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ESTUDO DA ADESÃO NATA-ROCHA NA ANCORAGEM EM DOIS ARENITOS DA

SERRA DO ESPIGÃO, SC

Cleber de Freitas Floriano, Msc (1)


Luiz Antônio Bressani, PhD (2)
Alex Savaris, Eng. Civil (3)

RESUMO

Neste trabalho foram realizados estudos referentes ao comportamento mecânico e do contato nata-
rocha de dois arenitos da Serra do Espigão, Santa Catarina, localizados na BR-116 km108. No local,
observam-se as Formações Botucatu (Bt) e Rio do Rastro (RR). Foram realizados ensaios de Resistência à
Compressão Simples (RCS) e ensaios CCBT (Composite Cylinder Bond Test). Na RCS avaliou-se a
influência da estratificação do arenito Bt, bem como a variação na resistência de amostras embebidas. O
arenito Bt apresentou forte influência da resistência com relação à estratificação. Para CPs com ângulo
médio de 14º a RCS foi de 4,70MPa, enquanto que na condição paralela foi de 15,44MPa e na transversal de
17,68MPa em condições naturais. O arenito Bt apresentou perda de resistência de até 247% na condição
embebida. Nos ensaios de campo (arrancamento) nos dois arenitos, foi obtido valor médio de 0,39MPa para
o arenito Botucatu e de 0,40MPa para arenito RR. Os resultados dos ensaios CCBT (Sw) comparados com os
de campo (qs), divergiram 9% e 3% nos arenitos Bt e RR, respectivamente. Assim, concluiu-se que o CCBT
parece ser uma alternativa viável para definição de parâmetro de projeto da adesão nata-rocha, com destaque
para os arenitos estudados neste trabalho.

ABSTRACT

This work carried out studies on the mechanical behavior of two sandstones and the rock-grout
contact. The samples came from km108, BR-116 highway, Serra do Espigão, SC. On site, we observe the
Botucatu (Bt) and Rio do Rastro (RR) Formations. A number of Uniaxial Compression Tests and CCBT
(Composite Cylinder Bond Test) were performed. The average results of the rock-grout contact using CCBT
tests (Sw) on Bt was 0.38MPa and on RR was 0.37MPa. Botucatu specimens tested with 14º stratification
average angle had a mean value of 4.70MPa, while the parallel direction gave an average of 15.4MPa, with
17.7MPa in the transverse natural humidity conditions. Bt sandstone showed loss of strength of up to 247%
in the soaked condition. In the pull-out test, a mean value of 0.39MPa was obtained in two trials in Botucatu
and 0.40MPa for one test performed in RR. This represents a value only about 3% higher than the average
values of CCBT trials for the Botucatu and 8% for the RR. The results show that the use of CCBT as
reference test for the determination of rock-grout adhesion seems a viable alternative to the definition of this
resistance, especially for the sandstones studied here.

(1)
Professor Auxiliar da Faculdade de Engenharia Civil da PUCR e Eng. Civil Geotécnico, Azambuja
Engenharia e Geoctecnia Ltda, souza.floriano@gmail.com
(2)
Professor Associado, Departamento de Engenharia Civil, UFRGS, bressani@ufrgs.br
(3)
Eng. Civil, Concessionária de Rodovias Autopista Planalto Sul, Arteris S/A,
alex.savaris@autopistaplanaltosul.com.br
1 – INTRODUÇÃO

