Você está na página 1de 8

XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

Geotecnia e Desenvolvimento Urbano


COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

Dosagem de Mistura de Solo e Material Fresado Melhorada com


Cimento para Utilização como Camada de Pavimento Rodoviário
Luciana Negrão de Moura
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, luciananegrao@hotmail.com

Mario Sergio de Souza Almeida


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, mario.almeida@ufrb.edu.br

Fernanda Costa da Silva Maciel


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, nandamaciel_@hotmail.com

Weiner Gustavo Silva Costa


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, weiner@ufrb.edu.br

Camilla Maria Torres Pinto


Escola de Eng. de Agrimensura da Bahia, Salvador, Brasil, c.camillamaria@gmail.com

Marcos Couto Correia


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil
marcos_ccorreia@hotmail.com

Felipe Freitas Santos de Jesus


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, felipe_fsj@hotmail.com

RESUMO: Os métodos de estabilização são comumente empregados nas obras de pavimentação.


Nem sempre a aplicação de somente uma técnica é capaz de conferir melhorias ao solo, sendo
necessária a aplicação conjunta de mais de um método de estabilização. Esta pesquisa buscou analisar
o emprego de duas diferentes técnicas de estabilização em um solo, com características insuficientes
para ser utilizado, isoladamente, como camada de pavimento rodoviário, através da estabilização
granulométrica com a mistura deste com 50% e 70% de material fresado (RAP), que é um Resíduo
da Construção Civil (RCC), aliada a estabilização química, com a adição de 2% e 4% de cimento.
Comparando-se os valores de CBR obtidos para o solo, RAP, e para as misturas tratadas com cimento,
nota-se a eficiência do estabilizante químico utilizado. Comparando os resultados obtidos com as
especificações da norma DNIT 142/2010, concluiu-se que todas as misturas melhoradas com cimento
apresentaram resultados satisfatórios, com potencial para serem empregadas como camada de base
semirrígida de pavimento rodoviário.

PALAVRAS-CHAVE: estabilização de solo, estabilização química, estabilização granulométrica,


material fresado, RAP.

1 INTRODUÇÃO ocorrer deformações excessivas. Então, em


diversas obras da engenharia é comum a
Um solo natural nem sempre é capaz de aplicação de técnicas que possam melhorar as
suportar as cargas a que será submetido sem propriedades do material, conferindo-lhe as
perder sua resistência e estabilidade, podendo características necessárias para que o mesmo
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

possa ser empregado em determinada obra. Entre pavimentação consiste na modificação das
as técnicas mais comuns utilizadas para melhorar propriedades do solo atuando na modificação da
a performance de um solo dá-se destaque aos textura do material através da mistura de solos
métodos de estabilização. com diferentes frações granulométricas. Nesse
Para fins de pavimentação rodoviária as método procura-se obter como produto final um
técnicas de estabilização mais empregadas são a material bem graduado, com uma mistura bem
mecânica, granulométrica e química. A homogeneizada e com percentual limitado de
estabilização química no Brasil tem uma vasta partículas finas (VIZCARRA, 2010).
aplicação e na maioria das vezes complementa Dessa forma, a utilização de Resíduos da
outros métodos de estabilização já empregados. Construção Civil (RCC) na estabilização
A estabilização química de um solo é definida granulométrica de solos finos se apresenta como
como o método no qual um aditivo (material uma alternativa viável. O resíduo proveniente do
químico) é incorporado ao solo com o intuito de processo de fresagem de revestimentos
melhorar suas propriedades. Os estabilizantes asfálticos, decorrentes de serviços de
químicos que podem ser empregados são manutenção ou restauração de vias, é
betume, cimento Portland, cal, pozolanas, dentre denominado como material fresado ou,
outros (SANTOS, 2012). simplesmente, RAP (Reclaimed Asphalt
Um material é dito estabilizado Paviment). Gerado em grandes quantidades, este
quimicamente quando este recebeu algum material possui características que o classifica
aditivo que foi capaz de aumentar como de boa qualidade, principalmente devido
significativamente sua resistência e rigidez em às características físicas de seus agregados, as
relação ao material de origem (BASTOS, 2016). quais não são prejudicadas após o processo de
Segundo Marques (2012), as misturas de fresagem do revestimento asfáltico e, dessa
solos melhorados com cimento, podem ser forma, o seu descarte é considerado um
definidas como aquelas onde a modificação das desperdício. Sendo assim, a sua reutilização
propriedades físicas se dá através da adição de desponta como uma alternativa rentável e viável
pequenas quantidades de cimento, nos teores devido a sua vasta disponibilidade, além de
entre 1% e 5%. propiciar um destino ecologicamente correto
A ação estabilizante do cimento sobre o solo para esse material que é tratado como rejeito nas
depende, fundamentalmente, do teor adicionado obras de pavimentação.
à mistura. Quando esses teores são mais Nesse contexto, o presente estudo visa
elevados, a ação aglutinante do cimento, analisar a viabilidade de utilização de um solo
cimentando as partículas do solo, tem efeito fino, de vasta ocorrência no município de Cruz
preponderante no ganho de resistência mecânica. das Almas, Bahia, Brasil, como camada de base
Por outro lado, ao utilizar-se teores menores, de pavimento rodoviário, estabilizado por
necessita-se reduzidos teores de argila do solo, diferentes técnicas, através da reutilização dos
podendo resultar no aumento da resistência resíduos provenientes da fresagem da camada de
mecânica (CRISTELO, 2001). revestimento asfáltico de um trecho da BR116-
A estabilização granulométrica consiste na BA e da adição de baixos teores de cimento. Tal
adição ou retirada de partículas de um solo com objetivo busca atender as especificações da
o objetivo de alterar suas propriedades. O norma DNIT 142/2010, a qual estabelece
método constitui-se no emprego de um material exigências quanto ao material passível de ser
ou na mistura de dois ou mais materiais, de modo utilizado como camada de base melhorada com
a enquadrá-lo dentro de uma faixa de cimento de pavimento rodoviário.
especificação (GOULARTE e PEDREIRA,
2009).
Essa técnica de estabilização física
comumente empregada em obras de
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

