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FACULDADE DE ENGENHARIA DE ILHA SOLTEIRA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL


GEOLOGIA PARA ENGENHEIROS
Prof. Dr. Jose Augusto de Lollo

Condicionantes Geológicos de Obras de


Engenharia: Canais de Navegação

Discentes:
Eduardo Roque Carneiro RA: 181050285
Matheus Pinheiro Lourenço de Oliveira RA: 172054397
William Carlos H. Miranda RA: 172054354

Ilha Solteira-SP
Outubro 2019
Canais de Navegação

A importância dos canais, construídos ou adaptados pelo homem, vem


desde a Antiguidade. Há mais de 4000 anos os egípcios já empregavam canais
para ligar o Rio Nilo ao Mar Vermelho e para a prática da agricultura irrigada.

Os canais são condutos naturais ou artificiais, destinados a escoar as


águas, com uma superfície livre. São construídos tanto ao longo dos próprios
cursos d’água da rede hidrográfica, modificados de acordo com as
necessidades, como escavados em terra seca.

Os canais diferenciam-se, principalmente, pela utilização das águas


conduzidas e pelas características do meio físico envolvido, fatores que
condicionam um conjunto de peculiaridades, com implicações para a definição
dos projetos, passando por aspectos construtivos e procedimentos de
manutenção dos canais em operação.

Deve-se salientar que os canais constituem intervenções que podem


causar profundas modificações nos meios físico e biótico, afetando a complexa
interação substrato-relevo-solo e os sistemas dependentes desse equilíbrio,
particularmente os lençóis freáticos e os ecossistemas associados aos rios.

Assim sendo, o projeto de um canal deve tentar coagir as tendências


naturais dos cursos d’água de modo favorável ao aproveitamento econômico do
recurso, minimizando o impacto ambiental. Atingir esse objetivo e, ao mesmo
tempo, encontrar o melhor equilíbrio entre a obra e o meio, requer larga
abrangência de enfoques como avaliação regional quanto à Geologia,
Geomorfologia, Pedologia, Hidrogeologia; levantamento do lençol freático;
suscetibilidades erosivas e ocupações de terras.

Os canais mais comuns são: hidrovias, canais de navegação, de irrigação,


de retificação e de adução para abastecimento. Segundo a concepção do
projeto, o canal pode ser escavado, em aterro, estrutural e misto. Quanto à seção
transversal, os tipos mais comuns são trapezoidal, retangular, triangular e
circular. A figura 1 mostra uma seção transversal e alguns termos utilizados.
Figura 1 - Componentes de um canal

Fonte: Andreotti, 1974


Os canais de navegação de navios são estruturas construídas para
acomodar a passagem de navios de um ponto a outro. O principal objetivo é criar
um atalho para a navegação, evitando longos deslocamentos dos navios. Além
disso, são usados para criar uma rota navegável entre dois oceanos, mares ou
lagos separados por terra.

A utilização dos canais de navegação é muitas vezes uma alternativa


economicamente viável a outros modos de transporte ou mesmo ao
deslocamento do navio por grandes distâncias para contornar o obstáculo.

Em relação aos critérios de projeto, os canais de navegação devem


apresentar alinhamento do eixo e dimensões das seções transversais
adequadas ao tráfego e aos tipos de embarcações. O calado mínimo deve ser
mantido durante os períodos de estiagem. Em geral, fazem parte de um sistema
mais complexo que compreendem eclusas, barragens e portos.

Os condicionantes geológicos de um canal de grande porte podem ser


considerados segundo suas influências nos componentes da obra, ou seja, nas
escavações, nos materiais de construção e nos taludes, bem como no seu
comportamento, durante a operação, tendo em vista as alterações de processos
relacionados à dinâmica da água superficial e subterrânea.
a. Escavações: processo empregado para romper a compacidade do solo
ou rocha, por meio de ferramentas e processos convenientes, tornando
possível a sua remoção. A natureza dos materiais pelo canal e a posição
do nível d’água constituem os principais condicionantes dos métodos de
escavação. A categoria do material determina o tipo de escavação a ser
usado, entre eles estão a escavação comum, escavação de rocha por
desagregação ou mista e escavação de rocha por explosivo;

b. Talude: definido como superfície inclinada de maciços terrosos, rochosos


ou mistos (solo e rocha), originados de processos geológicos e
geomorfológicos diversos. Em canais, o problema de estabilidade é
agravado pela saturação e pela oscilação do nível d’água, que geram
condições mais instáveis, sobretudo nas situações de esvaziamentos
rápidos. Pequenos desbarrancamentos podem se manifestar em canais
não revestidos, devido à ação de solapamento da água, especialmente
pelo embate de ondas, que pode desencadear escorregamentos de maior
amplitude ou progredir margem a dentro. Os processos dependem de
condicionantes geológicos, desde a natureza dos terrenos, cortados pelo
canal, até as condições hidrogeológicas locais. Tais condicionantes
determinam o projeto mais adequado do canal, no qual se destaca a
inclinação dos taludes mais segura e econômica, e a necessidade ou não
de revestimento;

c. Materiais de construção: são os materiais rochosos utilizados na


construção civil que envolvem os agregados e pedras de revestimento;