Diversos e graves problemas de encostas localizadas na BR-116/SC junto da Serra do Espigão


motivaram esta pesquisa. Desde o período da construção desta rodovia, são frequentes as notícias
relacionadas a acidentes geotécnicos neste local, em especial, nos trechos com declividades acentuadas. Ao
longo de um trecho de 5 km são contabilizadas mais de 10 obras de estabilização. Os problemas ocorrem já
nos pequenos cortes após o acesso a localidade conhecida como Residência Fuck, no km 103+400 (cota
850m). A partir do km 108+000 (cota 1.080m) da rodovia, os taludes de corte em rochas sedimentares
atingem alturas de até 90m com arenitos eólicos bastante fraturados, que apresentam risco iminente de queda
de blocos.
O talude objeto de estudo localiza-se neste trecho, estendendo-se do km 108+000 até o km 108+700.
No local, pode-se observar claramente o contato intermediário de arenitos eólicos da Formação Botucatu
com estratos inferiores alternados de arenitos e pelitos da Formação Rio do Rasto (km 108+000 e o km
108+400). A partir do km 108+400 os taludes rodoviários são quase que exclusivamente na Formação
Botucatu, no entanto diversos problemas geotécnicos persistem.
Em pesquisas pioneiras de Fernandes et al. (1974) no trecho da Serra do Espigão, já foi descrito a
ocorrência de processos de quedas de blocos de pequena dimensão, os quais são provocados por degradação
diferencial entre camadas na Formação Rio do Rastro. Também foram descritas as quedas de blocos de
grande dimensão, atribuídas principalmente à perda de suporte basal decorrente do avanço da degradação do
maciço sotoposto.
Nos estudos prévios de projeto (AZAMBUJA ENGENHARIA E GEOTECNIA LTDA, 2010), contratado
pela concessionária da rodovia, apontaram, na maior parte destas soluções, que a estabilização ideal advém
de sistema de ancoragem através de inserção de grampos ou tirantes no maciço rochoso. Para o
dimensionamento destas ancoragens, normalmente são utilizados ensaios de arrancamento ou correlações
com obras semelhantes. Infelizmente, para a realização dos ensaios de arrancamento em campo, é preciso:
mobilização de perfuratrizes e sistema de reação, conjunto de macaco, bomba, manômetros e extensômetros,
que são equipamentos obrigatórios na fase construtiva. Desta forma, os custos de mobilização e instalação do
ensaio muitas vezes são incompatíveis com a etapa de estudos e projetos, especialmente nas obras pequenas
e pontuais, como geralmente são as obras de contenção rodoviária.
As ancoragens, neste contexto, são conceituadas como um elemento metálico, envolvido por um fluido
cimentante (nata de cimento ou resina), injetada ou não, inserida em um pré-furo na face do talude e
posteriormente podendo ser tensionada. Para o adequado dimensionamento de uma ancoragem é de extrema
importância a determinação da aderência entre o fluido cimentante e o maciço a ser estabilizado. Esta
aderência é identificada como um parâmetro para dimensionamento da estrutura de contenção ancorada
quando a ancoragem é submetida a esforços normais, especialmente de tração que corresponde ao efeito de
cisalhamento do contato nata-rocha.
Assim, este trabalho tem como principal objetivo resgatar e utilizar uma metodologia de ensaios de
laboratório simples e de custo baixo, que fornece um comparativo ao ensaio de arrancamento em maciços
rochosos. Este ensaio simplificado foi desenvolvido na UFRGS no início da década de 1990 (MACEDO,
1993). Trata-se de um método que determina a tensão de aderência entre nata e rocha, denominado de CCBT
(Composity Cylinder Bond Test). Como o CCBT fundamentalmente é um ensaio de Resistência à
Compressão Simples (RCS), torna fácil a utilização deste método para uma pré-avaliação do parâmetro de
adesão fluido cimentante-rocha em estruturas ancoradas no terreno ainda em fase de projeto.
Os dois tipos de arenito foram identificados e caracterizados, tendo sido coletadas amostras no local
através de uma perfuratriz manual sendo possível produzir uma gama de CPs que foram submetidos a
ensaios de RCS da rocha em diferentes posições do ângulo de estratificação e condições de umidade.
Também, foram realizados os ensaios CCBT, que constam de ensaios com fraturamento condicionado em
planos de cisalhamento forçado (MACEDO, 1993). Neste ensaio, as seções fraturadas artificialmente são
aderidas por nata de cimento, formando uma amostra composta de nata e rocha, que quando submetidas à
compressão, sofrem cisalhamento neste contato. Por fim, ensaios de arrancamento in loco foram realizados
nos dois materiais estudados e os resultados de laboratório puderam ser comparados com os resultados de
campo.
2 – CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA

O problema geotécnico de encosta que afeta a rodovia BR-116 denominado, neste trabalho de km 108,
estende-se por um trecho de aproximadamente 700 metros, do km 108+000 até próximo ao km 108+700 no
lado esquerdo (pista Norte). O local está inserido no município de Monte Castelo, Santa Catarina. Salienta-se
que além deste trecho, os problemas geotécnicos persistem com características bastante semelhantes até o km
108+700, embora com a presença do Arenito Botucatu de forma exclusiva.
Segundo o mapa litológico local na folha SG.22 de Curitiba (PERROTTA et al., 2004), no local estão
presentes duas formações geológicas originárias de antigos depósitos sedimentares. Trata-se da Formação
Botucatu e da Formação Rio do Rastro. Além destas, embora não observado nos taludes da plataforma
rodoviária da BR-116 por volta do km 108, a montante observa-se a presença da Formação Serra Geral e a
jusante a Formação Teresina e depósitos aluvionares recentes quaternários.
Uma imagem de satélite identifica o trecho estudado (Figura 1), e a Figura 2 apresenta a coluna
estratigráfica do local mostrando nitidamente a transição da Formação Rio do Rastro com a Formação
Botucatu e suas divergências táteis e visuais.

Figura 1. Localização da área de estudo identificando as presença das formações geológicas e a demarcação da rodovia
no trecho. Adaptado do Google Earth (2014).

Figura 2. Coluna estratigráfica observada em talude exposto junto ao km 108+200 da BR-116/SC (FLORIANO,
2014).
3 – MATERIAIS E MÉTODOS

As amostras cilíndricas de rocha foram obtidas em duas campanhas de amostragem. Na primeira,


realizada no dia 28 de julho de 2013, foram recolhidos 2 blocos de rocha: um de aproximadamente 70kg, da
Formação Botucatu; outro, de aproximadamente 30 kg, da Formação Rio do Rastro. A segunda campanha
obteve amostras in loco entre os dias 10 e 12 de março de 2014, sendo utilizada a perfuratriz fixada ás faces
de rocha com o uso de peças de fixação para a extração direta no talude.
O total de amostras obtidas foi de 117, sendo 44 do Arenito Rio do Rastro e 73 do Arenito Botucatu. É
importante destacar que todas as amostras foram extraídas com coroa denteada, de pontas diamantadas e
diâmetro externo de 21/4”, formando um diâmetro interno equivalente da amostra de 50 mm.
Uma vez identificada a estratificação no arenito Botucatu, buscou-se preparar amostras com 3
orientações distintas a serem perfuradas nesta rocha. Uma paralela ao plano de estratificações naturais do
arenito, outro perpendicular a este plano e uma terceira, em ângulo. Para esta última, idealizou-se o mesmo
ângulo praticado na execução de obras de grampeamento ou atirantamento, que varia entre 10 a 30 graus em
relação a horizontal, embora na prática, manter um ângulo de extração perfeitamente constante era bastante
difícil. A Figura 3 apresenta alguns cilindros amostrados, identificando os planos de estratificação em
relação à posição de corte em cada amostra.

Arenito Botucatu Arenito Botucatu

Arenito Botucatu Arenito Rio do Rastro

Figura 3. Amostras com diâmetro médio de 50mm obtidas através de extrator. Observa-se nestas amostras a indicação
com tracejado em matiz vermelha a posição do plano de estratificação no arenito Botucatu. No arenito Rio do Rastro,
embora exista a estratificação, esta não pode ser identificada nas dimensões amostradas. (FLORIANO, 2014).

