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07/03/2023

Universidade Estadual Vale do Acaraú


Centro de Ciências Exatas e Tecnologia
Curso de Engenharia Civil
Disciplina: Reologia e Tecnologia do Concreto

DOSAGEM DO CONCRETO:
ABORDAGEM INICIAL

Prof.ª Kelvya Moreira


Eng.ª Civil, Mestre em Construção Civil, Dra em
Engenharia e Ciência de Materiais

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Sobral - CE, 2023

DEFINIÇÃO DE DOSAGEM

Processo de obtenção da combinação correta e bom proporcionamento de


cimento, agregados, água, adições, aditivos e fibras com o objetivo de se
obter um compósito que atenda a determinados requisitos físicos, químicos e
mecânicos, ao menor custo possível.

Dosar concretos pode ser entendido como administrar aspectos conflitantes,


já que a maior economia nem sempre está associada à melhor
trabalhabilidade, à maior durabilidade ou até mesmo à maior resistência
mecânica.

Dosar é uma tarefa de


contrabalancear a ciência e a arte,
contrapondo parâmetros objetivos
e subjetivos.
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DEFINIÇÃO DE DOSAGEM

O desafio na dosagem do concreto:


Dentro de um volume fixo não se pode alterar
um componente independentemente dos outros
componentes.

Certas propriedades desejadas do concreto


podem ser afetadas de maneira oposta pela
alteração de uma variável específica.

O acréscimo de água a uma mistura de concreto, para


EXEMPLO

uma dada quantidade de cimento, melhorará a fluidez


do concreto no estado fresco, mas, ao mesmo tempo,
poderá reduzir a sua resistência mecânica quando no
estado endurecido.
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DEFINIÇÃO DE DOSAGEM

Características dos materiais Condições de trabalho, como


componentes do concreto, como especificações do projeto estrutural
porosidade do agregado, classe de e equipamento para manipular o
resistência do cimento. concreto.

Variáveis a serem controladas pelo responsável pela dosagem:


Relação pasta de Relação Relação agregado Uso de adições
cimento/agregado água/cimento na miúdo/agregado minerais, aditivos
na mistura pasta de cimento graúdo dos químicos e fibras
agregados

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TIPOS DE DOSAGEM

MÉTODOS EXPERIMENTAIS MÉTODOS EMPÍRICOS

- Pressupõem experiência específica, - Parte de simplificações, adotando


vinculando a precisão dos resultados ao valores médios para as características dos
emprego dos materiais previamente agregados e do cimento;
escolhidos; - Relação a/c e outras características do
- Neste casos, a curva de Abrams obtida concreto são valores tabelados obtidos de
tem validade apenas para os materiais instituições ou laboratórios com vasta
empregados no estudo; experiência;
- Por ser simplificado, conduz a
- Eventuais mudanças nos materiais e/ou superestimação dos traços em favor da
nas características necessárias ao segurança, gerando concretos de maior
concreto pode exigir correções na consumo de cimento e, por
dosagem; consequência, custo mais elevado;
- Por ser um método preciso, conduz a - Justifica-se em obras com pequeno
traços econômicos com resultados volume de concreto, em cálculo de
confiáveis. orçamentos ou como verificação de
concretos que estão sendo produzidos.
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TIPOS DE DOSAGEM

MÉTODOS EXPERIMENTAIS MÉTODOS EMPÍRICOS

- Pressupõem experiência específica, - Parte de simplificações, adotando


vinculando a precisão dos resultados ao valores médios para as características dos
emprego dos materiais previamente agregados e do cimento;
escolhidos; - Relação a/c e outras características do
- Neste casos, a curva de Abrams obtida concreto são valores tabelados obtidos de
tem validade apenas para os materiais instituições ou laboratórios com vasta
empregados no estudo; experiência;
- Por ser simplificado, conduz a
- Eventuais mudanças nos materiais e/ou superestimação dos traços em favor da
nas características necessárias ao segurança, gerando concretos de maior
concreto pode exigir correções na consumo de cimento e, por
dosagem; consequência, custo mais elevado;
- Por ser um método preciso, conduz a - Justifica-se em obras com pequeno
traços econômicos com resultados volume de concreto, em cálculo de
confiáveis. orçamentos ou como verificação de
concretos que estão sendo produzidos.
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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

1) TRABALHABILIDADE

2) RESISTÊNCIA MECÂNICA

3) DURABILIDADE

4) DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA IDEAL DOS AGREGADOS

PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

1) TRABALHABILIDADE
Determina a facilidade com que uma mistura de concreto pode ser
manipulada sem que haja segregação prejudicial, pois tem efeito direto na
capacidade de bombeamento e na construtibilidade.

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

Como mensurar a trabalhabilidade???


