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XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas


IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens
VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens
15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP

Avaliação da Resistência ao Cisalhamento de um Solo Residual de


Lamito com Adição de Fibras de Polipropileno
Diones Barboza
Eng. Civil/Pesquisador, PUCRS, Porto Alegre, Brasil, diones.barboza@acad.pucrs.br

Luigi Nascimento Pelizzoli


Eng. Civil/Pesquisador, PUCRS, Porto Alegre, Brasil, luigi.pelizzoli@edu.pucrs.br

Luiza Keller Fragomeni


Eng. Civil/Pesquisadora, PUCRS, Porto Alegre, Brasil, lkfragomeni@gmail.com

Lysiane Menezes Pacheco


Docente/Pesquisadora, PUCRS, Porto Alegre, Brasil, lysiane.pacheco@pucrs.br

Cleber de Freitas Floriano


Docente/Pesquisador, PUCRS, Porto Alegre, Brasil, cleber.floriano@pucrs.br

RESUMO: Visando atender as variadas condições de solo desejadas em projetos de engenharia, o presente
trabalho tem como objetivo avaliar o comportamento geomecânico de um solo residual de lamito compactado
na energia Proctor intermediária com a adição de fibras de polipropileno. O solo utilizado foi coletado em
uma jazida nas proximidades do município de Gravataí/RS. Foram conduzidos ensaios de caracterização do
solo (massa específica real dos grãos, granulometria e limites de Atterberg), ensaios de compactação e
ensaios de cisalhamento direto com CPs de solo puro e solo com adição de fibras em taxas de 0,5%, 075% e
1,0% relativos à massa de solo seco. Esperava-se que a quantidade ideal de fibras a ser adicionada estaria
entre as percentagens 0,5% e 1,0%, porém, a maior resistência do solo foi verificada na adição de 0,5%,
enquanto as adições de 0,75% e 1,0% de fibras provocaram aumento do volume de vazios e redução do ângulo
de atrito interno quando em comparação à adição de 0,5%.

PALAVRAS-CHAVE: Comportamento Geomecânico, Cisalhamento Direto, Fibras de Polipropileno.

ABSTRACT: Aiming to meet the various soil conditions desired in engineering projects, the objective of the
present study is to evaluate the geomechanical behavior of a mudstone residual soil compacted at the
Intermediate Proctor energy with the addition of polypropylene fibers. The soil sample was taken at the city
of Gravataí / RS. Soil characterization (grain specific mass, particle size and Atterberg limits), compaction
and consolidated drained shear strength tests were conducted with samples of pure soil and with the addiction
of 0.5%, 0,75% and 1.0% of fibers relative to the total mass of soil. It was expected that the optimum amount
of fibers to be added would be between the percentages of 0.5% and 1.0%, however, the greatest increase in
soil resistance was seen in the addition of 0.5%, while the additions of 0.75% and 1.0% of fibers caused an
increase in the volume of voids and a reduction of the internal friction angle when compared to the addition
of 0.5%.

KEYWORDS: Geomechanical Behavior, Direct Shear, Polypropylene Fibers.

