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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA

MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO II – AULA 3


ENGENHARIA CIVIL – CCET – CAMPUS CIDAO
Aglomerantes – Continuação
Cal

A cal é um aglomerante inorgânico, produzido a partir de rochas carbonáticas, composto


basicamente de cálcio e magnésio, que, em geral se apresenta na forma de um pó muito
fino.

Matérias-Primas da Cal
A cal é proveniente das rochas carbonáticas sedimentares.
• Calcário: mineral predominante é a calcita (CaCO3).
CaCO3 + calor → CaO + CO2
CaO + H2O → Ca(OH)2

• Dolomitos: mineral predominante é a dolomita.


Ca + Mg + (CO3)2 → CaCO3 + MgCO3 → CaO + MgO + 2CO2
Tipos de Cales
Cal Aérea
• Cal Virgem: Constituída predominantemente de óxidos de cálcio e magnésio;
• Cal Hidratada: De uso mais comum na construção civil, é constituída de hidróxidos
de cálcio e de magnésio, além de uma pequena fração de óxidos não hidratados e
carbonatos de cálcio e magnésio.
Cal Hidráulica
Oriunda do calcário argiloso, foi muito utilizada nas construções mais antigas, sendo
posteriormente substituída pelo Cimento Portland.
Existem duas formas de cal no mercado: cal virgem e cal hidratada.

Popularmente
• Cal Viva = Cal virgem;
• Cal Extinta / Cal Apagada = Cal virgem em contato com a água que adquiriu certa
hidratação;
• Cal Magra = Cal impura que reage lentamente com a água, dando massa pouco
ligante;
• Cal Gorda = Cal com elevado teor de óxido de cálcio, que reage rápido com a água
dando massa muito ligante.

Processo de Produção da Cal


• Extração da matéria-prima e britagem;
• Seleção da faixa granulométrica ótima e transporte para o forno;
• Calcinação e controle do grau de calcinação;
• Moagem adequada;
• Armazenamento da cal virgem;
• Hidratação e moagem;
• Ensacamento e distribuição para comercialização.
Reações de Transformações no Processo
• Calcário
CaCO3 (s) → CaO (s) + CO2 (g), para T = 660 °C – 900 °C
• Dolomito
− 1ª etapa:
CaCO3 (s) + MgCO3 (s) → CaCO3 (s) + MgO (s) + CO2 (g), para T = 250 °C – 380 °C
− 2ª etapa, análoga à decomposição da calcita:
CaCO3 (s) → CaO (s) + CO2 (g), para T = 660 °C – 900 °C
− Reação global:
CaCO3 (s) + MgCO3 (s) → CaO (s) + MgO (s) + CO2 (g)
Influência do tipo de Produção na Completa Calcinação da Rocha

A qualidade de uma cal está relacionada ao seu processo de fabricação desde o


controle de qualidade do minério até a forma de hidratação.

Hidratação da Cal Virgem


A reação de hidratação da cal virgem (CaO e MgO) é fortemente exotérmica.
CaO + H2O → Ca(OH)2
MgO + H2O → Mg(OH)2
• Ocorre rapidamente;
• Em geral a proporção cal/água é da ordem de 1/2 ou 1/3.

Resumo do Ciclo de Transformações da Matéria-Prima e da Cal


Importante – Expansão da Cal usada em Argamassa de Revestimento
Ocorre quando a cal virgem não foi completamente hidratada durante o seu processo
de produção, fazendo com que esta hidratação ocorra após o endurecimento da
argamassa de revestimento. (óxidos não hidratados ou óxidos livres)
Como a hidratação dos óxidos ocorre com aumento de volume do material, ocorrerá o
fenômeno de expansão dos óxidos hidratados que provocará a destruição da ligação
argamassa-base com “pipocamento” do revestimento.