2 MATERIAL E MÉTODO grossa apresentou a menor porção em relação ao


total do RAP e é composta de partículas aderidas,
Esta pesquisa foi realizada no Laboratório de chamadas de grumos.
Pavimentação da Universidade Federal do Após esta substituição, encontrou-se a
Recôncavo da Bahia (UFRB), em Cruz das composição do RAP representado por frações
Almas-BA, podendo ser dividida em quatro médias e finas, nas proporções de 38,1% e
etapas: caracterização dos materiais, preparação 61,9%, respectivamente, as quais foram adotadas
das misturas melhoradas com cimento, ensaios como representação padrão da constituição do
de compactação e ensaios de Índice de Suporte material fresado original para a realização de
Califórnia (CBR) no solo, no RAP e nas todos os ensaios. A composição do material
misturas. fresado, em partículas médias e finas.
A fim de caracterizar o material fresado foram
2.1 Caracterização dos Materiais realizados ensaios de granulometria de acordo
com a norma DNER-ME 083/1998.
2.1.1 Caracterização do Solo
2.1.3 Caracterização das Misturas solo/RAP
O solo analisado foi coletado em uma jazida na
área interna da UFRB, destinada a trabalhos de Realizou-se ensaios de granulometria por
pesquisa. O material passou por inspeção e foi peneiramento (DNER-ME 080/1994) nas
acondicionado em recipientes plásticos, sendo misturas de solo com 50% e 70% de RAP, a fim
posteriormente preparadas as amostras para os de verificar o enquadramento desses materiais
ensaios de caracterização, de acordo com as dentro das faixas granulométricas estabelecidas
recomendações da norma DNER-ME 041/1994. pela norma DNIT 142/2010, que define as
Em seguida foram realizados os ensaios de características que devem possuir os solos a
granulometria por peneiramento (DNER-ME serem utilizados como materiais de base
080/1994), e limites de consistência (DNER-ME melhorada com cimento.
082/1994 e DNER-ME 122/1994).
2.2 Preparação das Misturas Melhoradas com
2.1.2 Caracterização do RAP Cimento