Avaliar este parâmetro consiste em analisar um aspecto objetivo (mensurável)
que é a consistência, com um aspecto de interpretação subjetiva (observável
visualmente) que é a coesão.

consistência coesão
(facilidade de fluidez) (resistência à segregação)

 Ambas as propriedades tendem a ser afetadas de maneira


oposta quando a água é adicionada a uma mistura de
concreto.
 Ou seja, tanto mais trabalhável será um concreto quanto mais
fluido, desde que não ocorra a separação de seus
constituintes.
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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

Para avaliar a trabalhabilidade do concreto lança-se mão do ensaio de


consistência.

Ensaio de consistência: Serve como uma


aproximação da medida efetiva da
trabalhabilidade.
Os processos de medida baseiam-se na
aplicação de uma determinada força e a
verificação da deformação causada.

ABNT NBR 16889:2020


Concreto - Determinação da consistência
pelo abatimento do tronco de cone.

Também conhecido por “slump test”.

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

PROCEDIMENTO:
1) Nivelamento da base
2) Umedecimento dos instrumentos
3) Preenchimento do molde com concreto

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

PROCEDIMENTO:
4) Apiloamento do concreto em três camadas: aplicam-se 25 golpes
distribuídos uniformemente em toda a superfície de cada camada de
concreto, sem interferência na camada anterior.

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM


Todo este procedimento deve ser realizado sem
interrupções em até 150 s.
PROCEDIMENTO:
O tempo desde a coleta da amostra até o desmolde
(final do ensaio) deve ocorrer em até 10 min.
5) Retirada do cone
6) Medição do abatimento (mm): é a diferença entre a altura da fôrma e o
tronco abatido de concreto.

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

Formas de abatimento do concreto:

Quando o concreto se Quando uma das Quando o cone de


abate uniforme e metades do cone de concreto desmorona
simetricamente. concreto desliza em com separação dos
relação a outra agregados maiores.
segundo um plano
inclinado.
Geralmente, os abatimentos cortantes e com desagregação decorrem de
concretos muito úmidos e pobres. 14

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

Fatores considerados na determinação da trabalhabilidade:

- Aspectos culturais (equipe acostumada a executar um determinado tipo de


obra);
- Características específicas da obra (tipo de peças estruturais, densidade da
armadura, arquitetura, etc);
- Tipo de mistura do concreto;
- Modalidade de transporte do concreto;
- Forma de lançamento do concreto;
- Forma de cura do concreto;
- Procedimentos de adensamento e acabamento do concreto.

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

ABNT NBR 8953:2015 Concreto para fins estruturais - Classificação pela massa
específica, por grupos de resistência e consistência.

Tabela 2 – Classes de consistência


Abatimento
Classe Aplicações típicas
mm
S10 10 ≤ A < 50 Concreto extrusado, vibroprensado ou centrifugado
S50 50 ≤ A < 100 Alguns tipos de pavimentos e de elementos de fundações
Elementos estruturais, com lançamento convencional do
S100 100 ≤ A < 160
concreto
Elementos estruturais com lançamento bombeado do
S160 160 ≤ A < 220
concreto
Elementos estruturais esbeltos ou com alta densidade de
S220 A ≥ 220
armaduras
NOTA 1 De comum acordo entre as partes, podem ser criadas classes especiais de consistência,
explicitando a respectiva faixa de variação do abatimento.
NOTA 2 Os exemplos desta Tabela são ilustrativos e não abrangem todos os tipos de aplicações.

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

ABNT NBR 8953:2015 Concreto para fins estruturais - Classificação pela massa
específica, por grupos de resistência e consistência.

Os concretos devem ser classificados por:


 Massa específica seca
 Classe de resistência
 Classe de consistência

Ex.: C25 S100

SOBRE A MASSA ESPECÍFICA SECA:

 Concreto normal (C): massa específica seca entre 2000 e 2800 kg/m³
 Concreto leve (CL): massa específica seca inferior a 2000 kg/m³
 Concreto pesado ou denso (CD): massa específica seca superior a 2800 kg/m³

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM


ABNT NBR 8953:2015 Concreto para fins estruturais - Classificação pela massa
específica, por grupos de resistência e consistência.
Tabela 1 – Classes de resistência de concretos estruturais.
Concreto estrutural de resistência normal

Concreto estrutural de alta resistência

Resistência Resistência
Classe de resistência característica à Classe de resistência característica à
Grupo I compressão Grupo II compressão
MPa MPa
C20 20 C55 55
C25 25 C60 60
C30 30 C70 70
C35 35 C80 80
C40 40 C90 90
C45 45
C100 100
C50 50

Concreto estrutural especial


OBS: Letra C compreende os concretos normais com massa específica compreendida entre 2000
kg/m³ e 2800 kg/m³. O Nº corresponde ao valor do fck, expresso em MPa.

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

2) RESISTÊNCIA MECÂNICA

Capacidade do material de suportar as cargas aplicadas sobre


ele, sem que o mesmo entre em ruína.

