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JUNTA LONGITUDINAL EM CCR NA BARRAGEM DO CASTANHÃO

Walmir Fernando Duarte Jardim


Engesoft Engenharia e Consultoria

William A. Moler
Montgomery Watson Brasil Ltda

RESUMO

Este trabalho apresenta o histórico da junta longitudinal criada durante a construção do


paramento central em concreto compactado a rolo (CCR) na barragem do Castanhão, no
Ceará. Explica o tratamento especificado para garantir a fusão da junta entre os dois
estágios da barragem de gravidade, para que a mesma funcione monoliticamente. Por fim
aborda a instrumentação planejada para monitoramento da integridade da junta.

ABSTRACT

This paper presents a case history of the longitudinal joint in the central, roller compacted
concrete (RCC) section of Castanhao dam in the state of Ceará, Brazil. It describes
where and why the joint occurred, and details the joint treatment measures specified to
guarantee bonding of the first and second stage RCC to insure that the structure behaves
monolithically. Finally, planned instrumentation to monitor joint behavior is outlined.

1 - INTRODUÇÃO

O emprego da tecnologia do CCR em algumas soluções da engenharia de barragens tais


como: o alteamento de barragens de gravidade existentes e o uso de maciços, em seções
parciais, como ensecadeiras vertedouras, tem se mostrado eficiente e promissor. No
entanto, nestas situações criam-se juntas longitudinais, na interface entre o concreto
remanescente e o novo, que merecem cuidados e atenções especiais para que sejam
evitadas infiltrações indesejadas neste contato.
A barragem do Castanhão, em CCR, foi concebida com o emprego de uma seção parcial
do próprio maciço como elemento de descarga de cheias, com a finalidade de antecipar o
fechamento do rio e início da reservação. Este caso é abordado no presente artigo
considerando a importância desta junta numa barragem com altura máxima próxima de 70
m e situada numa zona sísmica relevante em termos nacionais.

2 - O PROJETO ORIGINAL DA BARRAGEM

A barragem do Castanhão situa-se na região do médio Jaguaribe, no estado do Ceará,


com seu reservatório abrangendo os municípios de Alto Santo, Jaguaretama, Jaguaribe e
Jaguaribara. O local do eixo do maciço dista cerca de 260 km, por via terrestre, da capital
do estado.

O empreendimento da barragem do Castanhão foi idealizado pelo Departamento Nacional


de Obras Contras as Secas -DNOCS com os objetivos de: a) proporcionar um
desenvolvimento hidroagrícola com irrigação nas chapadas do Castanhão (43.000 ha) e
Apodi (30.000 ha); b) controlar as enchentes do Baixo Vale do Jaguaribe; c) gerar 22,5
MW de energia elétrica e d) suplementar o abastecimento de água da Região
Metropolitana de Fortaleza (RMF), que se projetava crítico para o 3º milênio.

O projeto original, elaborado pelo Consórcio Hidroservice-A.Noronha e concluído em


junho de 1993, foi concebido com um maciço principal em terra homogênea em
praticamente toda a sua extensão (3.450 m) e apenas um segmento de 76 m em
enrocamento, com delgado núcleo argiloso inclinado para montante, na região da tomada
d’água (ombreira direita). O maciço principal, com altura máxima de 60 m acima do leito
do rio, foi previsto para formar um lago com um volume de reservação de 4,46 bilhões de
m3 no nível máximo das comportas, e de 6,67 bilhões de m3 no nível máximo maximorum.
No trecho do rio (cerca de 420 m de extensão) o maciço foi previsto com fundação sobre
a camada de aluvião arenoso porém, dotado de uma trincheira de vedação até o topo
rochoso, considerado em média 7,0 m abaixo da superfície do pacote aluvionar. Nas
margens foram previstos 9 diques auxiliares, em terra homogênea, com uma extensão de
4,3 km.

