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Barragens

1- Segundo Guy Bordeaux, qual é a diferença conceitual entre sítio geológico e sítio geotécnico?
R= O sítio geotécnico é uma fração da crosta terrestre dentro da qual o homem atua e induz,
consequentemente, fenômenos que modificam o equilíbrio natural. Tal equilíbrio ambiental modificado tenderá
imediatamente a se reestabelecer e o sítio evoluirá para um novo estado próximo ao estado de equilíbrio.
Em termos mais precisos, o sítio geotécnico pode ser definido como a fração tridimensional da crosta da
terrestre dentro da qual pode-se considerar que uma obra determinada induzirá, de forma sensível, certos
fenômenos observáveis e suscetíveis de provocar alguns efeitos sobre o desempenho da mesma. A noção de sítio
geotécnico une indissoluvelmente uma fração da crosta terrestre e uma obra. Com efeito, no caso de se desprezar a
obra, não se estuda mais um sítio geotécnico, mas sim, um sítio geológico, caindo-se num erro frequentemente
cometido por geólogos que se dedicam à ciência fundamental e não à ciência aplicada.
2- Como podem ser agrupados os meios de investigação geotécnica utilizados para a elaboração de
projetos de barragem?
R= 1º grupo: A geologia  o primeiro grupo é o dos métodos clássicos da geologia, isto é, documentação,
foto-interpretação e mapeamento de campo, que abrangem o que se sabe e o que se vê do sítio e suas vizinhanças.
A interpretação dos resultados é direta, mas bastante subjetiva, e trata do que é ignorado e do que não se enxerga;
ela permite, entretanto, estabelecer um primeiro esquema do modelo do sítio e de definir o quadro geral da
mobilização, execução e interpretação dos métodos dos dois outros grupos;
2º grupo: A geofísica  os métodos de geofísica, elétrica, sísmica, de gravimetria e magnetometria
pertencem ao segundo grupo. O princípio geral desses métodos é medir sistematicamente na superfície do terreno,
um parâmetro cujas as variações permitem avaliar o desempenho de um campo de um volume de rocha cuja
estrutura está sendo estudada. Os resultados dessas investigações geofísicas permitem sempre burilar o modelo do
sítio anteriormente montado, mas não permitem criar e estabelecer um modelo;
3º grupo: Sondagens e ensaios  antes de se iniciar a aplicação dos métodos do terceiro grupo, que são
as sondagens e os ensaios, o bom senso indica que é absolutamente indispensável se dispor de um modelo o mais
elaborado possível. A operação de sondagem, qualquer que seja o método utilizado, torna-se então:
- Um meio de se testar e se provar o modelo já montado, permitindo inclusive melhorá-lo;
- Uma ferramenta que permite realizar medida dos parâmetros necessários, seja sobre amostras, seja “in
situ”.
Tal análise de amostra ou execução do ensaio “in situ” é apenas a medida de um parâmetro útil aos
estudos, em locais pontuais do maciço rochoso investigado. É por referência ao modelo preestabelecido que se
pode legitimanmente extrapolar ao conjunto do maciço rochoso os valores medidos pontualmente e interpretar a
forma de suas variações, a fim de se concluir o modelo.
3- O tipo de barragem a ser construída, bem como as suas dimensões depende de vários
condicionamentos. Neste sentido, ilustre pelo menos um aspecto relacionado aos seguintes
condicionamentos:
a) Condicionamento atmosférico;
O condicionamento atmosférico intervém sob os aspectos de clima, meteorologia, hidrologia,
pluviosidade, umidade do ar, etc. a influência desses diversos fatores sobre a concepção de uma barragem
pode ser bastante sensível como ilustrado abaixo:
- A umidade do ar e os ventos preponderantes têm influência sobre as possibilidades de redução, por
evaporação, de umidades excessivas de materiais argilosos de jazidas e, consequentemente, sobre as pressões
neutras construtivas e as declividades dos taludes das barragens;
- Os ventos, através de suas velocidades, direções predominantes e tempos de duração, têm influência
sobre as ondas geradas na superfície do reservatório e, consequentemente, sobre a borda livre (“revanche”,
“freeboard”) e a cota de crista da barragem;
- As chuvas influem sobre os dias trabalháveis para as máquinas de terraplanagem e,
consequentemente, sobre os prazos construtivos.
b) Condicionamento de superfície;
A configuração geométrica do vale onde se pretende implantar uma barragem influenciará
diretamente a posição do eixo do maciço principal e das ensecadeiras, salientando-se a importância de uma
campanha batimétrica cuidadosa cujos resultados determinarão o traçado do eixo das preensecadeiras para
fechamento e desvio do rio, bem como a sequência construtiva das mesmas. Vales alongados (na direção
paralela ao rio) permitirão qualquer tipo de seção transversal de barragem pela disponibilidade de encostas
extensas; ao contrário, vales curtos limitarão essa escolha a barragens de terra e enrocamento (com uma única
zona de enrocamento, seja a montante ou a jusante), ou a barragens de enrocamento com núcleo argiloso, ou
ainda a barragens de enrocamento com face de concreto. Em vales estreitos, barragens arqueadas de eixo
curvo poderão constituir uma solução vantajosa, sem ônus econômico, no sentido de se aproveitar a
contribuição das pressões hidrostáticas transmitidas pelos reservatórios em manter sempre tensões de
compressão ao longo da seção longitudinal da barragem e/ ou fechar eventuais trincas no maciço compactado
provocadas por recalques diferenciais; em vales largos, essa solução se torna inviável em termos econômicos,
sendo que eixo deverá ser reto ou alinhado ao longo do traçado de menor volume. Afinal, em ombreiras de
declividade muito suave e regular, os problemas de ocorrência de recalque diferenciais do maciço compactado
são quase inexistentes, enquanto que ao longo de encostas íngremes e irregulares, riscos potenciais de
fissuramento por recalques diferenciais do corpo da barragem poderão exigir o sobredimensionamento de
drenos, a fim de interceptar sem sobrecarga, qualquer fluxo de água ao longo das fissuras.
Portanto, não se pode deixar de considerar os seguintes fatores na hora de se projetar uma barragem
de terra e/ou enrocamento:
- Declividades das ombreiras;
- Variações de declividades das ombreiras e irregularidades topográficas (saliências);
- Distância das jazidas de materiais de construção;
- Relevo das jazidas e dos seus acessos;
- Geometria longitudinal das encostas, no sentido paralelo ao rio;
- Depressões no fundo rochoso do rio;
- Posição e forma do eixo da barragem em relação ao eixo do rio.

