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Mecânica dos Solos

Avançada
Aula 2 - Aterros Sobre solos Moles

Prof. Msc. Pedro Silveira Gonçalves Neto


2. Aterros Sobre Solos Moles
Aula 2

 2.1. Introdução
 Massad (2003) descreve que solos moles são solos sedimentares com baixa resistência à penetração
(NSPT < 4) em que a fração argila imprime as características de solo coesivo e compressível. São em geral,
argilas moles ou areias argilosas fofas de deposição recente (formadas durante o Quaternário).
 Marangon (2006) escreve que atribui-se à nomenclatura à consistência de solo predominantemente
argiloso, com o valor do NSPT entre 3 e 5, segundo a NBR 7250. Trata-se de solo de origem sedimentar
(aluvionar), com resistência ao cisalhamento extremamente baixa, saturado (NA elevado), relativamente
homogêneo em toda a profundidade do depósito. São solos muitíssimo compressível (característica
relativa a sua capacidade de deformar).
 Ainda, conforme Marangon (2006), os solos ditos “muito mole” (NSPT entre 0 e 2) apresentam todas as
características destacadas acima, porém em condições de comportamento ainda mais desfavorável. A
estes solos é comum se referir também como “solo mole”, de uma forma generalizada.
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 2.1. Introdução
 Os ambientes de deposição podem ser os mais variados possíveis, desde fluvial até costeiro, incluindo as
lagunas e as baías. Os meios de deposição pode ser, portanto, de água doce, salgada ou salobra em
processos de deposição fluviais ou marinhos em locais como várzeas, planícies de inundação, praias,
canais de mar (MASSAD, 2003).
 Independente do processo de deposição de material inconsolidado ao longo dos processos geológicos, os
solos moles possuem heterogeneidade tanto na vertical quanto na horizontal. Este processo pode ser
identificado com mais clareza nos solos de origem fluvial. Na figura 1, é possível evidenciar a distribuição
errática dos sedimentos superficiais.
 Fatores que afetam a deposição:
 Velocidade das águas;
 Quantidade e composição da matéria em suspensão na água (salinidade e floculação das partículas);
 Presença de matéria orgânica tais como humus, detritos vegetais, conchas, etc.;
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 2.1. Introdução

Figura 1. Seção geológica na várzea do rio Pinheiros, São Paulo. Fonte: Adaptado de Massad (2003).
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 2.2. Investigação Geotécnica de Campo


 2.1.1. Classes de Aterros (DNER, 1998)
 Para efeitos de obras rodoviárias, os aterros são classificados em classes I, II e III, conforme as seguintes
características
 Classe I: Enquadram-se nesta classe os aterros junto a estruturas rígidas, tal como encontro de pontes
e viadutos e demais interseções, bem como aterros próximos a estruturas sensíveis como oleodutos.
A extensão do aterro de classe I deve ser pelo menos 50m para cada lado da interseção;
 Classe II: São aterros que não estão próximos a estruturas sensíveis, porém são altos, definindo-se
como altos os que tem alturas maiores que 3m.
 Classe III: Os aterros de classe III são baixos, isto é, com alturas menores que 3m afastados de
estruturas sensíveis.
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 2.2. Investigação Geotécnica de Campo


 2.1.2. Investigações Geológicas de Campo (MARANGON, 2006)
 O programa de investigações geotécnicas de campo deve prever a definição e o detalhamento dos perfis
geotécnicos longitudinal e transversais ao longo dos trechos de interesse, para permitir o desenvolvimento
das soluções de projeto adequadas a cada caso.
 Após a constatação, nos estudos geológicos, de afloramento desses sedimentos de alta
compressibilidade, ou da probabilidade de sua ocorrência em profundidade, serão programadas as
investigações a serem realizadas.
 Para aterros extensos, é recomendável a realização de uma sondagem a percussão piloto no ponto mais
baixo do eixo projetado. Se o resultado dessa sondagem confirmar a existência de camadas de solos
de baixa consistências, deverão ser executadas outras ao longo do eixo, com afastamento máximo
de 100 m, de forma a definir uma seção geotécnica longitudinal do subsolo em toda a extensão do
aterro. Para aterros de pequena extensão serão executadas no mínimo três sondagens.
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 2.2. Investigação Geotécnica de Campo


