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Mecânica dos Solos

Avançada
Aula 4 - Barragens

Prof. Msc. Pedro Silveira Gonçalves Neto


4. Barragens
Aula 4

 4.1. Introdução
 Barragem é qualquer estrutura em um curso permanente ou temporário de água ou outros fluídos líquidos
para fins de contenção ou acumulação dos mesmos ou de misturas deles e sólidos, compreendendo o
barramento e as estruturas associadas.
 Utilização: abastecimento de água de zonas residenciais, agrícolas, industriais, produção de energia
elétrica (energia hidráulica), regularização de um curso d’água, disposição final ou temporária de rejeitos
minerais ou industriais ou ainda para fins de lazer e turismo.

Figura 2. Foto: Barragem da mina Casa de Pedra da CSN – para disposição


Figura 1. Foto: Barragem do João Leite – Goiás – para abastecimento de água
de rejeitos de mineração – Congonhas do Campo – MG - Brasil
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 4.1. Introdução
 De acordo com Mello (1975), uma barragem deve ser vista como uma unidade no espaço,
compreendendo: (i) bacia da represa; (ii) terrenos de fundação (sob a barragem); (iii) estruturas anexas
auxiliares (vertedouros, descarregadores de fundo, tomadas d’água, galerias, túneis, casas de força e
etc.); (iv) instrumentos de auscultação (piezômetros, medidores de recalques) para observação,
monitoramento do comportamento da obra e sua segurança; (v) Instalações de comunicação e
manutenção.
 Vertedouros: dispositivos ou estruturas que tem a função de descarregar o excesso de água
acumulada no reservatório de forma segura, para controle de cheias, de forma a evitar o rompimento
da barragem.
 Descarregadores de fundo: dispositivos que permitem a saída de água de forma segura por debaixo
do aterro da barragem com o objetivo de manter regularizada a vazão remanescente;
 Piezômetros: dispositivos instalados no solo para medir a pressão de água no seu interior. No caso de
barragens, servem para avaliar a segurança dos taludes da barragem. Lembrando que pressões
neutras diminuem a resistência ao cisalhamento do solo e o fator de segurança ao deslizamento dos
taludes.
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 4.1. Introdução

Figura 3. Barragem de Itaipú – Arranjo Geral das Estruturas. Fonte: Silva e


Freitas (2013)
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 4.2. Tipos de Barragens


 4.2.1. Barragem de concreto gravidade (concreto massa)
 Como o próprio nome sugere, funciona em função de seu peso próprio, que atua como força
estabilizadora. Em geral requerem fundações em rocha, por questões de capacidade de suporte do
terreno.

Figura 4. Barragem de Concreto em Itumbiara - GO. Figura 5. Seção de barragem de concreto gravidade e
Fonte: Queiroz, 1979. esquemas de forças e tensões. Fonte: Massad (2010)
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 4.2. Tipos de Barragens


 4.2.2. Barragem de concreto estrutural com contrafortes (concreto massa)
 Barragens de concreto estrutural constituídas de lajes ou abóbadas múltiplas inclinadas, apoiadas em
contrafortes. Requerem menor volume de concreto que a anterior mas exigem mais forma e armação.
Estabilidade ao deslizamento favorecida pela inclinação da resultante do empuxo hidrostático sobre a
barragem. Requer cuidados com a fundação, porém tem menos subpressões.

Figura 6. Barragem do Caia. Fonte: Gambozino-Alentejano (2009) Figura 7. Barragem de concreto estrutural com contrafortes. Fonte: Massad (2010)
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 4.2. Tipos de Barragens


 4.2.3. Barragem de concreto em arco de dupla curvatura
 Sua forma em dupla curvatura (“casca”), faz com que o concreto trabalhe em compressão. É
construída engastada em vales fechados, com relação entre largura da crista e altura da barragem
inferior a 2,5. As fundações dessa barragem devem ser melhores que as anteriores.

