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XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

Geotecnia e Desenvolvimento Urbano


COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

Avaliação do efeito da saturação de amostras no ensaio de CBR na


resistência de um Solo/Brita Tratado com Cimento Utilizado como
Camada de Base na Obra de Implantação da BR-235/BA
Victor Barbosa Santos Borges
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, vbsborges100@gmail.com

Mario Sergio de Souza Almeida


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, mario.almeida@ufrb.edu.br

Fernanda Costa da Silva Maciel


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, nandamaciel_@hotmail.com

Weiner Gustavo Silva Costa


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, weiner@ufrb.edu.br

Camilla Maria Torres Pinto


Escola de Eng. de Agrimensura da Bahia, Salvador, Brasil, c.camillamaria@gmail.com

Alana Grochowalski Araújo


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, alanagrocho@hotmail.com

RESUMO: A dosagem de misturas de solos melhorados com cimento para utilização como base de
pavimento é especificada pela norma DNIT 142/2010, a qual não define minuciosamente o processo
de cura a ser adotado. Na obra de implantação da BR-235/BA o material de base, originalmente
previsto em projeto, foi substituído, já na fase de obra, por uma mistura de solo/brita melhorado com
cimento, buscando a melhoria de produtividade e custo do empreendimento. Este trabalho objetiva
avaliar as características geotécnicas da mistura proposta e utilizada na obra, contendo 1,5% de
cimento, através da realização de ensaios em amostras coletadas no canteiro, (solo brita e cimento
separadamente) e da mistura pronta na pista, durante a execução, e antes da compactação. A análise
dos resultados demonstrou que a resistência do solo/brita melhorado com cimento depende,
fundamentalmente, da adoção, ou não, da imersão das amostras após compactação, com obtenção de
variações significativas na capacidade suporte das amostras testadas.

PALAVRAS-CHAVE: solo/brita, solo melhorado com cimento, processo de cura, capacidade


suporte.

1 INTRODUÇÃO Estes materiais em suas características naturais,


muitas vezes, não atendem a critérios de
Os solos para serem utilizados em camadas de resistência, durabilidade e estabilidade após
pavimentos rodoviários necessitam possuir serem compactados (SANBONSUGE, 2013).
características que possibilitem seus usos como Em função dos elevados volumes de solo
subleito, reforço, sub-base ou base, garantindo utilizado em obras rodoviárias com
um desempenho satisfatório em sua vida útil. características específicas, especialmente em
Entretanto, essa premissa poucas vezes é pavimentação, nem sempre é possível encontrar
verdadeira em se tratando do solo in natura. materiais que atendam satisfatoriamente a tais
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exigências. É nesse contexto que a estabilização qualidade, sob determinados critérios e