Tipos de Cal Virgem


ABNT NBR 6453:2003 – Cal virgem para construção civil – Requisitos
• CV-E: Maior rendimento da argamassa;
• CV-C: Melhor trabalhabilidade da argamassa;
• CV-P: Comercializada a granel e os grãos são grandes e tem uma estrutura porosa, já
não é muito utilizada por demandar muito tempo para a hidratação.

Tipos de Cal Hidratada


ABNT NBR 7175:2003 – Cal hidratada para argamassas – Requisitos

Requisitos e Critérios da Qualidade da Cal Hidratada


1. Finura: É a característica que tem maior influência nas propriedades de emprego da
cal, pois quanto mais finas as partículas, maior volume de água será adsorvida e
mais rápida será a dissolução, dando à argamassa a consistência plástica que
resulta em facilidade de aplicação e maior rendimento de trabalho.
OBS: Os grãos grossos de óxidos são os que hidratam após aplicação da argamassa
de cal e provocam o pipocamento observado na superfície da camada de reboco do
revestimento da alvenaria.
2. Retenção de Água
É um resultado da elevada superfície específica da cal. Requisito da cal importante para
as argamassas porque:
• Contribui para a hidratação do cimento;
• Auxilia na retenção de água quando a argamassa é aplicada sobre uma base
absorvente → aumenta o tempo para realização do acabamento;
• Favorece a resistência de aderência da argamassa.
ABNT NBR 9290:1996 – Cal hidratada para argamassas: determinação de retenção de
água.

Aplicações da Cal
1. Argamassa: Atualmente o maior emprego da cal se dá misturada ao cimento Portland.
A cal confere uma maior plasticidade às pastas e argamassas, permitindo que elas
tenham maiores deformações, sem fissuração, do que teriam com cimento
Portland somente → proporcionada pela finura.
As argamassas de cimento e cal retêm mais água de amassamento e assim permitem
uma melhor aderência.
2. Tinta à Base de Cal:

• Suspensão de leite de cal (nata) preparada a partir de cal virgem ou hidratada;


• A composição é melhorada pelo emprego de adições, agentes aglutinantes, óleos
naturais (linhaça), fixadores e corantes compatíveis com a cal;
• É de baixo custo;
• A durabilidade da caiação é sensivelmente reduzida em zonas industriais onde
predomina a chuva ácida, que dissolve a camada de pintura constituída de
carbonatos de cálcio e magnésio.
3. Bloco Sílico-Calcárico:
• São fabricados com cal e agregados finos quartzosos, moldados por compactação
e submetidos à hidratação em autoclave (T entre 150°C e 200°C);
• O produto essencial formado é o silicato de cálcio hidratado.
• A resistência mecânica depende da porosidade, influenciada pelo empacotamento
granulométrico das partículas, pelo teor de água, pela energia de compactação
e pelo volume de produtos hidratados formados durante a autoclavagem.
ABNT NBR 14974-1:2003 – Bloco sílico-calcário para alvenaria: Requisitos, dimensões
e métodos de ensaio.
ABNT NBR 14974-2:2003 – Bloco sílico-calcário para alvenaria: procedimentos para
execução da alvenaria.
Gesso de Construção Civil

Dos aglomerantes na construção civil, o gesso é o menos utilizado no Brasil, mas possui
características interessantes que favorecem sua aplicação.
• Endurecimento rápido → produção de componentes sem tratamento de aceleração de
endurecimento;
• Alta plasticidade de pasta fresca;
• Lisura da superfície endurecida.

Definição
É um material produzido, principalmente, a partir da rocha sedimentar evaporito por
calcinação do minério natural gipso, constituído essencialmente por:
• Sulfato de cálcio hemidratado;
• Anidritas solúvel e insolúvel;
• Gipsita (sulfato de cálcio dihidratado, ou CaSO4 + 2H2O).
Podendo conter ainda:
• Aditivos retardadores do tempo de pega;
• Fibras naturais ou sintéticas.
As propriedades do gesso dependem do teor relativo desses constituintes.
Produção do Gesso de Construção
• Extração do minério, realizada em geral a céu aberto;
• Britagem e moagem grossa;
• Estocagem com homogeneização;
• Secagem da matéria-prima, pois a umidade pode chegar a 10%;
• Calcinação, moagem fina e ensacamento.
Rocha sedimentar evaporito → Reservas brasileiras de gipsita: Pará, Pernambuco,
Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí e Tocantins.