Figura 8. Seção transversal de barragem de concreto em arco de dupla curvatura e esquema de forças. Figura 9. Seção transversal de barragem de concreto em arco de dupla curvatura e
Fonte: Portal das Energias Renováveis (2020) esquema de forças. Fonte: Portal das Energias Renováveis (2020)
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 4.2. Tipos de Barragens


 4.2.4. Barragem de terra homogênea
 Tipo de barragem mais usado no Brasil, pelas condições topográficas, com vales muito abertos e da
disponibilidade de material terroso. Tolera fundações mais desfavoráveis, podendo-se construir sobre
solos moles.

Figura 10. Seção transversal de barragem de terra homogênea com inclinações típicas e filtros vertical e Figura 11. Barragem Senador Nilo Coelho. Fonte: Passos (2020)
horizontal para drenagem interna. Fonte: Atlas Digital das Águas de Minas (2011)
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 4.2. Tipos de Barragens


 4.2.4. Barragem de terra homogênea
 A inclinação dos taludes de montante e de jusante é fixada de modo a garantir a estabilidade durante a
vida útil da barragem, mais especificamente no final da construção, em estágio de operação e, em
situações de rebaixamento rápido do reservatório.
 Um dos problemas dessas barragens é a possibilidade da ocorrência do fenômeno piping ou erosão
progressiva tubular, no próprio corpo da barragem ou nas suas fundações. Esse fenômeno consiste no
carreamento de partículas de solo pela água em fluxo, numa progressão de jusante para montante e
que pode levar a barragem ao colapso.
 Para evitá-lo é necessário o controle da percolação pelas fundações e pelo corpo da barragem
(aterro). Intercepta-se o fluxo de modo a impedir sua saída pelas faces do talude de jusante por meio
de filtros verticais ou inclinados com material granular. Os filtros colaboram também na dissipação de
pressões neutras e com isso na estabilidade dos taludes da barragem.
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 4.2. Tipos de Barragens


 4.2.5. Barragem de terra-enrocamento
 É a mais estável dentre as barragens de terra e terra-enrocamento. Sem registros de ruptura de seus
taludes. O material do enrocamento (pedras) apresenta elevado ângulo de atrito, garantindo a
estabilidade dos taludes. O núcleo argiloso imprime a estanqueidade à barragem. Deve-se dispor de
uma transição gradual, em termos de granulometria, entre a argila e as pedras, para evitar o piping. É
necessário um maciço de fundação mais estanque, quando comparada com a barragem de terra
“homogênea”.

Figura 12. Seções transversais de barragens de terra-enrocamento. (a) com núcleo central, e (b) inclinado para montante. Fonte: Massad
(2010)
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 4.2. Tipos de Barragens


 4.2.6. Barragem de enrocamento com membrana de concreto
 Placas de concreto sobre o talude de montante, de enrocamento, funcionam como septo impermeável.
As placas devem ser ligadas por juntas especiais, pois apoiam-se em meio deformável, o
enrocamento, que pode sofrer recalques significativos por ocasião do primeiro enchimento. Grande
vantagem no cronograma construtivo, pois tanto o aterro, quanto a membrana de concreto podem ser
construídas independentemente do clima.

Figura 13. Barragem de enrocamento com membrana de concreto. Fonte: Massad


(2010)
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 4.2. Tipos de Barragens


 4.2.7. Barragem em aterro hidráulico
 Barragens em que o aterro é construído por processo hidráulico, isto é, o solo é transportado com
água, por meio de tubulações, até o local da construção. Ao ser despejado, o material segrega-se,
separando-se as areias, que formam os espaldares do aterro, dos finos (siltes e argilas), que acabam
por constituir o núcleo da barragem.
 A vantagem é o baixo custo, apesar do grande volume de solo necessário em função de ser
necessário taludes abatidos para a estabilidade dos taludes. Areias dos espaldares ficam fofas e
saturadas, sujeitas a liquefação, necessidade de compactação vibratória das mesmas para
densificação.

espaldar núcleo espaldar

Figura 13. Barragem de enrocamento com membrana de concreto. Fonte: Massad


(2010)
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 4.3. Fatores que Afetam a Escolha do Tipo de Barragem


 Além da experiência profissional do projetista, os principais fatores que condicionam a escolha do tipo de
barragem são de ordem geológico-geotécnicos, hidrológicos, hidráulicos, topográficos, clima, custo e
prazo.
 Massad (2010) descreve que as barragens em aterro hidráulico são as de menor custo, apesar do maior
volume. As barragens de concreto são as mais caras, onde o seu uso, em geral, fica restrito às estruturas
anexas ou auxiliares.

