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1 dezembro 2012
CIDADE DE SANTOS
COMPARAÇÃO ENTRE AS PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS DO SUBSOLO DE ALGUNS
TRECHOS DA ORLA DE SANTOS
Engª. Marianna Silva Dias
ZaclisFalconi e Eng Assoc. s/s ltda

RESUMO

O objetivo do presente trabalho é apresentar a variação das propriedades geotécnicas do subsolo de


um trecho da orla de Santos, baseado na análise de sondagens à percussão, No trabalho é dado ênfase à
região da Ponta da Praia e na ocorrência inesperada de sedimentos encontrados à grandes profundidades.

INTRODUÇÃO

Há bastante tempo é de pleno conhecimento os problemas ocorridos nos edifícios da cidade de


Santos executados em fundação rasa, apoiados na camada superficial de areia.
Desde a década de 40, início da ocupação da orla praiana, sabia-se da ocorrência de uma espessa
camada de argila marinha mole, no subsolo santista e dos recalques que poderiam ocorrer, devido ao
adensamento que essa sofreria. Mas o fato da camada superficial de areia ser compacta, com pressão
admissível de 2,5 a 3,0 kg/ cm2, encorajou os construtores da época, a executar edifícios com mais de 12
pavimentos sob fundação direta, a 1,5m e 2,0m de profundidade.
Ao longo dos anos, o número de edifícios e a quantidade de pavimentos, aumentaram
significativamente, gerando um aumento nas tensões lançadas às camadas de argila, quer pelo incremento da
carga, quer pela interferência dos bulbos de pressão das construções vizinhas.
O resultado de tudo isso é facilmente hoje observado na cidade, inúmeros edifícios inclinados; ora
um em direção ao outro, ora em direções opostas, edifícios mais esbeltos inclinaram em direção aos de maior
inércia e ainda alguns que recalcaram para um lado sem influência de prédios vizinhos.
Fato curioso notado é que esses recalques não ocorrem em toda orla, existe uma “faixa crítica” na
praia de Santos, onde estão concentrados o maior número de prédios com problemas de recalques, facilmente
perceptíveis a olho nu. Essa região compreende a área entre os canais 3 e 6 (figura 02). No restante da orla,
foram bem menores os recalques.

PONTA DA PRAIA

Compreendido entre o canal 6 e a balsa de travessia para o Guarujá, o bairro da Ponta da Praia não
faz parte da ”faixa crítica” da orla de Santos, basta observarmos as edificações nessa região. Os edifícios
apoiados sobre a mesma camada superficial de areia e construídos na mesma época, se sofreram recalques
diferenciais, estes, a olho nu, são praticamente imperceptíveis.
Sabe – se que a primeira camada de areia no bairro da Ponta da Praia é mais espessa que no restante
da orla, o que não se sabe ao certo é se essa espessura é grande o suficiente para atenuar o recalque dos
edifícios dessa região, porque logo abaixo tem - se a presença da mesma argila marinha muito mole.
A diferença de comportamento dos edifícios da Ponta da Praia, também já havia chamado a atenção
da Prof.ª Heloisa Helena Gonçalves, que em sua dissertação de livre docência, 2005, levantou a seguinte
questão: “será que as argilas mais próximas à Ponta da Praia tem características diferentes das argilas
situadas próximo à Av Conselheiro Nébias?”
Teixeira, em 1994, traçou um perfil de toda orla de Santos, sintetizando a ocorrência das camadas de
areia e argila. Este perfil foi, e talvez ainda seja muito utilizado como referência, para ilustrar o subsolo de
Santos (figura 01). Em 2003, Massad fez algumas adaptações, colocando em questão a espessura da camada
de areia na Ponta da Praia e a ocorrência de outras camadas, deixando o perfil com alguns pontos de
interrogação. (figura02).

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Figura 01 – Perfil Geotécnico sintético da Orla Praiana - traçado por Teixeira, 1994

Figura 02 – Perfil Geotécnico sintético da orla praiana – Adaptado de Teixeira (1994) por Massad (2003)

Deu – se ênfase nesse trabalho a região compreendida entre a Avenida Conselheiro Nébias e a balsa,
que abrange quase toda a extensão da “faixa crítica” mais o bairro da Ponta da praia. Analisando um grande
número de sondagens, o que realmente pode-se observar foi uma alteração no perfil geotécnico da orla de
Santos, a medida que se aproxima do Guarujá. As figuras 03 e 04 (a e b) representem sondagens da região
estudada: canal 6 –Balsa; Av. Cons. Nébias – canal 5; canal 5 – 6 respectivamente.

