Você está na página 1de 14

1.

0 - Introdução ao estudo da Geologia

Geologia, do grego Geo (Terra) e Logos (conhecimento), é uma ciência exata e


da Terra, que visa estudar o planeta, sua origem, composição química e
estrutural, processos interno e externos e a as mudanças ao longo do tempo,
tudo isso a partir da interpretação das rochas em toda sua essência, do
microscópico ao megascópico. A figura 1.0 ilustra simplificadamente as
mudanças no meio físico e biológico que aconteceram na Terra desde a sua
origem a aproximadamente 4,6 bilhões de anos.

Figura 1.0: Espiral do tempo geológico e da evolução da história da Terra. Abreviaturas: Ma,
Milhões de Anos e Ga, Bilhões de anos. Modificado de Press et al., 2006
O estudo da geologia pode ser dividido conforme o diagrama abaixo:

O presente guia de estudos aborda o ramo da Geologia Aplicada chamado de


Geologia de Engenharia, este é uma das bases da Geotecnia, trata-se da
aplicação da Geologia Física para resolução de problemas de Engenharia.

A Geologia de Engenharia pode ser definida como “a ciência dedicada à


investigação, estudo e solução de problemas de engenharia e meio ambiente,
decorrentes da interação entre a Geologia e os trabalhos e atividades do homem,
bem como à previsão e desenvolvimento de medidas preventivas ou reparadoras
de acidentes geológicos”, segundo a Associação Brasileira de Geologia de
Engenharia (ABGE).
2.0 – O Planeta Terra

2.1 – A Origem do Plante Terra

A origem do universo e de nossa própria existência nele contida desperta a


curiosidade do ser humano desde os mais remotos tempos e é expressa nas
mais antigas mitologias. Atualmente explicação cientifica mais aceita é a teoria
do Big Bang, a grande explosão, a qual considera que nosso universo surgiu a
cerca de 14 bilhões de anos atrás a partir de uma explosão cósmica. Antes desse
instante toda a matéria e energia estavam concertadas em um único ponto de
densidade inconcebível. Desde este instante, num processo que ainda continua,
o Universo expandiu-se e diluiu-se formando as galáxias.

A Terra tem idade aproximada de 4,6 bilhões de anos, tem sua origem em
conjunto a com a galáxia (via láctea) a partir do processo de contração e rotação
do material cósmico que forma a nebulosa (Figura 02).

Figura 02: Origem da galáxia e da Terra, a partir da contração da nebulosa. Modificado de


Press et al., 2006
2.2- A Estruturação do Planeta Terra

Embora a Terra provavelmente tenha iniciado como uma mistura não-segregada


de planetesimais e outros remanescentes da nebulosa, ela não manteve essa
forma durante muito tempo. Diversas fusões de material ocorreram em virtude
ao continuo impacto de meteoritos contra a superfície, o que gerou um oceano
de lava, permitindo assim a migração de elementos menos densos para a
superfície, formando assim a crosta e mais densos para o centro, gerando assim
um núcleo. Desta forma a Terra se tornou um planeta zonado em três regiões
principais: um núcleo central e uma crosta externa separados por um manto
(Figura 3).

Figura 03: Terra primitiva e Terra diferenciada, efeito da migração dos elementos por efeito da
densidade. Extraído de Press et al., 2006.

O Núcleo é a região central do planeta localizado a aproximadamente 2890 km


abaixo da superfície, esta é a região mais densa da Terra e corresponde a cerca
de um terço do material primitivo do planeta, composto majoritariamente por uma
liga de ferro e níquel. O núcleo pode ser subdivido em duas regiões pelas
diferenças de estados físicos, a porção externa deste encontra-se no estado
liquido e a porção interna no estado sólido em virtude da incrível pressão que a
porção interior está sujeita.