Para a realização dos ensaios em amostras cilíndricas, foi necessário um adequado preparo das
extremidades e moldagem dos CPs, possibilitando assim a realização dos ensaios de RCS e os ensaios
CCBT. O corte dos cilindros pode ser realizado de forma simplificada, adaptando uma serra de bancada
acoplada de um disco diamantado de corte para rocha.
Para o ensaio CCBT os testemunhos que compõem os CPs compostos são definidos por dois cortes:
um perpendicular (90º) e outro a 30º ou 45º a seu eixo de compressão. A superfície, assim definida, tem a
forma elíptica e o CP só deve ser utilizado se estiver sem irregularidades importantes nas bordas. Eventuais
irregularidades nesta superfície devem ser anotadas.
Em rochas sedimentares, normalmente o corte apresenta-se com textura mais uniforme, embora a
posição do plano de estratificação deva ser observada. Divergências na textura foram verificadas quanto à
quantidade de água adicionada durante o corte e a umidade em que a amostra se encontra no momento da
realização do corte inclinado. Observou-se que quanto maior a quantidade de água ou maior a umidade da
amostra, a superfície de corte apresenta-se mais lisa ou menos lisa (e menos porosa), apresentando uma
camada de textura argilosa plástica impregnada na superfície de corte.
O número de amostras totais cortadas foi de 88 amostras em ângulo de 45º e outras 88 em ângulo de
30º, sendo selecionadas 72 partes cortadas para comporem os CPs cilíndricos.
O ensaio de RCS é largamente utilizado para a determinação de propriedades mecânicas das rochas e
de qualquer outro material, sendo, portanto, a propriedade mais comum determinada em problemas de
mecânica das rochas. Basicamente o ensaio trata-se de um cilindro ou prisma sólido, onde o material é
submetido a um carregamento paralelo ao seu eixo com taxas de carregamento ou deslocamento constante.
Os CPs preparados para os ensaio de RCS passaram por retificação geométrica através de relógio
comparador, apresentando irregularidades inferiores 0,2 mm entre grãos para o arenito Botucatu e de 0,05
mm para o arenito Rio do Rastro, sendo estes os limites de retificação para estes materiais. Tais
procedimentos de retificação das amostras foram realizados no LPM (Laboratório de Pesquisa Mineral e
Planejamento Mineiro) da UFRGS.
Os ensaios de RCS foram realizados no Laboratório de Modelos Estruturais (LEME) da UFRGS,
utilizando uma prensa da marca Shimadzu com capacidade para 200 toneladas (2.000 kN). Estes ensaios, de
modo geral, seguiram as recomendações estabelecidas pelas normas brasileiras, dando ênfase à utilização da
velocidade de carregamento de 0,45MPa/s.
Foram realizados ensaios de RCS em CPs secos ao ar e embebidos em água por 4 dias. Eles
permaneciam embebidos em água com uma das faces exposta ao ar, com intuito de prover a acessão capilar e
preencher com água os vazios da rocha sedimentar, numa aproximação à condição de chuva constante na
face rochosa.
O ensaio CCBT foi preparado com Cimento Portland Pozolânico tipo CP IV-32. Deve-se utilizar a
mesma relação A/C, ou seja, aquela definida em projeto executivo, normalmente entre 0,4 a 0,6, com
quantidades dosadas em peso. No mínimo, deve-se dispor de um conjunto de 12 formas cilíndricas, porém o
ideal é que haja 24 unidades mais 6 unidades para a verificação da resistência da nata de cimento, como foi
utilizado nesta pesquisa. Assim, podem-se moldar os dois conjuntos de CPs compostos (12 CP com 30° e 12
CP com 45º), de uma vez, com apenas um traço de nata de cimento (ver Figura 4).
A moldagem dos CPs compostos é realizada com a nata sendo despejada cuidadosamente sobre o
testemunho rochoso cortado que está dentro dos moldes cilíndricos. Durante esta operação deve-se evitar a
formação de bolhas na nata. A metodologia é compatível com a NBR 7681-4 (2013), para a determinação de
resistência a compressão simples, sendo que os ensaios foram executados aos 28 dias de cura.

a b c d
Figura 4. Conjunto com 30 moldes sendo 24 moldes para a formatação dos CPs do ensaio CCBT e outros 6 moldes
para a verificação da resistência a compressão simples da nata de cimento. A imagem mais a direita mostra o conjunto
de CPs prontos para o ensaio. (FLORIANO, 2014).

