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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS


CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL
EGR1049 - HIDRÁULICA

Nome: Henrique Araujo Barichello


Proposição temática 3

1.0 INTRODUÇÃO
Conduto é toda a estrutura destinada ao transporte de fluidos. Segundo sua pressão de
funcionamento, podem ser classificados em livres ou forçados. Enquanto nos condutos livres
a única pressão atuante é a pressão atmosférica, nos condutos forçados sua pressão interna
difere da pressão atmosférica. Estes últimos consistem em seções circulares e fechadas, com o
espaço interno completamente ocupado pelo fluido, diferentemente dos condutos livres, que
são normalmente canais abertos com o fluido ocupando parcialmente sua seção.
Na prática, o entendimento sobre condutos forçados é fundamental em atividades
como o abastecimento humano e animal e a irrigação. Os profissionais das ciências agrárias,
tais como os engenheiros florestais, devem ser capazes de dimensionar condutos capazes de
conduzir vazões suficientes para atender a demanda de seu empreendimento e para isso,
devem considerar as perdas de energia do sistema e sua eficiência econômica.

2.0 REGIMES DE ESCOAMENTO


Quanto à trajetória das partículas, são descritos dois regimes de escoamento: laminar
ou turbulento. No regime de escoamento laminar, as partículas do fluido deslocam-se em
trajetórias ordenadas e bem definidas, diferentemente do regime de escoamento turbulento,
em que as partículas deslocam-se completamente desordenadas. Na prática, predomina o
segundo regime de escoamento (turbulento), observado em obras como adutoras, vertedores
de barragens, fontes ornamentais, canalizações, etc.
Através da experiência, Reynolds estabeleceu um parâmetro adimensional
denominado número de Reynolds (NR) que permite classificar o regime de escoamento a
partir do seguinte cálculo:
NR=(v ⋅ D)/υ
em que:
NR = número de Reynolds (adim);
v = velocidade média do escoamento (m/s);
D = diâmetro da tubulação (m);
ν = viscosidade cinética do fluido (m²/s) ( ν água = 1,02 x 10-6 m²/s).
Se o NR for menor ou igual a 2000, então o escoamento é laminar. Caso o NR seja
maior que 2000 e menor que 4000, o regime de escoamento será de transição. Já se o NR for
igual ou superior a 4000, então o regime de escoamento é turbulento.
De modo geral, devido a baixa viscosidade da água e sua velocidade normalmente
superior a 0,5 m/s, o regime de escoamento é turbulento (CARVALHO e SILVA, , inclusive
em condutos fechados.

2.1 PERDA DE CARGA


Ao deslocar-se no interior de tubulações o fluido enfrentará tanto o atrito interno,
decorrente da resistência que suas moléculas apresentam ao escoamento, quanto o atrito
externo, decorrente da resistência imposta pelo conduto ou tubulação que o contém. Desse
modo, ele perderá parte de sua energia dinâmica sob a forma de calor, fenômeno denominado
perda de carga.
As perdas de carga podem ser contínuas, quando ocorrem ao longo de condutos
regulares, ou localizadas, quando ocorrem em singularidades, tais como um estreitamento,
uma mudança de direção ou a presença de uma peça especial, como curvas, cotovelos, etc. A
soma de ambas as perdas de carga, contínua e localizada, resultam na perda de carga total,
conforme a expressão a seguir:
h f total=h f contínua + h f localizada
2..1.1 Determinação da perda de carga contínua
A perda de carga contínua pode ser determinada através da equação de Darcy-
Weisbach, também denominada fórmula universal, representada a seguir:
L v²
hf =f
D 2g
em que:
hf = perda de carga (m.c.a.);
L = comprimento do tubo (m);
D = diâmetro do tubo (m);
v = velocidade da água (m/s);
g = aceleração da gravidade (m/s²);
f = coeficiente de atrito (adim).
O coeficiente de atrito depende do NR (número de Reynolds) , da rugosidade relativa,
ou seja, a razão entre a rugosidade absoluta (função do material que compõem o conduto) e o
diâmetro da tubulação e também do regime de escoamento. Ele poderá ser determinado
matematicamente, via equações, ou graficamente através do diagrama de Moody.
De maneira geral, a equação de Darcy-Weisbach apresenta desempenho confiável, no
entanto, em situações onde há carência de informações sobre o conduto ou fluido, outras
equações, denominadas empíricas, deverão ser utilizadas. Para isso, trabalhos científicos
poderão ser consultados, desde que observado que a equação utilizada atende às
circunstâncias específicas em que foi aplicada. Na área agrícola destacam-se as equações de
Hazen-Williams e Flamant.
A fórmula de Hazen-Williams é provavelmente a fórmula prática mais utilizada dentro
da engenharia. Apresenta resultados confiáveis para tubulações de diâmetro de 50 até 3000
mm, velocidades de escoamento inferiores a 3,0 m/s e regime de escoamento turbulento.
1,852
hf =10,643⋅ ( ) ( DL )
Q
C 4,87