1 Introdução

Com vistas a atender as condições de solo demandadas no projeto, é necessário que o profissional
geotécnico busque por soluções técnicas e economicamente viáveis ao empreendimento em questão, as quais
irão depender da natureza da obra e das propriedades do material envolvido. Comumente são empregadas
soluções de remoção e substituição de solo ou seu tratamento, como a estabilização por processos físico-
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químicos, a compactação mecânica e a inclusão de um material de natureza distinta ao solo natural, o que pode
ser feito de maneira direcional ou aleatória.
O reforço de solos por meio de incluções orientadas (barras, geotêxteis, grelhas, dentre outros) é uma
técnica consagrada no meio geotécnico (BUENO, 1996), porém, nos últimos 20 anos, observou-se um aumento
nos relatos sobre a utilização fibras distribuidas de forma tridimensional e aleatória como método de tratamento
de solos (TRINDADE et al., 2006).
Dentre a varidade de materiais empregados atualmente na construção civil, as fibras poliméricas
destacam-se devido ao bom desempenho aliado ao baixo custo (OLIVEIRA, 2001). Nesse contexto, verificou-
se a existência de diversos trabalhos sobre o tema solo-fibra, na maioria das vezes, realizados com solo
compactado empregando energia Proctor Normal, onde se verifica um ganho expressivo do intercepto coesivo
e não tão expressivo em relação ao ângulo de atrito interno. Dessa forma, o presente trabalho propõe um estudo
sobre o tema utilizando energia de compactação Proctor Intermediária.
Assim, baseando-se em estudos prévios com fibras poliméricas obtidas a partir do polipropileno, o
presente trabalho tem como objetivo a análise do comportamento geomecânico a partir de ensaios de
cisalhamento direto em um solo residual de lamito compactado na energia Proctor Intermediária com a adição
de fibras de polipropileno.

2 Embasamento Teórico

Fibras poliméricas são formadas com produtos obtidos a partir do poliéster, do polietileno, da poliamida
ou do polipropileno. As fibras de polipropileno, utilizadas na presente pesquisa, apresentam comportamento
termoplástico, ou seja, deformam-se com o aumento de temperatura, e possuem baixo módulo de elasticidade,
características que as tornam um eficiente reforço desde as primeiras horas de carregamento (TANESI &
AGOPYAN, 1997).
O bom desempenho do reforço, contudo, não depende apenas das propriedades da fibra, mas da sua
interação com o solo. De acordo com Feuerharmel (2000), a boa aderência entre o reforço e o solo garante que
a fibra distribua de forma eficiente os esforços de tensão quando sobre efeito de carregamento. Além disso,
uma alta aderência entre ambos os componentes ajuda a tornar a mistura mais homogênea, reduzindo o volume
de vazios e as dimensões de possíveis fissuras.
A inserção de fibras garante ao solo um ganho de resistência mecânica e evita rupturas abruptas, uma
vez que torna-o mais dúctil (CONSOLI et al., 2015). Isso ocorre, pois, quando as fibras são submetidas aos
esforços de tração, esse esforço é transferido para o solo ocorrendo uma redistribuição das tensões e
deformações no interior da massa de solo (CASAGRANDE, 2001).
Diversos estudos demonstram que a quantidade ótima de fibras varia, na maioria das vezes, entre 0,5 e
1,0% por peso de solo seco. De acordo com Anagnostopoulos et al. (2014), teores mais elevados tendem a
formar aglomerações de fibras de baixa densidade, as quais formam uma área de baixa resistência e
comprometem a qualidade do reforço.
Pfeifer (2017) apresenta resultados de envoltórias de resistência ao cisalhamento de diferentes trabalhos
sobre adição de fibra de polipropileno em solos (FEUERHARMEL, 2000; TRINDADE et al., 2004; BONAFÉ,
2004). Esses resultados, apresentados na Fig. 1, foram utilizados como parâmetros para a proposta desse
estudo.

Figura 1. Resultados de envoltória de resistência de outros autores


Fonte: Adaptado de Pfeifer, 2017
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3 Materiais e Métodos

3.1 Amostra de solo

A amostra de solo utilizada neste estudo foi coletada em uma jazida nas proximidades do município de
Gravataí/RS, onde é extraído o material de empréstimo para a construção de um aterro de aproximação do
viaduto localizado entre a RS-118 com a RS-020. Em termos pedológicos, trata-se de um argissolo vermelho-
amarelo o qual apresenta perfil com gradiente textural com o horizonte B significativamente argiloso com
presença de óxidos e hidróxidos de ferro, o que garante uma coloração bem avermelhada. Em termos
geológico-geotécnicos, é um solo residual maduro de lamito proveniente da formação de rochas sedimentares
Rio do Rasto. O solo utilizado nos ensaios é composto por uma combinação dos horizontes A e C.

