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u pesquisa e desenvolvimento

DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2020.98.0009

Controle contínuo da resistência


de estruturas de concreto pelo
método da maturidade
RAMOEL SERAFINI RUBENS CURTI ROBERT SOMOGYI
DIMAS ALAN STRAUSS RAMBO Associação Brasileira do Cimento Portland (ABCP) LiftCargas Guindastes e Operações Técnicas
ANTONIO DOMINGUES DE FIGUEIREDO
Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP)

RESUMO apresentados, é necessário entender que os dois corpos de prova deverão ser

A
p resenta-se e se comenta existe um distanciamento das caracterís- ensaiados com 28 dias de idade para
em linhas gerais o Método ticas do material recebido e amostrado comparar o valor obtido com o valor de
da Maturidade para o con- em obra em relação àquelas do material resistência característica especificado
trole da resistência à compressão das que é efetivamente aplicado na estrutura. em projeto. Pode-se observar, então,
estruturas de concreto. Aplica-se o mé- Essa não equivalência ocorre em virtude que o concreto é um material cujo prin-
todo em um estudo de caso de uma laje das diferenças ambientais, de exposição cipal parâmetro de controle é verificado
armada de um prédio residencial, que térmica, de geometria e volumetria, bem após, aproximadamente, um mês de
envolveu a fase de calibração (correlação como oriundas do processo executivo a idade. Esta diferença entre o tempo de
entre temperaturas e tempos de cura de que o concreto está exposto, como in- execução e o tempo de ensaio faz com
corpos de prova do concreto com suas terrupções no lançamento. Os fatores ci- que o controle da qualidade da estrutu-
resistências à compressão) e a fase de tados influenciam a resistência mecânica ra seja reativo e possua grande nível de
validação (correlação das temperaturas e final do concreto em campo – uma vez atraso. O problema se agrava quando
tempos de cura da estrutura com suas que as reações de hidratação ocorrem de a intervenção na estrutura é dificultada
resistências à compressão). Conclui-se maneira contínua e em condições diferen- pelaexistência de outros andares acima
pelo uso do método da maturidade na tes para cada situação – sendo isso um dos elementos não conformes. Nesta
avaliação da resistência à compressão dos primeiros pontos críticos na metodo- condição, a demolição de elementos de-
do concreto aplicado na estrutura em logia de controle tecnológico do concreto feituosos é frequentemente considera-
substituição parcial ou total à moldagem defendido pela normativa. da inviável, restando um longo processo
e rompimentos de corpos de prova. A segunda deficiência que pode ser de avaliação da resistência residual da
apontada está ligada ao processo de estrutura e, em alguns casos, a realiza-
1. INTRODUÇÃO verificação da resistência à compressão ção de onerosos procedimentos de re-
Atualmente, o preparo, controle, rece- pela moldagem de corpos de prova. No forço estrutural. Este cenário é fonte de
bimento e aceitação do concreto empre- caso mais rigoroso previsto pela norma um elevado nível de estresse e dúvida
gado nas estruturas brasileiras são realiza- ABNT NBR 12655:2015, definido como no meio técnico nacional, uma vez que
dos segundo as premissas estabelecidas controle do concreto por amostragem parte significativa dos concretos atual-
na norma ABNT NBR 12655:2015. Em- total (100%), prevê-se a moldagem de mente produzidos no Brasil não atinge
bora a normativa seja bastante recente, dois corpos de prova por betonada para a resistência característica especificada
ela não se encontra isenta de deficiências. verificação da sua conformidade com em projeto, reduzindo o nível de confia-
Para o entendimento dos conceitos a ser os requisitos de projeto. Neste caso, bilidade da estrutura (Santiago, 2011).

