Você está na página 1de 6

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS


CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL
EGR1049 - HIDRÁULICA

Nome: Henrique Araujo Barichello


Proposição temática 5

1.0 INTRODUÇÃO
Compreende-se por açude, ou barragem, toda a construção destinada a represar água a
fim de que ela possa ser utilizada na indústria, agricultura e abastecimento humano. Por
extensão, também entende-se por açude toda a água represada artificialmente para irrigação
de culturas em regiões secas, incluindo essências florestais.

2.0 TIPOS DE BARRAGENS


De maneira geral, as barragens podem ser classificadas em convencionais ou não
convencionais, conforme o material ou a técnica utilizada para construí-las. A seguir serão
explorados alguns dos principais tipos de barragem.
a) Barragem de terra: constituída fundamentalmente por solo, pode ser
homogênea, quando há a predominância de um único material ou zonada, quando constituída
por materiais com diferentes permeabilidades;
b) Barragem de enrocamento: constituída por camadas compactadas de rocha de
modo que o peso e a imbricação garante a estabilidade ao corpo submetido ao impulso
hidrostático. Podem apresentar núcleo impermeável, quando constituído por argila, ou
impermeável, quando constituído por camada de asfalto, chapa de aço ou outros materiais.
c) Barragem de concreto: construídos com materiais granulares artificiais que
recebem cimento e aditivos químicos. Conforme a disposição e a quantidade de concreto
podem ser classificadas em barragens de gravidade, gravidade aliviada, em contraforte,
concreto rolado ou compactado ou abóbada;
d) Barragens mistas: ao longo da seção transversal são constituídas por diferentes
materiais (terra/enrocamento, enrocamento/concreto ou terra/concreto).
e) Barragens não convencionais: são as barragens menos utilizadas, destacando-
se as de madeira, alvenaria de pedra e as de gabião.
2.1 IMPLANTAÇÃO DE BARRAGENS
Para a determinação do local onde será implantado o açude, é necessário uma
avaliação conjunta do futuro proprietário da represa e de um técnico. Para isso devem ser
coletados a campo dados topográficos e informações georreferenciadas do local onde deseja-
se instalar a obra; análises das condições de solo e se ele é capaz de suportar a implantação da
obra hidráulica sem desestabilizar; informações acerca da bacia hidrográfica e sua influência
no armazenamento de água do micro-açude; e disponibilidade de jazida do material que será
utilizado para a construção da barragem. Outras informações pertinentes para a escolha do
local onde será implantada a obra são aspectos geológicos, de relevo, vegetação,
hidroclimatológicos, etc.
Na posse desses dados, procede-se com o cálculo para a determinação dos parâmetros
necessários ao dimensionamento do projeto, como o maciço ou taipa, os taludes, o
vertedouro, o volume de terra movimentado, o volume de água armazenada, entre outros.
2.1.1 Maciço ou taipa
Consistem nas construções físicas executadas a partir da deposição e compactação do
solo cujo objetivo é a retenção e acumulação de água de córregos naturais ou do escoamento
superficial.
Para sua construção é necessário definir os taludes a montante e a jusante, em que o
primeiro encontra-se em contato com a água represada enquanto o segundo está em oposição
a este. Ambos os taludes têm por função garantir estabilidade à barragem e prevenir seu
deslizamento, à medida que também asseguram que a infiltração de água mantenha-se dentro
do corpo da barragem.
2.1.2 Coroamento ou crista
A largura do coroamento (L) é a medida transversal do maciço tomada no seu ponto de
altura máxima (H). Para calculá-la podem ser utilizadas as fórmulas de Knappe (1) ou de
Preece (2):
1) L = 1,65.(H)½
2) L = 1,1.(H)½ + 1
2.1.3 Cava ou trincheira
Consiste na escavação executada no local de assentamento do maciço, na área da
projeção vertical da crista, com largura e profundidade variáveis conforme o tipo de solo. A
cava tem por finalidade substituir a camada permeável do local, por outra de melhor potencial
de compactação visando a impermeabilização do maciço.
2.1.4 Estimativa do volume de água acumulada
É determinada pela relação entre a superfície total de área alagada e a altura máxima
de água no maciço:
V = 4/9.S.H, em que:
V = volume de água acumulada (m³);
S = superfície da bacia hidráulica ou bacia de acumulação (m²);
H = altura máxima de água medida no maciço (m).
2.1.5 Área de bacia hidrográfica
Consiste na superfície total do terreno que contribui na captação de água pluvial para o
abastecimento do reservatório. Dependendo do tamanho do açude, a área poderá ser
determinada com auxílio de carta topográfica na escala 1:50.000 (açudes maiores) ou com
GPS (micro-açudes).
2.1.6 Vazão da bacia hidrográfica
A vazão máxima da bacia hidrográfica (Q) é determinada a partir do coeficiente de
enxurrada (C), a intensidade (I) máxima de chuvas e a área (A) da bacia hidrográfica:
Q = (C.I.A)/360, em que:
Q = vazão máxima da bacia hidrográfica (m³/s);
I = intensidade máxima das chuvas (mm/h);
A = área da bacia hidrográfica (ha).
2.1.7 Vertedouro
A medida do vertedouro é determinada em função da vazão da bacia hidrográfica (Q)
e da altura da lâmina de água sobre a soleira do vertedouro (H):
L = Q/(1,84.H3/2), em que:
L = soleira do vertedouro (m);
Q = vazão da bacia hidrográfica (m³/s);
H = altura da lâmina de água sobre a soleira (m).
Os vertedouros são mecanismos de segurança cuja função é efetuar a descarga das
águas excedentes dos reservatórios, evitando danos a barragem e outras estruturas hidráulicas
próximas.
2.1.8 Revanche
A revanche (R) consiste na distância entre o nível máximo da lâmina da água no
maciço e o nível horizontal da taipa. A borda livre de um açude depende da altura (h) e da
velocidade máxima (v) das suas ondas assim como da aceleração da gravidade local (g):
R = 0,75.h + v². (2.g)-1, em que:
R = revanche (m);
h = altura das ondas (m);
v = velocidade das ondas (m/s);
g = aceleração da gravidade local (m/s²).

