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RESULTADOS DE ENSAIOS DE ADERÊNCIA NATA-ROCHA EM

ROCHAS SEDIMENTARES DO RIO GRANDE DO SUL

Maurício Birkan Azevedo (Mestrando em Engenharia, área de Geotecnia – Universidade


Federal do Rio Grande do Sul); mauriciobazevedo@hotmail.com.
Luiz Antonio Bressani (Professor titular do Departamento de Engenharia Civil – Universidade
Federal do Rio Grande do Sul)
Cleber de Freitas Floriano (Professor assistente da Escola Politécnica – Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Engenheiro Civil – Azambuja Engenharia e
Geotecnia Ltda.)

Resumo: A presente pesquisa versa sobre a determinação do parâmetro de adesão entre


nata de cimento e rocha. Este parâmetro é de fundamental importância no dimensionamento
de grampos e tirantes, sistemas de contenção frequentemente executados que utilizam a
técnica de ancoragem na rocha. O correto dimensionamento desses elementos estruturais
de reforço exige um bom conhecimento da interação entre o fluído cimentante utilizado na
ancoragem e o material natural no qual ele é instalado. No entanto, esta tensão é
comumente avaliada apenas por meio de ensaios de arrancamento, em campo. Estes são
ensaios em verdadeira grandeza, que necessitam a mobilização de equipamentos e
materiais similares àqueles utilizados na execução da obra definitiva, portanto, os mesmos
somente acabam sendo viáveis durante a etapa de execução das obras, em grande parte
dos casos. A metodologia Composite Cylinder Bond Test (CCBT), empregada neste
trabalho, permite a determinação da adesão por meio de ensaios de laboratório utilizando
corpos de prova mistos de nata de cimento e rocha, sendo, por isto, uma interessante
alternativa para a etapa de definição paramétrica de projetos, tratando-se de um ensaio
mais simples e de menor custo em comparação com o arrancamento in loco. Neste
contexto, foram testadas rochas sedimentares do município de Caçapava do Sul/RS,
pertencentes à Formação Varzinha. Duas litologias da Formação foram testadas pela
metodologia: arenitos e conglomerados. Os primeiros, formados por grãos mais finos,
apresentaram tensão de adesão média no valor de 0,85 MPa; enquantos os últimos,
formados por grãos grosseiros, apresentaram tensão de adesão média de 1,79 MPa. Esta
significativa diferença parece ser resultante de diversos fatores, como textura, friabilidade,
mineralogia e resistência das rochas, fatores que são discutidos neste trabalho. Por fim, os

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resultados destes ensaios, em rochas sedimentares, são comparados com ensaios CCBT já
realizados em outros tipos de rocha.
Palavras-chave: Adesão Nata-Rocha, Composite Cylinder Bond Test, Rochas
Sedimentares, Ancoragem em Rocha, Ensaios de Laboratório.

RESULTS OF BOND STRENGTH TESTS BETWEEN CEMENT


GROUT AND ROCK IN SEDIMENTARY ROCKS FROM RIO GRANDE
DO SUL

Abstract: Present research evaluates the determination of the bond strength parameter
between cement grout and rock. This parameter is of great importance on design of rock
bolts and rock anchors, retaining structures often applied that use the technique of anchoring
in rock. The correct design of these structural elements of reinforcement demands good
knowledge about the interaction between cementitious material applied on anchorages and
the natural material in which it is installed. However, this strength is commonly evaluated
only by pull out field tests. These tests demand the mobilization of equipments and materials
similar to those used during the construction stage, therefore, they are usually only viable
during the construction stage. The Composite Cylinder Bond Test (CCBT) methodology,
employed on this study, allows the determination of the adhesion parameter by laboratory
tests using cement grout and rock mixed specimens, being, thus, an interesting alternative
for the parametric definition stage of projects, because it is a simpler and cheaper test,
compared to pull out field tests. In this context, sedimentary rocks from Caçapava do Sul/RS,
which belong to Varzinha Formation, were tested. Two different lithologies from this
formation were studied: sandstones and conglomerates. The first ones, made by finer grains,
presented average adhesion values of 0.85 MPa; whereas the last ones, made by coarser
grains, presented average adhesion values of 1.79 MPa. This significant difference seems to
be resultant of many factors, such as texture, friability, mineralogy and resistance of rocks,
factors discussed on this work. Finally, the results of these tests, in sedimentary rocks, are
compared to other CCBT tests realized in other types of rocks.