 2.1.2. Investigações Geológicas de Campo (MARANGON, 2006)
 As investigações detalhadas para projetos de aterros convencionais abrangem a realização de:
 Sondagens complementares para o detalhamento das seções geotécnicas longitudinal e transversal
do subsolo;
 Coleta de amostras indeformadas da camada compressível, com amostrador de tubo aberto, para a
execução em laboratório de ensaios de resistência ao cisalhamento e de compressibilidade;
 Ensaios de palheta in situ (vane test) ao longo da camada de argila de baixa consistência, em furos de
sondagem escolhidos nos locais de maiores altura e espessura da camada compreessível, para a
definição dos parâmetros de resistência ao cisalhamento.
 Quando os problemas geotécnicos do aterro conduzirem a sua classificação como aterro especial, as
investigações geotécnicas de campo deverão ser mais amplas e envolver a participação de
consultoria especializada em mecânica dos solos, que desenvolverá, de comum acordo com o
DNER, um plano de investigações adequado ao problema identificado.
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 2.2. Investigação Geotécnica de Campo


 2.1.3. Investigações Geológicas de Laboratório (MARANGON, 2006)
 Os ensaios de laboratório podem ser os correntes (usuais) ou especiais, dependendo dos objetivos a
serem alcançados e das dificuldades apresentadas pelos solos de fundações; aplicando-se
geralmente a projetos de aterros convencionais e especiais, respectivamente.
 Ensaios Correntes: Caracterização (LL, LP, análise granuométrica, densidade real dos grãos),
Adensamento, Triaxial UU e Cisalhamento Direto;
 Ensaios Especiais: Caracterização não corrente (análise mineralógica e teor de matéria orgânica),
Adensamento CRS (Constrant Rate Strain - Velocidade de Deformação Constante) e triaxial CU
 Principais parâmetros
 Coeficiente de Adensamento;
 Parâmetros de compressibilidade (índices de compressibilidade, recompressão e compressão
secundária);
 Coeficiente de permeabilidade.
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 2.2. Investigação Geotécnica de Campo


 2.1.3. Investigações Geológicas de Laboratório (MARANGON, 2006)
 Tendo em vista que não é possível o perfeito controle das condições de drenagem durante o ensaio de
cisalhamento direto, recomenda-se que os ensaios sejam do tipo lento. As amostras do material do
aterro devem ser compactadas e em condições de umidade e peso específico bastante próximas das
do campo.
 Devem ser realizados no mínimo de três com o objetivo de definir a envoltória em tensões efetivas
(para a obtenção de “c” e “ϕ”), a ser utilizada na análise de estabilidade da obra.
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 2.3. Métodos Construtivos de Aterros Sobre Solos Moles (ALMEIDA E MARQUES, 2014)
 A escolha do método construtivo mais adequado está associada a diversas questões: características
geotécnicas dos depósitos, utilização da área, incluindo vizinhança, prazos construtivos e custos
envolvidos.
 Alguns métodos contemplam controle de recalques; outros controle de estabilidade. A maioria dos
métodos contempla as duas questões. No caso de solos muito moles, é comum o uso de reforço de
geossintético associado à maioria das alternativas apresentadas na figura 2.
 Restrições de prazo podem inviabilizar técnicas como as de aterros convencionais ou sobre drenos
verticais, favorecendo técnicas de aterros sobre elementos de estacas ou aterros leves, os quais,
entretanto, tem custos elevados.
 A remoção do solo mole pode ser utilizada quando a espessura da camada for pequena (1 a 2m) e as
distâncias de transporte não forem grandes. Em áreas urbanas, há dificuldade na obtenção de áreas para
a disposição do material de escavação além da questão ambiental associada à disposição, além disso,
restrições de espaço podem também inviabilizar o uso de bermas, portanto, a metodologia construtiva
deve ser analisada para cada caso.
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 2.3. Métodos Construtivos de Aterros Sobre Solos Moles (ALMEIDA E MARQUES, 2014)

