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SERRA DO ESPIGÃO, SC
RESUMO
Neste trabalho foram realizados estudos referentes ao comportamento mecânico e do contato nata-
rocha de dois arenitos da Serra do Espigão, Santa Catarina, localizados na BR-116 km108. No local,
observam-se as Formações Botucatu (Bt) e Rio do Rastro (RR). Foram realizados ensaios de Resistência à
Compressão Simples (RCS) e ensaios CCBT (Composite Cylinder Bond Test). Na RCS avaliou-se a
influência da estratificação do arenito Bt, bem como a variação na resistência de amostras embebidas. O
arenito Bt apresentou forte influência da resistência com relação à estratificação. Para CPs com ângulo
médio de 14º a RCS foi de 4,70MPa, enquanto que na condição paralela foi de 15,44MPa e na transversal de
17,68MPa em condições naturais. O arenito Bt apresentou perda de resistência de até 247% na condição
embebida. Nos ensaios de campo (arrancamento) nos dois arenitos, foi obtido valor médio de 0,39MPa para
o arenito Botucatu e de 0,40MPa para arenito RR. Os resultados dos ensaios CCBT (Sw) comparados com os
de campo (qs), divergiram 9% e 3% nos arenitos Bt e RR, respectivamente. Assim, concluiu-se que o CCBT
parece ser uma alternativa viável para definição de parâmetro de projeto da adesão nata-rocha, com destaque
para os arenitos estudados neste trabalho.
ABSTRACT
This work carried out studies on the mechanical behavior of two sandstones and the rock-grout
contact. The samples came from km108, BR-116 highway, Serra do Espigão, SC. On site, we observe the
Botucatu (Bt) and Rio do Rastro (RR) Formations. A number of Uniaxial Compression Tests and CCBT
(Composite Cylinder Bond Test) were performed. The average results of the rock-grout contact using CCBT
tests (Sw) on Bt was 0.38MPa and on RR was 0.37MPa. Botucatu specimens tested with 14º stratification
average angle had a mean value of 4.70MPa, while the parallel direction gave an average of 15.4MPa, with
17.7MPa in the transverse natural humidity conditions. Bt sandstone showed loss of strength of up to 247%
in the soaked condition. In the pull-out test, a mean value of 0.39MPa was obtained in two trials in Botucatu
and 0.40MPa for one test performed in RR. This represents a value only about 3% higher than the average
values of CCBT trials for the Botucatu and 8% for the RR. The results show that the use of CCBT as
reference test for the determination of rock-grout adhesion seems a viable alternative to the definition of this
resistance, especially for the sandstones studied here.
(1)
Professor Auxiliar da Faculdade de Engenharia Civil da PUCR e Eng. Civil Geotécnico, Azambuja
Engenharia e Geoctecnia Ltda, souza.floriano@gmail.com
(2)
Professor Associado, Departamento de Engenharia Civil, UFRGS, bressani@ufrgs.br
(3)
Eng. Civil, Concessionária de Rodovias Autopista Planalto Sul, Arteris S/A,
alex.savaris@autopistaplanaltosul.com.br
1 – INTRODUÇÃO
O problema geotécnico de encosta que afeta a rodovia BR-116 denominado, neste trabalho de km 108,
estende-se por um trecho de aproximadamente 700 metros, do km 108+000 até próximo ao km 108+700 no
lado esquerdo (pista Norte). O local está inserido no município de Monte Castelo, Santa Catarina. Salienta-se
que além deste trecho, os problemas geotécnicos persistem com características bastante semelhantes até o km
108+700, embora com a presença do Arenito Botucatu de forma exclusiva.
Segundo o mapa litológico local na folha SG.22 de Curitiba (PERROTTA et al., 2004), no local estão
presentes duas formações geológicas originárias de antigos depósitos sedimentares. Trata-se da Formação
Botucatu e da Formação Rio do Rastro. Além destas, embora não observado nos taludes da plataforma
rodoviária da BR-116 por volta do km 108, a montante observa-se a presença da Formação Serra Geral e a
jusante a Formação Teresina e depósitos aluvionares recentes quaternários.