O RAP utilizado na pesquisa foi oriundo dos Preparou-se as misturas do solo com 50% e 70%
trabalhos de fresagem realizados na restauração de RAP, ambas melhoradas com 2% e 4% de
da pista da BR-116/BA SUL – LOTE 03, com cimento, em relação à massa total seca da
coleta realizada na faixa Norte, lado esquerdo da amostra. O cimento utilizado na pesquisa foi o
pista, no trecho localizado no km 521. CP II Z-32 (Cimento Portland composto com
O material fresado foi inicialmente pozolana).
destorroado e fracionado através do Essas misturas foram preparadas conforme
peneiramento, utilizando-se as peneiras de ¾” recomenda a norma DNIT 142/2010 e DERBA
(19,1mm) e #4 (abertura de 4,8mm). Dessa ES-P-06/01, as quais estabelecem as exigências
forma, todo o material fresado foi fracionado em para que um solo melhorado com cimento possa
3 porções: grosso, médio e fino. Posteriormente ser utilizado como camada de base de
foi verificado o peso de cada fração constituinte pavimentos.
do RAP e calculada a proporção de cada porção Os materiais foram misturados até a
em relação ao total de material fresado. Esse homogeneização completa da mistura,
procedimento foi adotado com o intuito de constituindo assim a mistura seca (na umidade
substituir a fração do material grosso existente, inicial de cada material). Em seguida foi
por fração do material médio, de forma a obter acrescentada a água na quantidade necessária
um material fresado mais uniforme. A fração para a amostra atingir o teor de umidade
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

previamente estabelecido. Esta sequência Adotou-se essa norma por não existir uma
permitiu a homogeneização dos componentes da norma específica que determine os
mistura em suas respectivas umidades iniciais, procedimentos para compactação de misturas
antes de ser acrescentada a água, conforme melhoradas com cimento. Para cada mistura
recomenda a norma. foram preparadas três amostras, conforme item
Para cada mistura solo/RAP/cimento foram 2.2, com diferentes teores de umidade (ótima -
preparadas três amostras com diferentes teores 2%, ótima, ótima +2%). A mistura com o teor de
de umidade (ótima -2%, ótima, ótima +2%). A umidade na ótima foi definida por meio de
mistura com o teor de umidade na ótima foi identificação táctil-visual. As misturas assim
definida por meio de identificação táctil-visual. produzidas foram deixadas em cura durante o
A mistura assim produzida foi deixada em cura período de 72 horas, conforme recomenda a
durante o período de 72 horas, conforme norma DNIT 142/2010. As amostras foram
recomenda a norma DNIT 142/2010. As acondicionadas em sacos plásticos devidamente
amostras foram acondicionadas em sacos lacrados, com o objetivo de garantir que as
plásticos devidamente fechados com o objetivo misturas não perdessem umidade durante o
de garantir que a mistura não perdesse umidade período de cura. A Figura 1 ilustra as amostras
durante o período de cura. Após o período de no processo de cura.
cura das misturas de solo/RAP/cimento, foram
realizados ensaios de compactação, CBR e
expansão.

2.3 Ensaios de Compactação

2.3.1 Ensaio de Compactação do Solo e do RAP

Este ensaio foi realizado com o objetivo de


obter-se os parâmetros ótimos (wót e 𝛾dmáx) do Figura 1. Processo de cura das misturas com cimento
solo e do material fresado.
O ensaio de compactação foi realizado Após o período de cura de 72 horas, as
utilizando amostras não trabalhadas, de acordo misturas melhoradas com cimento foram
com a norma DNIT 164/2013-ME, na energia do homogeneizadas. Em seguida determinou-se a
Proctor Modificado. Moldou-se cinco corpos de umidade de cada mistura pelo método Speedy,
prova com diferentes teores de umidade, sendo o com o intuito de verificar se as mesmas estavam
primeiro corpo de prova moldado com teor de com suas respectivas umidades próximas as da
umidade definido por identificação táctil visual e preparação.
os demais com teores crescentes de 2% (ramo Após o resultado do teste com o Speedy foi
úmido), e decrescentes de 2% (ramo seco). verificada a manutenção da umidade em que as
amostras foram homogeneizadas. Dessa forma,
2.3.2 Ensaio de Compactação das Misturas os corpos de prova puderam ser moldados,
Melhoradas com Cimento obtendo-se os parâmetros ótimos de
compactação para cada mistura. O processo foi
Os ensaios de compactação das misturas de conforme a Figura 2, onde: a) homogeneização
solo/RAP melhoradas com cimento (com 50% e da amostra após cura; b) coleta de amostra para
70% de RAP e 2% e 4% de cimento) foram verificação da umidade; c) amostra passante na
realizados utilizando amostras não trabalhadas, #4 (4,8mm) para verificação da umidade; d)
de acordo com a norma (DNIT 164/2013-ME), pesagem da amostra (10g) coletada para
na energia do Proctor modificado. execução do teste com o Speedy; e) aparelho
Speedy para determinação de umidade; e) corpo
de prova solo/RAP com cimento compactado.
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