Figura 2. Métodos Construtivos de Aterros Sobre Solos Moles. Fonte: Leroueil (1997 apud ALMEIDA e MARQUES, 2014)
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 2.3. Métodos Construtivos de Aterros Sobre Solos Moles (ALMEIDA E MARQUES, 2014)
 2.3.1. Substituição de Solos Moles e Aterros de Ponta
A substituição de solos moles consiste na retirada total
ou parcial desses solos por meio de dragas ou
escavadeiras e na imediata colocação de aterro em
substituição ao solo mole. Esse método construtivo é
utilizado em geral em depósitos com espessuras de
solos compressíveis de até 4m

• Vantagens: Diminuição ou a eliminação dos


recalques e o aumento do fator de segurança
quanto à ruptura.

• Desvantagens: As etapas de remoção de solo,


conforme figura 3, devem ser executadas com muito
cuidado, além disso, os equipamentos devem ser
leves. No caso de solos muito moles, podem ocorrer
recalques contínuos o que obriga a verificação
contínua de espessura de argilas por meio de
sondagens. Figura 3. Sequência executiva de substituição de solo mole. Fonte:
Almeida e Marques (2014)
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 2.3. Métodos Construtivos de Aterros Sobre Solos Moles (ALMEIDA E MARQUES, 2014)
 2.3.2. Substituição de Solos Moles e Aterros de Ponta

O aterro de ponta consiste no avanço de uma ponta de


aterro em cota mais elevada que a do aterro projetado,
que vai empurrando e expulsando parte da camada de
solo mole, por meio da ruptura do solo de fundação
argilosa de baixa resistência, deixando em seu lugar o
aterro embutido.

Um exemplo de aterro de ponta são os aterros


executados para a conquista de áreas com baixíssima
capacidade de suporte, com camada superfcial muito
mole ou turfosa e muitas vezes alagadas.

Figura 4. Esquema de execução de um aterro de conquista e posterior


cravação de drenos. Fonte: Almeida e Marques (2014).
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 2.3. Métodos Construtivos de Aterros Sobre Solos Moles (ALMEIDA E MARQUES, 2014)
 2.3.2. Substituição de Solos Moles e Aterros de Ponta

Figura 5. Instalação de geotêxtil e


preparação para aterro de
conquista. Fonte: GeoSoluções
(2020).
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 2.3. Métodos Construtivos de Aterros Sobre Solos Moles (ALMEIDA E MARQUES, 2014)
 2.3.3. Aterro Convencional com Sobrecarga Temporária
 O aterro convencional é aquele executado sem dispositivos de controle de recalque ou de
estabilidade. O mais comum é executar o aterro convencional com sobrecarga temporária, cuja função
é aumentar a velocidade dos recalques primários e compensar total ou parcialmente os recalque
secundários.
 Uma desvantagem desse método construtivo é o prazo para estabilização dos recalques, em
geral, muito elevado, em função da baixa permeabilidade dos depósitos moles. Assim, deve-se avaliar
a evolução dos recalques pós-construtivos com o tempo, para o planejamento das manutenções
periódicas necessárias.
 Outra desvantagem do uso da sobrecarga é o grande volume de terraplenagem associado a
empréstimo e bota-fora. Quando os recalques estimados são alcançados, a sobrecarga temporária é
retirada e o material removido pode ser utilizado como aterro em outro local.
 A construção do aterro em etapas permite ganho paulatino de resistência da argila ao longo do tempo
e a estabilidade deve ser verificada para cada alteamento. Para essa avaliação é necessário o
acompanhamento do desempenho da obra, por meio de instrumentação geotécnica e ensaios de
campo para os ajustes necessários aos projeto.
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 2.3. Métodos Construtivos de Aterros Sobre Solos Moles (ALMEIDA E MARQUES, 2014)
 2.3.3. Aterro Convencional com Sobrecarga Temporária

