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Dimensionamento de Contenção em solo grampeado à partir de

ensaio de arrancamento e método multi critério para talude em


solo residual de filito
Tanure Amaral Souza
Engenheiro, Salum Construções, Belo Horizonte, Brasil, tanure@salumconstrucoes.com.br

RESUMO: A construção de muros em solos grampeados envolve o reforço dos solos, concomitante ao avanço
da escavação, através da introdução de barras passivas, que trabalham essencialmente sob tração. Um dos
parâmetros mais importantes em projetos de solos grampeados é resistência ao cisalhamento da interface solo-
grampo (qs), sendo o mesmo função das propriedades do solo, do grampo e da interface de ambos. Deve ser
obtido experimentalmente pelo ensaio de arrancamento. À partir de previa investigação geológico-geotécnica,
foi avaliada a trajetória de tensões e deslocamentos de cada ensaio de arrancamento em um talude escavado
em solo residual de filito sujeito à sobrecarga de um aterro à montante. Com os resultados da adesão solo-
grampo e após analise de estabilidade por equilíbrio limite utilizando o software Geoslope e método
Morgenstern & Price, foi avaliada solução de estabilização através do método multicritério. Após avaliação
do ensaio de arrancamento, foi definida a solução para aumento da estabilidade e a mesma foi avaliada via
equilibrio limite. Com a definição da superficie potencial de ruptura foram determinados os trechos ancorados
e verificados os 4 critérios do método multi critério.

PALAVRAS-CHAVE: Solo grampeado, método multi critério, ensaio de arrancamento.

ABSTRACT: Soil nailing walls construction involves the reinforcement of the soils, concomitant with the
advancement of the excavation, through the introduction of passive bars, which work essentially under traction.
One of the most important parameters in soil nailing designs is the shear strength of the soil-nail interface (qs),
the same being a function of the properties of the soil, nail and the interface of both. It must be obtained
experimentally by the pullout test. From a previous geological-geotechnical investigation, the trajectory of
stresses and displacements of each pullout test was evaluated on a slope excavated in residual phyllite soil
subject to overload from an upstream embankment. With the results of soil-clamp adhesion and after analysis
of stability by limit equilibrium using Geoslope software and Morgenstern & Price method, a stabilization
solution was evaluated using the multicriteria method. After evaluation of the pullout test, the solution to
increase stability was defined and it was evaluated via limit balance. With the definition of the potential rupture
surface, the anchored sections were determined and the 4 criteria of the multi-criteria method were verified.