de solos se apresenta como solução de relevante proveniente de locais distantes da obra, pode
interesse na Engenharia Rodoviária. gerar impactos ambientais irreversíveis. Dessa
Dentre as diferentes formas de estabilização, forma, a melhoria dos solos locais pelos
a utilização de aglomerantes como cimento, a processos de estabilização é uma solução que
cal, o betume, entre outros, são métodos de deve ser utilizada na construção de pavimentos
estabilizar quimicamente o solo. No que se refere e, portanto, uma alternativa a ser considerada
ao emprego do cimento como agente para o aproveitamento de solos locais e redução
estabilizante, os primeiros relatos vêm do estado de custos.
da Flórida, nos Estados Unidos da América, em Nesse contexto, o Departamento Nacional de
meados da década de 1910, onde o cimento Infraestrutura de Transportes (DNIT) projetou
Portland foi incorporado ao solo para como solução de base para o pavimento do
pavimentação de ruas. Todavia, a ausência na LOTE 2, da rodovia BR235/BA, a utilização de
época de técnicas que permitissem controlar a um solo-brita estabilizado com cimento, em
qualidade da obra e prever os possíveis substituição à brita graduada originalmente
resultados inviabilizou diversas experiências no projetada, buscando utilizar materiais próximos
país. Entre 1917 e 1920 foram expedidas da obra, minimizar os impactos ambientais e,
patentes comerciais para uso em pavimentos de sobretudo, diminuir o custo final da obra.
misturas de solo e cimento Portland. Somente Este trabalho tem como objetivo avaliar em
após uma década, com a descoberta por Ralph laboratório o método de dosagem da mistura
Proctor da relação entre umidade e massa melhorada com cimento adotada na obra de
específica aparente na compactação de solos, implantação da BR-235/BA, com base na norma
deu-se início a realização de estudos que DNIT 142/2010-ES e DERBA ESP-06/01.
definiram a atual técnica de estabilização de
solos com cimento (PITTA, 1997).
No Brasil, a estabilização de solos com 2 MATERIAL E MÉTODOS
cimento para utilização em camada de
pavimentos rodoviários tem vasta aplicação. Por A fase experimental do programa de pesquisa foi
iniciativa da Associação Brasileira de Cimento realizada nas instalações do Laboratório de
Portland (ABCP), em meados de 1940, ocorreu Pavimentação da Universidade Federal do
a primeira obra envolvendo a mistura entre solo Recôncavo da Bahia (UFRB). Essa fase
e cimento na construção da pista de circulação consistiu, fundamentalmente, das seguintes
do aeroporto Santos Dumont, no estado do Rio etapas: preparação da amostra; ensaios de
de Janeiro (MACEDO, 2004). caracterização; ensaios de compactação; e
O cimento como agente estabilizante de um ensaios de ISC (CBR), as quais serão detalhadas
solo atua diretamente em propriedades a seguir.
fundamentais para sua aplicação em camadas de
pavimentos rodoviários como, por exemplo, a 2.1 Preparação das amostras
diminuição de sua deformação plástica,
possibilidade de uma melhor distribuição As amostras foram coletadas na obra em duas
granulométrica do material formado e, ainda, um frentes. Na primeira, o solo-brita, sem adição de
enrijecimento acarretando ganhos de resistência cimento, foi coletado diretamente da pilha de
(JURACH, 2012). material estocado no canteiro de obras. Na
De acordo com Oliveira (2011), o emprego de segunda, coletou-se o solo-brita misturado com
materiais disponíveis próximos ao local de cimento e água, pronto para aplicação, logo após
execução promove economia, principalmente se seu descarregamento na pista, antes da
tratando das distâncias de transporte. Além do homogeneização e compactação.
mais, a exploração de materiais de melhor As amostras coletadas no canteiro de obra
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foram preparadas para ensaios de caracterização média dos valores obtidos como resultado final,
segundo as recomendações da norma DNER-ME a fim de determinar um resultado mais
041/94. representativo.
Este material, o solo/brita, passou pelo Foram realizados ensaios para determinação
processo de secagem ao ar, sendo, dos limites de liquidez (LL), limites de
posteriormente, destorroado a fim de desagregar plasticidade (LP) e cálculo do índice de
as partículas a suas dimensões reais. Realizou-se plasticidade (IP), de acordo com as
a mistura e homogeneização do material, de recomendações das normas DNER 082/94 (LL)
forma a se obter amostras representativas do e DNER 122/94 (LP).
todo para a realização dos ensaios. O ensaio de Equivalente de Areia foi
Esta amostra utilizada foi posteriormente realizado de acordo com a norma DNER-ME
fracionada utilizando-se as peneiras de abertura 054/97.
de 19 mm e 4,8 mm (peneira nº 4), separando-se As principais fases do ensaio de
a fração retida na peneira de 19 mm, retida entre granulometria estão ilustradas na Figura 2, com
a 19 mm e 4,8 mm, e a fração passante na peneira destaque para as três porções da triplicata (a),
4,8 mm, denominadas como material grosso, lavagem do solo nas peneiras nº 10 e nº 200 (b),
médio e fino, respectivamente. porções de solo após lavagem (c) e porções de
O material coletado na pista, contendo solo após 24h na estufa à 105 ºC (d).
cimento, não passou pelos ensaios de
caracterização, por se tratar do mesmo material
já caracterizado, sendo submetido somente ao
ensaio de CBR e, portanto, coletado diretamente
dos sacos para quarteamento, moldagem e
compactação dos corpos de prova.
A Figura 1 apresenta a sequência de
preparação das amostras no laboratório, sendo:
a) e b) amostras coletadas armazenada em saco;
c) secagem da amostra; e d) quarteamento da
amostra. Figura 2. Ensaio de granulometria

