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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA

REOLOGIA E TECNOLOGIA DO CONCRETO – AULAS 3 E 4

ENGENHARIA CIVIL – CCET – CAMPUS CIDAO

Dosagem de Concreto – Abordagem Inicial


Processo de obtenção da combinação correta e bom proporcionamento de cimento,
agregados, água, adições, aditivos e fibras com o objetivo de se obter um compósito
que atenda a determinados requisitos físicos, químicos e mecânicos, ao menor custo
possível.
Dosar concretos pode ser entendido como administrar aspectos conflitantes, já que a
maior economia nem sempre está associada à melhor trabalhabilidade, à maior
durabilidade ou até mesmo à maior resistência mecânica.
Dosar é uma tarefa de contrabalancear a ciência e a arte, contrapondo parâmetros objetivos
e subjetivos.
O desafio na dosagem do concreto: Dentro de um volume fixo não se pode alterar um
componente independentemente dos outros componentes.
Certas propriedades desejadas do concreto podem ser afetadas de maneira oposta pela
alteração de uma variável específica.
Por exemplo, o acréscimo de água a uma mistura de concreto, para uma dada
quantidade de cimento, melhorará a fluidez do concreto no estado fresco, mas, ao
mesmo tempo, poderá reduzir a sua resistência mecânica quando no estado
endurecido.

Definição de Dosagem

Características dos materiais Condições de trabalho, como


componentes do concreto, como especificações do projeto estrutural
+
porosidade do agregado, classe de e equipamento para manipular o
resistência ao cimento. concreto.

Variáveis a serem controladas pelo responsável pela dosagem:
Relação agregado
Relação pasta de Relação Uso de adições
miúdo/agregado
cimento/agregado água/cimento na minerais, aditivos
graúdo dos
na mistura pasta de cimento químicos e fibras
agregados
Tipos de Dosagem

Métodos Experimentais

• Pressupõem experiência específica, vinculando a precisão dos resultados ao emprego


dos materiais previamente escolhidos;
• Nestes casos, a curva de Abrams obtida tem validade apenas para os materiais
empregados no estudo;
• Eventuais mudanças nos materiais e/ou nas características necessárias ao concreto
pode exigir correções na dosagem
• Pode ser um método preciso, conduz a traços econômicos com resultados confiáveis.

Métodos Empíricos

• Parte de simplificações, adotando valores médios para as características dos agregados


e do cimento;
• Relação a/c e outras características do concreto são valores tabelados obtidos de
instituições ou laboratórios com vasta experiência;
• Por ser simplificado, conduz a superestimação dos traços em favor da segurança,
gerando concretos de maior consumo de cimento e, por consequência, custo mais
elevado;
• Justifica-se em obras com pequeno volume de concreto, em cálculo de orçamentos ou
como verificação de concretos que estão sendo produzidos.

Atenção: não se utilizam métodos empíricos para concreto estrutural.

Princípios de um Processo de Dosagem


1. Trabalhabilidade
2. Resistência Mecânica
3. Durabilidade
4. Distribuição Granulométrica Ideal dos Agregados
Tudo isso conta para redução de custo.

Trabalhabilidade
Determina a facilidade com que uma mistura de concreto pode ser manipulada sem que
haja segregação prejudicial, pois tem efeito direto na capacidade de bombeamento e na
construtibilidade.
Como mensurar a trabalhabilidade?
Avaliar este parâmetro consiste em analisar um aspecto objetivo (mensurável) que é a
consistência (facilidade de fluidez), com um aspecto de interpretação subjetiva
(observável visualmente) que é a coesão (resistência à segregação).

• Ambas as propriedades tendem a ser afetadas de maneira oposta quando a água é


adicionada a uma mistura de concreto.
• Ou seja, tanto mais trabalhável será um concreto quanto mais fluido, desde que não
ocorra a separação de seus constituintes.

Para avaliar a trabalhabilidade do concreto lança-se mão do ensaio de consistência.

• Ensaio de consistência: Serve como uma aproximação da medida efetiva da


trabalhabilidade. Os processos de medida baseiam-se na aplicação de uma determinada
força e a verificação da deformação causada.

ABNT NBR 16889:2020 - Concreto - Determinação da consistência pelo abatimento do


tronco de cone.

Também conhecido por “slump test”


Procedimento:
1. Nivelamento da base;
2. Umedecimento dos instrumentos;
3. Preenchimento do molde com concreto;
4. Apoiamento do concreto em três camadas: aplicam-se 25 golpes distribuídos
uniformemente em toda a superfície de camada de concreto, sem interferência na
camada anterior.

5. Retirada do cone;
6. Medição do abatimento (mm): é a diferença entre a altura da forma e o tronco
abatido de concreto.

Todo esse procedimento deve ser realizado sem interrupções em até 150 s. O tempo
desde a coleta da amostra até o desmolde (final do ensaio) deve ocorrer em até 10
minutos.

Formas de abatimento:

• Verdadeiro: Quando o concreto se abate uniformemente e simetricamente;


• Cortante: Quando uma das metades do cone de concreto desliza em relação à outra
segundo um plano inclinado;
• Com desagregação: Quando o cone de concreto desmorona com separação dos
agregados maiores.
Geralmente os abatimentos cortantes e com desagregação decorrem de concretos
muito úmidos e pobres.
Fatores considerados na determinação da trabalhabilidade:
• Aspectos culturais (equipe acostumada a executar um determinado tipo de obra);
• Características específicas da obra (tipo de peças estruturais, densidade da armadura,
arquitetura, etc);
• Tipo de mistura do concreto;
• Modalidade de transporte do concreto;
• Forma de lançamento do concreto;
• Forma de cura do concreto;
• Procedimentos de adensamento e acabamento do concreto.
ABNT NBR 8953:2015 – Concreto para fins estruturais – Classificação pela massa
específica, por grupos de resistência e consistência

Os concretos devem ser classificados por:

• Massa específica seca;


• Classe de resistência;
• Classe de consistência

Ex.: C25 S100


Sobre a Massa Específica Seca

• Concreto normal (C): massa específica seca entre 2000 e 2800 kg/m³;
• Concreto leve (CL): massa específica seca inferior a 2000 kg/m³;
• Concreto pesado ou denso (CD): massa específica seca superior a 2800 kg/m³.
Resistência Mecânica
Capacidade do material de suportar as cargas aplicadas sobre ele, sem que o mesmo
entre em ruína.
De forma prática, considera-se a resistência do concreto como a carga máxima aplicada
sobre um corpo de prova.