KEYWORDS: Soil nailing, Multicriteria metod, pullout test

1 Introdução

A construção de muros em solos grampeados envolve o reforço dos solos, concomitante ao avanço da
escavação, através da introdução de barras passivas, que trabalham essencialmente sob tração. Para manter o
solo entre os reforços, é necessária a instalação de um paramento, normalmente feito em concreto projetado,
reforçado com tela soldada (CLOUTERRE, 1991).
Normalmente as estruturas em solo grampeado são executadas de cima para baixo, genericamente, executado
nas seguintes etapas(CLOUTERRE, 1991):
Escavação, geralmente de um a dois metros de profundidade, possivelmente com comprimento limitado,
dependendo do tipo de terreno a ser estabilizado
Introdução dos grampos sub-horizontais ou inclinados no solo in situ
Execução de paramento na face do talude ou instalação de elementos pré moldados.
Conforme pode ser observado em Lima(2007), dentre as diversas aplicações da técnica de solo grampeado,
pode-se citar:
Estabilização de taludes naturais através da inclusão de reforços em taludes, possivelmente instáveis,
com inclinações de 45° a 70°.
Contenção de escavações temporárias ou permanentes associadas à fundações de edifícios, escavações
para vias subterrâneas, sistemas viários, portais de tuneis;
Recuperação de estruturas de contenção como terra armada, muro de concreto armado, cortinas
atirantadas.
Conforme scholosser(1982) os grampos são posicionados horizontalmente, tendo esforços principalmente de
tração quando a técnica é usada como estrutura de contenção ou estabilização de escavações. Quando a técnica
é utilizada para estabilização de taludes naturais, os elementos de reforço podem ser verticais ou
perpendiculares à superfície potencial de ruptura e os esforços de cisalhamento e momentos fletores não devem
ser despresados.
De acordo com Scholosser e Unterreiner(1990) um dos parâmetros mais importantes em projetos de
solos grampeados é resistência ao cisalhamento da interface solo-grampo (qs), sendo o mesmo função das
propriedades do solo, do grampo e da interface de ambos. Deve ser obtido experimentalmente pelo ensaio de
arrancamento.
Conforme observado em lima(2007), o desempenho da resistência ao cisalhamento entre o solo / grampo
pode ser melhorada à partir dos seguintes cuidados: limpeza do furo, utilização de fator agua adequados com
uso de aditivo expansor para evitar retrações na calda, tubo lateral de injeção, garantindo que todo o furo seja
preenchido; utilização de espaçadores e centralizadores para que a barra fique centralizada no furo.
O coeficiente q_s pode ser obtido através da expressão abaixo, na qual o principal parâmetro é a força normal
máxima TN(carga que leva o grampo à ruptura por cisalhamento do contato solo grampo), ϕ furo é o diâmetro
do furo e Linj é comprimento injetado do grampo:
𝑇𝑁
𝑞𝑠 = 𝜋.𝜙 (1)
𝑓𝑢𝑟𝑜 .𝐿𝑖𝑛𝑗

2 Materiais e métodos

2.1 Caracterização Geotécnica

Foi verificado no local a ocorrência de solo residual de filito, com colorações claras e acinzentadas, não
foi possível indicar as direções da estruturas reliquiares, devido ao grau de alteração. A Solução de
estabilização foi aplicada a um talude de 2 a 17m de altura com faces naturais em ângulos de 40 a 45°, com
sinais de rompimento. Através de retro análise, foram definidos parâmetros geotécnicos para o solo residual,
por consultoria especializada, conforme tabela abaixo:

Tabela 1: Parâmetros Geotácnicos. fonte: Autor


Parêmetros Geotécnicos
Peso
Coesão Ângulo
Material específico Ru
(kN/m²) de atrito
(kN/m³)
Solo Residual de Filito 19 13 33 0,2
Enrocamento 21 0 45 0,1

Para a solução, foi retida toda a camada de solo rompido. Foi identificada sobrecarga à montante do
talude em análise, proveniente de aterro em material rochoso. Para análise, foi escolhida a seção de maior
altura e adotado o ângulo da face final (após escavação) de 50°, conforme seção abaixo:

Figura 1: Solução adotada para seção de maior altura do talude acabado


2.2 Ensaio de Arrancamento
Babu e Singh(2010) recomendam que os ensaios de arrancamento de campo devem ser conduzidos para:
a) determinar a conformidade entre a resistência ao arrancamento e forças de ligação adotada em projeto com
os resultados dos métodos construtivos adotados; b) verificar se o carregamento de projeto pode ser aplicado
sem excessivas deformações e a um fator de segurança adequado. Os ensaios de arrancamento de campo
podem ser ainda divididos em duas categorias, a primeira mantendo a mesma configuração ( diâmetro,
comprimento, método de execução, carregamento externo e método de testagem); e a segunda categoria a qual
propõe variação de um ou mais fatores (tais como profundidades do trecho ancorado diferente, comprimento
diferente de grampo).
O grampo executado para o ensaio de arrancamento tinha comprimento ancorado e comprimento livre,
ambos com 2 metros em ângulo com a horizontal de 40°. O furo tinha diâmetro de 80mm e a barra de aço de
32mm de diametro, com mínimo de 75cm da barra de aço para fora do furo para montagem do sistema de
carregamento. A barra de aço tinha resistência ao escoamento de 40 toneladas.
A injeção foi executada de maneira ascendente em fase única, com a válvula mais distante do fundo
posicionada a 30 cm do fundo do furo. A Calda foi realizada com cimento Portland CPV, fator agua cimento
0,5, utilizando aditivo superplastificante, feita em misturador de alta turbulência.
A carga última do ensaio foi dada pela expressão:

𝑇′𝑚𝑎𝑥 = 0,9 . 𝜎𝑎ç𝑜 . 𝐴𝑠 (2)

Sendo, σaço a tensão de escoamento do aço e As, a área da seção transversal da barra. A carga última do
ensaio foi assumida 362 kN. A carga prevista para o arrancamento do grampo VTL (Verification Test Load)
foi assumida 162 kN, podendo ser estimada pela expressão:

𝑉𝑇𝐿 = 𝐿𝑏 . 𝜋. ∅𝑝𝑒𝑟𝑓. . 𝑞𝑠,𝑢𝑙𝑡. (3)

𝑉𝑇𝐿 - Carga máxima de ensaio (Verification Test Load)


𝐿𝑏 – comprimento ancorado;
∅𝑝𝑒𝑟𝑓. – diâmetro da perfuração;
𝑞𝑠,𝑢𝑙𝑡. – adesão calda x solo máxima estimada

As cargas foram aplicadas em pequenos estágios, durante o período de 10 min, com aferições do
deslocamento em 1, 2, 4, 5 e 10 minutos. A aplicação das cargas foi feita via macaco hidráulico, com auxilio
de um manômetro para controle das mesmas e relógio comparador para aferição dos deslocamentos. Quando
a carga atingia 75% de VTL, a mesma foi mantida por 60 minutos para verificar a ocorrência de rastejos
(creep). O carregamento era iniciado com 2,5% de VTL, quando o ensaio era interrompido devido ao fim da
jornada ou outros motivos, o carregamento era reduzido à 2,5% de VTL com deslocamento anotado e retomado
deste ponto no dia posterior.

2.3 Método Multicritério

Conforme observado em Lanzieri(2019), o método multicritério incorpora os mecanismos básicos da


interação solo-estrutura, atrito solo-grampo e pressão do solo no grampo.
De acordo com Clouterre(1991), as forças atuantes no ponto O que intercepta a superfície de ruptura do
grampo pode ser representada por um sistema de força composta por uma componente cisalhante (Tc), normal
(Tn) e momento fletor (M).
Figura 2: Sistema de forças atuantes no grampo. Fonte: (CLOUTERRE, 1991)

Critério C1 – Adesão solo-grampo

O primeiro critério assume que o grampo falha quando a tensão normal Tn for superior à resistência ao
arrancamento:

𝑇𝑛 ≤ 𝑞𝑠 × 𝜋 × 𝐷 × 𝐿𝑎 (4)

Sendo qs a resistência ao arrancamento da interface solo-grampo, D o diâmetro do furo e L_a o


comprimento ancorado após superfície de ruptura.

Critério C2 – Pressão lateral solo-grampo

A pressão lateral exercida pelo grampo no solo é limitada pela pressão lateral última pu. Falha pela
pressão de suporte do solo sobre o grampo pode ser definida como ou quando pu é atingida para ponto 0 de
máxima força cisalhante ou quando o solo é plastificado sobre o máximo comprimento definido.
Nestes casos, as deformações nos grampos são calculadas como em estacas sujeitas ao carregamento
lateral, através da equação de Winkler, a qual considera a reação do solo proporcional ao deslocamento
horizontal da estaca. Ela estabelece igualdade entre forças internas e externas atuantes, levando em conta a
rigidez do reforço (SANTOS, 2016).