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O terceiro aspecto negativo é que a coramento das fôrmas do concreto. Além ciam a dinâmica de hidratação e, conse-
norma ABNT NBR 12655:2015 não es- disso, como a estrutura de concreto em quentemente, a resistência mecânica do
pecifica o método para controle periódico campo sofre dos efeitos acima mencio- concreto é a temperatura de cura. Con-
do módulo de deformação do concreto. nados, o método da maturidade permite cretos curados em temperaturas mais ele-
Nesse contexto, entra em cena a norma um acompanhamento mais precoce e vadas desenvolvem resistência mecânica
ABNT NBR 6118:2014, que preconiza a representativo da evolução do ganho de mais rapidamente nas primeiras idades,
realização de verificações a partir da es- resistência do concreto. entretanto não obtêm ganho significativo
timativa do módulo de elasticidade. Essa Há outras aplicações específicas que na resistência mecânica final. Concretos
estimativa prevê, inicialmente, a corre- têm o seu sistema de controle diferencia- curados em temperaturas menores ob-
lação do módulo de elasticidade com a do em relação à construção de edifícios. têm menores resistências mecânicas ini-
resistência à compressão, sendo útil em Este é o caso da produção de pré-mol- ciais e desenvolvem um maior ganho de
termos de previsão de comportamento, dados ou pré-fabricados. No caso da resistência ao longo do tempo. Este efei-
porém não aplicável, ou mesmo aceitável, produção desses elementos, há a forte to é conhecido na literatura como efeito
para o controle da estrutura. Dessa forma, necessidade de se obter um controle da “crossover”. Dessa forma, as resistências
o controle de deformação da estrutura resistência de desforma, o qual é um pa- desenvolvidas por concretos moldados
acaba sendo realizado de modo indireto râmetro importante para que se evitem e armazenados em laboratório divergem
e adotando parâmetros, em grande par- perdas por danos gerados durante este daquelas desenvolvidas em condições
te, conservadores. Por fim, não ocorre a procedimento. A resistência de desforma reais de aplicação. Além disso, diferentes
realização de planos de controle do mó- é crítica para a condição de produção e condições de exposição a intempéries –
dulo de elasticidade do concreto no estrito pode ser o principal elemento definidor da como frio, chuva, vento, umidade relativa
senso do termo. O que ocorre, então, é produtividade da fábrica. Por essa razão, do ar – impactam diretamente na tempe-
uma verificação esparsa da conformida- o controle dessa propriedade é funda- ratura do concreto e, consequentemente,
de do material através de ensaios, com mental para a qualidade dos elementos e, na sua resistência.
amostragem numa frequência muito bai- também, para a produtividade da indús- Levando em conta o cenário apresen-
xa, que, em geral, apenas levanta dúvidas tria. No caso dos produtos pré-fabricados, tado, este artigo tem como objetivo a ob-
improdutivas com relação à conformidade há a possibilidade de pré-qualificação do tenção da curva de correlação do método
da estrutura, sem permitir qualquer tipo produto. Ou seja, os elementos podem da maturidade para a posterior estimativa
de intervenção. ser verificados previamente quanto à con- da resistência à compressão do concreto,
Portanto, na eventualidade de se viabi- formidade do concreto antes mesmo de em uma obra de concreto armado situa-
lizar o controle do módulo de elasticidade serem enviados à obra. A prática usual é da na cidade de São Paulo. A técnica da
em conjunto com o da resistência, haveria que esta verificação ocorra com 28 dias maturidade foi aplicada através de mo-
a possibilidade de viabilizar um controle de idade, o que significa um grande tem- nitoramento remoto e em tempo real na
efetivo das condições do concreto na es- po de estocagem, o que nem sempre é estrutura avaliada.
trutura. No caso de utilização do método interessante. Assim, há também a neces-
de maturidade, conforme prescrito pela sidade de controle prévio de evolução da 2. O MÉTODO DA MATURIDADE
norma ASTM C1074-11, seria possível resistência, dado que, em frequentes ca- Como a reação de hidratação do ci-
estabelecer os parâmetros intermediários sos, os componentes chegam à obra an- mento possui um caráter exotérmico, há
que indicariam uma evolução inadequa- tes da idade indicada para a verificação da um aumento de temperatura do material
da de resistência do concreto e, dessa conformidade da resistência especificada à medida que ocorre. A evolução da re-
maneira, poder-se-ia intervir na estrutura em projeto. Dessa forma, o método da sistência e do módulo de deformação do
de maneira mais imediata, evitando-se a maturidade pode ter dupla vantagem em concreto irá depender do grau de hidra-
construção de mais andares acima da- sua aplicação, garantindo o controle pre- tação do cimento, sendo que este grau
quele com concreto não conforme. Outro ciso da idade de desforma e, concomitan- de hidratação se associa à maturidade do
aspecto de grande relevo está correlacio- temente, da pré-qualificação do produto concreto. Ou seja, quanto mais maduro
nado com o controle da resistência e mó- quanto às exigências de projeto. for o concreto, mais hidratado é o cimen-
dulo de elasticidade para retirada de es- Um dos principais fatores que influen- to e, consequentemente, mais resistente