Uma imagem de satélite identifica o trecho estudado (Figura 1), e a Figura 2 apresenta a coluna
estratigráfica do local mostrando nitidamente a transição da Formação Rio do Rastro com a Formação
Botucatu e suas divergências táteis e visuais.
Figura 1. Localização da área de estudo identificando as presença das formações geológicas e a demarcação da rodovia
no trecho. Adaptado do Google Earth (2014).
Figura 2. Coluna estratigráfica observada em talude exposto junto ao km 108+200 da BR-116/SC (FLORIANO,
2014).
3 – MATERIAIS E MÉTODOS
Figura 3. Amostras com diâmetro médio de 50mm obtidas através de extrator. Observa-se nestas amostras a indicação
com tracejado em matiz vermelha a posição do plano de estratificação no arenito Botucatu. No arenito Rio do Rastro,
embora exista a estratificação, esta não pode ser identificada nas dimensões amostradas. (FLORIANO, 2014).
Para a realização dos ensaios em amostras cilíndricas, foi necessário um adequado preparo das
extremidades e moldagem dos CPs, possibilitando assim a realização dos ensaios de RCS e os ensaios
CCBT. O corte dos cilindros pode ser realizado de forma simplificada, adaptando uma serra de bancada
acoplada de um disco diamantado de corte para rocha.
Para o ensaio CCBT os testemunhos que compõem os CPs compostos são definidos por dois cortes:
um perpendicular (90º) e outro a 30º ou 45º a seu eixo de compressão. A superfície, assim definida, tem a
forma elíptica e o CP só deve ser utilizado se estiver sem irregularidades importantes nas bordas. Eventuais
irregularidades nesta superfície devem ser anotadas.
Em rochas sedimentares, normalmente o corte apresenta-se com textura mais uniforme, embora a
posição do plano de estratificação deva ser observada. Divergências na textura foram verificadas quanto à
quantidade de água adicionada durante o corte e a umidade em que a amostra se encontra no momento da
realização do corte inclinado. Observou-se que quanto maior a quantidade de água ou maior a umidade da
amostra, a superfície de corte apresenta-se mais lisa ou menos lisa (e menos porosa), apresentando uma
camada de textura argilosa plástica impregnada na superfície de corte.
O número de amostras totais cortadas foi de 88 amostras em ângulo de 45º e outras 88 em ângulo de
30º, sendo selecionadas 72 partes cortadas para comporem os CPs cilíndricos.
O ensaio de RCS é largamente utilizado para a determinação de propriedades mecânicas das rochas e
de qualquer outro material, sendo, portanto, a propriedade mais comum determinada em problemas de
mecânica das rochas. Basicamente o ensaio trata-se de um cilindro ou prisma sólido, onde o material é
submetido a um carregamento paralelo ao seu eixo com taxas de carregamento ou deslocamento constante.
Os CPs preparados para os ensaio de RCS passaram por retificação geométrica através de relógio
comparador, apresentando irregularidades inferiores 0,2 mm entre grãos para o arenito Botucatu e de 0,05
mm para o arenito Rio do Rastro, sendo estes os limites de retificação para estes materiais. Tais
procedimentos de retificação das amostras foram realizados no LPM (Laboratório de Pesquisa Mineral e
Planejamento Mineiro) da UFRGS.
Os ensaios de RCS foram realizados no Laboratório de Modelos Estruturais (LEME) da UFRGS,
utilizando uma prensa da marca Shimadzu com capacidade para 200 toneladas (2.000 kN). Estes ensaios, de
modo geral, seguiram as recomendações estabelecidas pelas normas brasileiras, dando ênfase à utilização da
velocidade de carregamento de 0,45MPa/s.
Foram realizados ensaios de RCS em CPs secos ao ar e embebidos em água por 4 dias. Eles
permaneciam embebidos em água com uma das faces exposta ao ar, com intuito de prover a acessão capilar e
preencher com água os vazios da rocha sedimentar, numa aproximação à condição de chuva constante na
face rochosa.