c) Condicionamento de sub-superfície;
O condicionamento subsuperficial que abrange os aspectos geológicos, hidrogeológicos, de mecânica
dos solos e das rochas, de sismicidade e de hidráulica subterrânea deverá ser estudado de modo a:
- Identificar os conjuntos contínuos e homogêneos, bem como determinar as suas fronteiras e as
propriedades dos materiais pertencentes aos mesmos;
- Tentar identificar e caracterizar o melhor possível as descontinuidades eventuais (lembrando-se que
a experiência tem demonstrado que o comportamento crítico, condicionante e/ou gerador de acidente, decorre
sempre de descontinuidades).
O condicionamento geológico intervém em duas áreas distintas: a das fundações e ombreiras e a das
jazidas de materiais de construção.
No tocante às fundações e ombreiras, os estudos geológicos e geotécnicos deverão prosseguir até
profundidades em que as solicitações hidráulicas e geomecânicas transmitidas pela futura represa não tenham
mais efeito (ou tenham apenas efeitos desprezíveis) sobre o comportamento do maciço rochoso.
No tocante às jazidas de materiais de construção, os estudos geológicos prévios deverão fornecer
todas as informações necessárias sobre as potencialidades das áreas adjacentes e próximas do local da
barragem. As investigações deverão identificar todos os materiais disponíveis desde os solos finos argilosos
até as areias e cascalhos naturais e os materiais rochosos (pedreiras). A partir da obtenção de todos os dados
geológicos colhidos através do estudo de fotografias aéreas, mapeamentos de campo, pesquisas geofísicas e
execução de furos “pilotos”, as investigações geotécnicas deverão ser realizadas sistematicamente com o
objetivo de caracterizar e quantificar os materiais existentes em cada jazida; essas investigações deverão ser
complementadas por estudos visando analisar as distâncias de transporte, a transposição de obstáculos naturais
e a posição de cotas das jazidas em relação à barragem e ao rio.
d) Condicionamento construtivo;
Os aspectos construtivos de uma barragem de terra e/ou enrocamento podem influenciar
substancialmente a concepção e o projeto de um aproveitamento. Os principais fatores a ser levados em
consideração são:
- Prazo de construção:
- Etapas de construção;
- Necessidade de travessia do rio para transporte de materiais de construção;
- Densidade dos equipamentos de terraplenagem nas praças de construção, nas estradas de acesso e
nas escavações;
- Bermas para estradas de acesso sobre os taludes de montante e jusante da barragem.