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será o concreto. Logo, o método da ma- Sabendo dessas restrições, diversos pes- zar o ciclo produtivo sem riscos de se-
turidade é um conjunto de procedimentos quisadores desenvolveram modelos não gurança estrutural. Não somente países
que se utilizam da concepção de que a re- lineares para a abordagem da maturidade. Europeus, mas também países america-
sistência mecânica do concreto pode ser Entre os modelos mais aceitos, encontra- nos vislumbraram as vantagens do uso
relacionada diretamente à temperatura. -se o modelo de Arrhenius. Este modelo do método da maturidade. Os Estados
As duas funções de maturidade mais matemático é equivalente ao apresentado Unidos da América, por exemplo, já utili-
comumente utilizadas para aplicações por Saul, entretanto assume uma relação zavam o método da maturidade no início
envolvendo concreto na construção civil, exponencial entre resistência mecânica e do século XXI, tendo na época instituído
e também recomendadas para controle tempo. Matematicamente, o modelo é (2): protocolos para o método da maturidade
da resistência mecânica à compressão com a intenção de acelerar as obras de
pela norma americana ASTM C-1074:11, 2 construção civil (TIKALSKY et al., 2001).
são o modelo fator tempo-temperatura e Os diversos projetos desenvolvi-
o modelo da idade equivalente em uma Em que t(e) é a idade equivalente na dos com sucesso pelo mundo intei-
dada temperatura. A concepção de que a temperatura especificada Ts(dias ou ho- ro confirmam, portanto, que o método
resistência mecânica do concreto pode- ras); E é a energia aparente de ativação da maturidade é capaz de prover uma
ria ser relacionada à temperatura nasceu (em Kelvin); R é a constante universal dos estimativa mais realista das resistências
na Europa, durante o início da década de gases (em kJ/mol.K); Ta é a temperatura desenvolvidas em campo do que a mol-
50, através do trabalho desenvolvido por aparente (em Kelvin) do concreto no inter- dagem de corpos de prova. Além disso,
Saul (1951). Naquela época, o conceito valo dt; Ts é a temperatura especificada muito comumente o emprego do método
de maturidade apresentado era de que a (em Kelvin); dt é o intervalo de tempo em da maturidade acelera o processo produ-
mesma resistência mecânica seria atingi- dias ou horas. tivo, permite a liberação para atividades
da por concretos com um mesmo fator Essa metodologia tem sido adotada subsequentes listadas em cronograma e
tempo-temperatura, também chamado com sucesso na Europa por mais de 30 possibilita a rápida tomada de decisão em
de maturidade. Matematicamente, o mo- anos, principalmente com a intenção de caso de não conformidades com o con-
delo é (1): averiguar as resistências iniciais do con- creto – algo que pelo método tradicional,
creto (LAPANTE et al., 1998; ROUSSEL só é possível após o rompimento dos cor-
1 et. al., 1998).A França, por exemplo, pos de prova.
empregou o método da maturidade em Vale ressaltar que, para o correto
Em que M(t) é o fator tempo-tempe- diversas de suas obras de arte . Espe- 1
emprego da técnica, é necessário des-
ratura (em °C-dias ou °C-horas); Tt é a cial atenção deve ser dada à Ponte de pender esforços para o desenvolvimen-
temperatura (em °C) do concreto na idade Normandie (Pont de Normandie – Fran- to e manutenção das curvas de correla-
t; T0 é a temperatura datum (em °C), na ça), obra em que se utilizou do método ção. Embora para um projeto com uma
qual abaixo dela cessa o ganho de resis- da maturidade de forma extensiva para mesma especificação de concreto, a
tência; e dt é o intervalo de tempo em dias concretos de elevada resistência mecâ- mesma curva de correlação possa ser
ou horas. nica (classe 60MPa, com sílica ativa), de- utilizada, cada dosagem de concreto
O equacionamento deste modelo monstrando elevada resistência nas pri- necessita de uma curva de correlação
assume que o ganho inicial de resistên- meiras idades. Neste projeto, o método única, que varia de acordo com os
cia possui um comportamento linear em da maturidade foi a única metodologia de insumos utilizados – como tipo de ci-
função da temperatura, além de não com- verificação da resistência mecânica. Des- mento, tipo de agregado, composição,
putar eventuais variações de temperatura, sa forma, excluiu-se o uso de cilindros entre outros. Dessa forma, é necessá-
sendo majoritariamente aplicável, portan- de concreto, garantindo uma melhor re- rio um comprometimento elevado com
to, em concretos em que as condições presentatividade das reais resistências o controle de qualidade na produção
de cura não permitam grandes variações. desenvolvidas em campo, além de otimi- do concreto, a fim de serem fornecidos