serem rompidos na prensa os corpos de prova


foram inseridos no tanque para leitura de
expansão durante quatro dias. A Figura 3 ilustra:
a) ensaio CBR; b) aspecto dos corpos de prova
após o rompimento na prensa; c) corpo de prova
com sobrecarga e extensômetro para imersão em
tanque; d) corpos de prova imersos em água para
verificação da expansão.

Figura 2. Processo de verificação de umidade para


compactação das misturas tratadas com cimento

2.4 Ensaios de Índice de Suporte Califórnia


(CBR)

2.4.1 Ensaio de CBR do Solo e do RAP

O ensaio de CBR foi realizado segundo o


Método de ensaio proposto pela norma DNIT
172/2016, que determina os procedimentos para
a determinação do índice de Suporte Califórnia
Figura 3. Sequência do ensaio de CBR das misturas com
utilizando amostras não trabalhadas. tratadas com cimento
Os corpos de prova após serem moldados
através do ensaio de compactação foram
colocados em imersão, sendo acompanhados 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
durante 96 horas para análise da expansão de
cada uma das amostras. Sobre cada corpo de 3.1 Ensaios de Caracterização
prova foi colocado discos de sobrecarga com
2,27kg e extensômetros para verificação da 3.1.1 Caracterização do Solo
expansão durante os 4 dias, sendo anotada a cada
24 horas, conforme recomenda a norma. A Tabela 1 contém os resultados da
granulometria do solo e a Tabela 2 o resumo dos
2.4.2 Ensaio de CBR das Misturas Melhoradas demais ensaios de caracterização do solo.
com Cimento
Tabela1. Resultados da granulometria do solo
O ensaio de CBR foi realizado segundo o método Peneiras Passante (%)
de ensaio da norma DNIT 172/2016, que define 1 ´´ 100,0
os procedimentos para a realização do ensaio de 3/8 ´´ 100,0
Índice de Suporte Califórnia (CBR), utilizando- #4 100,0
#10 99,6
se amostras não trabalhadas. #40 82,0
As misturas Solo/RAP/Cimento, após a #200 53,2
compactação foram imediatamente submetidas
ao ensaio de penetração para verificação do
suporte (CBR), sem imersão prévia, conforme
prescreve a norma DERBA ES-P-06/01. Após
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

Tabela 2. Resumo dos ensaios de caracterização do solo se deve à baixa presença de partículas finas em
LL(%) 31 sua composição, não podendo ser empregado,
LP(%) 21 isoladamente, como material para camada de
IP(%) 10 base melhorada com cimento de pavimento
IG 4 rodoviário.
Classificação TRB A-4
3.1.3 Caracterização das misturas
Com base nos resultados dos ensaios de
granulometria e limites de consistência, realizou- Os resultados das análises granulométricas das
se a classificação do solo através do Método de misturas de solo contendo 50% e 70% de
classificação dos solos do Transportation material fresado, sem cimento, estão
Research Board (TRB), utilizada para o representados na Tabela 4.
dimensionamento de pavimentos rodoviários.
De acordo com essa classificação, o solo do Tabela 4. Distribuição granulométrica das misturas
solo/RAP
presente estudo é um solo A-4, tratando-se de um
Peneiras Material passante (%)
material siltoso moderadamente plástico. 50% de RAP 70% de RAP
Com relação estritamente às exigências 2´´ 100 100
granulométricas e de consistência, o Manual de 1 ´´ 100 100
Pavimentação do DNIT (2006) exige que o solo 3/8 ´´ 93,5 79,5
apresente IG = 0, para ser utilizado como sub- #4 81,3 61,7
#10 71,3 45,3
base, e LL < 25% e IP < 6% para que seja
#40 42,5 21,2
utilizado como camada de base, características #200 24,1 13,3
as quais, conforme as Tabelas 1 e 2, o solo
estudado não possui. Do ponto de vista granulométrico, os
Por outro lado, através da análise resultados apresentados na Tabela 2, referentes
granulométrica, verificou-se o não às misturas de solo/RAP sem cimento, não
enquadramento deste solo nas faixas atenderam ao critério enquadramento em
granulométricas definidas pela norma DNIT nenhuma das faixas granulométricas
142/2010, não podendo este solo, isoladamente, estabelecidas pela norma DNIT 142/2010. A
ser utilizado como material a ser melhorado com mistura do solo contendo 50% de RAP se
cimento para emprego como camada de base. aproximou da Faixa D, divergindo dos limites
estabelecidos para o material passante nas
3.1.2 Caracterização do RAP peneiras de malha #200 e #10. Já a mistura
contendo 70% de RAP não se enquadrou nessa
A Tabela 3 contém a distribuição granulométrica mesma faixa, nos limites estabelecidos para a
obtida para o material fresado. peneira de malha #40.
Tabela 3. Distribuição granlométrica do material fresado 3.2 Ensaios de Compactação
Peneiras Passante (%)
1 ´´ 100,0
3/8 ´´ 85,8 A Tabela 5 contém os parâmetros ótimos, wót e
#4 61,9 𝛾dmáx, encontrados para cada material e mistura
#10 44,8 nos ensaios de compactação.
#40 13,1
#200 3,5