Todos os CPs desta pesquisa foram levados à câmara úmida no LEME-UFRGS (Figura 4-c). Após três
dias de cura dentro do molde, estes foram desformados e permaneceram na câmara até o dia da ruptura. A
determinação da resistência à compressão de todos os CPs compostos foi estabelecida nos mesmos critérios
de carregamento dos CPs simples.
Foram realizadas três séries de ensaio formando 24 CPs compostos de arenito e nata de cimento em
cada série. Ou seja, foram moldados um total de 72 CPs compostos. Na primeira série (24 CPs) utilizou-se
somente o Arenito Rio do Rastro, enquanto que a segunda e a terceira série de ensaios (48 CPs), foi utilizado
o Arenito Botucatu. Cabe destacar que na última série de CPs, foi ainda realizada uma lavagem de superfície
junto ao plano elíptico de cisalhamento em seis CPs, sendo que estes seis CPs não foram aproveitados para
interpretação do CCBT, pois as rupturas ocorreram na rocha e/ou na nata de cimento.
Nas Figuras 5 e 6 podem ser vistos exemplos de CP composto após a ruptura do ensaio CCBT.

a b
Figura 5. (a) Ruptura de um CP de arenito Botucatu em corte de 30º. (b) metade de nata de cimentoa e metade de rocha
sedimentar (RR) após a ruptura do CP composto com corte a 30º (FLORIANO, 2014).
a b
a arenito (b) Ruptura no
Figura 6. Rupturas de um CPs de arenito Botucatu em corte de 45º não validados. (a) Ruptura no
arenito e na nata de cimento. (FLORIANO, 2014).

Para a nata de cimento foram realizados ensaios de RCS para cada série de consolidação. Como foram
produzidas três séries, foram moldados 6 CPs como preconiza a NBR 7681-4 (2013) para cada série
consolidada, totalizando 18 rupturas. No entanto, anterior à compressão na prensa, os CPs foram retificados
na máquina retificadora do LEME-UFRGS, obtendo assim uma planicidade menor que 0,01mm na face
comprimida. Todas as séries apresentam resistência característica (fck) superiores a 25 MPa.
O resultado do ensaio CCBT é proveniente da interpretação de círculos de Mohr, tendo como
resultado tensões de compressão uniaxiais ( e ) como pode ser visto na Figura 7, enquanto que o
critério de deslizamento é dado pela equação de Coulomb (Equação 1). Estas tensões correspondem às
cargas de ruptura nos CPs com juntas de 30º e 45º, tendo como parâmetros e , respectivamente, a adesão
e o ângulo de atrito nas superfícies de junta, determinados pelo contato da nata de cimento com a rocha. Tais
valores podem ser obtidos no diagrama , através da interpolação e da declividade da reta que passa pelos
pontos ( , ).
Notadamente, no ensaio CCBT ocorrem deformações cisalhantes extremamente pequenas até atingir
as tensões de pico. Neste caso, a parcela de resistência ao cisalhamento devido ao atrito , que é função da
tensão normal, , deve ser ignorada, a favor da segurança. Portanto, faz-se a resistência no contato nata-
rocha em função, apenas, da adesão dada por .

(1)

(2)

Figura 7. Interpretação gráfica do ensaio CCBT (adaptado de MACEDO, 1993).