O ensaio CCBT foi preparado com Cimento Portland Pozolânico tipo CP IV-32. Deve-se utilizar a
mesma relação A/C, ou seja, aquela definida em projeto executivo, normalmente entre 0,4 a 0,6, com
quantidades dosadas em peso. No mínimo, deve-se dispor de um conjunto de 12 formas cilíndricas, porém o
ideal é que haja 24 unidades mais 6 unidades para a verificação da resistência da nata de cimento, como foi
utilizado nesta pesquisa. Assim, podem-se moldar os dois conjuntos de CPs compostos (12 CP com 30° e 12
CP com 45º), de uma vez, com apenas um traço de nata de cimento (ver Figura 4).
A moldagem dos CPs compostos é realizada com a nata sendo despejada cuidadosamente sobre o
testemunho rochoso cortado que está dentro dos moldes cilíndricos. Durante esta operação deve-se evitar a
formação de bolhas na nata. A metodologia é compatível com a NBR 7681-4 (2013), para a determinação de
resistência a compressão simples, sendo que os ensaios foram executados aos 28 dias de cura.
a b c d
Figura 4. Conjunto com 30 moldes sendo 24 moldes para a formatação dos CPs do ensaio CCBT e outros 6 moldes
para a verificação da resistência a compressão simples da nata de cimento. A imagem mais a direita mostra o conjunto
de CPs prontos para o ensaio. (FLORIANO, 2014).
Todos os CPs desta pesquisa foram levados à câmara úmida no LEME-UFRGS (Figura 4-c). Após três
dias de cura dentro do molde, estes foram desformados e permaneceram na câmara até o dia da ruptura. A
determinação da resistência à compressão de todos os CPs compostos foi estabelecida nos mesmos critérios
de carregamento dos CPs simples.
Foram realizadas três séries de ensaio formando 24 CPs compostos de arenito e nata de cimento em
cada série. Ou seja, foram moldados um total de 72 CPs compostos. Na primeira série (24 CPs) utilizou-se
somente o Arenito Rio do Rastro, enquanto que a segunda e a terceira série de ensaios (48 CPs), foi utilizado
o Arenito Botucatu. Cabe destacar que na última série de CPs, foi ainda realizada uma lavagem de superfície
junto ao plano elíptico de cisalhamento em seis CPs, sendo que estes seis CPs não foram aproveitados para
interpretação do CCBT, pois as rupturas ocorreram na rocha e/ou na nata de cimento.
Nas Figuras 5 e 6 podem ser vistos exemplos de CP composto após a ruptura do ensaio CCBT.
a b
Figura 5. (a) Ruptura de um CP de arenito Botucatu em corte de 30º. (b) metade de nata de cimentoa e metade de rocha
sedimentar (RR) após a ruptura do CP composto com corte a 30º (FLORIANO, 2014).
a b
a arenito (b) Ruptura no
Figura 6. Rupturas de um CPs de arenito Botucatu em corte de 45º não validados. (a) Ruptura no
arenito e na nata de cimento. (FLORIANO, 2014).
Para a nata de cimento foram realizados ensaios de RCS para cada série de consolidação. Como foram
produzidas três séries, foram moldados 6 CPs como preconiza a NBR 7681-4 (2013) para cada série
consolidada, totalizando 18 rupturas. No entanto, anterior à compressão na prensa, os CPs foram retificados
na máquina retificadora do LEME-UFRGS, obtendo assim uma planicidade menor que 0,01mm na face
comprimida. Todas as séries apresentam resistência característica (fck) superiores a 25 MPa.
O resultado do ensaio CCBT é proveniente da interpretação de círculos de Mohr, tendo como
resultado tensões de compressão uniaxiais ( e ) como pode ser visto na Figura 7, enquanto que o
critério de deslizamento é dado pela equação de Coulomb (Equação 1). Estas tensões correspondem às
cargas de ruptura nos CPs com juntas de 30º e 45º, tendo como parâmetros e , respectivamente, a adesão
e o ângulo de atrito nas superfícies de junta, determinados pelo contato da nata de cimento com a rocha. Tais
valores podem ser obtidos no diagrama , através da interpolação e da declividade da reta que passa pelos
pontos ( , ).