Figura 6. Utilização de Sobrecarga para Aceleração de Recalques. Fonte: Marangon (2006)


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 2.3. Métodos Construtivos de Aterros Sobre Solos Moles (ALMEIDA E MARQUES, 2014)
 2.3.4. Aterros Construídos em Etapas, Aterros com Bermas Laterais e Aterros Reforçados
A utilização de bermas de equilíbrio é uma solução que
pode ser adotada para aumentar o fator de segurança
quanto à ruptura. Quando há restrições ao
comprimento das bermas, ou para reduzir os volumes
de terraplenagem, são instalados reforços, em geral
com geossintéticos na base do aterro para, além de
melhorar o fator de segurança distribuir melhor as
tensões.

Nos aterros construídos sobre geodrenos, executa-se


inicialmente a camada drenante que tem também a
função de aterro de conquista, seguida da cravação
dos drenos e execução do corpo do aterro.

Figura 7. Esquema de um aterro sobre geodrenos. Fonte: Almeida


e Marques (2014).
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 2.3. Métodos Construtivos de Aterros Sobre Solos Moles (ALMEIDA E MARQUES, 2014)
 2.3.5. Aterros Leves
 A magnitude dos recalques primários dos aterros sobre camadas de solos moles é função do
acréscimo de tensão vertical causado pelo aterro construído sobre a camada de solo mole. Logo, a
utilização de materiais leves no corpo do aterro reduz a magnitude desses recalques. Esta técnica,
tem como vantagem a adicional melhora das condições de estabilidade desses aterros, permitindo
também a implantação mais rápida da obra, diminuindo ainda os recalques diferenciais.

Figura 8. Seção Transversal de um Aterro com uso de EPS.


Fonte: Almeida e Marques (2014).

Figura 9. Foto de aterro de stiropor Fonte: Gonçalves (2009)


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 2.3. Métodos Construtivos de Aterros Sobre Solos Moles (ALMEIDA E MARQUES, 2014)
 2.3.5. Aterros Sobre Elementos de Estaca
Aterros estruturados são aqueles em que parte ou a
totalidade do carregamento devido ao aterro é
transmitida para o solo de fundação mais competente.
Pode ser apoiado sobre estacas ou colunas dos mais
variados tipos e materiais e esta solução minimiza ou
até elimina os recalques, além de melhorar a
estabilidade do aterro. Uma vantagem desse método
construtivo é a diminuição do tempo de execução do
aterro, pois seu alteamento pode ser realizado em uma
só etapa, em prazo relativamente curto.

O tratamento do solo mole por colunas granulares,


além de produzir menores deslocamentos horizontais e
verticais do aterro, em comparação com um aterro
Figura 10. Exemplo de Aterro Estruturado com uso de Geogrelhas. Fonte:
convencional, também promove a dissipação de GeoSoluções (2020).
poropressões por drenagem radial, acelerando os
recalques e aumentando a resistência ao cisalhamento
da massa de solo.
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 2.4. Análise de Recalques


 Para a análise de recalques são calculados usualmente o recalque total e a variação do recalque com o
tempo.
 O recalque total de um aterro sobre argila mole tem três componentes:
 Recalque não drenado, ou recalque elástico ou imediato (DHe, DHi ou ri), que está associado a
deformações elásticas cisalhantes a volume constante logo após a colocação do aterro sobre o
terreno;
 Recalque por adensamento primário (DH ou r), ou recalque por adensamento, que em geral
responde pela maior parcela do recalque total;
 Recalque por compressão secundária, ou recalque secundário (DHcs, DHsec ou rsec), que é
decorrente da compressão do esqueleto sólido e, portanto, não está asssociado à expulsão da água
dos vazios do solo.
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 2.4. Análise de Recalques

Figura 11. Tipos de Recalques. Fonte: Almeida e Marques (2014).