1 Exemplos: túneis “Pas de l’Escalette’’ (1994); torres de resfriamento da planta nuclear Civaux (1994); túneis Montzjézieu A75 (1995); túneis Rochecardone Duchère (1995);
viaduto Nièvre (1998)

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lotes representativos da dosagem ori- a resistência do concreto; o aumento na
u Tabela 1 – Consumo de materiais
ginal para a curva de correlação e tam- velocidade construtiva de estruturas de
utilizados na dosagem do concreto
bém para o projeto a ser construído. concreto armado; e a maior reatividade
Por fim, faz-se necessária a constante em decisões que envolvam inconformi-
Consumo
verificação da adequação da curva de dades do material aplicado na estrutura. Material
(kg/m3)
correlação para garantir a qualidade Cimento CPV-ARI-RS 350
dos resultados obtidos em campo. 3. MATERIAIS E MÉTODOS Brita 0 157
Sabendo, então, do potencial des- Brita 1 889
ta tecnologia, são necessárias três fa- 3.1 Dosagem do concreto Areia fina 419
ses para a implementação do método Areia industrial 345
da maturidade: O concreto utilizado neste estudo Água 193
a) Fase de calibração: consiste na men- foi fornecido pela Intercement Brasil Superplastificante Mira 96 2,80
suração da evolução da resistência à S.A em caminhão betoneira com volu-
compressão do concreto durante a me útil de 8m3. O consumo de mate-
fase inicial do projeto. Nesta fase é riais utilizados na dosagem do concreto 3.3 Fase de validação do modelo
elaborada a “curva de calibração do pode ser encontrado na Tabela 1.
concreto”, o qual é submetido a cura Após a obtenção da curva de ca-
úmida em laboratório (temperatura 3.2 Fase de calibração libração, foi iniciado o processo de
de ~21°C); validação do método, com instalação
b) Fase de validação: esta fase ocorre Na chegada do concreto à obra, de sensores RFID (Wake Inc) em uma
nas primeiras semanas do projeto. 10corpos de prova cilíndricos de 100 x estrutura de concreto (laje armada) de
Este é o momento de verificar se o 200mm foram moldados conforme pre- um prédio residencial localizado em
modelo calibrado está adequado conizado pela ABNT NBR 12655:2015. Vila Siqueira, zona norte de São Paulo.
com a aplicação a que se destina o Dos corpos de prova moldados em A Figura 1 demonstra o procedimento
concreto. Após a validação do mode- campo, dois foram coletados e instru- adotado para a instrumentação da laje
lo, a curva de calibração se torna a mentados com sensor RFID (Wake Inc) de concreto armado.
curva referência e pode ser utilizada para obtenção do histórico de tempe- Através desta instrumentação fica
com confiabilidade no projeto; raturasdesenvolvidas no concreto. Es- possibilitada a obtenção do histórico
c) Aplicação em campo: utilização do tes corpos de prova, assim como os 8 de temperaturas do concreto em cam-
modelo gerado para estimativa da restantes, foram curados em câmara po para posterior apuração da resis-
resistência à compressão do con- úmida, com temperatura controlada de tência mecânica. Os resultados obti-
creto. Embora o modelo esteja vali- (22±2) °C. Com o objetivo de calibrar dos a partir dos dados dos sensores
dado, deve-se incluir nesta etapa ve- o modelo, o histórico de temperaturas instalados na estrutura foram então
rificações periódicas da adequação dos corpos de prova foi correlacionado comparados com os dados da curva
da curva referência. com as resistências mecânicasà com- de calibração (referência), para ob-
Em suma, o método da maturida- pressão do concreto nas idades de 1, tenção da resistência mecânica pelo
de pode ser aplicado com a função de 3, 7, 14 e 28 dias (dois corpos de prova método da maturidade. A validação
estimar, com confiabilidade, a resistên- por idade). Antes dos ensaios mecâni- ocorre pela comparação entre os re-
cia mecânica do concreto aplicado em cos, todos os corpos de prova tiveram sultados obtidos pelo método e os re-
campo. Algumas das vantagens deste suas superfícies retificadas mecanica- sultados obtidos pelo rompimento de
método são: o monitoramento progres- mente. Os resultados de resistência à corpos de moldados durante a con-
sivo da resistência à compressão do compressão potencial e TTF2 para os cretagem do elemento estrutural. Na
concreto; a dispensa parcial ou total do corpos de prova acima citados estão fase de validação, apenas duas idades
uso de corpos de prova para mensurar apresentados na Tabela 2. foram consideradas, 7 e 28 dias. Para