2.3 Ensaios de compactação e CBR

O ensaio de compactação utilizando amostras


não trabalhadas foi realizado seguindo-se o que
prescreve a norma DNIT 164/2013 na energia
Proctor Modificado, destinada ao estudo da
camada de base de um pavimento. O objetivo
deste ensaio é obter os parâmetros ótimos de
compactação do solo em estudo.
Figura 1. Sequência da preparação de amostras Os ensaios de Índice de Suporte Califórnia
(CBR) foram empregados seguindo a norma
2.2 Ensaios de Caracterização DNER-ME 049/94, a qual prescreve os
equipamentos e procedimentos necessários para
Foram realizados ensaios de granulometria por determinação da resistência à penetração de
peneiramento no solo-brita de acordo com as solos e misturas de solos.
recomendações da norma DNER-ME 080/94. O As amostras de solo/brita e solo/brita
ensaio de granulometria foi realizado em melhorada com cimento foram testadas de três
triplicata para cada amostra, calculando-se a diferentes formas, através dos ensaios de
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compactação e CBR, sendo estas: submersos em água, colocado sobre estes discos
 Solo/brita coletado no canteiro (SB); anelares de sobrecarga com 2,27 kg e
 Solo/brita coletado no canteiro; melhorado extensômetros para análise da expansão durante
com cimento no laboratório; com correção de quatro dias (96 h), sendo esta expansão anotada
umidade após cura da mistura enleirada de 72 h a cada 24 h, conforme norma. Posteriormente ao
ao ar, antes da compactação; e rompimento após período de embebição, os corpos de prova foram
imersão de 96 h (SBMC 01); retirados do tanque, deixados em descanso por,
 Solo/brita melhorado com cimento na aproximadamente, 15 minutos e, em seguida,
obra; coletado na pista; com correção de submetidos ao ensaio de CBR.
umidade após cura da mistura enleirada de 72 h
ao ar, antes da compactação; com rompimento 2.3.2 Mistura SBMC 01
sem imersão prévia. A imersão de 96h somente
ocorreu após o rompimento (SBMC 02); Empregou-se nessa fase as normas DNIT
A Figura 3 detalha a fase final do ensaio de 142/2010 e NBR 12023/2012, as quais
CBR, com destaque para o corpo de prova (CP) apresentam as condicionantes tanto do
imerso (a), ruptura do CP (b) e CP após rompido. procedimento da mistura solo/cimento/água,
quanto o processo de cura e compactação da
mistura. O emprego da NBR 12023/2012,
mesmo se tratando do solo cimento, justifica-se
por não existir um método de ensaio específico
que detalhe os procedimentos para o projeto da
mistura solo/cimento/água em laboratório para o
caso da mistura de solo melhorado com cimento.
Seguindo a NBR 12023/2012, o solo foi
homogeneizado juntamente com o teor de 1,5%
de cimento, em relação a massa total seca da
Figura 3. Ensaio de CBR mistura (solo + cimento), para cada ponto
crescente de teor de umidade, de acordo com o
O tipo de cimento Portland utilizado no Método B da norma (até 45% das partículas
desenvolvimento da presente pesquisa, assim retidas na peneira nº 4).
como na dosagem feita pela Construtora/DNIT Realizada a mistura, prosseguiu-se com o
na obra, foi o CP II Z-32, cimento Portland enleiramento das amostras e posto em seguida
composto com pozolana. para curar ao ar, por um período mínimo de 72
horas conforme dita a norma DNIT 142/2010. A
2.3.1 Mistura solo/brita (SB) Figura 4 apresenta, de forma comparativa, uma
amostra enleirada antes (a) e após (b) o período
O ensaio de compactação do solo-brita foi de 72 h de cura ao ar.
realizado com a amostra coletada diretamente da
pilha no canteiro de obras, seguindo as
especificações na norma DNIT 164/2013.
Moldou-se cinco corpos de prova com diferentes
teores de umidade, sendo a umidade do primeiro
corpo de prova definida através de avaliação tátil
e visual, e as demais com teores crescentes em
1%, para o ramo úmido, e decrescentes em 1%,
para o ramo seco da curva de compactação.
Após a compactação dos cinco corpos de
prova, os mesmos foram inseridos no tanque, Figura 4. Cura ao ar da mistura enleirada
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Após 72 horas de cura, o solo foi misturado 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES


novamente e homogeneizado. Em seguida
determinou-se a umidade para cada ponto no 3.1 Ensaios de caracterização
fogareiro. Conhecendo-se esta umidade, foi feito
o complemento com água até os teores pré- A Tabela 1 contém a distribuição granulométrica
definidos (3%, 4%, 5%, 6 % e 7%) para obtenção obtida para a amostra de solo/brita (SB) coletada
da curva de compactação. Após chegar-se aos no canteiro de obras e ensaiada no presente
teores de umidade desejados foram realizadas as trabalho, assim como os resultados de
moldagens dos corpos de prova no ensaio de granulometria do solo/brita melhorado com
compactação (DNIT 164/2013) e colocados no cimento (AM 02) realizados pela
tanque, posteriormente, para leituras da Construtora/DNIT e disponibilizados para a
expansão a cada 24 horas, durante 96 h. presente pesquisa. Essa granulometria da
Vencido os quatro dias de imersão, os corpos amostra AM 02, apresentada na Tabela 1,
de prova foram retirados do tanque e deixados representa a granulometria média de oito
em descanso por 15 minutos, aproximadamente, amostras ensaiadas na obra.
onde após este período foram levados à prensa e
submetidos ao ensaio de CBR. Tabela1. Resultados das análises granulométricas
(%) Passante (%) Passante
Peneiras
SB AM 02
2.3.3 Mistura SBMC 02
2” 100,0 100,0
1” 99,4 88,0
Para esse procedimento, além da norma DNIT 3/8” 75,4 66,6
142/2010 e a NBR 12023/2012, a DERBA ES- #4 62,3 53,4
P-06/01 também foi utilizada. A norma DNIT #10 51,6 37,5
164/2013 não é tão clara quanto ao procedimento #40 43,9 22,1
#200 12,2 11,9
de ruptura a ser adotado após a compactação das
amostras, se imediatamente após a compactação
Na Tabela 2 é possível visualizar um resumo
do corpo de prova ou após quatro dias submerso
dos resultados obtidos através dos outros ensaios
em água. Porém a norma do DERBA ESP-06/01,
de caracterização realizados no presente estudo,
que também foi consultada, descreve de forma
assim como os obtidos pela Construtora/DNIT.
mais clara este processo.
Além disso, é possível analisar o enquadramento
A análise consistiu em separar uma única
granulométrico destes materiais de acordo com
amostra da mistura solo/cimento em seu ponto
as especificações na norma DNIT 142/2010.
de umidade ótima, deixar curar ao ar, enleirada,
por 72 horas e posteriormente à cura corrigir a Tabela 2. Resumo dos ensaios de caracterização
sua umidade, complementando-se com água até Especificações
atingir o teor de umidade ótimo novamente. Parâmetros SB AM 02 DNIT
Estando a mistura homogeneizada, deu-se início 142/2010
a moldagem do corpo de prova. LL (%) NP NP ≤25
Imediatamente após a moldagem, o corpo de LP (%) NP NP -
IP (%) NP NP ≤6
prova foi submetido ao ensaio CBR, onde se E.A(%) 19 - >30
determinou a resistência a penetração da TRB A-2-4 A-1-a -
amostra, sem imersão prévia. Em seguida, o Faixa D B A/B/C/D
corpo de prova foi imerso em água, no tanque,
para leituras de expansão a cada 24 h, durante Granulometricamente, conforme a Tabela 1,
quatro dias. observa-se uma discrepância significativa entre
os resultados obtidos nesta pesquisa e os
realizados pela construtora/DNIT. Isso se
justifica pela ação floculante do cimento
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presente na amostra AM 02, ensaiada na obra, Os parâmetros ótimos de compactação do