O Manto é a maior região da Terra, situa-se entre a crosta e o núcleo, ou seja,


de 40 a 2900 km de profundidade. Encontra-se no estado sólido, porém devido
a altas temperaturas este sólido se comporta com pouca rigidez. O manto é o
material deixado na zona intermediária depois que grande quantidade de matéria
pesada afundou e a matéria mais leve emergiu. Este e composto por rochas de
densidade média, em sua maioria composta por oxigênio ligado a magnésio,
ferro e silício.

A Crosta é a região fina e superficial do planeta, encontra no estado sólido e o


seu comportamento reológico varia de rígido a dúctil em função da profundidade.
Esta foi gerada pela concentração de elementos menos densos que migraram
para a superfície quando a Terra se encontrava com a superfície totalmente
fundida. Então se pode dizer que a crosta contém materiais relativamente leves
e com temperaturas de fusão baixas, são estes os materiais provenientes da
combinação dos seguintes elementos: silício, alumínio, cálcio, magnésio, sódio
e potássio com o oxigênio.

Existem mais de 100 elementos, mas as análises químicas das rochas indicam
que apenas oito constituem 99% da massa da Terra. De fato, cerca de 90% da
Terra consistem em apenas quatro elementos: ferro, oxigênio, silício e magnésio
(figura CC). Quando comparados a abundancia relativa dos elementos que
constituem a crosta com a Terra inteira, pode-se constatar grande diferença na
abundancia relativa dos elementos, principalmente do ferro, o fato deve-se a já
discutida diferenciação que o planeta passou em virtude da migração dos
elementos mais e menos densos.

Figura CC: A abundância relativa dos elementos da Terra inteira comparada com a dos
elementos da crosta é dada em percentuais de peso. A diferenciação criou uma crosta leve,
empobrecida de ferro e rica em oxigênio, silício, alumínio, cálcio, potássio e sódio. Extraído de
Press et al., 2006.
2.3 - A Dinâmica do Planeta Terra

A energia envolvida no sistema Terra é basicamente proporcionada por


duas fontes, o Sol e o calor interno da Terra (Figura XX). A energia do Sol, gerada
a partir da fusão e nuclear em que átomos de hidrogênio se unem em átomos de
hélio, é responsável pela energização de toda a parte externa e superficial do
planeta, não possuindo praticamente nenhuma influência no sistema interno. O
calor interno da Terra tem como origem a desintegração radioativa de alguns
elementos, isto é o que mantém a Terra viva, e é o responsável por toda a
dinâmica interna da Terra.

Figura XX: Principais componentes e subsistemas do sistema Terra. Extraído de Press et al.,
2006.
2.4 - A Deriva Continental e a Tectônica de Placas

Desde o fim do Século XVI já se observara que os continentes de um e outro


lado do Atlântico têm contornos que se ajustam. Em diversos trabalhos, na
década de 1920, um naturalista chamado Alfred Wegener, chamou atenção
principalmente para semelhanças de fósseis, de sequências de rochas de
origem glacial e de evidências de paleoclimas nos continentes, de difícil
explicação se não se considerasse a separação dos continentes. Constatou-se,
dentre numerosos outros aspectos, que: (1) existem claros indícios, em todos os
continentes do Hemisfério Sul e na Índia, de uma grande glaciação ocorrida há
300 Ma, que só seria explicável se os continentes unidos se localizassem em
volta do polo Sul; (2) alguns fósseis encontrados em continentes hoje separados
por oceanos pertencem a gêneros de animais terrestres que não poderiam
transpor os mares, como o pequeno réptil continental do Permiano, o
Mesosaurus, encontrado em Assistência (SP) e também na África; (3) a
vegetação de clima frio da flora Glossopteris é característica dos continentes do
Hemisfério Sul e da Índia, enquanto no Hemisfério Norte predominava flora
tropical que deu origem às grandes jazidas de carvão da Europa e da América
do Norte (Figura 2).