Keywords: Cement grout-rock adhesion, Composite Cylinder Bond Test, Sedimentary


Rocks, Anchoring in Rock, Laboratory Tests.

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1. INTRODUÇÃO
Estruturas de contenção são obras fundamentais que objetivam conter massas de solo ou
rocha instáveis em taludes urbanos, rodoviários e ferroviários, vencer um desnível de cotas
em ambiente urbano, realizar obras de barragens, entre outras. Frequentemente, utiliza-se
da técnica de ancoragem no maciço, que consiste na instalação de um ou mais elementos
de elevada resistência, usualmente metálicos, em furos previamente realizados no terreno.
A aderência entre o maciço a ser estabilizado e o elemento de reforço é garantida por um
composto cimentante injetado na forma fluída no furo.
Estes elementos de reforço são denominados de grampos e tirantes. Os grampos
são instalados de forma passiva, ou seja, sem tensionamento induzido, e sua resistência
apenas é mobilizada se houver deslocamentos no maciço. Por outro lado, os tirantes são
tensionados após a instalação com a aplicação de uma carga induzida, portanto são
elementos protendidos e trabalham de forma ativa desde o momento de sua incorporação.
O fluído cimentante mais amplamente utilizado é a nata de cimento, no entanto
resinas também são empregadas para este fim. A tensão de aderência (qs) entre o fluído e o
maciço rochoso é um parâmetro fundamental para o correto dimensionamento de
ancoragens, uma vez que está diretamente relacionada à resistência ao arrancamento de
grampos e tirantes. No entanto, a correta determinação deste parâmetro apresenta desafios,
devido à grande variabilidade geológica entre diferentes regiões e à dificuldade de
realização de ensaios durante a etapa de projeto. Materiais naturais que recebem esses
reforços apresentam-se na natureza em condições de resistência mecânica e texturas
variadas. Usualmente, realizam-se ensaios de arrancamento in situ para avaliar a tensão de
aderência, necessitando, portanto, a mobilização de equipamentos de grande porte
(perfuração, injeção e instrumentos de medição de carga), normalmente viáveis apenas
durante a própria fase de implantação da obra.
Buscando uma alternativa de menor custo e maior praticidade, a metodologia
Composite Cylinder Bond Test (CCBT), proposta inicialmente por Macedo (1993), permite
determinar a tensão de adesão entre rocha e nata de cimento em laboratório. Assim, a
adesão pode ser avaliada por meio de corpos de prova compostos de metades cilíndricas
cortadas da rocha que se deseja estudar e metades cilíndricas complementares do material
cimentício a ser utilizadas na ancoragem, moldadas em laboratório. Esta avaliação

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experimental, controlada e de menor custo, da adesão entre nata e rocha, é extremamente
vantajosa em função do alto custo do sistema de ancoragens. Em obras deste tipo, as
atividades e materiais relacionados à ancoragem constituem a maior parcela do orçamento.
Testemunhos de sondagem provenientes de uma futura grande escavação em
rochas sedimentares na região de Caçapava do Sul/RS foram aproveitados para avaliar a
tensão de aderência nesta pesquisa. Foram identificadas duas litologias típicas da região:
arenitos e conglomerados, ambas provenientes da Formação Varzinha.

2. CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA
O local em estudo está situado no município de Caçapava do Sul/RS, na localidade Vila
Minas do Camaquã. A região está localizada no Escudo Sul-Rio-grandense (ESRG),
formado predominantemente por rochas ígneas do período Pré-Cambriano e fortemente
desgastadas pela erosão (CHEMALE JUNIOR, 2000).
Embora a província geológica Sul-Rio-grandense seja predominantemente
constituída de rochas ígneas do período Pré-Cambriano, os furos de sondagem foram
localizados em uma região de rochas sedimentares, no Supergrupo Bacia do Camaquã,
Grupo Guaritas e Formação Varzinha, coincidindo com rochas diagenizadas posteriormente
à cristalização do entorno. Esta identificação foi feita com a localização dos furos no mapa
geológico do Rio Grande do Sul, da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (2006),
confirmando as rochas amostradas. Na Figura 1, os furos de sondagem estão identificados
no mapa com um marcador preto, nas proximidades do centro de alguns municípios, com as
seguintes distâncias aproximadas: 45 km de Caçapava do Sul, 75 km de Bagé e 40 km de
Santana da Boa Vista.

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Figura 1 – Localização dos furos de sondagem (GOOGLE INCORPORATION, 2017)

O Grupo Guaritas, depositado durante o Eocambriano, corresponde ao topo do


Supergrupo Camaquã, sendo formado, predominantemente, por rochas areníticas e
conglomeráticas, de origem aluvial e eólica (ALMEIDA, 2005; ALMEIDA et al., 2010;
NÓBREGA, 2011). Os arenitos apresentam intensa cimentação carbonática e são,
principalmente, arcóseos e subárcoseos e, secundariamente, arenitos líticos (ALMEIDA,
2005; NÓBREGA et al., 2008; ROS et al., 1994).
Nóbrega (2011) concluiu, por meio de petrografia de seções delgadas, que as
amostras por ele obtidas da Formação Varzinha possuem cimentação carbonática, com
cimentação ferruginosa associada. No que se refere ao arcabouço, há predomínio de grãos
sub-angulosos, com ocorrência de grãos angulosos e sub-arredondados.
De acordo com Nóbrega (2011), o conhecimento da proveniência dos detritos, que
originaram rochas sedimentares, é de fundamental importância para reconstruir a história
dos sedimentos e conhecer as rochas que deram origem a elas. Pode-se, assim, deduzir as
características das áreas fontes por meio das propriedades composicionais e texturais dos
sedimentos. A proveniência das rochas areníticas pode ser avaliada pela caracterização dos
principais componentes do arcabouço (quartzo, feldspato, fragmentos líticos), fornecendo
informações indiretas sobre as rochas fonte. Por outro lado, em rochas conglomeráticas, o

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grau de fragmentação do cascalho (seixo) pode fornecer informações importantes acerca
das rochas dos maciços originários. Nas lâminas delgadas de rochas da Formação
Varzinha, o referido autor encontrou, nos arcóseos e arcóseos líticos, fragmentos de
quartzito, granito, xisto e arenito, às vezes milimétricos.

3. O MÉTODO CCBT
O Composite Cylinder Bond Test (CCBT) foi desenvolvido na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) por Macedo (1993), a fim de determinar a tensão de aderência
entre nata de cimento e dois tipos de rochas efusivas da região serrana do Rio Grande do
Sul. Posteriormente, Floriano (2014) utilizou a metodologia para outros dois tipos de rochas
areníticas sedimentares da Serra do Espigão, em Santa Catarina. O ensaio não determina a
tensão de aderência última (condições de campo), mas uma tensão de adesão, uma vez
que a parcela de atrito é desprezada. Portanto, espera-se que o valor obtido em laboratório
seja inferior ao valor de ensaios de arrancamento em campo.
Os dois autores compararam os resultados de laboratório com ensaios de
arrancamento realizados em obras nos locais de extração de suas amostras. O primeiro
autor encontrou, em campo, valores superiores aos de laboratório nas taxas de 34% a
183%; enquanto o segundo autor encontrou valores também superiores, mas nas taxas de
3,4% a 8,9%. O fato de Macedo (1993) ter estudado rochas vulcânicas, enquanto Floriano
(2014) estudou rochas sedimentares, pode justificar esta diferença entre valores de campo e
de laboratório. Floriano (2014), entre outros motivos, indica que o elevado grau de
fraturamento das rochas vulcânicas favorece a formação de microinjeções (penetração) ao
longo do contato aderente, elevando assim a resistência ao arrancamento. Tal fenômeno é
muito menos representativo em rochas sedimentares.