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 2.4. Análise de Recalques


 O recalque imediato decorre do carregamento instantâneo e sem variação de volume da argila. Por
conseguinte, é também denominado recalque elástico não drenado, elástico, ou distorcional. Em geral, o
recalque imediato é de pequena magnitude, quando comparado ao recalque por adensamento primário. É
calculado por equações da teoria da elasticidade:
2 .𝐼
2.𝑞.𝑏 1−𝜐𝑢
∆𝐻𝑖 = (1)
𝐸𝑢

 A magnitude do recalque por adensamento primário final deve ser calculada separando-se cada camada
de fundação em subcamadas correspondentes aos dados disponíveis de ensaios de adensamento.
Os parâmetros a serem utilizados são obtidos a partir da curva de compressão.

𝐻 𝜎 ′ 𝑎𝑑 𝜎′𝑓
∆𝐻𝑎𝑑 = . 𝐶𝑟 . 𝑙𝑜𝑔 ′ + 𝐶𝑐 . 𝑙𝑜𝑔 (2)
1+𝑒0 𝜎 0 𝜎 ′ 𝑎𝑑
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 2.4. Análise de Recalques


 Na equação 2, Cr e Cc são os índices de recompressão e compressão; e0, o índice de vazios in situ para a
profundidade de interesse, s’0, a tensão efetiva pré-existente no terreno, s’f, a tensão efetiva depois da
construção de uma sobrecarga, s’ad, a tensão efetiva de pré adensamento da amostra.
 A sobrecarga devido ao aterro Ds é calculado em função da geometria do problema. Para aterros em
formatos trapezoidais, recomenda-se a utilização do ábaco de Oosterberg para determinar o fator de
influência necessário para resolver a equação 2 (POULOS; DAVIS, 1974 apud ALMEIDA e MARQUES,
2014).

∆𝜎 = 𝐼. 𝛾𝑎𝑡 . ℎ𝑎𝑡 (3)

 Onde I representa o fator de influência obtido pelo ábaco de Oosterberg, 𝛾𝑎𝑡 representa o peso específico
do aterro e, ℎ𝑎𝑡 representa a altura ou espessura do aterro (figura 12).
 Via de regra, o fator de influencia I pode ser considerado igual a 1,0 para o casos em que a base do aterro
é muito grande em relação à espessura
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 2.4. Análise de Recalques

Figura 12. Recalque por adensamento imediato: (A)


variáveis usadas para cálculo de recalques; (B) fator de
influência I para carregamento trapezoidal. Fonte:
Poulos: Davis (1974 apud ALMEIDA e MARQUES,
2014).
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 2.4. Análise de Recalques


 Marangon (2006) descreve que a ábaco de cálculo de tensões verticais de Osterberg considera o aterro
com uma distribuição trapezoidal igual a seu peso em cada ponto da superfície carregada, ou seja,
despreza a rigidez do aterro, hipótese aceitável em casos práticos, e utiliza o princípio da superposição,
como exemplificado na figura 13. No caso de bermas, é prática corrente considerar a profundidade z para
a parte superior do aterro acima da berma a partir de seu topo, conforme apresentado na figura 14.

Figura 13. Princípio de utilização do ábaco de Osterberg para aterro simples. Fonte: Marangon (2006).