Figura 02: Distribuição de restos de animais e plantas na massa continental do sul de Pangea,
hoje encontrados em continentes muito afastados entre si. (Modificado de Kious e Tilling 1999)
O problema maior da hipótese foi o de explicar o motor que moveria os
continentes sobre o oceano. Então posteriormente foi proposta a hipótese das
correntes de convecção, considerando o calor do interior da Terra gerado pela
desintegração de elementos radioativos no manto. Essa hipótese explicou os
movimentos como sendo induzidos pelo fluxo de materiais viscosos e quentes
que subiriam das profundezas para alguns locais sob a casca rígida do planeta,
esfriariam e desceriam em outros, estabelecendo correntes de convecção (Fig.
3). As correntes podem ser entendidas, de modo singelo, por comparação com
a água aquecida em um recipiente: o calor aplicado por baixo aquece a água e
esta sobe por ter a densidade diminuída; subindo, a água esfria, tem a densidade
aumentada, escoa para os lados e desce – forma-se um ciclo que tende a
uniformizar a temperatura. As correntes de convecção seriam capazes de
romper a casca rígida da Terra e mover os fragmentos, empurrando e dobrando
as rochas à frente e gerando cadeias de montanhas.
A casca rígida da Terra, a litosfera, está segmentada em porções, que foram
chamadas placas litosféricas (Figura 12), e que se movimentam na superfície da
Terra sobre uma camada de comportamento mais plástico situada abaixo, a
astenosfera. Mais tarde esses movimentos foram designados de tectônica de
placas.

Figura 03: Ilustração das correntes de convecção, mecanismo motor da superfície da Terra e
responsável pela divisão dos continentes, Extraído de Press et al., 2006.

Figura 12: As placas litosféricas e os respectivos continentes. Extraído de Press et al., 2006.
O movimento relativo das placas tectônicas podem criar três tipos de limites, os
transformantes, os divergentes e os convergentes (Figura Y) limites são as
bordas das placas tectônicas, são zonas instáveis nas quais acontecem
fenômenos como terremotos, vulcanismo, rifteamento e falhamento.

Figura Y: Os limites e contatos das placas tectônicas e as características de cada uma, Extraído
de Press et al., 2006.

2.3.1 - Limites Divergentes

As bordas divergentes caracterizam-se pelo regime distensivo, sismos de


hipocentros rasos, alto fluxo térmico, afastamento de placas e ascensão de
magmas provindos das profundezas, gerando crosta nova em forma de rochas
intrusivas e vulcânicas, principalmente diabásios e basaltos. Elas situam-se nas
dorsais oceânicas (Figura 9) e o processo de afastamento é referido como
divergência de placas. As dorsais constituem um sistema global de cadeias de
montanhas, alinhadas e largas de várias centenas de quilômetros. São as mais
extensas faixas montanhosas da Terra, com cerca de 80.000 km, largura da
ordem de 1.000 km e elevação de 1 a 3 quilômetros acima dos fundos oceânicos
adjacentes. Quando este fenômeno acontece em meio ao continente inicia ao
processo de rifteamento (Figura 10) que podem vir a dividir uma placa ou ser
abortado e formar uma bacia sedimentar.
Figura 9: O rifteamento e a expansão do assoalho oceânico na Dorsal Mesoatlânticas criam uma
cadeia de montanhas vulcânicas onde falhamentos, terremotos e vulcanismo estão concentrados
ao longo de um estreito centro de expansão. Extraído de Press et al., 2006.

Figura 10: Estágios iniciais do rifteamento e separação das placas, agora ocorrendo no leste da
África, onde vales em riftes múltiplos e seu vulcanismo, falhamento e terremotos associados
estão distribuídos sobre uma zona mais lagar. Extraído de Press et al., 2006.

2.3.2 - Limites Convergentes

As bordas convergentes, destrutivas ou de consumo, envolvem a interação de


duas placas, uma mergulhando sob a outra (Figuras 11 e 12). A placa subdutante
é consumida no manto. Porções não consumidas são resíduos de fusão que, por
sua alta densidade, afundam no manto e se acumulam na sua base. A interação
das duas placas constitui o processo de convergência. A placa que mergulha é
chamada placa subdutante, inferior, mergulhante ou descendente, e a outra,
placa superior ou cavalgante.
Figura 11: Subducção de uma placa oceânica com outra placa oceânica, formando uma fossa
profunda e um arco de ilhas vulcânicas. Extraído de Press et al., 2006.