3.1 Descrição da metodologia


O ensaio consiste na moldagem de corpos de prova mistos, cilíndricos, formados por rocha
e nata de cimento, em laboratório. Testemunhos cilíndricos de rocha, amostrados em
campo, são previamente cortados com serra diamantada. Um dos segmentos tem sua
extremidade cortada a 90º e a outra a 30º ou 45º com a geratriz do testemunho, formando
uma superfície de contato elíptica. Este testemunho de rocha cortado é, então, posicionado
dentro de um molde cilíndrico e preenchido cuidadosamente com nata de cimento, evitando
a formação de bolhas de ar (MACEDO, 1993).

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Os corpos de prova moldados devem ser curados em câmara úmida ou por imersão,
de acordo com a NBR 7215 (ABNT, 1996). Os corpos de prova devem ser rompidos por
compressão uniaxial, preferencialmente aos 28 dias de cura, com o objetivo de induzir uma
ruptura no plano de contato nata-rocha (MACEDO, 1993).

3.2 Interpretação do ensaio


A interpretação do ensaio CCBT pode ser feita a partir do círculo de Mohr, por meio do
diagrama da tensão cisalhante (τ) pela tensão normal (σ), conforme a Figura 2. Os valores
de tensão principal maior são os resultados da tensão uniaxial de ruptura, sendo definidos:
σ1A para a média da tensão uniaxial de ruptura dos corpos de prova mistos formando ângulo
de β = 30º e σ1B para a média da tensão uniaxial de ruptura dos corpos de prova mistos
formando ângulo de β = 45º (MACEDO, 1993).

Figura 2 – Interpretação dos Ensaios CCBT (adaptada de Macedo, 1993)

O critério de ruptura adotado é o de Mohr-Coulomb (Equação 1), definindo assim os


parâmetros de tensão de adesão (SW) e ângulo de atrito (φ) da superfície da junta nata-
rocha. Os autores que fizeram ensaios da metodologia desconsideraram a parcela de atrito,
adotando a resistência ao cisalhamento no plano de junta (S) como função apenas da
tensão de adesão, conforme a Equação 2. Macedo (1993) indica que a desconsideração da
parcela de atrito preserva, no trecho ancorado, a integridade da nata de cimento, evitando

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sua fissuração e a penetração de agentes agressivos à armadura, uma vez que o nível de
tensões é mantido em um valor seguro. No entanto, esta simplificação adotada desde
Macedo (1993) no desenvolvimento da metodologia, ainda não foi bem compreendida e está
sendo pesquisada.

S=SW +(σn * tan φ) (1)


S=SW (2)

As tensões mobilizadas na superfície da junta do corpo de prova, inclinada em um


ângulo β, na ruptura, são definidas como: tensão normal (σnβ ) e tensão cisalhante (τβ ). A
Equação 3 e a Equação 4 definem estas tensões, respectivamente. Com estas definições e
com juntas em dois ângulos distintos (arbitrados 30º e 45º), pode-se determinar a envoltória
(conforme a Figura 2) e, portanto, a parcela de adesão na interface nata-rocha.