Notadamente, no ensaio CCBT ocorrem deformações cisalhantes extremamente pequenas até atingir
as tensões de pico. Neste caso, a parcela de resistência ao cisalhamento devido ao atrito , que é função da
tensão normal, , deve ser ignorada, a favor da segurança. Portanto, faz-se a resistência no contato nata-
rocha em função, apenas, da adesão dada por .
(1)
(2)
4 – RESULTADOS
A Tabela 1 mostra a média aritmética dos valores de RCS das amostras em umidade natural e das
amostras que foram embebidas por 4 dias e ensaiadas. Observa-se uma redução significativa dos valores de
RCS nas amostras embebidas.
É notável a influência da direção do plano de estratificação em relação à direção de carregamento nos
resultados dos ensaios. Para o arenito Rio do Rastro a identificação de estratificação não é tão evidente na
amostragem, apesar de existir, já que o processo de sedimentação e posterior diagênese naturalmente
promovem planos de estratificação.
No caso do arenito Botucatu a estratificação é claramente notável. Em termos de resistência a
compressão, observa-se que planos inclinados em relação à direção de carregamento (Bt-In) num estado de
tensões não confinado, apresentam as resistências mais baixas. A RCS média em CPs Bt-In, foi de 4,70 MPa,
na condição natural, enquanto que a RCS média de CPs Bt-Par foi de 17,68 MPa, ou seja, observou-se uma
variação de resistência da ordem de 3,76 vezes.
As amostras Bt-Par apresentaram os maiores valores médio na condição natural (17,68 MPa), sendo
um pouco superior aos valores dos CPs Bt-Trans (15,44 MPa) também na condição natural. Porém, na
condição embebida a queda de RCS é da ordem de 3,42 vezes nos CPs Bt-Trans, enquanto que nos CPs Bt-
Par, a redução de resistência é da ordem de 1,17 vezes. Destes resultados, pode-se considerar que, ao sofrer o
carregamento não confinado na condição paralela, as colunas de estratos resistentes são comprimidas em
conjunto e a ruptura ocorrerá ou por flexão ou por esmagamento de uma das colunas externa do cilindro
ensaiado. Já as rupturas dos CPs Bt-Par, ocorrem ou por esmagamento ou tração no contato com o prato da
prensa ou ainda por cisalhamento em um dos planos de estratificação com resistência relativa menor. Nota-se
que a resistência relativa nos CPs Bt-Trans decai drasticamente quando embebidos. Contudo, nos CPs Bt-
Par, a influência dos planos de fraqueza é reduzida, visto que as colunas de estratos resistentes comandam o
comportamento mecânico na compressão do CP.
Tabela 1. Resumo dos valores médios de RCS obtidos para cada tipo de material. (Adaptado de FLORIANO, 2014).
A compreensão da variação de resistência entre estratos passa pela avaliação mineralógica destes
materiais. Os planos de fraqueza encontram-se em determinadas camadas da estratigrafia do arenito Botucatu
que estão condicionadas por diferenças deposicionais na origem da rocha, bem como pela cimentação
diagenética fraca (eodiagenética) deste arenito no km 108 (FLORIANO, 2014). A baixa resistência mecânica
destes materiais, a elevada porosidade e o diaclasamento desfavorável, aclamam este ambiente de forte
instabilidade geotécnica.
No arenito da Formação Rio do Rastro embora também ocorra a estratificação, as deposição são mais
espessas e a relevância da estratificação em nível de ensaio de laboratório não é possível de identificar. Deste
material, destaca-se a existência de argilo minerais expansivos (esmectitas) observada através dos ensaios de
Difratometria de Raio X realizados por Fernandes et. al (1976) e corroborados por Floriano (2014). No
entanto tais argilominerais são elementos constituintes da cimentação desta rocha. Esperava-se perda de
resistência significativa por efeito de expansibilidade intergranuar com o embebimento, no entanto, os
valores de perda de resistência atingiram 17%, em geral menores que aqueles observados no arenito
Botucatu.