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Figura 03 – Sondagem representativa da Ponta da Praia (canal 6 – balsa)

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Figura 05 – Perfil (a) – sondagem representativa do trecho Conselheiro Nébias - canal5; perfil (b) –
sondagem representativa do trecho canal 5 - 6
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ANÁLISE DAS SONDAGENS

Inicialmente foi observado que o aumento da espessura da primeira camada de areia é bem
significativo. Enquanto no restante da orla ela varia de 8,0 a 12,0 m na ponta da praia chega até mais de
23,0m (ver figura 06)
Foi observado também que à medida que se aproxima do canal 7, sentido Guarujá, as camadas de
argila SFL e AT não se encontram mais entremeadas por camadas de areia, como na faixa crítica, elas
tendem a se juntar.
Com a análise do NSPT das sondagens, foi calculado o NSPT médio tanto da primeira camada de
areia quanto da primeira camada de argila. As tabelas 1,2 e 3 mostram esses valores bem como a espessura
destas camadas
A princípio, observa – se que curiosamente, embora a primeira camada de areia da região da Ponta
da Praia, seja mais espessa, ela possui NSPT médio menor que na “faixa crítica”. Com a camada de argila
SFL ocorre o esperado, ou seja, na ponta da praia ela encontra – se mais sobre - adensada com valores de
NSPT médio maiores que nas outras regiões.
Para a primeira camada de areia, nota – se que na região compreendida entre av. Cons. Nébias –
canal 5 e canal 5- 6, a espessura da camada varia de 8,0 a 13,0m; no trecho canal 6- balsa fica em torno dos
20,0 m. Quanto aos valores de NSPT médio para av. Cons.Nébias – canal 5 e canal 5 - 6 a variação foi de 8 a
24, predominando valores por volta de 15; para a ponta da praia os valores variam entre 7 a 13,
predominando NSPT em torno de 10.
Para a camada de argila SFL em toda a região estudada a variação nos comprimentos se manteve
praticamente constante. O que foi comprovado com os valores de NSPT médio é que enquanto na região
entre av. Cons. Nébias – canal 5 e canal 5-6 os valores ficam em torno de 1,5 a 2,5 na Ponta da Praia varia de
2,5 a 3,5, mostrando que a camada de argila SFL nessa região é mais sobre - adensada.
Este sobreadensamento pode ser atribuído ao maior peso de terra que a camada de areia, na ponta da
Ponta da Praia, exerce sobre as camadas de argila mole. Podemos considerar a espessura média da camada de
areia na faixa crítica = 10,0 m e na Ponta da praia = 20,0, portanto a camada de argila na Ponta da praia
deveria sofrer o dobro de tensão que a mesma argila na faixa crítica.
Com as observações feitas acima, adapta – se agora o perfil de Teixeira, retificado por Massad,
conforme figura 07.

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Tabela 01 – Análise das sondagens entre Av. Conselheiro Nébias - canal 5
Conselheiro Nébias – CANAL 5

Sondagens SP01 SP02 SP03 SP04 SP05 SP06 SP07 SP08

Espessura da camada de areia (m) 11,0 13,0 7,0 8,0 10,0 9,0 9,0 9,0

Espessura da camada de argila SFL (m) 18,0 18,0 15,0 13,0 15,0 12,0 16,0 18,0

NSPT médio camada de areia 11,6 11,0 10,0 9,0 17,4 18,5 24,0 14,5

NSPT médio camada de argila (SFL) 2,5 2,9 2,3 2,0 1,5 1,5 2,0 2,4

Tabela 02 – Análise das sondagens entre os canais 5 - 6


CANAL 5 - 6

Sondagens SP01 SP02 SP03 SP04 SP05 SP06 SP07

Espessura da camada de areia (m) 8,0 7,0 8,0 8,0 8,0 9,0 8,0

Espessura da camada de argila SFL (m) 8,0 16,0 13,0 12,0 11,0 13,0 19,0

NSPT médio camada de areia 15,6 16,4 10,8 11,3 10,2 13,5 17,7

NSPT médio camada de argila (SFL) 1,8 1,8 1,3 1,2 1,3 2,3 2,7

Tabela 03 – Análise das sondagens entre os canais 6 – Balsa (Ponta da Praia)


CANAL 6 – Balsa Ponta da Praia

Sondagens SP01 SP02 SP03 SP04 SP05 SP06 SP07

Espessura da camada de areia (m) 23,0 22,0 20,0 21,0 20,0 20,0 17,0

Espessura da camada de argila SFL (m) 11,0 11,0 16,0 8,0 10,0 7,0 10,0

NSPT médio camada de areia 8,7 12,2 12,9 11,7 7,9 10,4 7,3

NSPT médio camada de argila (SFL) 3,3 3,3 2,5 3,2 3,0 3,3 2,6

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Figura07 – Perfil Geotécnico sintético da orla praiana – Adaptado de Teixeira (1994) por Massad (2003) por
Dias.M (2008).

No perfil acima, foi inserido um novo ponto de interrogação entre as camadas SFL e AT, pois como
dito anteriormente, a medida que nos aproximamos do Guarujá essas camadas se confundem não sendo
possível no momento afirmar a profundidade correta de sua ocorrência.
Mantém - se ainda os pontos de interrogação abaixo da camada de argila AT. Isto é atribuído ao fato
de muitas sondagens analisadas serem antigas, executadas na época de construção dos edifícios e como de
costume não eram muito profundas. Sendo assim, ainda restam dúvidas sobre a ocorrência das camadas no
subsolo de Santos a grandes profundidades. No próximo item será abordada esta questão com base na análise
de novas sondagens profundas realizadas em Santos.

