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Detenção de

águas pluviais

• Profª. Ana Moni

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A utilização da reservação em drenagem urbana transformou-se em um conceito
multidisciplinar. O aspecto paisagístico adquire fundamental importância,
principalmente na viabilização social dessas obras. Á aceitação pelas
comunidades de tal tipo de obra guarda estreita relação com o sucesso da
implantação, nesses locais, de áreas verdes e de lazer.

De acordo com Walesh (1989), as obras de reservação podem ser diferenciadas em


bacias de retenção e bacias de detenção. Diversos outros autores procuraram
também classificar as obras nessas duas caracterizações (Urbonas, 1993; Lazaro,
1990; Asce, 1992). De forma geral, tal conceituação pode ser entendida como:

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Bacias de Retenção: reservatórios de superfície que sempre contêm um volume substancial de
água permanente para servir a finalidades recreacionais, paisagísticas, ou até para
abastecimento de água ou outras funções.

Um exemplo dessa solução é o reservatório para contenção de cheias de Uberaba (Foto 2.9).
exemplos de dispositivos de retenção, reservatórios e pequenos lagos em áreas públicas,
comerciais ou residenciais.

retenção

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• Bacias de Detenção: áreas normalmente secas durante as estiagens, mas projetadas para
deter as águas superficiais apenas durante e após as chuvas. O tempo de detenção
guarda relação apenas com os picos máximos de vazão requeridos a jusante e com os
volumes armazenados (Fig. 2.18).

exemplos de dispositivos de detenção: valas naturais em levantamento transversal atuando


como estrutura de controle, depressões naturais ou escavadas, caixas ou reservatórios
subsuperficiais, armazenamento em telhado e bacias de infiltração.

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• Bacias de Sedimentação: reservatórios com a função principal de reter sólidos em
suspensão ou absorver poluentes carreados pelos escoamentos superficiais. A bacia
de sedimentação pode ser parte de um reservatório com múltiplos usos, incluindo o
de controle de cheias.

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Procedimentos de Planejamento e Projeto
O planejamento e projeto de obras de detenção e retenção é muito mais do que um simples
exercício de hidrologia e de hidráulica. Existem muitos aspectos técnicos que devem ser
cuidadosamente considerados além da hidrologia e da hidráulica. Destacam-se:

• a determinação da inclinação máxima de talude para escavação de reservatórios de


armazenamento em locais potencialmente favoráveis para isso, assim como de pequenos
levantamentos em valas naturais que ofereçam condições propícias para armazenamento;

• a estimativa da carga anual de transporte de material sólido da bacia tributária, verificando


se será necessário prever bacia(s) de sedimentação ou outros meios de controle de
sedimentos;

• a seleção das variedades de grama para proteção de taludes que resistam a inundações
ocasionais que possam durar várias horas ou mesmo vários dias.

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Procedimentos de Planejamento e Projeto

Devem também ser consideradas as condicionantes e as necessidades de natureza não


técnica, dentre as quais ressaltam-se:

• a análise das necessidades da comunidade local, inclusive as relativas à recreação de modo


a inserir as possíveis obras de detenção e retenção num contexto de uso múltiplo;

• a análise dos riscos que possam comprometer as condições de segurança e prever os


meios de mitigá-los;

• a procura dos caminhos adequados, tendo em vista o financiamento de desapropriações,


construção e manutenção das obras.

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Para uma abordagem completa e adequada de todos os aspectos fundamentais no
planejamento e projeto de um sistema de obras de detenção e retenção, recomendam-
se seguir os passos discriminados abaixo:

• aquisição e análise de dados relativos à bacia drenada;

• configuração preliminar da concepção hidrológica do projeto;

• estudos de amortecimento de cheias e definição da faixa operativa;

• identificação dos possíveis locais para armazenamento;

• análise e consolidação de todas as restrições e condicionantes laterais e verticais;

• estudo do vertedouro de emergência e estabelecimento de critérios de segurança;

• desenho do projeto hidrológico-hidráulico.

Os passos acima não se aplicam a todas as situações, podendo surgir circunstâncias


especiais.

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Os tipos principais dessas obras de reservação são os reservatórios on-line e off-line.

Reservatórios on-line encontram-se na linha principal do sistema e restituem os


escoamentos de forma atenuada e retardada ao sistema de drenagem, de maneira
contínua, normalmente por gravidade.

