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DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2020.98.0009
RESUMO apresentados, é necessário entender que os dois corpos de prova deverão ser
A
p resenta-se e se comenta existe um distanciamento das caracterís- ensaiados com 28 dias de idade para
em linhas gerais o Método ticas do material recebido e amostrado comparar o valor obtido com o valor de
da Maturidade para o con- em obra em relação àquelas do material resistência característica especificado
trole da resistência à compressão das que é efetivamente aplicado na estrutura. em projeto. Pode-se observar, então,
estruturas de concreto. Aplica-se o mé- Essa não equivalência ocorre em virtude que o concreto é um material cujo prin-
todo em um estudo de caso de uma laje das diferenças ambientais, de exposição cipal parâmetro de controle é verificado
armada de um prédio residencial, que térmica, de geometria e volumetria, bem após, aproximadamente, um mês de
envolveu a fase de calibração (correlação como oriundas do processo executivo a idade. Esta diferença entre o tempo de
entre temperaturas e tempos de cura de que o concreto está exposto, como in- execução e o tempo de ensaio faz com
corpos de prova do concreto com suas terrupções no lançamento. Os fatores ci- que o controle da qualidade da estrutu-
resistências à compressão) e a fase de tados influenciam a resistência mecânica ra seja reativo e possua grande nível de
validação (correlação das temperaturas e final do concreto em campo – uma vez atraso. O problema se agrava quando
tempos de cura da estrutura com suas que as reações de hidratação ocorrem de a intervenção na estrutura é dificultada
resistências à compressão). Conclui-se maneira contínua e em condições diferen- pelaexistência de outros andares acima
pelo uso do método da maturidade na tes para cada situação – sendo isso um dos elementos não conformes. Nesta
avaliação da resistência à compressão dos primeiros pontos críticos na metodo- condição, a demolição de elementos de-
do concreto aplicado na estrutura em logia de controle tecnológico do concreto feituosos é frequentemente considera-
substituição parcial ou total à moldagem defendido pela normativa. da inviável, restando um longo processo
e rompimentos de corpos de prova. A segunda deficiência que pode ser de avaliação da resistência residual da
apontada está ligada ao processo de estrutura e, em alguns casos, a realiza-
1. INTRODUÇÃO verificação da resistência à compressão ção de onerosos procedimentos de re-
Atualmente, o preparo, controle, rece- pela moldagem de corpos de prova. No forço estrutural. Este cenário é fonte de
bimento e aceitação do concreto empre- caso mais rigoroso previsto pela norma um elevado nível de estresse e dúvida
gado nas estruturas brasileiras são realiza- ABNT NBR 12655:2015, definido como no meio técnico nacional, uma vez que
dos segundo as premissas estabelecidas controle do concreto por amostragem parte significativa dos concretos atual-
na norma ABNT NBR 12655:2015. Em- total (100%), prevê-se a moldagem de mente produzidos no Brasil não atinge
bora a normativa seja bastante recente, dois corpos de prova por betonada para a resistência característica especificada
ela não se encontra isenta de deficiências. verificação da sua conformidade com em projeto, reduzindo o nível de confia-
Para o entendimento dos conceitos a ser os requisitos de projeto. Neste caso, bilidade da estrutura (Santiago, 2011).
1 Exemplos: túneis “Pas de l’Escalette’’ (1994); torres de resfriamento da planta nuclear Civaux (1994); túneis Montzjézieu A75 (1995); túneis Rochecardone Duchère (1995);
viaduto Nièvre (1998)
2 Área sob a curva tempo versus temperatura para uma idade t. Em inglês, TTF (time-temperature factor).
Resistência à
Idade TTF_CP1 TTF_CP2 TTF: Média
compressão
(dias) (°C x h) (°C x h) (°C x h) entre os corpos de prova mantidos em
(MPa)
1 18,1 558,275 554,825 556,55 ambiente controlado e os expostos ao
3 36,5 1.645,375 1.639,426 1.642,40 ambiente foi de ~14 ºC. Esses são alguns
7 40,8 3.815,875 3.809,681 3.812,78 dos fatores que influenciam diretamente
14 47,6 7.715,522 7.712,606 7.714,06 a capacidade de corpos de prova molda-
28 50,4 15.268,440 15.314,270 15.291,36 dos e armazenados em laboratório repre-
sentarem, com acurácia, a resistência do
concreto in-loco.
cada idade, 5 exemplares (10 corpos o primeiro caso, observa-se a manuten- A curva de calibração é a curva de
de prova) foram testados. Cabe ressal- ção da temperatura em cerca de 21ºC campo que busca prever a resistência
tar que o método de controle da obra (variação máxima de ± 1). No segundo do concreto utilizado na laje, baseando-
foi o de amostragem total. caso, oregime é composto por ciclos re- -se no TTF obtido em campo pelo mé-
petitivos de aquecimento e resfriamento, todo da maturidade, sendo esta repre-
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO os quais se estendem ao longo dos 28 sentada na Figura 3 por uma linha preta
DOS RESULTADOS dias de cura. Na imagem, é possível in- contínua. Esta curva é a que correlacio-
Através da Figura 2, podem-se ob- clusive observar variações na intensidade na a resistência mecânica em função
servar de forma clara as diferenças dos ciclos. Os mesmos podem ser leves, da temperatura e do tempo de cura do
existentes entre os regimes térmicos como evidenciado entre os dias 16 e 17, concreto e precisa ser verificada perio-
estabelecidos no interior dos concretos ou bruscos, como nos dias 25 a 27. A dicamente para garantir a sua aplicabi-
curados no laboratório e em campo. Para amplitude térmica máxima evidenciada lidade. Os pontos azuis, por sua vez,
representamas resistências dos corpos
de prova que foram moldados em obra,
a partir da mesma matriz de concreto,
obtidas pelos ensaios convencionais
de resistência à compressão. A com-
CABO
paração entre ambas as resistências,
buscando a validação do método da
SENSOR maturidade, apresentou um erro menor
que 13% para idade de 28 dias. As di-
ferenças entre a previsão pelo método
da maturidade e a resistência do con-
creto removido da estrutura (carotado)
IDENTIFICADOR DE RÁDIOFREQUÊNCIA não ultrapassaram 20% para a idade
SEM FIO (SOB A FÔRMA) de 28 dias. A diferença mais significa-
tiva em termos de resistência mecânica
entre os corpos de prova preparados
a partir de testemunhosextraídos e os
corpos de prova moldados durante a
concretagem ocorre devido ao efeito
crossover, discutido de forma mais am-
pla na introdução deste artigo.
Levando em consideração que o
cimento utilizado (CPV-ARI-RS) tem
seu ganho de resistência mecânica de-
u Figura 1
Instalação dos sensores de temperatura junto à armadura da laje senvolvido, em sua maioria, nas primei-
ras idades do processo de hidratação
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