culminando em um material mais granular que a solo/brita melhorado com cimento, ensaiado na
amostra SB, constituída de solo/brita sem obra (AM 02), apresentaram valores próximos
cimento. Consequentemente, com relação aos aos da AM 01. Vale destacar o fato de as
resultados apresentados na Tabela 2, enquanto o umidades ótimas serem as mesmas nessas duas
solo/brita, ensaiado nessa pesquisa, foi amostras. Quanto à massa específica seca
enquadrado na faixa D do DNIT, classificado máxima, o valor da obra apresentou-se um pouco
como A-2-4 pela TRB, a amostra AM 02, superior, porém com uma variação pouco
ensaiado na obra, foi enquadrado na faixa B e significativa sob o ponto de vista prático.
classificada como A-1-a. Com relação aos
demais resultados apresentados, também na
Tabela 2, ambos os materiais foram classificados 3.3 Ensaios de CBR
como não plásticos (NP).
Portanto, verificou-se que o solo/brita A Tabela 4 apresenta os resultados de CBR e
utilizado na obra atende as especificações da expansão e parâmetros ótimos de compactação
norma DNIT 142/2010 para ser empregado obtidos para os diferentes tratamentos adotados
como camada de base melhorada com cimento. na presente pesquisa e os resultados obtidos na
Quanto ao equivalente de areia, ensaiado apenas dosagem de solo/brita melhorada com cimento
na presente pesquisa, o resultado não significa realizada pela construtora/DNIT na obra (SBMC
problema, por não ser uma exigência da norma 03).
DNIT 142/2010.
Tabela 4. Resultados ensaios de CBR
3.2 Ensaios de compactação Tratament CBR Expansão 𝑊𝑜𝑡 𝛾𝑑𝑚á𝑥
o (%) (%) (%) (g/cm³)
SB 84,50 0,01 6,41 2,19
A Tabela 3 apresenta os parâmetros ótimos (wótm SBMC 01 208,10 0,00 7,40 2,18
e 𝛾dmáx) obtidos nos ensaios de compactação SBMC 02 128,60 0,00 7,30 2,18
realizados no solo/brita coletado no canteiro de SBMC 03 125,40 0,07 7,40 2,22
obras (SB), solo/brita coletado no canteiro e
melhorado com cimento no laboratório (AM 01) De acordo com a norma DNIT 141/2010, os
e solo/brita melhorado com cimento ensaiado materiais a serem utilizados como camada de
pela Construtora/DNIT (AM 02). base estabilizada granulometricamente, devem
possuir CBR ≥ 60%, para número N ≤ 5 x 106, e
Tabela 3. Parâmetros ótimos dos ensaios de compactação CBR ≥ 80%, para número N > 5 x 106, além de
Parâmetros SB AM 01 AM 02 apresentarem expansão ≤ 0,5%. Desta forma,
wótm 6,41 7,40 7,40
verifica-se, à priori, através dos dados da Tabela
𝛾dmáx 2,19 2,18 2,22
4, que os resultados do solo/brita (SB)
apresentaram características suficientes para ser
Observa-se na Tabela 3 que a adição de
empregado como camada de base de um
cimento ao solo/brita conferiu um aumento no
pavimento rodoviário de tráfego pesado (N >
teor de umidade ótima, como no caso da AM 01,
5x106). Entretanto, esse valor está muito
onde ocorreu variação de 6,41% para 7,40%.
próximo do limite mínimo estabelecido pela
Esse fato pode ser explicado por ser o cimento
norma DNIT 141/2010, e como foi realizado
constituído essencialmente de grãos finos, os
apenas um ensaio, sem repetição, não é possível
quais apresentam maior área superficial, e assim,
afirmar que, estatisticamente, esse material seja
uma maior tendência em retenção de água.
capaz de atender a esse critério de resistência
Quanto à massa específica seca máxima houve
mínima, motivo pelo qual a Construtora/DNIT
uma variação insignificante de 2,19g/cm³ para
tenha optado por tratar quimicamente essa
2,18g/cm³.
mistura.
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Já para as misturas melhoradas com cimento, 4 CONCLUSÕES