Reservatórios off-line, retêm volumes de água desviados da rede de drenagem principal


quando ocorre a cheia, e os devolvem para o sistema, geralmente por bombeamento,ou
por válvulas controladas, após obtido o alívio nos picos de vazão.

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O reservatório de detenção pode modificar o regime de cheias de um canal de duas formas
distintas.
Ele pode ser instalado de forma a interceptar transversalmente o canal, toda vazão do rio passa
pelo seu interior e sai por sua estrutura de descarga, e pode ser instalado lateralmente ao canal
e a vazão do rio pode ser desviada para o seu interior.
No primeiro caso, o mais tradicional do ponto de vista da reservação, ele é chamado de
reservatório in-line, o segundo caso, é chamado de off-line. Do ponto de vista
hidrológico/hidráulico, como será visto, o comportamento dos dois reservatórios é totalmente
diferente. A Figura a seguir mostra esquematicamente a posição dos dois reservatórios em
relação a um canal.

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A escolha do tipo de reservação é muito complexa, principalmente em cidades densamente
ocupadas como é o caso de São Paulo.

Os principais condicionantes para a escolha do tipo de reservatório são:


• O objetivo da reservação (proteção local e/ou sistêmica)
• A disponibilidade de área para sua instalação
• As condições geotécnicas e hidrogeológicas da região
• Impactos sociais, ambientais e econômicos envolvidos nas fases de obra, operação e
manutenção do reservatório

Antes de detalhar os critérios de dimensionamento dos reservatórios, é importante


apresentar, de forma geral, o efeito que os dois tipos de reservatórios, in-line e off-line,
causam na onda de cheia natural que translada e amortece no canal.

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• Na figura ao lado está o efeito do reservatório in-
line. A onda de cheia entra totalmente no
reservatório (onda afluente) e a sua estrutura de
saída permite a sua saída (onda efluente),
percebe-se nitidamente que a onda de cheia
natural é amortecida e que a vazão máxima
efluente ocorre exatamente no ponto de
interseção dos dois hidrogramas, ou seja, este
processo de amortecimento, também conhecido
por routing, permite controlar desde o início da
cheia a vazão que vai para jusante.

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• Na Figura ao lado está o efeito do reservatório
off-line. Percebe-se nitidamente a diferença no
efeito de armazenamento, a cheia natural passa
pelo canal até que o nível d’água alcança a cota
da estrutura de desvio lateral, passando então a
restringir a vazão de jusante e a encher o
reservatório.
• Em geral, o reservatório off-line só passa a efluir
quando o nível d’água a jusante é inferior à cota
da estrutura de desvio lateral. O nível de corte da
vazão é função da capacidade do canal a jusante
e da função sistêmica do reservatório no
contexto de outras obras na bacia.

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• As áreas hachuradas correspondem aos volumes que devem estar disponíveis para o
amortecimento.
• O volume requerido pelos reservatórios in-line é, em geral, inferior ao volume
requerido pelo off-line.

• Também existe uma percepção ambiental de que, em geral, os reservatórios in-line


são mais adequados para integrar o paisagismo de uma região uma vez que o rio está
inserido no seu interior, ao contrário dos reservatórios off-line que ficam boa parte do
tempo secos. Isso não é verdade, pois existem inúmeros exemplos de obras em que
os reservatórios off-line podem ser instalados em praças, em regiões de ocupação
temporária, perfeitamente inseridos na paisagem da região. Portanto, nos dois casos
o conceito da sustentabilidade no projeto pode ser aplicado.

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Uma verificação básica que deve ser procedida quanto á eficiência do sistema é a
possibilidade de, ao contrário do pretendido, provocar uma ampliação dos picos de cheia a
jusante da bacia de retenção/detenção; isso pode ocorrer caso o timing na composição
dos hidrogramas de cheia afluentes pelas diversas sub-bacias contribuintes (amortecidos
ou não) resulte nesse efeito. O exemplo apresentado na Fig. 2.20, segundo Debo (1989),
adaptado pelo autor, é autoexplicativo e mostra um caso em que seria possível o
agravamento dos picos a jusante.

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Mein (1980) indica que embora um conjunto de obras de detenção e retenção em série ou paralelo
possam não incrementar significativamente os picos de cheias ao longo de uma bacia, elas
podem também produzir um efeito interativo de modo a não proporcionar nenhuma redução
dos picos, o que constitui um outro aspecto de “falso senso de segurança”.