Resistência e impermeabilidade da pasta de cimento hidratada estão mutuamente


relacionadas através da porosidade capilar, que é controlada pela relação a/c e pelo
grau de hidratação.

Em operações rotineiras para a especificação da dosagem, apenas a consistência e a


resistência do concreto são especificadas no cálculo.

E a durabilidade?
O projeto de estruturas de concreto armado considera uma resistência à compressão
estipulada dentro dos critérios de durabilidade apresentados pela ABNT NBR 6118,
também constantes na ABNT NBR 12655.

• ABNT NBR 12655:2022 - Concreto de cimento Portland - Preparo, controle,


recebimento e aceitação - Procedimento
• ABNT NBR 6118:2014 - Projeto de estruturas de concreto — Procedimento
Lei de Abrams
A resistência do concreto depende de vários fatores, sendo que o mais importante é a
relação água/cimento (a/c): quanto menor for esta relação, maior será a resistência
do concreto.
Quem primeiro conheceu esta relação de dependência foi Abrams, cujo trabalho foi
publicado em 1919. Abrams demonstrou, baseando-se em pesquisas laboratoriais, que
a resistência do concreto dependia das propriedades da pasta de cimento endurecida
que, por sua vez, era uma função direta da relação a/c.
A chamada Lei de Abrams é utilizada para a formação da curva de correlação da relação
a/c em função de uma dada resistência à compressão do concreto para uma determinada
idade.
A Curva de Abrams fornece a relação água/cimento (a/c) do concreto em função da
resistência à compressão do concreto aos 28 dias (fc,28) e do tipo e classe do cimento.
Fatores que podem interferir nos resultados de resistência do concreto.
Maiores variações determinam a necessidade de se trabalhar com uma resistência
média de controle mais elevada que, para ser atingida, exige maiores consumos de
cimento (menor a/c).

Condições de preparo do concreto – ABNT NBR 12655

Resistência Média do Concreto para fins de Dosagem (fcm,j)


A resistência prevista para a dosagem não é diretamente o fck e sim o fcm,j.
Nos projetos das estruturas de concreto define-se para o concreto uma resistência de
projeto, denominada resistência característica de projeto (fck,proj).
A ABNT NBR 6118 estabelece que o limite máximo de corpos-de-prova com resistência
inferior ao fck é 5% (dispersos na estrutura).
Para o estudo da dosagem trabalha-se com a resistência de dosagem (fcm,j) que é
definida em função da variação prevista para a resistência do concreto.
fck: Valor de resistência à compressão acima do qual se espera ter 95% de todos os
resultados dos ensaios da amostragem feita.

Resistência Média do Concreto para fins de Dosagem (fcm,j)


A grandeza das variações na resistência dos corpos-de-prova de concreto depende do
grau de controle exercido sobre seus materiais componentes, da preparação do concreto
e dos ensaios.

Quanto maior for a variação da resistência de um concreto, maior será o desvio padrão
e, consequentemente, mais afastada de fck deverá situar-se a média fcm,j
Para determinação da fcm,j adota-se a equação recomendada na ABNT NBR 12655:

𝑓 , = 𝑓 + 1,65 ⋅ 𝑆

Onde:

 fcm,j = resistência média do concreto à compressão a j dias de idade, em MPa;


 fck = resistência característica do concreto à compressão, em MPa;
 Sd = desvio-padrão da dosagem, em MPa.
Sd (desvio-padrão) depende do nível de precisão na medida dos agregados e da
assistência técnica na execução dos serviços.

• Controle rigoroso (Sd = 4,0 MPa): profissional especializado em tecnologia do


concreto, traço obtido inteiramente em massa, controle de medição de água e
umidade.
• Controle razoável (Sd = 5,5 MPa): profissional habilitado permanente na obra, traço
misto (cimento em massa e demais materiais em volume), bom controle de umidade.
• Controle regular (Sd = 7,0 MPa): execução da obra sob orientação de profissional
habilitado, traço misto sem controle de massa e umidade.

Durabilidade
relação a/c
durabilidade
→ permeabilidade → porosidade → { condições de produção do
do concreto
concreto (adensamento e cura)

Distribuição Granulométrica Ideal dos Agregados


Teoria de empacotamento de partículas: frações de partículas de tamanhos diferentes
pode gerar um sistema onde há diminuição significativa de vazios.

Para o sistema se tornar uma suspensão onde há a inserção de um fluido entre os vazios
para afastar as partículas e fazê-las se moverem, o controle dos vazios entre as
partículas é fundamental, pois pode permitir que a fluidez da suspensão seja atingida
com quantidades significativamente menores do fluido
O empacotamento é importante para garantir a obtenção de uma mistura com a maior
densidade possível, exigindo o menor consumo possível de pasta para a obtenção da
resistência mecânica desejada.
Cuidado:
a) partículas aglomeradas, com capacidade de ligar a suspensão diminuída e obstrução
ao fluxo;
b) partículas desaglomeradas;
c) partículas desaglomeradas com maior distanciamento.

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