A partir dos dados apresentados na Tabela 3,


verificou-se o não enquadramento do material
fresado em nenhuma das faixas granulométricas
estabelecidas pela norma DNIT 142/2010. Isto
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

Tabela 5. Resultados dos ensaios de compactação resistência à penetração, em comparação ao solo,


Amostra wót (%) 𝛾dmáx (g/cm³) valendo ressaltar que a mistura contendo 50% de
Solo 12,81 1,91 RAP e 4% de cimento obteve ganho de
RAP 6,20 1,78
50% RAP+2% CP 10,00 1,97
resistência da ordem de 480%. Entretanto,
50% RAP+4% CP 9,80 1,86 conforme a norma DNIT 142/2010, os materiais
70% RAP+2% CP 7,50 1,98 a serem utilizados como camada de base de
70% RAP+4% CP 7,40 1,91 pavimento melhorada com cimento devem
possuir valores de CBR ≥ 80% e expansão ≤
A análise da Tabela 5 permite inferir que a 0,5% e, portanto, do ponto de vista estritamente
incorporação do cimento, em todas as misturas de custo, as misturas contendo 50% e 7% de
solo/RAP, fez diminuir, significativamente, a RAP e 2% de cimento se mostraram a mais
umidade ótima em relação ao resultado de promissoras, em função do menor consumo de
compactação do solo. Isso se justifica pela cimento entre os teores testados. Nesse mesmo
alteração da granulometria do solo, através da raciocínio, considerando a variável ambiental, a
incorporação do material fresado, tornando a mistura contendo 70% de RAP e 2% de cimento
mistura resultante mais granular que o solo. se mostrou a mais adequada, em função da
Com relação à massa específica aparente utilização de maior quantidade do resíduo (RAP)
seca, ocorre um aumento, em relação ao solo, na É importante destacar também que adição de
mistura contendo 50% de RAP e 2% de cimento, RAP e cimento ao solo proporcionou a redução
além da mistura com 70% de RAP e 2% de da expansão em todos os teores analisados,
cimento, diminui ligeiramente na mistura embora a expansão medida para o solo já
contendo 50% de RAP e 4% de cimento e apresente valores irrisórios.
permanece inalterada na mistura com 70% de
RAP e 4% de cimento.
Dessa forma, aparentemente, os teores de 2% 4 CONCLUSÕES
de cimento alteraram positivamente a massa
específica aparente seca das misturas, enquanto Os resultados obtidos nos Ensaios de Índice
o teor de 4% de cimento prejudicou ligeiramente Suporte Califórnia (CBR) demonstraram a
esse parâmetro para a mistura com 50% de RAP eficiência dos métodos de estabilização
e não influiu na mistura contendo 70% de RAP. empregados.
Quanto as misturas analisadas, as duas
3.3 Ensaios de Índice Suporte Califórnia (CBR) misturas de solo/RAP testadas não se
enquadraram em nenhuma das faixas
A Tabela 6 apresenta os resultados obtidos nos especificadas pela norma DNIT 142/2010.
ensaios de Índice Suporte Califórnia (CBR) para Todavia, a mistura contendo 70% de RAP
todas as amostras ensaiadas. apresentou o enquadramento granulométrico
mais próximo da Faixa D dessa norma. Essa
Tabela 6. Resultados dos ensaios de Índice de Suporte correção do enquadramento pode ser facilmente
Califórnia (CBR)
resolvida testando outros teores de RAP na
Amostra CBR (%) Expansão (%)
Solo 20,20 0,05
mistura, de forma a enquadrá-la em uma das
RAP 15,00 0,00 faixas especificadas.
50% RAP+2% CP 97,10 0,00 Do ponto de vista de resistência, todas as
50% RAP+4% CP 117,10 0,00 misturas melhoradas com cimento se mostraram
70% RAP+2% CP 83,50 0,00 viáveis, e com elevados valores de CBR (≥80%)
70% RAP+4% CP 84,50 0,00
e baixos valores de expansão (≤ 0,5%),
apontando para uma direção promissora em
De acordo com os resultados da Tabela 6 termos da utilização desse tipo de RCC na
todas as misturas tratadas com cimento pavimentação rodoviária.
apresentaram significativo acréscimo de
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