d. Dinâmica das águas de superfície: além dos condicionantes de ordem


hidrológica, os condicionantes geológicos atuam na dinâmica dos
processos erosivos e deposicionais, devendo ser levados em conta nos
projetos de canais, especialmente daqueles que são implantados nos
próprios cursos d’água. O projeto sempre considera um regime de
escoamento uniforme e quando há fatores que interferem, deve-se prever
o controle por meio de trechos de transição, com alterações de parâmetro
geométricos. A velocidade média no escoamento uniforme é função do
raio hidráulico, por conseguinte da largura e da profundidade do canal, e
da declividade e coeficiente de rugosidade das paredes (Zeny, 1984). A
carga de sedimentos transportados inclui-se no contexto do sistema
erosivo-deposicional. Desde logo, é imprescindível definir as áreas-fonte
dos materiais liberados para drenagem. Na sequência, deve-se entender
a movimentação dos detritos ao longo das encostas e canais, definindo-
se granulometrias possíveis de deposição ou de transporte para fora do
sistema;

e. Dinâmica das águas subterrâneas: o comportamento do lençol freático


pode sofrer profundas alterações com a construção de um canal, além de
influir na estabilidade dos taludes do próprio canal. A extensão de tais
alterações, em termos de amplitude, área afetada e tempo necessário
para que se manifestem, podem ser previstos pela aplicação de modelos
numéricos (IPT,1992). Para isso, são necessários estudos
hidrogeológicos que determinem as características hidráulicas e o
comportamento do aquífero. Tais previsões são essenciais para que o
projeto de canais previna alterações indesejáveis.

Os três principais canais de navegação do mundo são:

a. Canal da Mancha: localiza-se na Inglaterra, unindo o Mar do Norte ao


Oceano Atlântico, e possui 563 km de comprimento, com uma largura
variando de 33 km a 240 km, e uma profundidade que vai de 45 m a até
120 m. Uma particularidade do Canal da Mancha, é que sob suas águas
passa o EUROTÚNEL, um túnel ferroviário submarino e subterrâneo com
51 km de comprimento sendo 37,9 km embaixo do mar, a uma
profundidade média de 45,7 m chegando a até 60 metros abaixo do nível
do mar;

b. Canal de Suez: inaugurado em 1869, é um canal com 160 km de


comprimento, com 170 m de largura e uma profundidade de 20 m. Faz a
ligação entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho, e localizado no Egito.
Sua construção levou 10 anos e ele é também conhecido como a auto
estrada para a Índia. Permite a navegação entre Europa e Ásia sem ter
que contornar o sul da África, encurtando 9700 km de distância marítima;

c. Canal do Panamá: aberto em 1914, é um canal com 82 km de


comprimento, com 152 m de largura e uma profundidade de 26 m, ligando
o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico, localiza-se no Panamá. É
fundamental para os transportes, inclusive dos EUA, quando os produtos
são enviados por via marítima de uma costa a outra.

No Brasil, alguns projetos de canais de navegação merecem destaque:

a. Canal da Cosipa: na Baixada Litorânea de Santos (SP), submersa nas


águas do estuário do Rio Cubatão, aberto por dragagem de sedimentos
inconsolidados e utilizados para navegação;

b. Hidrovia Tietê-Paraná: nos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste,


aproveitando e interligando reservatórios de usinas hidrelétricas através
de eclusas;

c. Canal de Pereira Barreto: no Oeste Paulista, aberto em sedimentos


arenosos, com diferentes graus de coerência, interligando os lagos das
usinas de Três Irmãos (Rio Tietê) e Ilha Solteira (Rio Paraná) para
navegação e geração de energia.

Condicionantes geológicos no Canal de Pereira Barreto

O Canal de Pereira Barreto foi escavado em terreno seco, tendo o ensaio


de resistência à compressão simples como referência para a classificação e
compartimentação do maciço, mostrando que pequenas variações de resistência
condicionaram a escolha dos métodos de escavação e, consequentemente, os
custos. Foram realizados testes de escavação, cujos resultados permitiram
definir o método de escarificação como o mais adequado e a adoção de pré-
fissuramento por fogacho, nas faixas de arenito mais resistente, o que traria,
ainda, benefícios para a drenagem dos taludes (Kaji et al., 1981). Os taludes com
até 61 m de altura, foram projetados a partir de análises de estabilidade,
específicas aos diversos tipos de materiais que compreendiam solos coluviais e
arenitos de diferentes resistências, com intercalações de lentes argilosas
(Imaizumi et al., 1981). No caso dos materiais de construção, foi procurado usar
materiais alternativos, ou seja, arenitos, dada sua disponibilidade, criada pelas
escavações. Entretanto, os resultados dos ensaios geotécnicos dos materiais
obtidos em escavações experimentais indicaram a ocorrência de comportamento
expansivo, seguido de desagregação, quando submetidas a ciclos de
umedecimento e secagem. Recomendou-se, portanto, o seu uso apenas em
obras provisórias, de menor importância, ou em locais sem ação de ciclos de
umedecimento e secagem (Koshima et al., 1981).

Referências:

[1] Oliveira, A. M. S.; Alves de Brito, S. N. Geologia de engenharia. São


Paulo: Associação Brasileira de Geologia de Engenharia, 1998.

[2] Coelho, L. R. Os principais canais de navegação do mundo. 2011.


Disponível em: <https://www.logisticadescomplicada.com/os-principais-canais-
de-navegacao-do-mundo/>. Acesso em: outubro de 2019.

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