Figura 14. Princípio de utilização do ábaco de Osterberg para aterro com bermas. Fonte: Marangon
(2006).
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 2.4. Análise de Recalques


 2.4.1. Recalque por Adensamento Primário
 O cálculo de recalques em aterros sobre solos moles tem como base a teoria de Terzaghi adaptada
com particularidades devido à submersão do aterro ao longo do tempo.
 Marangon (2006) descreve que o recalque por adensamento primário para várias camadas pode ser
calculado para o caso de carregamento de solo da condição sobreadensada para normalmente
adensada por meio da equação 4:

𝐶𝑟 𝜎′ 𝑎𝑑 𝐶𝑐 𝜎′ 𝑓
∆𝐻𝑎𝑑 = σ . ∆ℎ. 𝑙𝑜𝑔 ′ + . ∆ℎ. 𝑙𝑜𝑔 ′ (4)
1+𝑒0 𝜎 0 1+𝑒0 𝜎 𝑎𝑑

 Onde, ∆ℎ representa a espessura da subcamada correspondente. Demais variáveis são


idênticas às da equação 1 (anterior).
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 2.4. Análise de Recalques


 2.4.1. Recalque por Adensamento Primário
 Para o caso de recalque sobre camada única, Almeida e Marques (2014) escrevem que o
procedimento é de ordem iterativa, pois é necessário considerar o efeito de submersão do aterro.
 1) Inicialmente calcula-se o valor de recalque sem considerar a submersão do aterro por meio da
equação 1 (anterior) para a condição de argila normalmente adensada (DHad = DHj).
𝐻 𝜎′ 𝑓
∆𝐻𝑎𝑑 = ∆𝐻𝑗 = . 𝐶𝑐 . 𝑙𝑜𝑔 (5)
1+𝑒0 𝜎′ 𝑎𝑑

 2) Admitindo o NA coincidente com o NT, a altura do aterro hat deve ser dividida em h1 e h2 (= DHj)
correspondentes, respectivamente, aos trechos não submerso e submerso (com peso específico
igual a g’at) e calcula-se para a segunda iteração (DHj+1)
𝐻 𝜎′ 0 + 𝛾𝑎𝑡 .ℎ1 + 𝛾′ 𝑎𝑡 .ℎ2
∆𝐻𝑗+1 = . 𝐶𝑐 . log (6)
1+𝑒0 𝜎′ 𝑎𝑑
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 2.4. Análise de Recalques


 2.4.1. Recalque por Adensamento Primário
 Os cálculos devem ser refeitos até a convergência, ou seja, até que o recalque de uma iteração
coincida com o recalque calculado da iteração imediatamente anterior.

Figura 15. Esquema de submersão do aterro no início (A) e no fim do carregamento (B). Fonte: Almeida e Marques (2014).
2. Aterros Sobre Solos Moles
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 2.4. Análise de Recalques


 2.4.2. Recalque por Compressão Secundária
 A compressão secundária ou adensamento secundário ocorre no final do estágio de adensamento
primário e pode ser definido como um recalque que ocorre após a atuação da energia de sobrecarga e
com tensão efetiva constante. Marangon (2006) descreve que no estado atual do conhecimento é
recomendado apenas calcular os limites inferior e superior desse componente do recalque total.

Figura 16. Efeito da compressão secundária sobre a relação


deformação-tempo segundo dois modelos de comportamento. Fonte:
Marangon (2006).
2. Aterros Sobre Solos Moles
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 2.4. Análise de Recalques


 2.4.2. Recalque por Compressão Secundária
 No caso do limite inferior (modelo A), o cálculo se baseia na hipótese simplista de que o recalque
secundário só se verifica após o tempo de ocorrência da compressão primária ou seja, é função
do tempo de vida de obra, dada pela equação 7:
𝐻 𝑡
∆𝐻𝑐𝑠𝐴 = . 𝐶𝛼 . log 𝑣 (7)
(1+𝑒) 𝑡𝑝