e) Condicionamento ecológico.
Os estudos do projeto bem como a elaboração das especificações técnicas devem ser conduzidas de
modo a limitar ou até eliminar os riscos de danos temporários ou permanentes ao meio ambiente. Os
principais cuidados a serem observados são:
- As jazidas de materiais de construção deverão ser locadas, exploradas e drenadas superficialmente,
de forma a minimizar os riscos de erosão e transporte de sedimentos para os rios;
- As modificações introduzidas na paisagem pelas operações de limpeza e raspagem da superfície das
áreas de trabalho, exploração das jazidas de materiais de construção, escavação para implantação das
estruturas e formação de bota-foras deverão ser suavizadas e cicatrizadas através de ataludamentos adequados,
reflorestamentos, plantação de grama e outros tratamentos corretivos, a fim de minimizar o impacto do
aproveitamento e de sua construção sobre o meio ambiente bem como para eliminar vestígios inestéticos. Tais
adaptações devem ser entretanto compatibilizadas com as exigências de segurança e desempenho da
barragem.
- Lamas especiais utilizadas para a construção de paredes diafragmas ou de trincheiras de lama tipo
“slurry trench” bem como as operações de execução de aterros hidráulicos deverão ser conduzidas de forma
adequada a fim de evitar o despejo dos resíduos dentro do rio. Para atingir essa finalidade, tanques de
decantação deverão ser providenciados.

4- As investigações geotécnicas das fundações e das ombreiras de uma barragem, bem como as possíveis
jazidas de materiais de construção devem ser conduzidas de forma a alcançar quais objetivos?
R= As investigações geotécnicas das fundações e das ombreiras de uma barragem, e das jazidas
potenciais de materiais construção devem ser adequadamente conduzidas de modo a determinar:
- As propriedades geomecânicas e geo-hidráulicas das fundações e das ombreiras;
- Os tipos de tratamento de fundação a serem utilizados;
- Os taludes de escavação;
- As disponibilidades e as características dos materiais de construção.
São os resultados dessas investigações que determinarão o tipo de barragem mais adequado ao local
escolhido.