Em outras palavras num sistema de obras de


detenção e retenção pode ocorrer um
tipo de efeito interativo inesperado, de
modo que umas anulem os benefícios de
outras, causando problemas em áreas a
jusante.

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Quanto aos critérios de dimensionamento, os dois tipos de reservatórios empregam
técnicas diferentes.

Os reservatórios in-line podem ser dimensionados de três formas diferentes, conforme o


critério adotado em relação ao risco hidrológico e às descargas ao canal a jusante:
• Critério de vazão de restrição a jusante
• Critério associado à condição de sazonalidade natural do regime a jusante
• Critério de ponderação entre armazenamento e condutividade hidráulica a jusante

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CONCEITOS FUNDAMENTAIS

O uso de uma bacia de detenção no gerenciamento de águas pluviais objetiva amenizar os


efeitos adversos da ocupação urbana, nas seguintes maneiras:
• 1. Controlar a vazão de pico.
• 2. Controlar o volume decorrente do escoamento superficial.
• 3. Controlar a qualidade das águas pluviais.
• 4. Promover a recarga dos aqüíferos pelas águas pluviais.

Quando a bacia de detenção armazena temporariamente as águas pluviais e então as libera


lentamente, o efeito primário é uma redução da vazão efluente máxima que sai da bacia
(item 1). Mas o processo de armazenamento e de liberação também tende a reter sólidos
suspensos nas águas pluviais, o que se refere ao item 3. Durante o período de
armazenamento, parte das águas pluviais infiltra-se no solo, o que está relacionado com o
item 4. Conforme as águas pluviais recarregam os aqüíferos, o volume total é reduzido, o que
se relaciona ao item 2.

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Bacia de Infiltração

Outro tipo de bacia de detenção, chamado bacia de infiltração, adiciona uma terceira
função àquelas já discutidas. Além de controlar a quantidade e a qualidade das águas
pluviais, ela promove a recarga dos aqüíferos para armazenar água subterrânea. A
vantagem da recarga é que ela ajuda a prevenir a depleção do armazenamento de água
subterrânea. Isso é muito importante para o abastecimento de água potável.

Assim, para ajudar a restabelecer a distribuição natural da precipitação, as bacias de recarga


empregam medidas especiais para interceptar parte do escoamento e colocá-la na água
subterrânea. Todas as bacias de detenção a céu aberto executam alguma recarga de
água subterrânea, mas a porcentagem geralmente é menor, a menos que medidas
especiais sejam empregadas. Essas medidas consistem, tipicamente, cm uma depressão
no solo abaixo da cota de saída, como em uma bacia de retenção, junto com conexões
porosas escavadas no solo, de modo que a água retida no reservatório se infiltre através
da escavação. A Figura 15-7 mostra um diagrama esquemático de uma típica bacia de
recarga.

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Do ponto de vista hidrológico/hidráulico, o dimensionamento de um reservatório
envolve basicamente três elementos:
• Dimensionar o volume total de armazenamento
• Dimensionar a sua estrutura de entrada
• Dimensionar a sua estrutura de saída

Todos esses componentes estão tecnicamente conectados e eles são determinados em


função do grau de proteção requerido pelo reservatório e pelo sistema de obras no
qual ele está inserido.

A fixação do grau de proteção, dado pelo risco hidrológico, é fundamental e sua


definição deve ser feita quando da execução do programa de bacia hidrográfica.

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Bacias de Detenção - Fase de Planejamento

Estimam-se os volumes a reservar tanto na fase de planejamento como na de projeto. Há


ainda uma fase imediatamente anterior à de planejamento, em que o projetista tem
de decidir se uma obra de detenção deve ser considerada. Os métodos simplificados
expeditos têm o seu valor nessa fase inicial de tomada de decisão.

Inúmeros métodos, simples ou complexos, foram e são propostos para a estimativa de


volumes a serem reservados nas bacias de detenção na fase de planejamento. Esses
métodos apresentam incontáveis diferenças, especialmente quanto aos critérios
assumidos, a tal ponto que existem na literatura trabalhos dedicados à comparação
dos diversos métodos, para casos específicos de aplicação, como os de Urbonas
(1990) e McCuen (1989).