em que:
C = coeficiente de Hazen-Williams (adim);
hf = perda de carga (m.c.a.);
L = comprimento da tubulação (m);
D = diâmetro da tubulação (m);
Q = vazão (m³/s).
O coeficiente C depende da rugosidade da parede e portanto, depende do material que
constitui o conduto bem como seu estado de conservação.
A equação de Flamant, por outro lado, é recomendada para tubos de PVC de pequeno
diâmetro (16 a 160 mm) e velocidades de escoamento de 0,1 a 4 m/s.
Q 1,75
hf =6,107 ⋅ b ⋅ 4,75 ⋅ L
D
em que:
hf = perda de carga (m.c.a.);
b = coeficiente que depende da natureza do tubo (adim.);
L = comprimento da tubulação (m);
D = diâmetro interno da tubulação (m);
Q = vazão (m³/s).
As equações citadas acima determinam a perda de carga contínua ao longo de toda a
extensão da tubulação. A fim de determinar a perda de carga em um metro de canalização
retilínea (J) basta dividir a perda de carga hf pelo comprimento L da tubulação.
2.1.2 Determinação da perda de carga localizada
A perda de carga localizada é descrita nas singularidades - junções, derivações, curvas,
válvulas, entradas e saídas - das tubulações. As peças presentes nesses trechos dos condutos
promovem redução da velocidade do escoamento e portanto, perda de carga. Embora a perda
de carga localizada seja desprezível em condutos longos e predominantemente retilíneos, em
condutos curtos e com muitas das peças citadas acima, essa perda é considerável.
Segundo Porto (1999), não há solução analítica para determinar a perda de carga
localizada nos acessórios das tubulações, de modo que adotam-se principalmente abordagens
práticas ou experimentais para sua determinação.
No método dos coeficientes, a perda de carga é expressa sob a forma de energia
cinética (v²/2g) do escoamento:

h f loc=K
2g
em que:
hfloc= perda de carga localizada (m.c.a.);
K = coeficiente para cada singularidade (adim);
v = velocidade média do escoamento (m/s);
g = aceleração da gravidade (m/s²).
O coeficiente K é obtido experimentalmente, porém Azevedo Neto (1998) estabeleceu
valores conforme o tipo de peça, ilustrados na tabela a seguir
Tabela 1. Valores de K conforme o tipo de peça:

O coeficiente K poderá ser considerado constante ao longo da tubulação desde que o


regime de escoamento seja obrigatoriamente turbulento. Caso a tubulação apresente mais de
um trecho contendo algum dos acessórios mencionados na tabela, a perda de carga localizada
total será dada pela soma das perdas localizadas individuais, ou seja, em cada um dos
acessórios.
No método dos comprimentos equivalentes, a perda de carga provocada por um
acessório é “convertida” em um comprimento de perda equivalente, e então somada ao
comprimento físico total da tubulação.

Leq total =L+ ∑ Leq acessórios

Desse modo, considera-se o sistema hidráulico um único conduto retilíneo,


substituindo-se o comprimento L das fórmulas empíricas pelo L equivalente e portanto,
determinando-se a perda de carga total do sistema. Os valores de L segundo o tipo de
acessórios são tabelados, conforme o exemplo a seguir da ABNT NBR 5626 (1998):
Tabela 2. Comprimentos equivalentes para tubo liso - perda de carga em conexões
Por fim, o método dos diâmetros equivalentes é bastante similar ao método descrito
acima, porém o comprimento fictício das peças é convertidos em número de diâmetros. A
seguir um exemplo de tabela de conversão (GOMES FILHO et al., 2013):
Tabela 3. Número de diâmetros conforme o tipo de peça

2.2 MATERIAIS PARA A FABRICAÇÃO DE CONDUTOS


Segundo Gomes Filho et al. (2013), na hidráulica agrícola predominam as tubulações
de PVC (Policloreto de vinila). No entanto, caso este polímero não suporte a pressão, poderão
ser utilizadas tubulações metálicas. Em situações de baixa vazão, poderão ser também
utilizados tubos de polietileno.
A tabela a seguir ilustra as principais tubulações no meio agrário:
Tabela 4. Tubos de PVC para irrigação e tubos de polietileno
Imagens obtidas nos sites dos fabricantes (Amanco e Tigre).

3.0 HIDROMETRIA
A hidrometria é o ramo da ciência hidráulica no qual se estudam os métodos para
medição de grandezas importantes para a área, tais como vazões, volumes, níveis da água em
rios, lagos, represas, entre outros parâmetros fundamentais para os usos múltiplos da água,
incluindo sistemas de irrigação. A seguir serão descritos alguns métodos para quantificação de
vazão e velocidade em condutos livres.