O vertedouro adotado é do tipo superficial, situado na margem direita, com uma calha de
descarga de 153 m de largura e um trampolim de arremesso das vazões num poço de
amortecimento escavado em rocha. O vertedouro foi projetado com 12 comportas
segmento, com lâmina máxima de sangria de 11 m e capacidade de escoar uma vazão de
até 12.345 m3/s.

2 – O DESENVOLVIMENTO DAS OBRAS

A construção da barragem do Castanhão foi contratada pelo DNOCS à Construtora


Andrade Gutierrez S. A., num prazo de 1440 dias, e iniciada em novembro de 1995.

Os trabalhos desenvolveram-se nos diques auxiliares, na região do maciço principal


situada nas margens do rio e no vertedouro até o final do primeiro semestre de 1996,
quando atacou-se a região do leito do rio. Constatou-se, quando das escavações da
trincheira de vedação, que no trecho entre as estacas 113 e 117 o substrato rochoso
apresentava uma depressão paralela ao leito do rio, com dimensões e características
bastantes peculiares, não considerada nos desenhos do projeto e que a areia do pacote
aluvionar apresentava- se, de modo geral, fofa. Esta depressão, dita “paleocanal”, descia
em cascata num desnível de cerca de 23 m, entre a região do pé de montante do projeto
da barragem até o eixo, com largura variável de 30 a 60 m e paredes verticalizadas com
grandes irregularidades e muitas fraturas.

Nesta fase os trabalhos na região do leito do rio foram paralisados e realizadas


campanhas adicionais de sondagens a percussão, sísmicas de refração, ensaios de cone
elétrico e ensaios “in situ” de compacidade relativa.

Com base nas informações da situação do topo rochoso, na área do paleocanal,


deslocou-se a zona de vedação para montante, onde a rocha do fundo do canal
apresentava-se em cotas mais elevadas, e reiniciou-se os trabalhos com a construção de
um muro de concreto e aterro com material impermeável a montante do muro. Essa
solução emergencial foi trabalhada até final do ano de 1997.

Com os trabalhos paralisados na região do leito do rio e verificadas as reais proporções


do paleocanal e a baixa compacidade da camada aluvionar arenosa, discutiu-se
exaustivamente as possibilidades de liquefação do substrato arenoso ( principalmente
porque a obra encontra-se dentro de uma das zonas sísmicas mais ativas do país) e da
adoção de uma solução mais ampla e final na zona do paleocanal. Paralelamente a
análise de soluções para estes dois assuntos os trabalhos foram concentrados nas zonas
das margens e principalmente no vertedouro.

Neste ínterim a situação do abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF)


agravou-se substancialmente e, no início de 1999, com o cronograma das obras defasado
e demandando cerca de 3 anos para a conclusão da barragem, com seção em terra e já
consideradas as soluções apresentadas para as pendências, a Secretaria dos Recursos
Hídricos do Ceará (SRH-CE) e o DNOCS tomaram a decisão de construir a barragem no
trecho do leito do rio em CCR.

A decisão de mudança do material do maciço para CCR foi embasada na possibilidade de


ao longo da obra a seção em CCR permitir o galgamento por enchentes sem riscos de
sua integridade e, como conseqüência, a barragem iniciar uma reservação parcial dois
períodos chuvosos antes do previsto para a solução em terra. Argumento também
considerado nessa tomada de decisão foi que devido ao porte da obra de terra necessária
à conclusão do maciço, os recursos financeiros necessários para o fechamento total do
rio deveriam estar disponíveis em curto espaço de tempo, para que a obra não parasse e
não houvesse o risco de galgamento antes da sua conclusão. No caso do CCR, uma
eventual desaceleração financeira da obra não colocaria em risco a segurança do maciço.