REFERÊNCIAS Universidade Católica (PUC-Rio). Relatório final de


iniciação científica. Rio de Janeiro – RJ.
Bastos, Cézar. Apostila complementar: Estabilização de Vizcarra, G. O. C. (2010). Aplicabilidade de Cinzas De
Solos. Universidade Federal do rio Grande – FURG. Resíduo Sólido Urbano Para Base De Pavimentos.
Disponívelem:ftp://ftp.ifes.edu.br/cursos/Transportes/ Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade
CelioDavilla/Solos/Literatura%20complementa Católica do Rio de Janeiro, Departamento de
r/Apostila%20FURG%20Solos/09%20- Engenharia Civil. Rio de Janeiro-RJ,120 p.
%20ESTABILIZACAO.pdf. Acesso em: 20/07/2016.
Cristelo, N.M.C (2001) Estabilização de Solos Residuais
Graníticos Através da Adição De Cal. Tese
(Doutorado)- UNIVERSIDADE DO MINHO.
Departamento de Infraestrutura de Transportes da Bahia.
(2011). DERBA ES-P-06/01 - Base de Solo melhorado
com cimento. Bahia, 9 p.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. (1994).
DNER 041/94 ME - Solos - preparação de amostras
para ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, 4 p.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. (1994).
DNER 080/94 ME - Solos - análise granulométrica por
peneiramento. Rio de Janeiro,4 p.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. (1994).
DNER 082/94 ME - Solos - determinação do Limite de
Plasticidade. Rio de Janeiro, 3 p.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. (1998).
DNER 083/98 ME - Agregados – análise
granulométrica. Rio de Janeiro, 5 p.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. (1994).
DNER 122/94 ME - Solos - Determinação do Limite
de Liquidez - Método de Referência e Método
Expedito. Rio de Janeiro, 7 p.
Departamento Nacional de Infraestrutura De Transportes.
(2010). DNIT 142/2010 ES - Pavimentação - Base de
Solo Melhorado com Cimento. Rio de Janeiro, 9 p.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
(2016). DNIT 172/2016 ME - Solos - Determinação do
Índice de Suporte Califórnia Utilizando Amostras Não
Trabalhadas. Brasília-DF, 17 p.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
(2013). DNIT 164/2013 ME - Solos - Compactação
Utilizando Amostras Não Trabalhadas. Rio de Janeiro,
7 p.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
(2006). Diretoria de Planejamento e Pesquisa.
Coordenação geral de estudos e pesquisa. Instituto de
Pesquisas rodoviárias. Manual de Pavimentação. 3ª.ed.
Rio de Janeiro, 274 p.
Marques, G.L.O. (2012). Notas de Aula da Disciplina
Pavimentação. Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF). Departamento de Transportes e Geotecnia -
Laboratório de Pavimentação. Juiz de Fora, MG.
Goularte, C. L.; Pedreira, C. L. S. (2009). Estabilização
Química de Solo com Adição de Cimento ou Cal como
Alternativa de Pavimento. Rio Grande, RS. Disponível
em:http://www.abms.com.br/links/bibliotecavirtual/ge
ors2009/2009-goulartepedreira.pdf> Acesso em:
26/07/2016
Santos, M.N.(2012) Análise do Efeito da Estabilização
Mecânica em Matrizes de Terra. Pontifícia

Você também pode gostar