140 a 160°𝐶
𝐶𝑎𝑆𝑂
⏟ 4 + 2𝐻2 𝑂 → 𝐶𝑎𝑆𝑂
⏟ 4 + 0,5𝐻2 𝑂 + 1,5𝐻2 𝑂
Gipsita Hemidrato

160 a 190°𝐶
𝐶𝑎𝑆𝑂4 + 0,5𝐻2 𝑂
⏟ → 𝐶𝑎𝑆𝑂4 + 𝜀𝐻2 𝑂 + 𝛿𝐻2 𝑂

Hemidrato Anidrita III
350 a 400°𝐶
𝐶𝑎𝑆𝑂4 + 0,5𝐻2 𝑂
⏟ → 𝐶𝑎𝑆𝑂
⏟ 4
Hemidrato Anidrita II
1100 𝑎 1200°𝐶
𝐶𝑎𝑆𝑂4 + 0,5𝐻2 𝑂
⏟ → 𝐶𝑎𝑆𝑂
⏟ 4 + 𝑆𝑂3 + 𝐶𝑎𝑂

Hemidrato Anidrita I Cal Livre

A calcinação pode consistir de um único forno, cujo produto é o hemidrato puro ou


contendo também gipsita ou anidrita...

Fases Sulfato Constituintes do Gesso


• Hemidratos de fórmula CaSO4 + 0,5 H2O ou hemidrato-β: É a fase presente em maior
teor.
• Anidrita III ou anidrita solúvel, de fórmula CaSO4 + εH2O: Fase muito reativa, reage
como acelerador de pega.
• Anidrita II ou anidrita insolúvel, de fórmula CaSO4: Anidrita supercalcinada, reage
lentamente com a água, podendo levar sete dias para se hidratar completamente.
• Anidrita I, de fórmula CaSO4: Fase de pega e endurecimentos lentos, contribuindo para
a dureza e tenacidade do produto final.
• Gipsita, de fórmula CaSO4 + 2H2O: Está presente no produto, por tempo de calcinação
insuficiente ou por moagem grossa da matéria prima. Age como um acelerador de reação
(acelerador de pega).
Outras Fontes da Matéria-Prima do Gesso de Construção

Sulfatos de Cálcio Produção de fertilizantes


oriundos de resíduos → {Produção de ácido fluorídrico (HF)
industriais Purificação de gases

Subproduto da Indústria de Fertilizantes


• Denominado de fosfogesso ou gesso químico;
• Produzido em abundância nas Regiões Sul e Sudeste do Brasil;
• Processo: durante a solubilização de rochas fosfáticas por ácidos sulfúricos são
produzidos os fertilizantes fosfáticos com precipitação de partículas finas de
sulfato de cálcio;
• Durante o processo pode ser adicionado produto orgânico, que deixará o fosfogesso
suscetível ao crescimento de fungos, o que dificulta sua aplicação na produção de
gesso para revestimento e de componentes.

⏟ 3 (𝑃𝑂4 )2 + 6𝐻
𝐶𝑎 ⏟ 2𝑂 + 𝐻
⏟2 𝑆𝑂4 → 3𝐶𝑎𝑆𝑂
⏟ 4 + 2𝐻2 𝑂 + 𝐻
⏟3 𝑃𝑂4
fosfato tricálcico água ácido gesso ácido
sulfúrico ortofosfórico

Subproduto da Produção de Ácido Fluorídrico


• O ácido fluorídrico, insumo básico da produção de plásticos flurados, por exemplo o
teflon, é produzido a partir da fluorita, segundo a equação de reação:
CaF2 + H2SO4 → CaSO4 + 2 HF
Subproduto de Purificação de Gases
• Produzido na purificação de gases de combustão sulfurados com cal, antes de serem
lançados na atmosfera;
• O poluente designado por SOx (anidrido sulfuroso, SO2 + anidrido sulfúrico, SO3) é fixado
na forma de sulfato de cálcio anidro ou hidratado, conforme o processo. O subproduto
é designado na literatura por sulfogesso.