Figura 12: Subducção de uma placa oceânica em uma margem continental, formando um
cinturão de montanhas vulcânicas na margem deformada do continente em vez de um arco de
ilha. Extraído de Press et al., 2006.

2.3.3 - Limites Transformantes

As bordas construtivas e as destrutivas são segmentadas por falhas


transcorrentes transversais ou subtransversais, que configuram o terceiro tipo de
borda: as bordas transformantes, direcionais ou conservativas, assim
designadas por não acarretarem acréscimo ou consumo das placas e
envolverem deslocamentos transcorrentes (Figura 13). As zonas transformantes
têm traços que se prolongam lateralmente por extensões de até muitas centenas
de quilômetros, chegando às bordas de placas ou de continentes. Esses
prolongamentos são as zonas de fratura, cuja inatividade tectônica é marcada
pela ausência de deslocamentos e de sismos. Apesar do nome, elas não são
fraturas nem falhas, mas cicatrizes de zonas transformantes deslocadas
lateralmente graças à movimentação longitudinal não uniforme da dorsal ou zona
de subdução. Tal como a zona transformante, são ladeadas por relevo
montanhoso em faixas com largura de até 100-200 km e desníveis de até vários
milhares de metros que se torna mais baixos à medida que se afastam da dorsal.

a b

Figura 13: (a) O Mar Vermelho, divide-se para formar o Golfo de Suez e o Golfo de Aqaba. (b) O
Golfo da Califórnia, um oceano em processo de abertura resultante do movimento da placa,
marca um rifte que está sendo alargado entre a Baixa Califórnia e o México. Extraído de Press
et al., 2006.
2.3.4 - O Brasil e as Tensões Intraplaca

O Brasil é dito um país tectonicamente estável por ocupar uma posição central
na placa sul-americana, porém as tensões das bordas são transmitidas para o
interior da placa assim causando sismos de menos intensidade. As tensões
induzidas na intraplaca têm sido determinadas por vários métodos: análise de
sismos, deformação dos diâmetros de furos de sondagem, fraturamento
hidráulico e análise de falhas e outras estruturas. No Brasil as tensões
intraplacas foram determinadas por análise de sismos (Figura 31). Outras
determinações têm sido realizadas por análise de falhas, faturamento hidráulico
e eliptização de poços de petróleo. Os dados não são concordantes e as
variações requerem mais informações para serem explicadas e regionalizadas.
Na interpretação regional dos dados é preciso considerar a atuação de forças no
interior do território, induzidas pelos movimentos ao longo do perímetro da placa
e também de outras origens (p. ex., carga de sedimentos), além das
reorientações de tensões por descontinuidades (juntas, falhas) e anisotropias
(foliação, acamamento), sempre presentes nos maciços rochosos e de
orientações diversas.

Figura 31. Mapa de epicentros de sismos no Brasil e adjacências. Os círculos de tamanhos


diferentes indicam os erros de localização do epicentro. (Modificado de IAG 2011. Disponível em
<http://moho.iag.usp.br/i3geo/aplicmap/geral.)
Quadro 1. Os maiores terremotos ocorridos no Brasil. Os três mais antigos foram
identificados por notícias publicadas; os demais têm registros por sismógrafos.

Durante algum tempo, admitiu-se que a intraplaca, sendo rígida, seria capaz de
transmitir esforços de uma borda a outra da placa, sem se deformar. Contudo,
os esforços podem atuar em porções da intraplaca a distâncias de até mais de
3.000 km da borda, gerando estruturas diversas. No caso do Brasil, muitos
admitem reflexos da movimentação nos Andes pelo menos até a costa atlântica,
mas essa é uma questão ainda pendente, porque existem outros esforços a se
considerar, relacionados com movimentos das outras placas adjacentes, o
arrasto do soalho oceânico e o deslocamento do continente.

Você também pode gostar