3.2 Fibra de polipropileno

Foram utilizadas no presente trabalho fibras de polipropileno FibroMac® como elemento de reforço no
solo com as características conforme a Tab.1, de acordo com valores apresentados no catálogo do material.
Estas fibras são mais utilizadas na construção civil para evitar a fissuração do concreto em pisos industriais,
por exemplo, e são produzidas pelo processo de extrusão. As fibras foram misturadas ao solo de forma
aleatória, ou seja, desorientadas.

Tabela 1. Propriedades da fibra FibroMac®


Propriedades Físicas
Comprimento 12 mm
Diâmetro 18 μm
Peso específico 0,91 g/cm³
Temperatura de fusão 160 °C
Propriedades Mecânicas
Resistência à tração 300 MPa
Módulo de elasticidade 3000 MPa
Fonte: Fornecedor da Fibra, 2018
3.3 Ensaio de caracterização

Para a determinação da massa específica real dos grãos do solo, foram empregados os procedimentos
determinados na NBR 6457/2016. A realização do ensaio e análise da curva granulométrica foram feitos com
base na NBR 7181/2016 e NBR 6502/1995. Quanto aos Limites de Atterberg, os ensaios de Limite de Liquidez
e Limite de Plasticidade foram executados conforme os procedimentos das normas NBR 6459/2017 e NBR
7180/2016, respectivamente.

3.4 Ensaio de compactação

Para o ensaio de compactação houve anteriormente o destorroamento do solo e sua secagem ao ar por
no mínimo 24h. Os demais procedimentos foram seguidos conforme a NBR 7182/2016, na energia Proctor
intermediária, com reutilização do material após cada ponto da curva de compactação, no molde grande. Os
ensaios foram realizados com quatro tipos de misturas distintas: (i) solo puro; (ii) solo + 0,5% de fibras de
polipropileno; (iii) solo + 0,75% de fibras de polipropileno; (iv) solo + 1,0% de fibras de polipropileno.
Buscou-se homogeneizar ao máximo o compósito solo-fibra, para que não houvesse aglomerados e para que
a umidade se transmitisse igualmente entre a mistura. A adição de água ocorreu de forma gradual,
concomitante à homogeinização do conjunto, buscando-se um aspecto de cor homogênea.
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3.5 Ensaio de cisalhamento direto

Para determinação da resistência do solo foram realizados ensaios de cisalhamento direto com base na
norma ASTM D3080 (ASTM, 2011), em um conjunto de 12 CPs compactados na energia Proctor
Intermediário, sendo: (i) 3 CPs com solo puro; (ii) 3 CPs para solo com adição de 0,5% de fibras de
polipropileno; (iii) 3 CPs para solo com adição de 0,75% de fibras de polipropileno e; (iv) 3 CPs para solo com
adição de 1% de fibras de polipropileno.
A velocidade de ensaio de cisalhamento direto pode ser determinada levando em conta características
de deformação para cada tipo de solo, com parâmetros que podem ser obtidos em ensaios edométricos. Na
ausência dos resultados desses ensaios, como é o caso desse trabalho, a norma ASTM D-3080 (ASTM, 2011)
sugere que a velocidade possa ser definida levando em conta as características físicas do solo e o nível de
consolidação que a amostra possui.
Assim, uma vez que a referida norma sugere para solos consolidados o valor estimado de deformação
lateral (df) de 10 mm e considerando o solo utilizado como argila inorgânica medianamente plástica, com LL
< 50%, a velocidade resultante para o ensaio foi de 0,05 mm/min, utilizando-se o tempo mínimo de interrupção
do ensaio como 200 min.
Os CPs foram moldados com energia Procutor Intermediária e na umidade próxima da ótima, a qual foi
verificada e validada para cada rompimento. As tensões normais definidas para o ensaio foram de 50kPa,
100kPa e 200kPa. Como critério para fim do ensaio, foi determinado deformação de 10% do diâmetro da
amostra (5mm).