σnβ =σ1 *(sen β)2 (3)


σ1 (4)
τβ = *sen 2β
2

4. MATERIAIS E MÉTODOS
Os testemunhos de sondagem foram previamente separados em duas litologias:
conglomerados e arenitos. Nesta fase inicial da pesquisa, foram moldados 6 corpos de
prova para cada uma das litologias, organizados em função do ângulo de corte, de acordo
com a Tabela 1. Também, foram moldados 6 corpos de prova apenas de nata de cimento, a
fim de avaliar sua resistência à compressão simples, conforme preconiza a NBR 7681-4
(ABNT, 2013). Todos os 18 corpos de prova (12 mistos de nata-rocha e 6 de nata de
cimento) foram moldados com a mesma mistura e fator água/cimento em massa (a/c).

Tabela 1 – Número de corpos de prova mistos moldados em função da litologia e do ângulo de corte
Litologia Ângulo de corte
30º 45º
Conglomerados 4 2
Arenitos 2 4

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4.1 Cortes
Os cortes foram realizados com disco diamantado de 7 polegadas de diâmetro, em um
sistema refrigerado com água.
Inicialmente, os testemunhos foram cortados perpendicularmente ao eixo em ambas
as extremidades com auxílio de um gabarito de madeira. O testemunho cortado era
examinado visualmente para não ter imperfeições macroscópicas, e, então, posicionado em
outro gabarito para cortes em ângulos, de forma que dois corpos de prova eram obtidos a
partir de um único testemunho. A Figura 3a ilustra o detalhe do gabarito para cortes em
ângulos de 30º e 45º, enquanto a Figura 3b mostra o momento do corte.

Figura 3 – Fotos dos cortes em ângulos de 30º e 45º

4.2 Moldagem dos corpos de prova


Devido à peculiaridade dos testemunhos de sondagem possuírem entre 47,0 e 47,8 mm de
diâmetro (coroas rotativas N), moldes metálicos cilíndricos de 50 mm de diâmetro, usuais
em laboratórios de Engenharia Civil, não puderam ser utilizados para a moldagem dos
corpos de prova mistos. Dessa forma, optou-se por utilizar tubos de PVC com diâmetro
interno adequado, cortados de forma que a altura fosse aproximadamente o dobro do
diâmetro. Já a moldagem dos corpos de prova de nata de cimento foi realizada em moldes
metálicos cilíndricos de 50 mm de diâmetro e 100 mm de altura.
O cimento utilizado para confecção da nata foi do tipo Portland Pozolânico CP-IV-32,
ou seja, o cimento comum, amplamente utilizado para injeção de tirantes e grampos.
Adotou-se um fator a/c igual a 0,5. Este é o traço mais utilizado e recomendado para essas

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obras tanto no Brasil como no exterior, de acordo com diversos autores (ABNT, 2006;
FLORIANO, 2014; LAZARTE et al., 2015; MACEDO, 1993; SOLOTRAT ENGENHARIA
GEOTÉCNICA LTDA., 2015; YASSUDA; DIAS, 1998).
Após a colocação dos testemunhos cortados dentro dos moldes de PVC, a nata de
cimento era despejada na parte superior. Os procedimentos seguiam, dentro do possível, a
NBR 7681-4 (ABNT, 2013), norma esta que regula ensaios com nata de cimento (ou calda
de cimento). A Figura 4a ilustra as metades rochosas dentro dos moldes de PVC, enquanto
a Figura 4b ilustra os corpos de prova imediatamente após o despejo da nata de cimento
dentro dos moldes. Já a Figura 5 mostra a configuração dos corpos de prova após a
moldagem.
Os corpos de prova foram submetidos à cura inicial ao ar e cura final em água,
conforme a NBR 7215 (ABNT, 1996). A primeira etapa corresponde até 24 horas após a
moldagem, enquanto a segunda prolonga-se até o instante da ruptura.