2.2 ESTRUTURAS DE SEGURANÇA: VERTEDOUROS


Como citado anteriormente, os vertedouros são estruturas hidráulicas de segurança e
tem por finalidade efetuar a descarga das águas excedentes dos reservatórios ou barragens.
Eles consistem basicamente de uma tomada d'água associada a uma soleira, em que a água
recolhida destina-se a uma estrutura de descarga, sendo que a jusante desta é instalado um
dissipador de energia.
Os vertedores podem ser confeccionados em concreto, gabião, alvenaria, aço ou
madeira. Podem ser instalados independentes ou em conjunto a barragem. Quanto às
condições de operação, podem ser classificados em de emergência, quando utilizados somente
para grandes cheias ou de serviço, quando utilizados com mais frequência.
2.2.1 Tipos de vertedouros
Os vertedores podem ser classificados em:
a) Retangulares: parede delgada ou espessa;
b) Canal lateral: o muro vertedor é locado ao lado da barragem;
c) Tulipa: a descarga é transportada a jusante da barragem através de um canal
aberto;
d) Sifão: a descarga é através de um conduto forçado, em forma de U invertido
Os vertedores ainda podem ser classificados em com controle ou sem controle, quando
há ou não comportas, respectivamente.
2.2.2 Dimensionamento de vertedouros
Os vertedouros são dimensionados a partir da cheia de projeto, calculado a partir de
períodos de retorno pré-definidos. A equação básica para o dimensionamento dessa estrutura é
a seguinte:
Q = C . Le . H . 3/2, onde:
Q = vazão (m³/s);
C = coeficiente de descarga;
Le = largura efetiva (m);
H = altura de carga (m).
O coeficiente C depende das propriedades do vertedouro (forma da soleira, altura de
fundo, inclinação, etc).
2.3 EXIGÊNCIAS DA LEGISLAÇÃO PARA ATIVIDADES DE RESERVA
HÍDRICA
A outorga do direito de uso da água é um instrumento instituído através da Lei
9433/97, conhecida como Política Nacional de Recursos Hídricos, mediante o qual o poder
público autoriza, concede ou permite ao usuário fazer o uso da água, um bem público. Na
seção III, artigo 12, estão definidas as atividades sujeitas a outorga do uso da água, dentre as
quais destacam-se:
I - derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para
consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;

II - extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo de


processo produtivo;

III - lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos,


tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;

IV - aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;

V - outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente


em um corpo de água.

No parágrafo primeiro do mesmo artigo também estão definidos as atividades que


independem de outorga:

I - o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos


populacionais, distribuídos no meio rural;

II - as derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes;

III - as acumulações de volumes de água consideradas insignificantes.

Pode-se inferir que o represamento de volumes ínfimos não necessita da autorização


do poder público. No entanto, represamento de volumes maciços de água ou que afetem a
quantidade, qualidade ou regime de um corpo hídrico de forma expressiva deverão ser feitos
apenas mediante outorga.
3.0 CONCLUSÃO
Exploramos ao longo dessa proposição temática diferentes tópicos acerca do tema de
açudagem: os tipos de barragem, critérios para escolha do local onde será realizado o
represamento, parâmetros importantes para seu dimensionamento, além de aspectos
legislativos acerca das reservas hídricas, uma vez que a água constitui bem público e não
poderão ser represados volumes indiscriminadamente. Todas essas informações são
fundamentais ao engenheiro florestal, uma vez que permitirá ao profissional, na posição de
técnico, a tomada de decisão correta no que refere-se à acumulação de água, visando a
irrigação de essências florestais ou outros empreendimentos da área.

Referências bibliográficas
Além das anotações da aula, foi utilizado a seguinte bibliografia:

BRASIL. Lei n. 9.433, de 8 de janeiro de 1997 Disponível em:


<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1997/lei-9433-8-janeiro-1997-374778norma-
pl.html>.

Conheça todos os tipos de barragem. Disponível em:


<https://www.ofitexto.com.br/comunitexto/conheca-todos-os-tipos-de-barragem/>.

Estruturas Hidráulicas. Disponível em:


<https://eduqc.com.br/concursos/engenharia/estruturas-hidraulicas/>.

LANDERDAHL, M. L. MODELO DE DIMENSIONAMENTO DE PROJETOS DE


AÇUDES (MDPA) - PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE UMA FERRAMENTA
DE DIMENSIONAMENTO DE PROJETOS DE AÇUDES DO TIPO CONSTRUÇÃO DE
TERRA. 2010. 79 f. Monografia (Especialização em Gestão do Agronegócio)-Universidade
do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2010.

MALVEIRA, Vanda Tereza Costa. Pequena açudagem e sustentabilidade hidrológica em


grandes bacias semi-áridas: estudo de caso da bacia do açude Orós. 2009. 103f. Tese
(Doutorado Recursos Hídricos)-Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, 2009.

Você também pode gostar