4. Resultados e discussões

O ensaio de massa específica real dos grãos apresentou resultado de 2,73 g/cm³ para o solo utilizado..
A Fig. 2 mostra a curvas granulométrica obtida no ensaio.

Curva Granulométrica com Defloculante


100,00%

90,00%

80,00%

70,00%

60,00%

50,00%

40,00%

30,00%

20,00%

10,00%

0,00%
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000
Curva Granulométrica com Defloculante

Figura 2. Curvas granulométricas com e sem defloculante

Através da interpretação da curva granulométrica, o solo estudado classifica-se como uma areia argilo-
siltosa. Salienta-se que uma amostra proveniente de solo residual de lamito normalmente apresenta curva
granulométrica com percentuais mais acentuados de solos finos. No entanto, o presente solo, na umidade
higroscópica, apresenta grumos muito resistentes ao procedimento mecânico de desmanche dos torrões, assim,
os fragmentos permanecem em tamanho de areia. Por outro lado, esta granulometria é equivalente à
granulometria final na condição compactada, portanto, a resistência é representativa desta granulometria.
A Tab. 2 mostra resumidamente os Limites de Atterberg obtidos nos ensaios.

Tabela 2. Limites de Atterberg


Propriedade Valor
Limite Liquidez (LL): 48%
Limite Plasticidade (LP): 32%
Índice de Plasticidade (IP): 16%
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Índice de Atividade (Ia): 0,37


Índice de Consistência: 2,89

Através dos ensaios, nota-se que o solo estudado é uma argila inativa medianamente plástica de
consistência dura. Em relação ao ensaio de compactação na energia Proctor Intermediária, os resultados estão
resumidamente apresentados na Tab. 3.

Tabela 3. Resumo do ensaio de compactação realizado


Ensaio Material γd (kN/m³) hot (%)
Solo Puro 16,8 21,2
Solo + 0,5% Fibra 16,1 23,0
Proctor Intermediária
Solo + 0,75% Fibra 16,0 23,3
Solo + 1% Fibra 16,0 23,7

Com a adição de fibras, evidenciou-se maior dificuldade para homogeinização da mistura, que, de
acordo com Trindade et al. (2004), deve-se ao posicionamento preferencial das fibras em planos horizontais,
produzindo caminhos prioritários para distribuição de tensões, tornando a mistura quebradiça, e ainda
absorvendo parte da energia utilizada no processo do ensaio de compactação. A substituição de partículas de
solo por fibras faz com que mais água seja aderida em torno das mesmas ou até de aglomerados de fibra, logo
há um aumento do índice de vazios em relacão ao solo puro, aumento da umidade ótima e redução do peso
específico aparente seco máximo, conforme a porcentagem de fibras é incrementada.
Em relação aos resultados dos ensaios de cisalhamento direto, a Tab. 4 apresenta resumidamente os
valores obtidos.

Tabela 4. Resultados para o ensaio de cisalhamento direto.


Ângulo de atrito interno Intercepto coesivo (c’)
Material
(φ’) (graus) (kPa)
Solo Puro 17,2 57,9
Solo + 0,5% de fibra 35,0 34,3
Solo + 0,75% de fibra 24,1 35,4
Solo + 1,0% de fibra 13,8 48,6

As curvas de tensões cisalhantes versus deslocamento horizontal e deslocamento vertical versus


deslocamento horizontal, obtidas nos ensaios de cisalhamento direto, estão apresentadas entre as Figs. 3 a 5.
Na Fig. 6 estão apresentadas as envoltórias de ruptura obtidas nos ensaios de cisalhamento direto.