4 – RESULTADOS

A Tabela 1 mostra a média aritmética dos valores de RCS das amostras em umidade natural e das
amostras que foram embebidas por 4 dias e ensaiadas. Observa-se uma redução significativa dos valores de
RCS nas amostras embebidas.
É notável a influência da direção do plano de estratificação em relação à direção de carregamento nos
resultados dos ensaios. Para o arenito Rio do Rastro a identificação de estratificação não é tão evidente na
amostragem, apesar de existir, já que o processo de sedimentação e posterior diagênese naturalmente
promovem planos de estratificação.
No caso do arenito Botucatu a estratificação é claramente notável. Em termos de resistência a
compressão, observa-se que planos inclinados em relação à direção de carregamento (Bt-In) num estado de
tensões não confinado, apresentam as resistências mais baixas. A RCS média em CPs Bt-In, foi de 4,70 MPa,
na condição natural, enquanto que a RCS média de CPs Bt-Par foi de 17,68 MPa, ou seja, observou-se uma
variação de resistência da ordem de 3,76 vezes.
As amostras Bt-Par apresentaram os maiores valores médio na condição natural (17,68 MPa), sendo
um pouco superior aos valores dos CPs Bt-Trans (15,44 MPa) também na condição natural. Porém, na
condição embebida a queda de RCS é da ordem de 3,42 vezes nos CPs Bt-Trans, enquanto que nos CPs Bt-
Par, a redução de resistência é da ordem de 1,17 vezes. Destes resultados, pode-se considerar que, ao sofrer o
carregamento não confinado na condição paralela, as colunas de estratos resistentes são comprimidas em
conjunto e a ruptura ocorrerá ou por flexão ou por esmagamento de uma das colunas externa do cilindro
ensaiado. Já as rupturas dos CPs Bt-Par, ocorrem ou por esmagamento ou tração no contato com o prato da
prensa ou ainda por cisalhamento em um dos planos de estratificação com resistência relativa menor. Nota-se
que a resistência relativa nos CPs Bt-Trans decai drasticamente quando embebidos. Contudo, nos CPs Bt-
Par, a influência dos planos de fraqueza é reduzida, visto que as colunas de estratos resistentes comandam o
comportamento mecânico na compressão do CP.

Tabela 1. Resumo dos valores médios de RCS obtidos para cada tipo de material. (Adaptado de FLORIANO, 2014).

RCSM NATURAL RCSM EMBEBIDA % RCSN/RCSE


MATERIAL
(MPA) (MPA)
Bt-In 4,70 2,72 73%
Bt-Par 17,68 15,07 17%
Bt-Trans 15,44 4,52 242%
RR 6,97 5,74 21%
Bt: Botucatu; In:estratificação inclinadas com ângulo médio de 14º; Par: estratificação
paralela; Trans: estratificação transversal ao carregamento; RR: Rio do Rastro.

A compreensão da variação de resistência entre estratos passa pela avaliação mineralógica destes
materiais. Os planos de fraqueza encontram-se em determinadas camadas da estratigrafia do arenito Botucatu
que estão condicionadas por diferenças deposicionais na origem da rocha, bem como pela cimentação
diagenética fraca (eodiagenética) deste arenito no km 108 (FLORIANO, 2014). A baixa resistência mecânica
destes materiais, a elevada porosidade e o diaclasamento desfavorável, aclamam este ambiente de forte
instabilidade geotécnica.
No arenito da Formação Rio do Rastro embora também ocorra a estratificação, as deposição são mais
espessas e a relevância da estratificação em nível de ensaio de laboratório não é possível de identificar. Deste
material, destaca-se a existência de argilo minerais expansivos (esmectitas) observada através dos ensaios de
Difratometria de Raio X realizados por Fernandes et. al (1976) e corroborados por Floriano (2014). No
entanto tais argilominerais são elementos constituintes da cimentação desta rocha. Esperava-se perda de
resistência significativa por efeito de expansibilidade intergranuar com o embebimento, no entanto, os
valores de perda de resistência atingiram 17%, em geral menores que aqueles observados no arenito
Botucatu.
Nas ancoragens de grampos e especialmente tirantes diretamente em rocha, deve-se atentar-se a
pressão de contato entre a placa de ancoragem e a superfície rochosa. Os arenitos, apresentam resistências
relativamente baixas e grande influência quanto a posição da estratificação e variação de umidade. Embora o
comportamento mecânico de uma carga sendo aplicada ao maciço não é uma relação direta com a RCS,
torna-se aparentemente razoável relacionar o critério de ruptura de Terzaghi para ruptura generalizada em
fundações rasas.
Considerando que a RCS do Arenito Botucatu é função do ângulo de estratificação, obtém-se o gráfico
da Figura 7, assim, pode-se aplicar a seguinte relação para a capacidade de carga característica (Prr) na
superfície do arenito, vista na Equação 3.