2 Área sob a curva tempo versus temperatura para uma idade t. Em inglês, TTF (time-temperature factor).

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u Tabela 2 – Resistência à compressão e TTF para o concreto curado em laboratório

Resistência à
Idade TTF_CP1 TTF_CP2 TTF: Média
compressão
(dias) (°C x h) (°C x h) (°C x h) entre os corpos de prova mantidos em
(MPa)
1 18,1 558,275 554,825 556,55 ambiente controlado e os expostos ao
3 36,5 1.645,375 1.639,426 1.642,40 ambiente foi de ~14 ºC. Esses são alguns
7 40,8 3.815,875 3.809,681 3.812,78 dos fatores que influenciam diretamente
14 47,6 7.715,522 7.712,606 7.714,06 a capacidade de corpos de prova molda-
28 50,4 15.268,440 15.314,270 15.291,36 dos e armazenados em laboratório repre-
sentarem, com acurácia, a resistência do
concreto in-loco.
cada idade, 5 exemplares (10 corpos o primeiro caso, observa-se a manuten- A curva de calibração é a curva de
de prova) foram testados. Cabe ressal- ção da temperatura em cerca de 21ºC campo que busca prever a resistência
tar que o método de controle da obra (variação máxima de ± 1). No segundo do concreto utilizado na laje, baseando-
foi o de amostragem total. caso, oregime é composto por ciclos re- -se no TTF obtido em campo pelo mé-
petitivos de aquecimento e resfriamento, todo da maturidade, sendo esta repre-
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO os quais se estendem ao longo dos 28 sentada na Figura 3 por uma linha preta
DOS RESULTADOS dias de cura. Na imagem, é possível in- contínua. Esta curva é a que correlacio-
Através da Figura 2, podem-se ob- clusive observar variações na intensidade na a resistência mecânica em função
servar de forma clara as diferenças dos ciclos. Os mesmos podem ser leves, da temperatura e do tempo de cura do
existentes entre os regimes térmicos como evidenciado entre os dias 16 e 17, concreto e precisa ser verificada perio-
estabelecidos no interior dos concretos ou bruscos, como nos dias 25 a 27. A dicamente para garantir a sua aplicabi-
curados no laboratório e em campo. Para amplitude térmica máxima evidenciada lidade. Os pontos azuis, por sua vez,
representamas resistências dos corpos
de prova que foram moldados em obra,
a partir da mesma matriz de concreto,
obtidas pelos ensaios convencionais
de resistência à compressão. A com-
CABO
paração entre ambas as resistências,
buscando a validação do método da
SENSOR maturidade, apresentou um erro menor
que 13% para idade de 28 dias. As di-
ferenças entre a previsão pelo método
da maturidade e a resistência do con-
creto removido da estrutura (carotado)
IDENTIFICADOR DE RÁDIOFREQUÊNCIA não ultrapassaram 20% para a idade
SEM FIO (SOB A FÔRMA) de 28 dias. A diferença mais significa-
tiva em termos de resistência mecânica
entre os corpos de prova preparados
a partir de testemunhosextraídos e os
corpos de prova moldados durante a
concretagem ocorre devido ao efeito
crossover, discutido de forma mais am-
pla na introdução deste artigo.
Levando em consideração que o
cimento utilizado (CPV-ARI-RS) tem
seu ganho de resistência mecânica de-
u Figura 1
Instalação dos sensores de temperatura junto à armadura da laje senvolvido, em sua maioria, nas primei-
ras idades do processo de hidratação