SONDAGENS PROFUNDAS

Como uma grande quantidade de sondagens foi analisada, cabe ainda no âmbito desse trabalho,
levantar uma questão referente ao material encontrado no subsolo Santista a grandes profundidades.
Sabe – se que formação dos depósitos sedimentares da Baixada Santista se deu por processos
transgressivos – regressivos fortemente influenciados pelas variações relativas do nível do mar. A
Transgressão Cananéia, depositado há 100.000 – 120.000 anos, deu origem as argilas transicionais, AT e a
Transgressão Santos ocorrida a 5000- 7000 anos deu origem as argilas SFL.
As argilas transicionais A.T são sedimentos fortemente sobre - adensados com valores de NSPT
geralmente entre 6 e 10 golpes, podendo ser maior em grandes profundidades, já as argilas SFL, são
sedimentos levemente sobre - adensados com valores de NSPT bem baixo entre 1 e 2.
Geralmente as sondagens em Santos eram executadas até 50,0 55,0m, que é a profundidade na qual
costumava – se encontrar o solo residual. Sondagens executadas recentemente com mais de 70,0m
(figura08a) nos mostrou um perfil diferente do que estamos acostumados a descrever em Santos (figura01).
Camadas de argila muito profundas, com mais de 50,0 m, onde se esperava encontrar o solo residual,
foram constatadas. Essa argila é um pouco avermelhada, com valores de NSPT alto, sendo diferente da argila
AT. Também resta dúvida, se o material encontrado a 70,0m se trata realmente do solo residual ou
sedimentos continentais.
Os supostos sedimentos continentais e camadas de argila profunda foram observados em regiões
diferentes de Santos, próximo ao canal 4, há uma quadra da praia, figura08 (a) e próximo ao canal 6, um
pouco mais afastado da praia, figura 08 (b).

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Figura 08 (a) – sondagem realizada próxima ao canal 4; (b) – sondagem realizada próxima ao canal 6
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CONCLUSÃO

Com a análise de maior número de sondagens, foi possível complementar o perfil geotécnico da orla
de Santos, na região de aproximação com o Guarujá. Verificou – se que a primeira camada de areia tem um
aumento significativo no Bairro da Ponta da Praia, atingindo pouco mais de 23,0 m. Após a travessia da
balsa, já no Guarujá, essa camada de areia tende a desaparecer.
Observou - se também que embora a camada de areia na Ponta da Praia seja mais espessa,
apresentou valores de NSPT médio menores em relação as outras regiões estudadas. Já a camada de argila
SFL encontra – se mais sobre - adensada devido ao maior peso de terra exercido sobre ela. As camadas de
argila SFl e AT se juntam a medida que se aproxima do Guarujá, não sendo mais entremeadas por camadas
de areia.
Quanto ao recalque dos edifícios, pode – se dizer que a espessa camada de areia contribui não só
para o maior sobre – adensamento da argila, mas também faz com que o bulbo de tensão gerado pelos
edifícios não alcance ou alcance uma parte bem pequena da camada de argila, descarregando nela tensões
bem menores que na “faixa crítica”, fazendo com que os recalques tenham proporções bem menores. Os
edifícios da Ponta da Praia demonstram isso, a olho nu os recalques são imperceptíveis.
O avanço das construções de grande porte na cidade de Santos, propiciou um maior número de
investigações geotécnicas e fez necessário aprofundar as sondagens, dada a grandeza das cargas nas
fundações. Com isso foram encontradas camadas de argila bem profundas, com valores de NSPT elevados e
a presença do solo residual e/ ou sedimentos continentais a mais de 70,0 m de profundidade, contrariando o
perfil geotécnico que estávamos acostumados a encontrar na cidade Santos.

BIBLIOGRAFIA

GONÇALVES, H.H (2005) – Comportamento das Argilas moles: Aplicações a Problemas práticos da
Engenharia Civil. – Tese de Livre Docência apresentada à Escola Politécnica da USP – Universidade de São
Paulo.
MASSAD, F. (2003) – Características Geológicas e Geotécnicas dos Solos da Baixada Santista com ênfase
na Cidade de Santos. Worshop – Passado Presente e Futuro dos Edifícios da Orla Marítima de Santos,
Santos, P.2-38.
MASSAD, F. (1985) – As Argilas Quaternárias da Baixada Santista: Características e Propriedades
Geotécnicas. – Tese de Livre Docência apresentada à Escola Politécnica da USP – Universidade de São
Paulo.
TEIXEIRA, A. H. (1994) – Fundações Rasas na Baixada Santista – Solos do Litoral de São Paulo - livro
editado pela ABMS P. 137 - 154.

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