A empresa Engesoft Engenharia e Consultoria Ltda foi, então, contratada para a


elaboração do projeto básico e executivo do paramento central da barragem Castanhão,
em CCR. Em consórcio com a Montgomery Watson iniciou-se, em maio de 1999, os
estudos para a execução de um projeto básico que propiciasse a negociação dos órgãos
contratantes com a empresa construtora e o início imediato das obras. Em agosto do
mesmo ano o projeto básico foi entregue e em setembro/99 a Construtora Andrade
Gutierrez iniciou os trabalhos na região do leito do rio.

Em setembro deste mesmo ano o abastecimento de água da RMF entrou em eminência


de colapso o que levou aos órgãos gerenciadores da obra a decidirem pela alteração da
seqüência de desvio do rio proposta no projeto básico e estabelecer uma antecipação do
fechamento do rio para o primeiro semestre de 2000. Essa decisão acarretou numa
alteração dos princípios básicos estabelecidos no Projeto e acatando-a entregou-se uma
minuta do projeto executivo em janeiro/2000 e, em forma final, em março/2000, sempre
com a obra em andamento.

Em junho/2000 o rio Jaguaribe foi fechado com uma seção parcial do maciço e acumulou
um volume de cerca de 100 milhões de m3, aliviando o gerenciamento do abastecimento
da RMF. A partir daí a obra passou a se desenvolver em um ritmo cada vez mais lento,
sofrendo inclusive paralisação total por falta de dotação orçamentária. No final do primeiro
trimestre de 2001 a obra, com recursos financeiros assegurados, reiniciou-se com plena
produção.

3- O PROJETO DO PARAMENTO CENTRAL EM CCR

O projeto do paramento central da barragem do Castanhão transcorreu em duas fases


distintas, a saber: projeto básico e projeto executivo. O projeto básico foi elaborado em
caráter emergencial durante 90 dias, tomando-se como base os estudos de campo já
realizados na obra (sondagens, ensaios in situ, boletins de escavações, fotos, etc), os
relatos de todos os técnicos envolvidos na construção além, de toda documentação
trocada entre consultores, supervisores, construtores e fiscalização.
Estabeleceu-se como condicionantes do projeto a transição com os aterros já edificados
nas margens, o deslocamento do eixo para regiões menos profundas do paleocanal, o
aproveitamento das obras de concreto executadas na área do paleocanal e a adequação
com a tomada d’água e sua torre de operação, já concluídas na margem direita. Para
atender tais premissas concebeu-se um eixo para a barragem de CCR deslocado para
montante do eixo original, com 630 m de extensão e 3 curvas horizontais, na seqüência
montante- jusante- jusante, a partir do aterro da ombreira esquerda (tomado como estaca
0).

Pelo fato de que o vertedouro do projeto original já estava praticamente concluído,


decidiu-se adotar uma seção em gravidade sem trecho vertedouro e com cota de
coroamento semelhante a indicada para o maciço de terra projetado anteriormente. Na
Figura 1 é apresentada a planta baixa do eixo e a seção máxima do paramento central em
CCR.

O desvio do rio e as etapas construtivas neste projeto básico consistiam numa seqüência
de 3 fases que permitiriam o fechamento do rio em janeiro/2001 (ver Figura 2). Na fase I,
entre outubro/1999 e julho/2000, seriam construídas ensecadeiras entre a tomada d’água
e a calha atual do rio, permitindo a construção do maciço de CCR até a cota 63,0 m.
Nessa fase o rio transcorreria normalmente pela calha atual.

Na fase II, entre agosto/2000 e dezembro/2001, seriam construídas as ensecadeiras de 2ª


fase na calha do rio, desviando-o para a galeria da tomada d’água durante a estação
seca. Nessa área, protegida pelas novas ensecadeiras, seria construído o maciço de CCR
até aproximadamente a cota 68,0 m.