5- Esboce a seção típica de uma barragem de terra cuja seção principal tem altura máxima de 30 m, a ser
construída em um terreno que apresenta na cota de assentamento das fundações uma camada de areia
siltosa com permeabilidade média, com espessura de 3,0 m, seguida por uma camada de rocha sã,
sabendo que na região de entorno da barragem foram identificadas jazidas de argila siltosa e
pedregulho areno argiloso. Identifique os elementos principais da seção esboçada.
6- Cite uma vantagem e uma desvantagem de barragens de enrocamento com núcleo argiloso inclinado
quando comparadas com as barragens de enrocamento com núcleo argiloso central (para melhor
ilustração das respostas, esboce as seções típicas referentes às duas seções analisadas).
Basicamente uma barragem de enrocamento com núcleo vertical tem duas vantagens principais sobre
uma barragem com núcleo inclinado:
1-) Garante geralmente uma pressão maior no contato do núcleo com a fundação, o que é favorável à
diminuição da percolação da água ao longo desse contato;
2-) Permite aplicações de injeções de cimento sob o núcleo após o enchimento do reservatório.
Por outro lado, barragens de enrocamento com núcleo inclinado apresentam as seguintes vantagens:
1-) Uma grande parte do contranúcleo do enrocamento de jusante pode ser construída numa primeira
etapa, sendo que o núcleo argiloso pode ser executado numa fase posterior. Essa vantagem tem muito peso no
caso de se projetar uma barragem numa região com períodos chuvosos bem definidos durante os quais a
construção do núcleo argiloso é praticamente paralisada. Tal geometria interna de uma barragem de
enrocamento permite também que, durante a construção prioritária do contranúcleo de jusante, se fizesse todo
o tratamento da fundação do núcleo impermeável (injeções de cimento, preparo da superfície,etc);
2-) Em regiões sísmicas, esforços dinâmicos são melhor absorvidos pela maior massa de
enrocamentos não submersa situada a jusante do núcleo;
3-) Efeito de silo.
Entretanto, as barragens de enrocamento com núcleo inclinado apresentam a grave desvantagem de
impossibilitar qualquer serviço adicional de injeções de cimento após o enchimento do reservatório. Mesmo
esvaziando-se o reservatório, tais trabalhos de injeções seriam praticamente impossíveis já que seria
necessário perfurar primeiro o maciço dos enrocamentos. Consequentemente, numa barragem de enrocamento
com núcleo inclinado, pode ser prudente prever uma galeria engastada nas fundações sob o núcleo, a fim de
permitir tratamentos adicionais da fundação da barragem depois do reservatório cheio.

7- Esboce uma seção típica de uma barragem de enrocamento da terceira geração e cite pelo menos duas
vantagens associadas a esse tipo de barragem.
As barragens de enrocamento com face de concreto podem ser divididas em três grupos, de acordo
com a evolução dos critérios de projeto e dos métodos construtivos:
- As o primeiro grupo ou de “primeira geração”, caracterizam-se por terem sido construídas com
enrocamento lançado, colocando-se uma camada de pedras grandes arrumadas sob a face de concreto e
utilizando-se cut-off vertical escavado na rocha sã. Consequentemente, sofreram recalques apreciáveis,
fissuramento da laje e infiltrações elevadas, o que exigia esvaziamento dos reservatórios e reparos repetidos.
Algumas das mais conhecidas são as barragens de Salt Spring (100 m), Wishon (90 m), New Exchequer (160
m) e Paradela (120 m), todas construídas entre 1930 e 1960;
- As do segundo grupo ou de “segunda geração” foram desenvolvidas a partir de 1960 e tem como
características principais a utilização de enrocamento compactado, uma transição de enrocamento fino
compactado sob a face de concreto e a adoção de uma laje cut-off simplesmente apoiada e ancorada sobre a
rocha sã. Tais barragens foram principalmente construídas na Austrália e apresentam um excelente
desempenho com recalques muito pequenos e infiltrações mínimas; são elas as de Pindari (45 m), Cethana
(120 m) e Kangaroo Creek (60 m);
- As do terceiro grupo ou de “terceira geração”, nasceram com a construção da barragem do Alto
Anchicaya, na Colômbia, com 140 m de altura, concluída em 1974. Além de aperfeiçoar os conceitos
introduzidos pelas barragens australianas, estas obras se caracterizam pelas alturas maiores, o que introduz
problemas construtivos e exigências de projeto mais complexos. Entre as mais importantes, menciona-se a
barragem de Foz de Areia ( m), Golillas (130 m), Yacambu (150 m), Jamrani (160 m), todas em construção.
* Vantagens e inconvenientes de uma barragem de enrocamento com face de concreto
Nos locais onde o embasamento rochoso da fundação é quase aflorante, e nos projetos que exigem,
para a implantação das estruturas de concreto e das obras de desvio, grandes escavações em rocha, uma
barragem de enrocamento com face de concreto apresenta muitas vantagens.
1) Eliminação do problema de construção de núcleos argilosos em períodos chuvosos;
2) Possibilidade de ser construída em um local onde não existem jazidas de solo adequados;

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