Figura 4 – Moldagem dos corpos de prova mistos

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Figura 5 – Configuração dos corpos de prova mistos após a moldagem

4.3 Ruptura dos corpos de prova


Após 28 dias de cura, os corpos de prova eram rompidos em uma prensa da marca
Shimadzu, com capacidade para 200 toneladas. A velocidade adotada foi de 0,25 MPa/s, a
mesma normatizada para ensaios com argamassa, de acordo com a NBR 7215 (ABNT,
1996).
Um dia antes da ruptura, os corpos de prova tinham suas extremidades retificadas,
por meio de uma máquina retificadora e, após isso, eram desmoldados.
A Figura 6a ilustra um corpo de prova sendo retificado, enquanto a Figura 6b ilustra
um dos corpos de prova sendo submetido ao ensaio de compressão na prensa.

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Figura 6 – Retificação e ruptura dos corpos de prova

5. RESULTADOS
Foram realizadas 6 medidas de diâmetro e 3 medidas de altura em cada corpo de prova e
todos respeitaram à relação altura/diâmetro como preconiza a NBR 5739 (ABNT, 2007). Não
houve necessidade de realizar as correções recomendadas pela norma.
A NBR 5629 (ABNT, 2006) exige que a nata de cimento empregada na injeção de
tirantes deva ter resistência mínima à compressão simples de 25 MPa aos 28 dias. Os seis
ensaios de compressão simples em nata de cimento apresentaram média de resistência à
compressão simples igual a 28,18 MPa aos 28 dias de cura, calculada em conformidade
com a NBR 7681-4 (ABNT, 2013).
A Tabela 2 apresenta os resultados de todos os corpos de prova mistos já calculados
em função das tensões na junta, conforme Equação 3 e Equação 4. Já a Tabela 3 mostra as
médias dos valores de cada litologia, assim como o cálculo da tensão de adesão e do
ângulo de atrito.

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Tabela 2 – Resultados de tensões na junta para todos os corpos de prova
Tensões na junta
ID Litologia β (º) (MPa)
σnβ τβ
1a Conglomerado 30 2,348 4,066
1b Conglomerado 30 1,775 3,074
2a Conglomerado 45 16,220 16,220
2b Conglomerado 45 17,635 17,635
3a Arenito 30 1,605 2,780
3b Arenito 30 0,530 0,918
4a Arenito 45 7,590 7,590
4b Arenito 45 7,200 7,200
5a Conglomerado 30 2,823 4,889
5b Conglomerado 30 1,605 2,780
6a Arenito 45 22,345 22,345
6b Arenito 45 17,475 17,475

Tabela 3 – Resultados de adesão para as duas litologias


Tensões médias
Litologia β (º) na junta (MPa) SW (MPa) φ (º)
σnβ τβ
30 2,14 3,70
Conglomerado 1,79 41,80
45 16,93 16,93
30 1,07 1,85
Arenito 0,85 43,16
45 13,65 13,65

A Figura 7 demonstra as envoltórias para as duas litologias avaliadas, conforme


dados da Tabela 3, previamente citada.

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Figura 7 – Envoltórias de ruptura para as duas litologias

20,0
18,0
Tensão cisalhante (MPa)

16,0 τ = 0,89*σ + 1,79


14,0
12,0 τ = 0,94*σ + 0,85
10,0 Conglomerado
8,0
6,0
Arenito
4,0
2,0
0,0
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0
Tensão Normal (MPa)

Foram identificadas três diferentes formas de ruptura: (a) ruptura no contato nata-
rocha; (b) ruptura na nata; (c) ruptura na nata e na rocha simultaneamente. Uma vez que o
objetivo do presente trabalho é o de avaliar a tensão de aderência no contato, admite-se que
o valor calculado das tensões de contato na junta nata-rocha, independentemente da forma
de ruptura, indicará um valor mínimo de aderência, ou seja, o contato nata-rocha suportou
no mínimo às tensões calculadas, mesmo que a ruptura não tenha ocorrido na junta.
Portanto, este será um valor ainda mais conservador da tensão de aderência. A Figura 8
ilustra as três formas de ruptura avaliadas nos corpos de prova moldados, identificadas em
ordem alfabética, na mesma ordem que aparecem neste texto. A maior parte dos corpos de
prova rompeu no contato nata-rocha.