Hidratação, Pega e Endurecimento do Gesso


A hidratação é um fenômeno químico no qual o material anidro em pó é transportado em
dihidrato.
• As reações de hidratação são inversas às da formação dos produtos: o hemidrato e as
anidritas regeneram a gipsita.
O mecanismo de hidratação ocorre em três etapas:
1. Fenômeno químico de dissolução;
2. Fenômeno físico de cristalização;
3. Fenômeno mecânico de endurecimento.
Logo após o contato do gesso com a água, forma-se uma pasta homogênea que, após
poucos minutos, torna-se consistente e trabalhável. Esta consistência aumenta até o
endurecimento, quando a pasta ganha resistência.
Fenômeno de cristalização com o entrelaçamento em forma de agulha dos dihidratos.

Do ponto de vista prático, a pega do gesso se encerra em cerca de 45 minutos, mas o


material continua ganhando resistência até cerca de 20 horas.
A pega e o endurecimento são influenciados pelos seguintes fatores:
• Origem da matéria-prima e impurezas;
• Velocidade e tempo de mistura;
• Relação água/gesso;
• Temperatura da água;
• Finura e forma dos grãos;
• Aditivos químicos.

Aditivos Retardadores de Pega usados no Gesso


São produtos orgânicos ou inorgânicos que, adicionados em pequenas quantidades (<10%)
à água de amassamento ou ao gesso em pó, afetam a velocidade de hidratação das
pastas e, com isso, retardam a pega.
Os aditivos retardadores são classificados em 3 grupos, conforme o modo de atuação:
1. Aditivos que formam um gel ao redor dos grãos de hemidrato, atrasando o contrato
com a água, sua solubilização e cristalização do dihidrato;
2. Aditivos que diminuem a velocidade de dissolução do hemidrato;
3. Aditivos que geram produtos pouco solúveis ou insolúveis ao redor dos cristais de
dihidrato atrasando o seu crescimento.

Aplicações
1. Revestimentos com Pasta de Gesso
O preparo de pastas de gesso é governado por dois fatores básicos:
• A necessidade de viscosidade adequada para aplicação sobre a base;
• O tempo útil (tempo em que essa viscosidade é mantida).

A aplicação requer experiência para se evitar o desperdício devido ao curto tempo de


pega.
2. Drywall – Gesso Acartonado
As chapas de grandes dimensões finas de gesso revestidas externamente por duas
lâminas de papel, são denominadas comercialmente no Brasil de drywall.

O papel kraft que reveste serve de reforço para os esforços de tração, o que permite
o manuseio seguro de chapas de grandes dimensões e confere resistência a esforços
de uso.

Combinando papel e gesso, o produto é sensível a ambientes úmidos, podendo


apresentar degradação total ou biodeterioração da superfície. Para aplicação em
ambientes úmidos recebe tratamento com hidrofugante.

Bom desempenho na proteção de estruturas contra o efeito de incêndio.

3. Placas e outros Componentes de Gesso


• Placas lisas de gesso moldado, com dimensões de 60 cm x 60 cm, com borda
reforçada para forros suspensos;
• Perfis moldados, em complementação às placas de gesso, utilizados para a
realização de acabamento de bordas e produção de detalhes arquitetônicos,
como sancas;
• Blocos de gesso moldados para uso em alvenarias. Permite boa produtividade
na elevação da alvenaria;
• Fibro-gresso: A fibra é adicionada para melhorar a resistência à tração e ao impacto.
• Porta corta-fogo;
• Isolante acústico.

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