Na fase III, a partir de janeiro/2001, com o desvio sendo feito de forma contínua pela
galeria da tomada d’água, executaria-se o maciço de CCR em toda a extensão projetada.
A seção central do maciço seria construída com um rebaixo para segurança num possível
galgamento durante a estação chuvosa.
Após a entrega do Projeto Básico a situação do sistema de abastecimento da RMF
mostrou-se extremamente crítica devida a pequena recarga recebida no período chuvoso
de 1999, como pode ser vista no Quadro 1, antevendo-se que haveria uma total
dependência da vazão transportada do rio Jaguaribe, via “canal do trabalhador”.

Quadro 1- Situação dos Açudes que abastecem Fortaleza, em setembro/1999


Açude % da Capacidade de Acumulação
Acarape do Meio 19,9 %
Gavião 71,3 %
Pacajus 19,5 %
Pacoti 6,5 %
Riachão 22,25 %
Total geral dos açudes 15,0 %

Tendo em vista a gravidade da situação a SRH preocupou-se com o reforço imediato do


sistema de açudes de perenização que localizam-se no rio Jaguaribe, tendo adotado
como meta o fechamento do rio e início da acumulação na barragem do Castanhão ainda
na estação chuvosa de 2000.

No entanto, para atendimento dessa meta seria necessário produzir e lançar 2.500m3 por
dia e as centrais de britagem (70 t/h) e concreto(600 m3/dia) existentes na obra não
apresentavam capacidades suficientes. A aquisição, instalação e entrada em operação
das novas centrais programadas para a obra demandariam um tempo incompatível com o
cronograma estabelecido. O consórcio projetista foi então solicitado pela SRH-CE e
DNOCS para alterar a concepção das etapas construtivas e do sistema de desvio do rio
estabelecida no projeto básico, considerando as produções das centrais existentes na
obra até abril/2000 e, a partir de maio/2000, a entrada em operação das novas centrais
com produção máxima de 300 t/h de agregados pétreos e 2.500 m3/dia de CCR.

Já dentro da fase de projeto executivo foi desenvolvida a concepção de realizar nas


primeiras etapas um maciço de CCR em seção parcial, a partir da face de montante, sob
proteção da ensecadeira existente na obra, e seu uso numa extensão de cerca de 200 m
como ensecadeira galgável, quando do fechamento do rio. Em etapas posteriores, depois
de assegurada a criação do reservatório emergencial, a seção do maciço seria
completada para a seção final do projeto, formado-se uma junta longitudinal a partir da
interface da seção parcial de CCR com o restante da seção plena. As quatro etapas de
desvio do rio e fases construtivas idealizadas no projeto executivo são apresentadas na
Figura 3 e podem ser resumidos a seguir:

1ª etapa: Com o rio Jaguaribe estrangulado na margem esquerda e sob proteção de


ensecadeiras o maciço seria atacado entre as estacas 9 +7,4 e 23 no período de
outubro/1999 a janeiro/2000. Neste trecho seriam desenvolvidas as seguintes atividades:
a) execução do maciço de CCR em seção parcial, com largura de crista de 5 m, na cota
57,0 (estaca 9 +19,3 a 20) e na cota 61,0 (estaca 9 +7,3 a 9+ 19,3); b) execução do
maciço de CCR em seção plena na cota 62,2 e largura da crista de 7,5 m, entre estacas
22 e 23; c) construção das ensecadeiras de terra de montante na cota 62,0 m (estaca 22
até ombreira direita) e de jusante na cota 58,0 m (estaca 21 até ombreira direita).

2ª etapa: Prevista para a primeira quinzena de fevereiro/2000 consistia na construção da


ensecadeira de montante, em enrocamento e terra, na calha do rio e ombreira esquerda,
representando o fechamento do rio e início da formação do lago de reservação.

