necessária para o cálculo de estabilidade global. inundado) e superior (solo natural na umidade de
Neste caso, com uma envoltória de R² campo). Nota-se que com exceção de uma
igual a 0,9854, o ângulo de atrito foi de 36,19º e envoltória (amostra da base do bloco
a coesão de 28,97 kPa. indeformado do solo compactado em campo) as
Na intenção de verificar a diferença de demais, correspondem a resistências ao
resistência pelo efeito da compactação em cisalhamento inferiores a condição natural do
campo, entre o topo e o fundo da amostra material da jazida, até mesmo o solo melhorado
indeformada, uma terceira envoltória foi com fibra. Isso significa que este material
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apresenta intensa influência do efeito da sucção Parâmetros de


na resistência ao cisalhamento, como Condição de ensaio Horiz resistência
comprovado por Bohrer et al. (2017) e Antunes ϕ' (°) c' (kPa)
(2017), que através de ensaio de sucção mátrica
comprovaram que grau de saturação entre 70% e Residual (w natural)¹ B/C 37,8 35,7
80% são valores críticos com queda vertiginosa
de resistência ao cisalhamento, como pode ser Residual (inundado)¹ B/C 28,9 0,0
notado na Figura 8.
Compactado em
Laboratório PN¹
B/C 28,3 6,0