Nas ancoragens de grampos e especialmente tirantes diretamente em rocha, deve-se atentar-se a
pressão de contato entre a placa de ancoragem e a superfície rochosa. Os arenitos, apresentam resistências
relativamente baixas e grande influência quanto a posição da estratificação e variação de umidade. Embora o
comportamento mecânico de uma carga sendo aplicada ao maciço não é uma relação direta com a RCS,
torna-se aparentemente razoável relacionar o critério de ruptura de Terzaghi para ruptura generalizada em
fundações rasas.
Considerando que a RCS do Arenito Botucatu é função do ângulo de estratificação, obtém-se o gráfico
da Figura 7, assim, pode-se aplicar a seguinte relação para a capacidade de carga característica (Prr) na
superfície do arenito, vista na Equação 3.
20
Resistência (MPa)
15
10 y= 13,668e-0,084x
R² = 0,8495
5
0
0 5 10 15 20 25 30
Figura 7. Variação da RCS em relação ao plano de estratificação do Arenito Botucatu. (FLORIANO, 2014).
O valor de aderência Sw, derivado dos ensaios CCBT, é obtido quando se resolve o sistema com as
Equações 4 e 5, fazendo σ1A igual à média das tensões de ruptura do conjunto moldado com juntas de 30º e
σ1B, a média das tensões de ruptura do conjunto moldado com juntas a 45º, respectivamente.
(4)
(5)
Somente os resultados dos CPs compostos que romperam na superfície de contato da nata com a rocha
foram utilizados no cálculo de .
A Figura 8 mostra o resultado gráfico dos círculos de Mohr. Para o arenito da Formação Rio do Rastro
o valores de adesão foi de 0,37MPa e para o Arenito da Formação Botucatu foi de 0,38MPa.
MPa Circulo de Mohr - Arenito Botucatu
tensão cisalhante
37°
0.38 30°
0.37 30°
MPa MPa
tensão normal tensão normal
1.52 1.72
3.06 a 5.21 b
a
Figura 8. (a) Círculos de Mohr para o arenito Rio do Rastro. (b) Círculos de Mohr para o arenito Botucatu.
(FLORIANO, 2014)
Foram realizados três ensaios de arrancamento de campo não instrumentados, sendo um posicionado
no Arenito Rio do Rastro e os outros dois no Arenito Botucatu. Tais ensaios seguiram as recomendações
estabelecidas na NBR-5629 quanto à sequência de cargas, similar ao procedimento de ensaio de qualificação
em tirantes. O grampo utilizado foi um modelo Resinex – RT 06 – 38,1milímetros, com carga de trabalho de
360 kN. A nata de cimento de injeção foi preparada com fator a/c de 0,5 e os ensaios foram feitos após 28
dias da injeção. As perfurações foram realizadas com perfuratriz roto-percussiva sendo o fluido perfurante o
ar, de modo a atingir comprimento de ancoragem de 4 metros com diâmetro do furo de 75milímetros.
As cargas de arrancamento estimadas para os chumbadores executados no Arenito Botucatu foram de
0,37 e 0,41 MPa. Já o chumbador ensaiado no Arenito Rio do Rastro, a carga de arrancamento foi de 0,40
MPa.
Comparando os valores de tensão última de campo (qs) com os valores do ensaio CCBT (Sw) observa-
se uma aproximação bastante grande em termos de valores médios, divergindo em 3,4% para o arenito da
Formação Botucatu e 8,9% para o arenito da Formação Rio do Rastro. Sendo que os valores de Sw são
inferiores aos valores de qs. Na Tabela 2 pode-se verificar um resumo incluindo os valores obtidos por
Macedo (1993).
Tabela 2. Resumo dos valores estimados em campo para a tensão última de adesão dos materiais estudados.