3ª etapa: Concebida para iniciar-se na segunda quinzena de fevereiro e encerrar-se no


final de abril/2000, indicava trabalhos entre a estaca 22 e a tomada d’água (estaca 32),
protegidos pelas ensecadeiras de 1ª fase e com vertimento das vazões do rio por sobre a
seção parcial da barragem de CCR, entre estacas 9+ 19,3 e 20. Nesta etapa seriam
realizados os seguintes trabalhos: a) execução do maciço de CCR em seção plena na
cota 57,0 m (estaca 22 a 24) e na cota 62,2 (estaca 24 a 25); b) execução do maciço de
CCR em seção parcial na cota 57,0 m e largura da crista de 5,0 m, entre estacas 25 e 32;
c) construção da galeria de descarga de fundo, com seção 2,5 x 2,5 m, na estaca 24+ 10,
com cota de entrada na 52,5 m.

4ª etapa: Prevista para iniciar em maio/2000, quando a vazão de jusante do rio estaria
garantida pela operação da comporta da descarga de fundo. A partir dessa fase a
barragem de CCR seria executada em seção plena em toda a sua extensão, excetuando-
se o trecho entre estacas 24 e 25, que deveria ser alteado no início da estação chuvosa
de 2001, quando a descarga de fundo seria desativada.

Faz-se oportuno salientar que esta seqüência construtiva, explicitada nas fases do projeto
executivo, não foi colocada integralmente em prática face as produções requeridas não
terem sido alcançadas. No entanto, em junho/2000 o rio foi fechado e estabelecido o
estratégico reservatório desejado, com uma seção parcial de CCR funcionando como
seção vertedoura.

4- A JUNTA LONGITUDINAL IMPOSTA PELAS ETAPAS CONSTRUTIVAS DO CCR

As etapas construtivas idealizadas para a antecipação do fechamento do rio para a


estação chuvosa de 2000, no projeto do paramento central da barragem do Castanhão,
em CCR, acarretaram na geração de uma junta longitudinal formada a partir da seção
parcial de CCR e o restante da seção plena, entre as estacas 9+ 7,34 e 20, onde
funcionou como vertedouro provisório, e entre as estacas 25 e 32. Na Figura 4 é
apresentado um corte transversal desta junta formada no maciço da barragem.

A presença desta junta longitudinal no corpo da barragem foi considerado um ponto


importante e merecedor de um tratamento cuidadoso, buscando uma ligação eficiente
entre o concreto velho e o novo, de forma a garantir ao conjunto um comportamento
monolítico, assumido nas concepções do projeto. A preocupação dos projetistas foi de
reduzir a um nível baixo a possibilidade de uma percolação de água na interface, quando
submetida a uma solicitação de uma coluna d’água de 50 m no nível normal de operação
e, principalmente, nas condições críticas de carregamento.

5- CASOS CONHECIDOS DE JUNTAS LONGITUDINAIS EM CCR

Na prática da engenharia de barragens são freqüentes os casos de alteamento ou reforço


de barragens existentes de concreto convencional, com o uso deste mesmo concreto,
onde o uso de soluções técnicas cuidadosas mostram-se confiáveis para estabelecer a
ligação entre o concreto velho e o novo. No entanto a execução destes mesmos serviços
aplicando-se CCR, principalmente com traços de baixos teores de cimento, são pouco
comuns até o momento.

No Brasil o emprego de CCR para alteamento de barragens de gravidade não tem relato
nos meios técnicos e é do conhecimento dos autores apenas o caso da barragem do
Estreito, situada no rio Boa Esperança no Piauí, projetada pelo DNOCS para uma
acumulação de 11 milhões de m3, que foi iniciada em pedra argamassada até cerca de
5,0 m de altura e prosseguida por mais 2,0 m de altura em CCR com agregado de seixo
rolado, quando foi paralisada por falta de dotação orçamentária. Nos Estados Unidos
tivemos noticias de alteamento e reforço com CCR nas barragens de concreto
convencional de Little Rock e Gibralter e no projeto de elevação em 25 m da barragem de
San Vicente.