[MPa] 0°≤ ≤ 45° (3)


25

20

Resistência (MPa)
15

10 y= 13,668e-0,084x
R² = 0,8495
5

0
0 5 10 15 20 25 30

ângulo de estratificação / ângulo da carga (°)

Figura 7. Variação da RCS em relação ao plano de estratificação do Arenito Botucatu. (FLORIANO, 2014).

O valor de aderência Sw, derivado dos ensaios CCBT, é obtido quando se resolve o sistema com as
Equações 4 e 5, fazendo σ1A igual à média das tensões de ruptura do conjunto moldado com juntas de 30º e
σ1B, a média das tensões de ruptura do conjunto moldado com juntas a 45º, respectivamente.

(4)

(5)

Onde é o ângulo de atrito da junta.

Somente os resultados dos CPs compostos que romperam na superfície de contato da nata com a rocha
foram utilizados no cálculo de .
A Figura 8 mostra o resultado gráfico dos círculos de Mohr. Para o arenito da Formação Rio do Rastro
o valores de adesão foi de 0,37MPa e para o Arenito da Formação Botucatu foi de 0,38MPa.
MPa Circulo de Mohr - Arenito Botucatu
tensão cisalhante

MPa Circulo de Mohr - Arenito Rio do Rastro


41°
tensão cisalhante

37°

0.38 30°
0.37 30°
MPa MPa
tensão normal tensão normal
1.52 1.72
3.06 a 5.21 b
a
Figura 8. (a) Círculos de Mohr para o arenito Rio do Rastro. (b) Círculos de Mohr para o arenito Botucatu.
(FLORIANO, 2014)

Foram realizados três ensaios de arrancamento de campo não instrumentados, sendo um posicionado
no Arenito Rio do Rastro e os outros dois no Arenito Botucatu. Tais ensaios seguiram as recomendações
estabelecidas na NBR-5629 quanto à sequência de cargas, similar ao procedimento de ensaio de qualificação
em tirantes. O grampo utilizado foi um modelo Resinex – RT 06 – 38,1milímetros, com carga de trabalho de
360 kN. A nata de cimento de injeção foi preparada com fator a/c de 0,5 e os ensaios foram feitos após 28
dias da injeção. As perfurações foram realizadas com perfuratriz roto-percussiva sendo o fluido perfurante o
ar, de modo a atingir comprimento de ancoragem de 4 metros com diâmetro do furo de 75milímetros.
As cargas de arrancamento estimadas para os chumbadores executados no Arenito Botucatu foram de
0,37 e 0,41 MPa. Já o chumbador ensaiado no Arenito Rio do Rastro, a carga de arrancamento foi de 0,40
MPa.
Comparando os valores de tensão última de campo (qs) com os valores do ensaio CCBT (Sw) observa-
se uma aproximação bastante grande em termos de valores médios, divergindo em 3,4% para o arenito da
Formação Botucatu e 8,9% para o arenito da Formação Rio do Rastro. Sendo que os valores de Sw são
inferiores aos valores de qs. Na Tabela 2 pode-se verificar um resumo incluindo os valores obtidos por
Macedo (1993).
Tabela 2. Resumo dos valores estimados em campo para a tensão última de adesão dos materiais estudados.
(FLORIANO, 2014)
Sw
qsmédio qs/Sw médio
MATERIAL médio
(MPa) (MPa)
(MPa)
Dacito*(Formação Serra Geral) 1,70 1,27 1,34
Basalto* (Formação Serra Geral) 4,40 1,55 2,84
Arenito subarcosiano (Formação Botucatu) 0,39 0,38 1,03
Arenito lítico fino (Formação Rio do Rastro) 0,40 0,37 1,09
* Dados obtidos de MACEDO(1993).