Tensão Normal = 50kPa Tensão Normal = 50 kPa


200 0,5 0% de Fibras
0,4
180 0,50% de FIbras
0% de Fibras 0,3
0,75% de FIbras
160 0,2
0,50% de Fibras 1,0% de Fibras
0,1
140 0,75% de Fibras 0,0
Delocamento Vertical (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)

120 1,0% de Fibras -0,1


-0,2
100
-0,3
80 -0,4
-0,5
60
-0,6
40 -0,7
-0,8
20
-0,9
0 -1,0
0 1 2 3 4 5 6 7 0 1 2 3 4 5 6 7

a) Deslocamento Horizontal (mm)


b) Deslocamento Horizontal (mm)

Figura 3. Curvas extraídas dos ensaios de cisalhamento direto para σv' = 50kPa: a) tensões cisalhantes x
deslocamento horizontal; b) deslocamento vertical x deslocamento horizontal
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Tensão Normal = 100kPa Tensão Normal = 100kPa


200 0,5

180 0% de Fibras 0,4


0,50% de Fibras 0% de Fibras
160 0,3
0,75% de Fibras 0,50% de Fibras

Delocamento Vertical (mm)


140 0,2 0,75% de Fibras
1,0% de Fibras
Tensão Cisalhante (kPa)

120 0,1 1,0% de Fibras

100 0,0

80 -0,1

60 -0,2

40 -0,3

20 -0,4

0 -0,5
0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6

a) Deslocamento Horizontal (mm) b) Deslocamento Horizontal (mm)

Figura 4. Curvas extraídas dos ensaios de cisalhamento direto para σ v' = 100kPa: a) tensões cisalhantes x
deslocamento horizontal; b) deslocamento vertical x deslocamento horizontal
Tensão Normal = 200kPa Tensão Normal = 200kPa
200 0,5
0,4 0% de Fibras
180
0,3 0,50% de Fibras
160 0,2 0,75% de Fibras
0,1
140 1,0% de Fibras
0,0
Delocamento Vertical (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)

120 -0,1
-0,2
100
-0,3
80 -0,4
0% de Fibras -0,5
60
0,50% de Fibras -0,6
40 0,75% de Fibras -0,7
1,0% de Fibras -0,8
20
-0,9
0 -1,0
0 1 2 3 4 5 6 7 0 1 2 3 4 5 6 7

a) Deslocamento Horizontal (mm) b) Deslocamento Horizontal (mm)

Figura 5. Curvas extraídas dos ensaios de cisalhamento direto para σv' = 200: kPa: a) tensões cisalhantes x
deslocamento horizontal; b) deslocamento vertical x deslocamento horizontal

200
φ' = 17,2° φ' = 13,8°
c' = 57,9 kPa c' = 48,6 kPa

150 φ' = 35,0° φcv = 16,9°


c' = 34,3 kPa ccv = 37,6 kPa
τ (kPa)

100 φ' = 24,1°


c' = 35,4 kPa
0% de Fibras
0,50% de Fibras
50
0,75% de Fibras
1,0% de Fibras
0% de Fibras - Res. Pós Pico
0
0 50 100 150 200 250
σv' (kPa)

Figura 6. Envoltórias de ruptura no gráfico de tensão cisalhante x tensão vertical

Há uma alteração nítida de comportamento do solo puro para o solo com as diferentes porcentagens de
fibras. Nota-se nas curvas obtidas através dos ensaios de cisalhamento direto a mudança no formato de ruptura,
de uma ruptura frágil para uma ruptura dúctil. O solo puro apresenta picos de resistência nas três tensões
normais aplicadas, com distinção clara de comportamento antes do pico e após o pico de resitência, sinalizando
o comportamento frágil do mesmo. Ao adicionarem-se as fibras de polipropileno, nota-se, a extinção dos picos
para todos os gráficos de tensão cisalhante versus deslocamento horizontal, sinalizando uma maior deformação
antes do rompimento do corpo de prova.
Nas envoltórias de ruptura, observa-se certa similaridade para ângulos de atrito interno, com excessão
da adição de 0,5% de fibras onde há um aumento expressivo deste parâmetro, indicando que talvez para este
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solo, adições abaixo desta porcentagem seriam mais ideais para a busca do aumento de parâmetros de
resistência. Na literatura, encontra-se materiais em que os valores ideiais de adição de fibras são tanto entre 0
e 0,5% quanto entre 0,5 e 1,0%, porém em todos há a alteração no comportamento tensão-deformação no
compósito.
Houve um ganho expressivo de 103% de ângulo de atrito interno para a adição de 0,5%. Apesar de
outros autores apresentarem valores de resistência mais elevados para dosagens maiores de fibras, como
Bonafé (2004), resultados do presente estudo demonstram que para o solo ensaiado, na energia intermediária
de Proctor, a dosagem de 0,75% não trouxe um aumento que justifique o emprego das fibras e a dosagem de
1,0% de fibras trouxe uma redução da resistência, equivalendo-se à resistência pós-pico do solo puro. Desta
forma, é sugerida uma dosagem ótima entre as porcetagens 0 e 0,5% de fibras em relação à massa seca de solo.