3.1 CONDUTOS LIVRES


No método direto, mede-se o tempo necessário para encher um recipiente de volume
conhecido. Dividindo-se este volume pelo tempo exigido para encher o recipiente, obtém-se a
vazão:
Vol
Q=
t
em que:
Q = vazão (m³/s);
Vol = volume (l);
t = tempo (s).
Conforme Gomes Filho et al. (2013), este método é normalmente empregado para a
determinação de pequenas vazões, como aquelas observadas em riachos, canais de pequeno
porte, sulcos, aspersores, microaspersores e gotejadores.
No método da velocidade, a vazão é obtida através da equação da continuidade,
multiplicando-se a velocidade da água pela secção do canal pelo qual ela escoa, conforme o
seguinte cálculo:
Q=v ⋅ A
em que:
Q = vazão (m³/s);
v = velocidade (m/s);
A = área (m²).
Em canais largos ou com secção irregular, como rios, a determinação da área pode ser
feita através da divisão do canal em segmentos que representam figuras geométricas
conhecidas. Já para a determinação da velocidade poderão ser utilizados flutuadores ou
molinetes, dependendo do grau de precisão desejado. Outros métodos para a determinação da
vazão em canais livres incluem os vertedores, as calhas, etc.
No método dos flutuadores, delimita-se um trecho do canal cuja distância é conhecida
e mede-se o tempo necessário para o flutuador percorrer esse trajeto. Desse modo, através da
razão entre a distância percorrida pelo flutuador e o tempo necessário para percorrê-la,
estima-se a velocidade média da água no canal:
espaço
v=
tempo
No entanto, esse método exige alguns cuidados: priorizar sua utilização em dias sem
vento, para que este não influencie na velocidade do flutuador; posicionar o flutuador pouco
antes do início trecho delimitado, a fim de que ele adquira a velocidade do canal; e utilizá-lo
sobretudo em canais retilíneos e com seção transversal uniforme.
Para canais de grande porte, como rios, em que necessita-se de estimativas precisas de
sua velocidade, pode-se adotar o método dos molinetes. O molinete consiste em um sistema
de hélices que giram em resposta ao fluxo de água do canal. A velocidade de rotação das
hélices será proporcional à velocidade da água no canal.
Conhecendo-se o número de revoluções das hélices do molinete, assim como o tempo
gasto para realizá-las, determina-se a velocidade de rotação das hélices. Por fim, estima-se a
velocidade de escoamento da água através da curva de calibração do instrumento, que
relaciona ambas as velocidades.
Os métodos descritos acima são utilizados para a determinação de vazão (método da
área e método das velocidades) ou velocidade (método dos flutuadores e métodos dos
molinetes) em canais abertos/condutos livres. A seguir serão descritos alguns dos métodos
para a determinação de vazão em tubulações (condutos forçados).

3.2 CONDUTOS FORÇADOS


Tanto os hidrômetros quanto os tubos de venturi são utilizados para a determinação da
vazão em tubos. O primeiro opera a partir de um compartimento que enche e esvazia
continuamente, possibilitando assim, a determinação do volume de água que escoa em um
dado intervalo de tempo, ou seja, a vazão de uma tubulação.
O venturímetro, no entanto, apresenta um mecanismo distinto. Ele é um dispositivo
que reduz a seção da tubulação, provocando redução da carga piezométrica (pressão) do
fluido, que é transformada em carga de velocidade. Essa queda de pressão permite determinar
a velocidade do escoamento e portanto, a vazão.

4.0 CONCLUSÃO
Os tópicos de condutos forçados e hidrometria são imprescindíveis ao engenheiro
florestal de sua área de atuação. Através deles, o profissional será capaz de dimensionar
sistemas de condução hidráulica eficientes e com perda de carga mínima, assegurando o
abastecimento hídrico de culturas florestais no campo ou em casas de vegetação.
Além disso, também será capaz de monitorar a vazão, velocidade, entre outras
variáveis hidráulicas pertinentes a área florestal através do método mais indicado conforme a
situação. Permitindo, assim, avaliar riscos de cheias e inundações na área cultivada, mobilizar
estudos ambientais, entre outras competências da engenharia florestal que exigem dos
conhecimentos abordados nessa proposição temática.

Referências bibliográficas
Além das anotações das aulas, foi consultada a seguinte bibliografia:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 5626/98. Instalações
prediais de água fria. Rio de Janeiro, 1998. 41 p.
AZEVEDO NETO, J. M.; FERNANDES, M. F.; ITO, A. E. Manual de Hidráulica. São
Paulo, Edgard Blucher, 1998. 8ª ed. 669p.

CARVALHO, D. F.; SILVA; L.D.B. 7. ESCOAMENTO EM CONDUTOS FORÇADOS:


apostila. Rio de Janeiro: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2006. 76 p.

GOMES FILHO, R. R. et al. Hidráulica Aplicada às Ciências Agrárias. 1. ed. Goiânia. Ed.
América, 2013. 254 p. Disponível em: https://docero.com.br/doc/s18nes. Acesso em 29 de
junho de 2021.

PORTO, R.M. Hidráulica básica. 2º ed. São Carlos: EESC/USP, 1999. 540 p.

VICTOR, J. “Tipos de regime de escoamento: Introdução”; Guia da Engenharia.


Disponível em: https://www.guiadaengenharia.com/tipos-regime-escoamento. Acesso em 02
de junho de 2021.

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