𝑑4 𝑦
𝐸𝐼 + 𝑘𝑠 𝐷𝑦 = 0 (5)
𝑑𝑧 4

Sendo,
E: Módulo de elasticidade do grampo
I: Momento de inércia da seção transversal do grampo
ks: modulo de reação secante do solo
z: coordenada ao longo do grampo
y: Deslocamento lateral do grampo
D: Diâmetro do grampo
A solução para esta equação introduz o conceito de comprimento de transferência (l0), dado por:

4 4𝐸𝐼
𝑙0 = √𝑘 (6)
𝑠𝐷

O coeficiente ks pode ser definido como uma constante de proporcionalidade entre as tenções e
deslocamentos sofridos pelo solo (constante de mola). Ele é normalmente obtido pela inclinação da reta
secante entre origem e a pressão lateral última, obtida pelo ensaio pressiométrico de Menard.
Dessa forma, o sengundo critério a ser atendido pelo método multicriterio define que a resistencia ao
cisalhamento considerada no grampo (Tc) deve ser menor ou igual ao limite de resistencia ao cisalhamento
devido à plastificação lateral do solo(𝑇𝑐2,𝑚𝑎𝑥 ):
𝐷𝑐 .𝑙0. 𝑝𝑢
𝑇𝑐 ≤ 𝑇𝑐2,𝑚𝑎𝑥 = 2
(7)

Onde Dc é o diâmetro do grampo (incluindo calda), l0 o comprimento de transferência e pu a


pressão lateral última do solo. O momento fletor máximo nos pontos A e A’, onde o esforço
cisalhante é nulo pode ser etimado também pela pressão lateral última (EULETERIO, 2013):

𝑀𝑚𝑎𝑥 = 0,16. 𝑝𝑢 . 𝐷𝑐 . 𝑙0 2 (8)

Critério C3 – Ruptura dos grampos por tração e cisalhamento combinados

Os critérios C3 e C4 envolvem as forças e momentos (Tn, Tc e M) criadas quando o grampo


é plastificado tanto pelo cisalhamento e O (ponto de máxima força cisalhante) ou pelo momento
fletor em A e A’ (pontos de máximo momento). Esse critério pode ser atendido de maneira
conservativa pela inequação:

(𝑇𝑛 /𝑅𝑛 )2 + (𝑇𝑐 /𝑅𝑐 )2 + |𝑀/𝑀0 | − 1 ≤ 0 (9)

A plastificação do grampo por forças cisalhantes ocorre no ponto de máxima força cisalhante
O. Ele corresponde, por razões de simetria, à interseção entre o grampo e a superfície de ruptura,
fornecendo comprimento do grampo entre um lado e outro da superfície potencial de ruptura, a qual
é no mínimo maior do que 3l0. Para o ponto em que o momento fletor é igual a zero, podemos
adotar:

(𝑇𝑛 /𝑅𝑛 )2 + (𝑇𝑐 /𝑅𝑐 )2 ≤ 1 (10)

De acordo com a hipótese simplificadora de tresca, a tensão principal menor é igual a zero, o
que é razoável visto que a tensão de tração é muito maior do que a provocada pelo peso do solo
sobre o grampo (EULETÉRIO, 2013). Observando o circulo de Mohr, temos que 𝑅𝑐 = 𝑅𝑛/2.

Critério C4

Usando uma premissa simples, a plastificarão do grampo por momento fletor ocorrerá nos
pontos de máximo A e A’ a uma distancia igual a lp=πl0/4 e calculado com um comportamento
elástico, tanto para o solo para o solo e grampo. A plastificação nesses pontos, onde a resistência ao
cisalhamenbo é zero, corresponde ao critério abaixo.

𝑀 ≤ 𝑀𝑚𝑎𝑥 (11)
𝑇 2
𝑀𝑚𝑎𝑥 = 𝑀0 . [1 − ( 𝑛 ) ] (12)
𝑅𝑛

Baseado neste valor, a formula abaixo fornece a força cisalhante no ponto O:


𝑀0 𝑇𝑛 2
𝑇𝑐0 = 𝑎 𝑙0
. [1 − (𝑅𝑛
) ] (13)

Onde a é uma constante igual a 3,12.