De forma prática, considera-se a


resistência do concreto como a carga
máxima aplicada sobre um corpo de
prova.

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

2) RESISTÊNCIA MECÂNICA
Resistência e impermeabilidade da pasta de cimento hidratada estão
mutuamente relacionadas através da porosidade capilar, que é controlada
pela relação a/c e pelo grau de hidratação.

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

Em operações rotineiras para a especificação da dosagem, apenas a


consistência e a resistência do concreto são especificadas no cálculo.

O projeto de estruturas de concreto armado considera uma


resistência à compressão estipulada dentro dos critérios de
durabilidade apresentados pela ABNT NBR 6118, também
constantes na ABNT NBR 12655.

ABNT NBR 6118:2014 - Projeto de estruturas de concreto — Procedimento


ABNT NBR 12655:2022 - Concreto de cimento Portland - Preparo, controle,
recebimento e aceitação - Procedimento
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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

ABNT NBR 6118 e ABNT NBR 12655

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

LEI DE ABRAMS

A resistência do concreto depende de vários fatores, sendo que o mais


importante é a relação água/cimento (a/c): quanto menor for esta relação,
maior será a resistência do concreto.
Quem primeiro conheceu esta relação de dependência foi Abrams, cujo trabalho
foi publicado em 1919. Abrams demonstrou, baseando-se em pesquisas
laboratoriais, que a resistência do concreto dependia das propriedades da pasta
de cimento endurecida que, por sua vez, era uma função direta da relação a/c.
A chamada Lei de Abrams é utilizada para a formação da curva de correlação da
relação a/c em função de uma dada resistência à compressão do concreto para
uma determinada idade.

A Curva de Abrams fornece a relação água/cimento (a/c) do concreto em


função da resistência à compressão do concreto aos 28 dias (fc28) e do tipo e
classe do cimento. 24

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM


EXEMPLO: Cimento CP II-E-32 e Concreto com fc28 = 25 MPa

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

Fatores que podem interferir nos resultados de resistência do concreto.

Maiores variações
determinam a
necessidade de se
trabalhar com uma
resistência média de
controle mais elevada
que, para ser atingida,
exige maiores consumos
de cimento (menor a/c).

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

Condições de preparo do concreto – ABNT NBR 12655

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

RESISTÊNCIA MÉDIA DO CONCRETO PARA FINS DE DOSAGEM (fcm,j)

A resistência prevista para a dosagem não é diretamente o fck e


sim o fcm,j.

Nos projetos das estruturas de concreto define-se para o concreto uma


resistência de projeto, denominada resistência característica de projeto
(fckproj).

A ABNT NBR 6118 estabelece que o limite máximo de


corpos-de-prova com resistência inferior ao fck é 5%
(dispersos na estrutura).

Para o estudo da dosagem trabalha-se com a resistência de dosagem (fcm,j)


que é definida em função da variação prevista para a resistência do concreto.
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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

fck
Valor de resistência à compressão acima do qual se espera ter
95% de todos os resultados dos ensaios da amostragem feita.

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

RESISTÊNCIA MÉDIA DO CONCRETO PARA FINS DE DOSAGEM (fcm,j)


A grandeza das variações na resistência dos corpos-de-prova de concreto
depende do grau de controle exercido sobre seus materiais componentes, da
preparação do concreto e dos ensaios.

Sd = desvio-padrão da dosagem
Quanto maior for a
variação da
resistência de um
concreto, maior
será o desvio
padrão e,
consequentemente,
mais afastada de fck
deverá situar-se a
média fcm,j.
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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

RESISTÊNCIA MÉDIA DO CONCRETO PARA FINS DE DOSAGEM (fcm,j)

Para determinação da fcm,j adota-se a equação recomendada na ABNT NBR 12655:

onde:
fcm,j = resistência média do concreto à compressão a j dias de idade, em MPa;
fck = resistência característica do concreto à compressão, em MPa;
Sd = desvio-padrão da dosagem, em MPa.

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PRINCÍPIOS DE UM PROCESSO DE DOSAGEM

RESISTÊNCIA MÉDIA DO CONCRETO PARA FINS DE DOSAGEM (fcm,j)

Sd (desvio-padrão) depende do nível de precisão na medida dos agregados e da


assistência técnica na execução dos serviços.

Controle rigoroso (Sd = 4,0 MPa): profissional especializado em tecnologia


do concreto, traço obtido inteiramente em massa, controle de medição de
água e umidade.

Controle razoável (Sd = 5,5 MPa): profissional habilitado permanente na


obra, traço misto (cimento em massa e demais materiais em volume), bom
controle de umidade.

Controle regular (Sd = 7,0 MPa): execução da obra sob orientação de


profissional habilitado, traço misto sem controle de massa e umidade.

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