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Figura 8 – Três formas de ruptura identificadas

6. CONCLUSÕES
Conforme já verificado por Macedo (1993) e Floriano (2014), a metodologia CCBT se
apresenta como uma importante alternativa para determinação da tensão de adesão em
fase de projeto. O fato dos autores terem encontrado, em laboratório, valores inferiores aos
de arrancamento, em campo, é justificado, pois a metodologia CCBT, conservadoramente,
desconsidera efeitos de atrito e dilatância, que contribuem para a tensão de aderência (qs)
avaliada em campo.
Os valores encontrados neste trabalho para tensão de adesão foram superiores aos
das rochas avaliadas por Floriano (2014), também sedimentares. Os arenitos da presente
pesquisa apresentaram tensão de adesão média de 0,85 MPa, enquanto nos arenitos
avaliados por Floriano (2014) foram de 0,38 MPa e 0,37 MPa, para as formações Botucatu e
Rio do Rastro, respectivamente. Tal diferença pode ser justificada pela maior resistência dos
arenitos da Formação Varzinha em relação à resistência das Formações Botucatu e Rio do
Rastro. A avaliação da resistência à compressão simples das rochas ainda será feita na
continuação desta pesquisa, a fim de realizar uma comparação entre resistência à
compressão simples da rocha e tensão de adesão.
Em nível preliminar de projeto, a NBR 5629 (ABNT, 2006) recomenda que se utilize
como tensão de aderência o menor entre os dois valores: 1/30 da resistência à compressão
simples da rocha e 1/30 da resistência à compressão simples da nata de cimento. O valor

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calculado de 1/30 da nata de cimento da moldagem realizada é de 0,94 MPa. Portanto, a
tensão de adesão avaliada para o arenito é de 0,90 vez este valor de referência, enquanto a
tensão de adesão avaliada para o conglomerado é de 1,90 vez o referencial normativo. No
entanto, a avaliação da resistência à compressão simples das rochas é necessária, e será
realizada na continuação desta pesquisa, a fim de poder realizar esta comparação completa
com a sugestão para estimativas preliminares de projeto estipulada pela norma brasileira de
execução de tirantes.
Salienta-se, portanto, o caráter parcial do presente trabalho. Serão realizados
estudos aprofundados a respeito das rochas avaliadas, assim como mais ensaios CCBT. No
entanto, os valores encontrados demonstram informações interessantes e coerentes a
respeito das litologias avaliadas, corroborando para a validação da metodologia.
A Tabela 4 resume os valores dos três trabalhos (incluindo este) até então realizados
com a metodologia CCBT. Destaca-se o comparativo com ensaios de arrancamento
realizado por Macedo (1993) e Floriano (2014).

Tabela 4 – Valores de adesão de todos os trabalhos até então realizados


qs SW
Material médio médio qs/SW
(MPa) (MPa)
Dacito* (Formação Serra Geral) 1,70 1,27 1,34
Basalto* (Formação Serra Geral) 4,40 1,55 2,84
Arenito subarcosiano** (Formação Botucatu) 0,39 0,38 1,03
Arenito lítico fino** (Formação Rio do Rastro) 0,40 0,37 1,08
Arenito (Formação Varzinha) - 0,85 -
Conglomerado (Formação Varzinha) - 1,79 -
* Dados obtidos de Macedo (1993)
**Dados obtidos de Floriano (2014)

AGRADECIMENTOS
À CAPES e ao CNPq pelas bolsas de estudo que viabilizaram este trabalho. Também aos
colegas dos laboratórios da Universidade Federal do Rio Grande do Sul pela colaboração
com a pesquisa: LEME, LPM e LAGEOtec. Ao Prof. Dr. Andre Zingano pela disponibilização
dos testemunhos de rocha utilizados.

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REFERÊNCIAS

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exemplos do Supergrupo Camaquã (RS) e do Grupo Caacupé (Paraguai Oriental).
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