A barragem Canoas, no estado do Ceará e de propriedade da SRH-CE, com altura


máxima de 50 m, extensão de 116 m e um volume total de CCR de 93.500 m3, sofreu
uma paralisação da construção por 3 anos quando alcançou uma altura de 33 m, o que
representava um lançamento de 88% do total do CCR previsto. No período que esteve
paralisada sofreu 3 galgamentos sucessivos, sendo o mais expressivo com uma lâmina
vertedoura de 1,50 m, sem apresentar processos erosivos significativos. Criou-se portanto
uma junta horizontal ao longo de toda a extensão da barragem, em um nível 10 m abaixo
do nível normal de operação. Na retomada a superfície foi apicoada, limpa com jatos
d’água e colocada uma camada de argamassa de ligação, com 1 cm de espessura, antes
do lançamento de novas camadas.

Um caso interessante, reportado por Levis, P. ,“et al” (2), foi o ocorrido na usina
hidrelétrica de Salto Caxias, que para antecipação da segunda fase de desvio, com o rio
passando pelas adufas, e para atendimento do cronograma de remanejamento da
população da área do futuro reservatório, foi idealizada a solução de deixar um trecho da
barragem no leito do rio, com 280 m de extensão, paralisado numa cota cerca de 18 m
acima das fundações, possibilitando a descarga de parte das cheias através deste trecho
rebaixado. A seção típica deste trecho é apresentada na Figura 4. Durante os seis meses
que foi mantido este esquema a seção de CCR foi submetida a 4 galgamentos, sendo o
maior com duração de 4 dias, vazão de 5.000 m3/s e lâmina de 3,80 m. O comportamento
da barragem frente aos galgamentos foi excelente, não tendo sido identificado nenhum
efeito erosivo nas superfícies submetidas aos fluxos, que foram executadas com um CCR
com teor de cimento de 150 kg de cimento/ m3 , ou seja 50 % superior ao empregado no
maciço. Os degraus de jusante foram executados em concreto convencional e não
apresentaram desgastes significativos. Os cuidados e o tratamento aplicado na junta
longitudinal não foram citados.

Pimenta, G.V. e Andriolo, F.R. (4) relatam o planejamento adotado nas obras da
barragem Capanda, em Angola, com uma altura máxima de 110 m, comprimento da crista
de 1.200 m e um volume de CCR de 757.000 m3, onde as fases construtivas admitiram a
possibilidade de transbordamento utilizando a própria barragem como barramento de
desvio do rio. As seis fases podem ser observadas na Figura 6, onde nota-se que as
fases 2 e 4 muito se assemelham com o caso da barragem do Castanhão. No artigo
citado os autores não explicitam se o planejamento das fases construtivas foi
efetivamente implantado, quais os galgamentos a que o CCR esteve submetido e qual o
tratamento aplicado na junta longitudinal gerada na interface.

A barragem do Castanhão teve sua seção parcial funcionando como extravasor


continuamente entre o período compreendido entre junho/2000 e junho/2001, quando as
vazões foram direcionadas para a galeria da tomada d’água. Neste período o maciço de
CCR ficou submetido a uma lâmina constante de aproximadamente 1 decímetro,
atingindo o máximo de 7 decímetros na estação chuvosa de 2001.

6- CUIDADOS INDICADOS PARA O LOCAL DA JUNTA LONGITUDINAL

No caso da barragem do Castanhão a equipe de projeto concentrou suas preocupações


para criar uma maneira de assegurar a ligação entre o CCR velho e o novo, sob todas as
condições de carregamento. Estas preocupações culminaram em duas atitudes: 1ª)
Especificação de um tratamento cuidadoso nesta ligação e 2ª) Recomendação de
implantação de uma instrumentação visando medir possíveis (e totalmente indesejáveis)
movimentações de abertura/fechamento da junta formada.