(FLORIANO, 2014)
Sw
qsmédio qs/Sw médio
MATERIAL médio
(MPa) (MPa)
(MPa)
Dacito*(Formação Serra Geral) 1,70 1,27 1,34
Basalto* (Formação Serra Geral) 4,40 1,55 2,84
Arenito subarcosiano (Formação Botucatu) 0,39 0,38 1,03
Arenito lítico fino (Formação Rio do Rastro) 0,40 0,37 1,09
* Dados obtidos de MACEDO(1993).
5 – CONCLUSÕES
Foram amostrados CPs orientados de arenito Botucatu que foram testados com diferentes graus de
inclinação entre o plano de estratificação e a direção de carregamento. Embora o arenito Rio do Rastro
também tenha estratificação visível em escala de campo (ordem de metros), não foi possível determinar com
confiabilidade esta orientação em CPs, ao contrário do arenito Botucatu que tem estratificação bastante
visível em amostras de mão (estratificação visível em escala centimétrica ou menor).
Foram feitos ensaios CCBT e de Compressão Uniaxial em CPs para os dois arenitos. No caso do
arenito Botucatu, os ensaios foram analisados considerando também a direção da carga com respeito às
estratificações. Nos ensaios de RCS foi avaliada a resistência dos materiais embebidos e na umidade seca ao
ar (ao abrigo de luz).
Os resultados médios da adesão nata-rocha através dos ensaios CCBT (Sw) no arenito Botucatu foi de
0,38 MPa e no arenito Rio do Rastro foi de 0,37 MPa.
Os ensaios de RCS no arenito Botucatu mostraram uma forte influência da posição do plano de
estratificação em relação à direção de carregamento. A resistência média a compressão para CPs com ângulo
médio de 14 graus apresentou valor de 4,70 MPa, enquanto que na condição paralela foi de 15,44 MPa e na
transversal de 17,68 MPa em condições de umidade natural.
Para a RCS, os ensaios realizados variando a umidade (ao ar e emebebidos) mostraram uma grande
variação nos valores, obtendo redução média de 2,1 vezes no caso do arenito Botucatu, com destaque para a
estratificação paralela ao carregamento que apresentou redução de 3,4 vezes na resistência. No arenito Rio
do Rastro esta redução foi de 1,2 vezes a resistência natural em relação à embebida.
Nos ensaios de arrancamento em campo com barras ancoradas em nata de cimento nos dois arenitos,
foi obtido valor médio de 0,39 MPa em dois ensaios realizados para o arenito Botucatu e de 0,40 MPa para o
ensaio realizado no arenito Rio do Rastro. Isto representa um valor apenas cerca de 3 % superior aos valores
médios dos ensaios CCBT para o arenito Botucatu e de 9 % no caso do arenito Rio do Rastro.
No ensaio CCBT os CPs do arenito Botucatu com plano de estratificação perpendicular à linha de
carga, que tiveram a superfície de corte lavada, apresentaram aderência no contato superior à resistência da
própria rocha, impossibilitando a interpretação nesta condição. Os valores de ruptura média, neste caso,
foram de 15,3 MPa para o corte de 30º e de 15,5 MPa para o corte de 45º.
Destaca-se, todavia, aquilo já frisado por Macedo (1993) que a resistência pelo método CCBT trata-se
de uma resistência limite inferior no contato nata-rocha, pois o método desconsidera a parcela de atrito e os
efeitos de dilatância, os quais não podem ser avaliados em cada ancoragem ou mesmo em um conjunto de
ancoragens.
Os resultados mostram que a utilização do CCBT como ensaio de referência para a determinação da
adesão nata-rocha parece uma alternativa viável para a definição do parâmetro de cálculo da resistência de
contato entre maciço e ancoragens, com destaque para os arenitos estudados neste trabalho.
Por fim, a relação entre a resistência do contato nata-rocha obtida em campo, através dos ensaios de
arrancamento, e a adesão de laboratório foi compatível numericamente, no entanto mais ensaios em
diferentes tipos de rocha (metamórficas, outras sedimentares, outras vulcânicas e as plutônicas) devem ser
executados para que seja possível obter parâmetros ainda mais seguros e também estabelecer relações ainda
mais concretas.
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