Embora com os métodos computacionais e equipamentos disponíveis, a análise


completa possa ser realizada sem acarretar maiores ônus ao processo de decisão, o
conhecimento das fórmulas e dos métodos expeditos possui a virtude de introduzir o
problema e demonstrar os fatores intervenientes de maneira simples.

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Método do Hidrograma da Fórmula Racional
Dado o uso muito difundido da fórmula racional em hidrologia, um grande número de
reservatórios foi dimensionado a partir do hidrograma obtido por esse método.
De acordo com a Fig. 4.10, tem-se:

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Relações Simplificadas de Urbonas e Glidden (1982)
Urbonas e Glidden (1982), do Denver Urban Drainage and Flood Control District,
realizaram um estudo sobre o desempenho de bacias de detenção em uma bacia-
piloto em Denver (Colorado, EUA).

Por meio de modelagem em computador de uma bacia com área de 25 km², obtiveram
relações para definir os volumes de reservação necessários para TR = 10 anos e 100
anos e as respectivas vazões efluentes máximas. Essas relações foram aferidas por
registros de desempenho obtidos na bacia-piloto e generalizadas posteriormente em
função da área impermeabilizada da bacia.

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As relações obtidas convertidas para o SI. foram:
• Volumes de detenção para TR 10 e 100 anos:

• Vazões efluentes máximas para TR = 10 e 100 anos:

onde:
A - área de drenagem (km²);
Q - vazão (m³/s);
I - área impermeabilizada da bacia (%)
V – volume (m³)

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Observa-se que a chuva de duas horas na região de Denver equivale a 47 mm para TR =
10 anos e 73 mm para TR = 100 anos (Manual Denver).

Ao utilizar essas relações simplificadas, para obter valores preliminares mais adequados
aos volumes reservados, deve-se proceder à correção, pelo menos, do total
precipitado. Por exemplo, na cidade de São Paulo, as chuvas de duas horas
correspondem a 68 mm e 99 mm, para TR = 10 e 100 anos, portanto cerca de 45% e
36% maiores, respectivamente, do que as precipitações em Denver.

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Cuidados específicos quanto às Obras de Detenção

Os principais problemas que podem ocorrer são resultantes da deposição de sedimentos e


detritos que podem desencadear uma série de dificuldades, cabendo destacar:
• a perda de capacidade de armazenamento nos reservatórios de detenção caso os
sedimentos depositados não sejam removidos em tempo hábil,
• o aparecimento de maus odores e problemas de saúde pública resultantes da
decomposição da matéria orgânica dos depósitos,
• problemas de colmatação, com perda de capacidade de detenção em obras previstas
para infiltração e percolação.

Colmatação: Denominação utilizada na engenharia civil para informar quando um espaço vazio encontra-se
preenchido por alguma matéria.

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Debo e Ruby (1982) efetuaram uma abordagem dos aspectos negativos das obras de
detenção e retenção com base em cerca de 10 anos de experiência na área
metropolitana de Atlanta. Os problemas citados incluem:
1) manutenção inadequada ou não continuada, particularmente quando as obras não são de
responsabilidade do proprietário próximo. Possível solução: atribuir a responsabilidade
pela operação à municipalidade, com exceção dos casos em que os setores industrial e
comercial locais possam assumir tal encargo;
2) dificuldade de acesso para manutenção;
3) taludes muito inclinados, criando dificuldades para implantação e manutenção de
vegetação;
4) dispositivo de controle de vazão de dimensões muito reduzidas que acarretam os
problemas de obstrução, resultando em dificuldades de operação e água estagnada após
a ocorrência de chuvas;

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5) problemas de controle de mato e ervas daninhas, particularmente em obras com
armazenamento permanente, ou como consequência de falta de manutenção;
6) proliferação de mosquitos, ratos e outros vetores de doenças;
7) problemas de segurança, particularmente de crianças, devido a profundidades muito
grandes e velocidades excessivas;
8) inexistência de controle de cheias a jusante ou o agravamento dos problemas de
inundação, como consequência de efeitos interativos inesperados de duas ou mais obras
de detenção e retenção na bacia;
9) ocorrência de erosão imediatamente a jusante dos dispositivos de descarga;
10) surgimento ou agravamento de problemas de erosão no canal a jusante, como possível
consequência de um tempo mais prolongado de permanência das vazões escoadas;
11) reduzido ou nenhum efeito sobre as cheias em outros locais que não aquele em que se
situa a obra de detenção e retenção.

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