Para o tratamento da ligação especificou-se a remoção de qualquer região do CCR com


desagregações ou sem aderência, com atenção especial para a região dos degraus de
jusante da seção parcial, o apicoamento manual ou com martelo pneumático e a limpeza
geral para a remoção da matéria orgânica depositada no concreto. Quando da retomada
da seção plena indicou-se a necessidade do concreto remanescente ser mantido na
condição de superfície saturada seca. A realização da ligação entre os degraus do talude
de jusante da seção parcial e o restante do maciço foi especificada para ser realizada
com concreto convencional de face, numa largura de 0,50 m, de forma a garantir a
aderência entre os concretos executados em diferentes estágios, tornando o conjunto
monolítico.

Como parte de um programa de monitoramento do comportamento da ligação na


interface, sugeriu-se ao DNOCS e SRH-CE a instalação de medidores de juntas elétricos,
tipo Carlson, embutidos no concreto e com caixas de leituras instaladas na galeria.
Indicou-se a colocação destes aparelhos em algumas posições estudadas(verticais,
horizontais e perpendiculares à junta), chumbando em argamassa não retrátil a parte que
ficará embutida em furo feito em CCR já existente e concretando a outra quando do
lançamento do concreto convencional indicado na ligação. Este tipo de medidor foi
instalado há muitos anos em Ilha Solteira, Água Vermelha, obras da CESP, em Itaipu e
outras, para indicação das melhores épocas de injeção de juntas de contração e controle
de abertura, entre outras finalidades. Foi sugerido, também, o uso de extensômetros de
haste instalados a partir da galeria, que embora tenham precisão menor que os
medidores Carlson são suficientes para os propósitos almejados. Recomendou-se instalar
um conjunto de termômetros em volta da junta em pelo menos uma seção para o
acompanhamento da dissipação da temperatura na junta e o conhecimento das tensões
térmicas geradas. Na Figura 7 são apresentados os detalhes do tratamento da junta e a
localização da instrumentação.

7- CONCLUSÕES

As juntas longitudinais geradas por etapas construtivas em algumas obras de CCR devem
ser objeto de cuidados específicos que assegurem a perfeita continuidade na interface
entre o maciço remanescente e o novo.

Recomendações detalhadas do tratamento destas juntas devem ser elaboradas pelos


projetistas, verificações criteriosas da implantação e espírito crítico sobre a eficiência do
tratamento devem ser objetivos de todos ligados à obra.

Monitoramento do comportamento destas juntas, através de instrumentação específica


para medição de possíveis deslocamentos, em diversos planos, é desejável,
principalmente nas condições mais severas de carregamento.

8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ANDRIOLO, Francisco Rodrigues. The use of Roller Compacted Concrete. São Paulo:
Oficina de Textos, 1998.

2. LEVIS, Paulo, MAGNAVACA, Ronaldo, MUSSI, Jorge Murad, “et al”. Esquema de
desvio do rio Iguaçu da usina de Salto Caxias e ocorrência de galgamentos
programados da barragem. III Seminário Nacional de Concreto Compactado, Foz do
Iguaçu, p. 35-42, novembro, 1998.
3. LUCENA, Antônio Madeira de, PESSOA, Francisco E. Pinheiro, CARMO, João Bosco
Moreira, “et al”. Avaliação atual e recomendações para a retomada da construção da
barragem Canoas. III Seminário Nacional de Concreto Compactado, Foz do Iguaçu, p.
397-402, novembro, 1998.

4. PIMENTA, Gilson Viviani, ANDRIOLO, Francisco Rodrigues. Importância do


planejamento nas obras em CCR. II Seminário Nacional de Concreto Compactado
Com Rolo, Curitiba, p. 86-93, março, 1996.

5. KUPERMAN, Selmo Chapira. Barragens brasileiras em concreto compactado com


rolo. Passado, presente e futuro. II Seminário Nacional de Concreto Compactado Com
Rolo, Curitiba, p. 240-255, março, 1996.

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