 Onde:
 H = espessura total da camada de argila; Ca = índice de compressão secundária; tv = tempo de
vida da obra (dias); tp = tempo de ocorrência da compressão primária (dias).
 O limite superior (modelo B) resulta dos trabalhos de Bjerrum (1972) e é calculado admitindo-se que
os recalques secundários ocorrem durante o adensamento primário, a uma velocidade
semelhante à observada em laboratório no final do adensamento primário, dada pela equação 8:
𝐻
∆𝐻𝑐𝑠𝐵 = . 𝐶 . log 𝑡𝑣 (8)
2.(1+𝑒) 𝛼
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 2.4. Análise de Recalques


 2.4.2. Recalque por Compressão Secundária
 Os dois modelos incorporam hipóteses discutíveis e têm como resultado previsões de recalques
sedcundários bastante distintas. No estado atual do conhecimento, Marangon (2006) recomenda a
adoção da média entre os valores obtidos pelos dois cálculos
 Ademais, o valor de tp a ser utilizado nas equações 7 e 8 deve ser o correspondente ao grau de
adensamento médio (U) de 90%
𝐻𝑑 ²
𝑡𝑝 = 0,848. (9)
𝐶𝑣
 Onde:
 Hd representa a altura de drenagem e Cv o coeficiente de adensamento da camada de argila.
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 2.4. Análise de Recalques


 2.4.2. Recalque por Compressão Secundária
 No cálculo do recalque secundário deve ser considerado ainda o efeito de submersão do aterro, que
resulta basicamente na diminuição da tensão vertical aplicada na superfície, a qual passa de Ds para
um valor Ds*. Admitindo-se como desprezível o acréscimo de peso específico úmido devido à
submersão, tem-se:
𝑆.𝛾𝑊
∆𝜎 ∗ = ∆𝜎 − (10)
2
 Onde:
 𝑆 = ∆𝐻𝑖 + ∆𝐻𝑎𝑑 , ou seja, o recalque por compressão secundária, não é computado. Com o valor
de Ds assim obtido deve ser calculado o novo recalque por adensamento DHcs corrigido pelo
efeito da submersão.
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 2.4. Análise de Recalques


 2.4.3. Variação do Recalque com o Tempo
 O cálculo da variação de recalques com o tempo deve ser feito pela teoria de Terzaghi, aplicando-se a
equação 11
∆𝐻 𝑡 = ∆𝐻𝑎𝑑. 𝑈 (11)
 Onde:
 ∆𝐻 𝑡 representa o recalque por adensamento em um tempo t qualquer; ∆𝐻𝑎𝑑 representa o
recalque final por adensamento, calculado, por exemplo, pela equação 4; U representa o grau de
adensamento médio para o tempo t, função do fator de tempo Tv conforme as teorias de Terzaghi.
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 Exercícios
 01) Considere o terreno abaixo onde será construído um aterro extenso com um peso específico gnat =
18kN/m³ e 2,5m de altura. a) Calcule o recalque total da camada de argila considerando o ponto médio da
mesma; b) Calcule o coeficiente de adensamento para a argila; c) Calcule o recalque para um período de 120
dias; d) Quando o recalque for de 26,40cm, qual o valor da pressão neutra no centro da camada?
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 Exercícios
 02) Considere-se um aterro sobre argila mole com as características geotécnicas e geométricas indicadas na
figura abaixo. Determine o recalque por adensamento primário.
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 Exercícios
 03) Determine o recalque para uma camada de argila normalmente adensada com espessura harg conforme a
figura abaixo para dois casos, considerando primeiramente a submersão do aterro em uma camada com 5m
de espessura e, posteriormente para uma camada com 10m de espessura.
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 Exercícios
 04) Considere um aterro sobre argila mole com as características geotécnicas e geométricas indicadas na
figura abaixo. Determine o recalque por adensamento total que sofrerá a camada de argila para um tempo de
vida de obra de 100 anos.
𝐶𝛼
 Dados: 𝐶𝛼𝜀 = ; 𝜈𝑢 = 0,5
1+𝑒

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