5 – CONCLUSÕES

Foram amostrados CPs orientados de arenito Botucatu que foram testados com diferentes graus de
inclinação entre o plano de estratificação e a direção de carregamento. Embora o arenito Rio do Rastro
também tenha estratificação visível em escala de campo (ordem de metros), não foi possível determinar com
confiabilidade esta orientação em CPs, ao contrário do arenito Botucatu que tem estratificação bastante
visível em amostras de mão (estratificação visível em escala centimétrica ou menor).
Foram feitos ensaios CCBT e de Compressão Uniaxial em CPs para os dois arenitos. No caso do
arenito Botucatu, os ensaios foram analisados considerando também a direção da carga com respeito às
estratificações. Nos ensaios de RCS foi avaliada a resistência dos materiais embebidos e na umidade seca ao
ar (ao abrigo de luz).
Os resultados médios da adesão nata-rocha através dos ensaios CCBT (Sw) no arenito Botucatu foi de
0,38 MPa e no arenito Rio do Rastro foi de 0,37 MPa.
Os ensaios de RCS no arenito Botucatu mostraram uma forte influência da posição do plano de
estratificação em relação à direção de carregamento. A resistência média a compressão para CPs com ângulo
médio de 14 graus apresentou valor de 4,70 MPa, enquanto que na condição paralela foi de 15,44 MPa e na
transversal de 17,68 MPa em condições de umidade natural.
Para a RCS, os ensaios realizados variando a umidade (ao ar e emebebidos) mostraram uma grande
variação nos valores, obtendo redução média de 2,1 vezes no caso do arenito Botucatu, com destaque para a
estratificação paralela ao carregamento que apresentou redução de 3,4 vezes na resistência. No arenito Rio
do Rastro esta redução foi de 1,2 vezes a resistência natural em relação à embebida.
Nos ensaios de arrancamento em campo com barras ancoradas em nata de cimento nos dois arenitos,
foi obtido valor médio de 0,39 MPa em dois ensaios realizados para o arenito Botucatu e de 0,40 MPa para o
ensaio realizado no arenito Rio do Rastro. Isto representa um valor apenas cerca de 3 % superior aos valores
médios dos ensaios CCBT para o arenito Botucatu e de 9 % no caso do arenito Rio do Rastro.
No ensaio CCBT os CPs do arenito Botucatu com plano de estratificação perpendicular à linha de
carga, que tiveram a superfície de corte lavada, apresentaram aderência no contato superior à resistência da
própria rocha, impossibilitando a interpretação nesta condição. Os valores de ruptura média, neste caso,
foram de 15,3 MPa para o corte de 30º e de 15,5 MPa para o corte de 45º.
Destaca-se, todavia, aquilo já frisado por Macedo (1993) que a resistência pelo método CCBT trata-se
de uma resistência limite inferior no contato nata-rocha, pois o método desconsidera a parcela de atrito e os
efeitos de dilatância, os quais não podem ser avaliados em cada ancoragem ou mesmo em um conjunto de
ancoragens.
Os resultados mostram que a utilização do CCBT como ensaio de referência para a determinação da
adesão nata-rocha parece uma alternativa viável para a definição do parâmetro de cálculo da resistência de
contato entre maciço e ancoragens, com destaque para os arenitos estudados neste trabalho.
Por fim, a relação entre a resistência do contato nata-rocha obtida em campo, através dos ensaios de
arrancamento, e a adesão de laboratório foi compatível numericamente, no entanto mais ensaios em
diferentes tipos de rocha (metamórficas, outras sedimentares, outras vulcânicas e as plutônicas) devem ser
executados para que seja possível obter parâmetros ainda mais seguros e também estabelecer relações ainda
mais concretas.
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