5. Conclusões

Com os resultados obtidos nos ensaios com solo puro e solo com adição de 0,5%, 0,75% e 1,0% de
fibras de polipropileno, é possível tomar as seguintes conclusões quanto ao seu comportamento geomecânico:

• Em concordância com a literatura, o comportamento de ruptura frágil do solo puro compactado na


energia Proctor Intermediária foi alterado com a adição de fibras, tornando-o dúctil. Conclui-se que
a ruptura do compósito solo-fibra ocorre com deformações maiores do que a do solo puro e de forma
menos abrupta;
• Foi verificado que para o solo ensaiado, a percentagem ideal de adição de fibras escontra-se entre a
faixa de 0,0% a 0,5%, ao contrário do que é verificado por Pfeifer (2017), o qual demonstra que
quantidades ótimas variam entre 0,5% e 1,0%;
• A partir da adição de determinada quantidade de fibras, os vazios do solo passam a ser preenchidos
por fibras ao invés do próprio solo, proporcionando queda na resistência do conjunto.
Adicionalmente, entende-se que a geometria da fibra propicia o acúmulo de água em seu entorno,
ou seja, os vazios do solo agora preenchidos por fibra e água criam uma zona facilitada para a
distribuição das tensões e ruptura do solo;
• A adição de fibras traz um aumento de resistência e uma maior ductilidade do solo até o ponto em
que os vazios do compósito passam a ser preenchidos por mais fibras em vez de solo, fazendo o
efeito da laminação;
• Devido à geometria da fibra, a aglomeração das mesmas é facilitada e, como consequência, agrega-
se água ao seu redor, corroborando ao que foi apresentado anteriormente, ou seja, tem-se uma maior
parte do corpo de prova sendo preenchido por água em vez de partículas de solo, criando uma zona
facilitada para a distribuição das tensões e ruptura do solo;
• As adições de 0,75% e 1,0% fizeram com que o ângulo de atrito interno reduzisse em relação à
adição de 0,5% para este solo. Pode-se dizer que a substituição da massa de solo seco por
quantidades de fibra maiores que 0,5% dificultam no recrutamento da fibra ao aplicar-se o esforço
cisalhante no corpo de prova, o que, por sua vez deve-se à maior dificuldade de a fibra atingir uma
melhor angulação para resistir aos esforços aplicados. Isso é demonstrado pelo aumento do índice
de vazios para as adições de 0,75% e 1,0% em relação ao solo puro e à adição de 0,5%.
• Para a adição de 0,5% de fibras houve um notável aumento do ângulo de atrito interno e uma redução
do intercepto coesivo. Para um solo desestruturado e remoldado a partir da compactação, pode-se
inferir que a coesão interna é aparente, portanto conclui-se que houve elevação da resistência do
solo para a adição de 0,5% de fibras. Não obstante, para a adição de 0,75% houve um leve aumento
do ângulo de atrito interno, porém não tão expressivo. A partir dos resultados obtidos, espera-se que
a dosagem ideal de fibras para o solo estudado encontra-se entre 0 e 0,5% de adição de fibras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileia de Normas Técnicas (2016). ABNT NBR 6457. Amostras de solo – Preparação para
ensaios de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro.
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liquidez. Rio de Janeiro.
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