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pode-se concluir que os resultados da
validação obtiveram uma boa aderên-
cia à curva de maturidade desenvolvida
neste estudo. Evidencia-se, portanto,
que a utilização do método da maturi-
dade como estimativa da resistência à
compressão do concreto a partir de um
histórico de temperaturas é uma alterna-
tiva ao rompimento exaustivo de corpos
de prova. Esta metodologia possibilita,
portanto, o monitoramento progressivo u Figura 2
da resistência à compressão do con- Temperatura dos concretos mantidos em laboratório e in loco ao longo do
período avaliado
creto e a redução, parcial ou total, do
rompimento de corpos de prova para
mensurar a resistência à compressão do no estado de São Paulo. As principais para garantir o controle do concreto, a
concreto. Indiretamente essas medidas conclusões que podem ser verificadas integridade da estrutura ea segurança
podem aumentar a velocidade constru- neste artigo são: de seus ocupantes.
tiva de estruturas de concreto, além de u foi possível evidenciar a significativa
garantir uma maior reatividade em de- diferença entre as temperaturas a
cisões que envolvam inconformidades que estão expostos os corpos de
do material aplicado. Vale destacar que, prova moldados e o concreto em
embora o modelo esteja validado, deve- condições reais de aplicação;
-se incluir verificações periódicas para- u o método da maturidade possibilitou
garantir a manutenção da curva de ma- a avaliação da resistência à com-
turidade obtida. Em suma, o método da pressão do concreto da obra, possi-
maturidade apresentou-se como uma bilitando a liberação, parcial ou total,
possível ferramenta para estimar, com do rompimento de corpos de prova.
confiabilidade, a resistência mecânica Vale destacar que é de suma impor-
do concreto aplicado em campo. tância que as verificações periódicas da
curva de maturidade sejam realizadas e u Figura 3
5. CONCLUSÕES documentadas de forma adequada, e Curva de calibração e os valores
Neste artigo discutiu-se a aplicação de resistência de validação e do
que, em caso de não conformidade, os
concreto removido da estrutura
do método da maturidade em uma obra modelos sejam revistos e adequados

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING MATERIALS. ASTM C1074-11. Standard Practice for Estimating Concrete Strength by the Maturity Method. Philadelphia, 2011.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORAMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6118, Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento, Rio de Janeiro, 2014.
[3] _____. ABNT NBR 12655, Concreto de Cimento Portland – Preparo, Controle, Recebimento e Aceitação – Procedimento, Rio de Janeiro, 2015.
[4] SANTIAGO, W. C. Estudo da (não-)conformidade de concretos produzidos no Brasil esua influência na confiabilidade estrutural. Tese (Doutorado). Escola de
Engenharia de São Carlos. Universidade de São Paulo. 2011.
[5] Saul A.G.A. Principles underlying the steam curing of concrete at atmospheric pressure. Mag Concr Res, 1951, p.127–40.
[6] TIKALSKY, P. J.; SCHEETZ, B.E.; TEPKE, D.G. Using the Concrete Maturity Meter for QA/QC. 2001. Pensnsylvania Department of Transportation, relatório número
PA-2000-026+97-42(22).
[7] LAPANTE, P.; ROUSSEL, S.; LECRUX, S. Maturity-measurement technique: the Arhenius law in the service of construction sites (em francês). In: Concrete, from
material to structure. International RILEM Conference, Arles, France, 1998, p. 323-342.
[8] ROUSSEL, S.; BOURNAZEL, J.P.; LECRUX, S. The maturity method as a means for evaluating strength properies and improving concrete durability (em francês).
In: Science desmatériaux et propriétésdesbétons. Recontre sinternationales, Toulouse, 1998, p. 205-213.

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