No ponto O, após a flexão plástica em A e A’ ter se desenvolvido, a plastificação do solo
sobre o grampo produzirá o seguinte critério:

𝑇𝑐 ≤ 𝑇𝑐4,𝑚𝑎𝑥 (14)
𝑀 𝑇 2
𝑇𝑐4,𝑚𝑎𝑥 = 𝑏 0 . [1 − ( 𝑛 ) ] + 𝑐. 𝐷𝑐 . 𝑙0 . 𝑝𝑢 (15)
𝑙0 𝑅𝑛

Onde b e c são constantes com valores de 1,62 e 0,24, respectivamente.

3 Resultados e análises

A seção dos resultados está dividida em duas etapas: a execução e avaliação dos ensaios de arrancamento
para determinação do principal parâmetro de resistência em solos grampeados; e a avaliação da estrutura
segundo as premissas do método multi critério.

3.1 Determinação da resistência ao arrancamento

O conjunto para execução e o carregamento do ensaio foram realizados conforme descrito no item 2.2.
Foram realizados seis ensaios de arrancamento, conforme gráficos abaixo.
Figura 3: Gráfico - Carga x Deslocamento por ensaio. Fonte: Autor.

De maneira geral, o carregamento foi paralisado para definição da carga de ruptura quando ocorriam
instabilidades na leitura do relógio comparador e manômetro após período de 10 minutos. O ensaio 2
apresentou resultado discrepante dos demais, portanto foi descartado para definição da resistência ao
arrancamento, apesar da trajetória do mesmo ter sido semelhante. Dessa forma a carga média de ruptura(TN)
foi 223 kN.
𝑇 223 𝑘𝑁
𝑞𝑠 = 𝜋×𝜙 𝑁 ×𝐿 = 𝜋×0,08𝑚×2𝑚 = 443,65 𝑘𝑃𝑎 (16)
𝑓𝑢𝑟𝑜 𝑖𝑛𝑗.

3.2 Avaliação da estrutura pelo método Multicritério

Para determinação da superfície de ruptura foi utilizado o software Geoslope Versão 2018 R2,
empregando-se o método Morgenstern & Price.

Figura 4: Superficie potencial de ruptura calculada pelo software citado. Fonte: Autor.

Definida a resistência ao arrancamento e escolhida a seção transversal de maior altura, foram


avaliados os quatro critérios do método multicritério, definindo o domínio no qual os grampos encontram-se
estáveis.

Critério C1 e C2 – Adesão Solo-grampo e Plastificação Lateral do Grampo

Com base na cunha crítica calculada anteriormente, a qual definiu os comprimentos ancorados, foi
calculada a resistência ao arrancamento. A tração máxima atuante foi obtida pelo software Geoslope. A
resistência considerada é definida pelo máximo valor entre a resistência ao arrancamento e a carga última do
ensaio (proveniente da tensão de escoamento da Monobarra de aço).

Tabela 2: Resistencia ao arranchamento. Fonte: Autor


Posição Tração Máxima
Comprimento Resistencia ao Resistencia
do atuante no
Ancorado Arrancamento Considerada
Grampo Grampo
1° Linha 8,55 m 635,76 kN 362,00 kN 241,33 kN
2° Linha 8,37 m 622,20 kN 362,00 kN 241,33 kN
3° Linha 8,10 m 601,82 kN 362,00 kN 241,33 kN
4° Linha 7,65 m 568,86 kN 362,00 kN 241,33 kN
5° Linha 8,01 m 595,06 kN 362,00 kN 241,33 kN
6° Linha 8,40 m 624,41 kN 362,00 kN 241,33 kN
7° Linha 8,83 m 656,18 kN 362,00 kN 241,33 kN
8° Linha 9,29 m 690,35 kN 362,00 kN 241,33 kN

Para determinação do comprimento de transferência l0, requisito da equação (7), o mesmo foi
determinado via equação (6). Foi considerado o modulo de elasticidade do grampo (E) de 20 GPa. Para o
modulo de reação do solo, foi adotado 25000 kN/m³ (média entre 20000 e 30000 kN/m³), conforme
recomendado em Moraes (1976). Desta forma, foi obtido l0 igual a 0,1506m.
A capacidade de carga do solo foi calculada pela formulação proposta por Terzagui(1948):
1
𝑃𝑢 = 𝑐. 𝑁𝑐 + 2 . 𝐵. 𝛾. 𝑁𝛾 + 𝛾. ℎ. 𝑁𝑞 (17)