Retroanálise solo
saturado¹
A/B 30,0 14,0

Retroanálise solo natural¹ B 30,0 16,0

Compactado em campo
(horizotal)²
B/C 36,3 23,9

Compactado em campo
(vertical)²
B/C 36,2 29,0

Compactado em campo
(horizontal)³
B/C 26,6 0,0
Figura 8. Curva de retenção indicando a sucção mátrica
estimada para os ensaios de CD inundado (envoltória Compactado em
laboratório PN
B/C 34,2 7,1
mínima) e natural (envoltória máxima) de amostras
indeformadas. Adaptado de Bohrer et al. (2017). Com adição de 0,5% de
fibra PN
B/C 36,6 36,3
Por outro lado, este comportamento é ¹ Bohrer et al. (2017); ² CP do topo do bloco; ³ CP na base
particular do solo residual natural (justifica as do bloco indeformado da compactação de campo.
rupturas que motivaram a construção da
contenção). Porém, quando o solo é
desestruturado para ser posteriormente
compactado, espera-se que o efeito da sucção
seja atenuado. Entretanto, para este trabalho não
foram realizadas medidas de sucção no solo
compactado.
Como todas as amostras compactadas foram
inundadas antes do cisalhamento, ultrapassando
graus de saturação crítico do solo natural
(superior a 70%), as resistências ao cisalhamento
de solos bem compactados mostram um ganho Figura 9. Resistências de pico.
efetivo de resistência no ambiente externo, pois
devem ser comparadas com a envoltória de Tabela 3. Propriedades índices dos solos estudados.
resistência do solo natural na sua condição
Propriedade/Parâmetro Sigla Valor Unid.
inundada (patamar inferior). Massa específica dos grãos ρs 2,66±0,04 g/cm³
A Tabela 3 resume as propriedades índices Massa específica natural¹ ρn 1,90±0,05 g/cm³
obtidas para este solo, complementando os dados Massa específica ρn 2,05±0,05 g/cm³
obtidos por Bohrer et al. (2017), no que tangem compactado no PN
Massa específica aparente ρd 1,65±0,06 g/cm³
aos solos compactados e a hipótese de seca¹
melhoramento com adição de fibra polimérica. Massa específica aparente ρd 1,81±0,05 g/cm³
seca no PN
Tabela 2. Parâmetros de resistências.
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Massa específica aparente ρd 1,73 g/cm³ ensaios de cisalhamento direto sobre o solo, foi
seca-c/fibra PN
Índice de Suporte ISC 3,2 %
possível identificar aumento de 414% na coesão
Califórnia no PN do material e 6% no ângulo de atrito
Índice de Suporte ISC 10,3 % Foi também visto que a fibra
Califórnia no PN-c/fibra
Índice de Suporte ISC 23,0 %
proporcionou redução nas características de
Califórnia no PN (não umidade ótima e massa especifica aparente seca
imerso) máxima do material, onde a mistura obteve
Expansão PN - 0,13 %
Expansão PN-c/fibra
redução de 2,7% e 4,4%, respectivamente.
- 0,08 %
Teor de umidade natural¹ w 15,3±1,8 % Fazendo a análise do ISC, a inserção de fibra fez
Teor de umidade de campo w 8,35±0,35 % com que o valor do ISC aumentasse 240% e a
Teor de umidade ótima no w 13,6±1,1 % expansão sofresse uma redução considerável de
PN 38,5%.
Grau de saturação¹ S 63,6±6,0 %
Grau de saturação no PN S 86,71 %
Na amostragem do aterro compactado,
Grau de saturação no PN- S 73,5 % notou-se que houve uma diferença considerável
c/fibra de resistência ao cisalhamento entre o topo e a
Índice de vazios¹ e 0,65±0,06 - base do bloco amostrado, indicando que existe
Índice de vazios no PN e 0,49±0,04 - (naquela camada) variação de energia de
Índice de vazios-c/fibra no e 0,52 -
PN compactação.
Coeficiente de ksat 3,1x10-6 cm/s Houve uma pequena diferença (de 5,1
permeabilidade¹ kPa) no intercepto coesivo entre os ensaios
Coeficiente de Cv 0,066 cm²/s
adensamento no PN² realizados com planos diferentes de extração da
Índice de Compressão no Cc 0,10 - amostra em relação a direção de compactação.
PN² Sendo que os plano perpendicular apresenta este
¹ Bohrer et al. (2017); ²Ensaio de Adensamento.
pequeno ganho de resistência por conta da
direção de esmagamento das partículas que nesta
ocasião precisam ser distorcidas ou quebradas
4 CONCLUSÕES para causar deslocamento no cisalhamento.
Por fim, este trabalho destaca que os
No presente estudo, apresenta-se resultados de solos a serem utilizados como material
ensaios do solo residual do arenito Botucatu na compactado, devem apresentar resistência ao
sua condição natural e em diferentes condições cisalhamento adequada. Por isso, é
compactadas, mostrando que pode ocorrer imprescindível a realização de ensaio de
grande variação dos parâmetros de resistência, resistência para os reaterros e aterros estruturais,
uma vez que o solo natural tem forte em destaque, aqueles que compõem obras de
sensibilidade no comportamento geomecânico contenção. Os parâmetros de resistência dos
em função da sucção mátrica.
solos compactados são variáveis
Foi definida que a resistência ao
importantíssimas nos cálculos de empuxo,
cisalhamento na condição inundada natural é um capacidade de suporte, ancoragem, etc., e,
patamar inferior para os solos compactáveis. portanto, definem as dimensões de uma estrutura
Neste contexto, todos os solos compactados em de contenção.
laboratório na energia PN tiveram ganho de Também é imprescindível o controle de
resistência em relação a condição natural quando qualidade das obras com aterros compactados,
ultrapassado o grau de saturação de 70%. no que tange a verificação de resistência ao
Na compactação quando adicionado cisalhamento da massa representativa executada
0,5% de teor fibra em massa seca de solo, ou em execução. O que leva os autores a
observou-se um acréscimo expressivo de identificarem a necessidade de estabelecer
resistência e melhoria do comportamento controle tecnológico através de ensaios de
mecânico da massa. Avaliando os parâmetros de resistência nas especificações públicas. Assim
resistência ao cisalhamento, obtidos através dos
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

como se verifica a resistência de um peça de Civil – Departamento de Engenharia Civil,


concreto armado, deveria ser verificado também Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 68p.
a resistência do corpo de um aterro através de Da Silva, C. C. (2007). Comportamento de solos siltosos
ensaios como o de Cisalhamento Direto, uma vez quando reforçados com fibras e melhorados com
que este material de construção (aterro), é parte aditivos químicos e orgânicos. Dissertação (Mestrado
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na peneira de abertura 4,8 mm – Determinação da Volume 3: Effective Stress Test, ELE Iternational
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absorção de água. Rio de Janeiro. 10p. Quadros, F. D. (2017) Uso do DCP para Controle de
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