a norma DNIT 142/2010, especifica que
materiais a serem utilizados como base Constatou-se que o solo estabilizado
melhorada com cimento devem ter CBR ≥ 80% granulometricamente (solo/brita) apresentou
e expansão ≤ 0,5%. características limítrofes de resistência que
Comparando-se o SBMC 01 com o garantem o seu emprego como material de base
solo/brita/brita (SB), a mistura solo cimento de um pavimento rodoviário de elevado volume
comportou-se como esperado, representando de tráfego comercial (N > 5x106). Em função do
uma melhoria significativa do suporte CBR. O estudo em uma amostra apenas, não foi possível
SBMC 01 apresentou o valor de 208,10%, concluir sobre a necessidade de adição de
proporcionando um aumento na ordem de 146%. cimento em sua estrutura.
Com relação a expansão, o solo/brita melhorado Com relação aos diferentes tratamentos
com cimento não expandiu, justificando a ação adotados para o solo/brita melhorado com
do cimento como agente estabilizante da cimento, constatou-se que adoção, ou não, da
amostra, embora o solo/brita já refletisse esse saturação dos CPs por imersão de quatro dias no
material como não expansivo, houve uma ensaio de CBR antes da ruptura, interfere,
redução desse parâmetro. significativamente, nos resultados de resistência
A mistura SBMC 02, que consistiu no à penetração do material. Para o tratamento
material coletado na pista, já com cimento, SBMC 01, onde houve correção da umidade
compactação com correção de umidade após após o período de cura ao ar, e rompimento com
cura e rompimento imediato após moldagem, saturação por imersão prévia, notou-se um
sem imersão prévia, evidenciou-se um aumento aumento significativo na resistência da amostra,
significativo de suporte CBR em relação ao quando comparado ao solo/brita (SB), bem como
solo/brita (SB), variando de 84,5% para 128,6%, uma manutenção da baixa expansão da mistura.
ou seja, um aumento da ordem de 52%, menor, Por outro lado, o tratamento SBMC 02, que
entretanto, que o resultado obtido pela amostra diferiu do SBMC 01 apenas pela não saturação
SBMC 01. Houve redução da expansão, prévia por imersão, antes do ensaio CBR, o
reiterando o efeito estabilizante do cimento. ganho de resistência., em relação ao solo/brita,
Os resultados da dosagem da mistura de não foi tão acentuado.
solo/brita melhorada com cimento, realizada na Estes resultados demonstraram que a norma
obra (SBMC 03), se aproximaram bastante dos DERBA ESP-06/01, que prevê, claramente, a
resultados do tratamento SBMC 02, indicando não saturação prévia, está a favor da segurança
que o ensaio de CBR do SBMC 03 também foi e, aparentemente, foi o método utilizado para a
executado sem saturação prévia dos corpos de dosagem realizada pela Construtora/DNIT na
prova e, portanto, próximo da umidade de obra (SBMC 03)
compactação, conforme estabelecido pela norma
DERBA ESP-06/01.
Comparando-se os resultados resistência dos REFERÊNCIAS
tratamentos SBMC 01 e SBMC 02, fica evidente
que a saturação prévia por imersão antes do Associação Brasileira De Normas Técnicas-ABNT.
ensaio CBR, aplicada no SBMC 01, (2002). NBR 12023 - Solo cimento- Ensaio de
Compactação. Rio de Janeiro, 7 p.
proporcionou um processo de cura extra (úmida) Departamento de Infraestrutura de Transportes da Bahia.
à amostra, culminando numa resistência 62% (2011). DERBA ES-P-06/01 - Base de Solo melhorado
maior, aproximadamente, em relação ao com cimento. Bahia, 9 p.
tratamento SBMC 02. Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. (1994).
DNER 041/94 ME - Solos - Preparação De Amostras
Para Ensaios de Caracterização. Rio de Janeiro, 4 p.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. (1997).
DNER 054/97 ME - Equivalente de areia. Rio de
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Janeiro, 10 p.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. (1994).
DNER 049/94 ME - Solos - Determinação do Índice de
Suporte Califórnia Utilizando Amostras Não
Trabalhadas. Rio de Janeiro, 14 p.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. (1994).
DNER 080/94 ME - Solos - Análise Granulométrica
por Peneiramento. Rio de Janeiro, 4 p.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. (1994).
DNER 082/94 ME - Solos - Determinação do Limite
de Plasticidade. Rio de Janeiro, 3 p.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. (1994).
DNER 122/94 ME - Solos - Determinação do limite de
liquidez - Método de referência e método expedito. Rio
de Janeiro, 7 p.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
DNIT 164/2013 ME - Solos - Compactação utilizando
amostras não trabalhadas. Rio de Janeiro, 2013. 7 p.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
DNIT 142/2010 ES - Pavimentação - Base de Solo
Melhorado com Cimento. Rio de Janeiro, 2010. 9 p.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
DNIT 141/2010 ES - Pavimentação - Base Estabilizada
Granulometricamente. Rio de Janeiro, 2010. 9 p.
Jurach, Aline. (2012). Estudo da Viabilidade Técnica da
Aplicação de Solo Saprolítico Melhorado com
Cimento como Base de Pavimento de Baixo Custo.
Dissertação apresentada à Universidade Federal de
Santa Maria, Centro de Tecnologia, Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil. Rio Grande do Sul,
104 p.
Macedo, M. M. (2004). Solos Modificados com Cimento -
Efeito no Módulo de Resiliência e no
Dimensionamento de Pavimentos. Dissertação
apresentada à Universidade Federal de Pernambuco,
Engenharia Civil. Recife, 289 p.
Pitta, M. R. (1997). Pequeno Histórico da Estabilização de
Solos com Cimento. ABPv. Boletim Informativo, nº
158 maio/junho. São Paulo.
Sanbonsuge, Kendi. (2013). Comportamento Mecânico e
Desempenho em Campo de Base de Solo-cimento.
Dissertação apresentada à Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, Departamento de
Engenharia de Transportes. São Paulo, 135 p.

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