Onde B e h representam respectivamente a largura do grampo e meia altura do talude. Os coeficientes


𝑁𝑐 , 𝑁𝛾 𝑒 𝑁𝑞 são fatores de capacidade de carga os quais para o respectivo solo residual de filito com angulo de
atrito interno igual a 33° correspondem a 𝑁𝑐 = 38,64, 𝑁𝛾 = 35,19 𝑒 𝑁𝑞 = 26,09 obtidos em Das(2016).
Dessa forma foi obtido Pu=4.742,6 kN/m² e 𝑇𝑐2,𝑚𝑎𝑥 = 28,57 kN.

Critérios C3 e C4 - Ruptura dos grampos por tração e cisalhamento combinados e Plastificação do grampo por
momento fletor

A resistência do grampo à tração pura (Rn) foi determinada como 362 kN, a resistência ao cisalhamento
puro (Rc) foi determinada como metade do valor de Rn, conforme recomendações de Clouterre(1991), sendo
181 kN.
Para determinação da tensão cisalhante máxima, conforme equação (15) foi necessário obtenção do
momento resistente M0. Para determinação de uma aproximação do mesmo o grampo de 80mm de diametro e
monobarra de 32mm foi inscrito em um quadrado de mesmo lado para ser calculado como uma viga. O
procedimento foi realizado conforme equações abaixo, obtidas em Pinheiro (2007):

𝑀𝑑 = 0,68𝑏𝑑2 𝛽𝑥 𝑓𝑐𝑑 (1 − 0,4𝛽𝑥 )


0 = 0,68𝑏𝑑𝛽𝑥 𝑓𝑐𝑑 − 𝐴𝑠 𝜎𝑠
𝐴𝑠 𝜎𝑠
𝛽𝑥 =
0,68𝑏𝑑𝑓𝑐𝑑
𝐴𝑠 𝜎𝑠
𝑀𝑑 = 𝐴𝑠 𝜎𝑠 𝑑 (1 − 0,4 ) = 104,87 𝑘𝑁. 𝑐𝑚 = 1,05 𝑘𝑁. 𝑚 (18)
0,68𝑏𝑑𝑓𝑐𝑑

O valor de 𝛽𝑥 obtido foi igual a 1,85 o que nos mostra que a linha neutra está fora da seção e toda ela
está comprimida. Desta forma Tc4,max foi determinado com valor de 19,99 kN. Segue abaixo a combinação
dos quatro critérios:

Figura 5: Combinação dos critérios. Fonte: autor.

Conforme gráfico acima, a força de cisalhamento máxima Tc que poderá ser aplicada no grampo será de
19,99 kN e tração norma Tn máxima de 357,77 kN.
4 Considerações Finais

A tensão cisalhante resistente (19,99 kN) foi definida no modelo e o fator de segurança obtido foi
1,73. Conforme reforçado em Clouterre(1991), o método multicritério foi estabelecido considerando que a
ruptura do contato solo grampo corresponde à plastificação do mesmo. Essa é uma hipótese bastante
conservadora. Outros métodos poderão ser utilizados em trabalhos futuros para detalhamento das tensões
cisalhantes atuantes, visto que o software informou apenas o fator de segurança. A investigação geotécnica
se limitou a descrever o estrato superficial de modo que uma representação em profundidades maiores
poderiam ajudar a esclarecer os altos valores de adesões solo grampo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Babu, G. L. S. & Singh, V. P. Soil nails field pullout testing: evaluation and applications. International Journal
of Geotechnical Engineering (2010) 4: (13-21)
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Pinheiro, L. M. Fundamentos do Concreto e Projeto de Edificios. Departamento de Engenharia de Estruturas.
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