Tabela 1. Custo relativo de alguns tipos de barragens, levando em conta só os materiais e seu volumes. Fonte: Massad (2010).
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 4.4. Princípios para o Projeto


 Cruz (1996 apud MEIRELLES, 2006) descreve que o projeto de uma barragem deve obedecer a três
princípios básicos:
 Princípio do controle de fluxo
 As lógicas aplicadas nas seções de montante e de jusante de uma barragem, considerando-se o
seu eixo, são opostas. Na seção de montante, deve-se buscar o máximo de vedação, tanto do
maciço como da fundação; na seção de jusante, deve-se facilitar o processo de drenagem do
maciço e da fundação.
 Princípio da estabilidade
 As zonas externas ou espaldares da barragem devem garantir a estabilidade da barragem para as
várias situações da carga. O projeto destas zonas deve compatibilizar o maciço com os materiais
da fundação.
 Princípio da compatibilidade das deformações
 Para reduzir os recalques diferenciais da fundação e dos materiais empregados na construção da
barragem e de seus efeitos, devem ser previstas zonas adicionais de transição para
compatibilização da compressibilidade destes materiais.
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 4.4. Princípios para o Projeto


 Massad (2010) acrescenta que os princípios básicos a serem atendidos: segurança e
economia. O último inclui custos de manutenção da obra. A segurança, obviamente, é
preponderante e deve ser garantida quanto:
Ao transbordamento, que pode abrir brechas no corpo de barragens de terra e de
enrocamento (galgamento);
Ao piping e ao fenômeno de areia movediça;
À ruptura dos taludes artificiais, de montante e de jusante, e aos taludes naturais,
adjacentes ao reservatório;
Ao efeito das ondas atuantes na superfície do reservatório e que se quebram no talude de
montante, podendo provocar sulcos de erosão;
Ao efeito erosivo das águas de chuvas sobre o talude de jusante.
É necessário também adotar medidas para evitar ou minimizar fugas d’água pelas
fundações da barragem.
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 4.4. Princípios para o Projeto


 4.4.1. Formação de brechas no topo da barragem
 A formação de brechas em barragens de terra e de enrocamento, em consequência de rupturas
provocadas por transbordamentos, depende de uma série de fatores, tais como:
 Tipo de solo e condições de compactação;
 A Presença de enrocamento no maciço de jusante;
 Tipo e a forma de colocação dos materiais de proteção do talude de jusante;
 Inclinação do talude de jusante, que influencia a velocidade do fluxo de água;
 A lâmina d’água sobre a crista da barragem, imediatamente antes da formação da brecha.
 4.4.2. Ocorrência de Piping
 Ausência de filtros tipo sanduíche, construídos com materiais pedregosos, francamente
permeáveis;
 Condições de compactação do maciço terroso;
 Ausência de transições adequadas entre solos e materiais granulares;
 Presença de fundações arenosas.
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 4.4. Princípios para o Projeto


 4.4.3. Estabilidade de Taludes
 Análises da estabilidade dos taludes artificiais em três situações:
 Final de construção, em que interessa analisar o talude de jusante;
 Barragem em operação, com o nível d’água na sua posição máxima, situação em que o talude
crítico é o de jusante, pois o de montante está submerso;
 Abaixamento “rápido” do nível d’água, que pode levar alguns meses para ocorrer, mas que nem
por isso deixa de ser “rápido”, diante da permeabilidade do solo compactado; o talude crítico neste
caso é o de montante.
 Análise das estabilidades dos taludes naturais adjacentes:
 Devido às chuvas;
 Sujeitos à submersão devido ao enchimento do reservatório;
 Devido ao rebaixamento “rápido” do reservatório.
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 4.4. Princípios para o Projeto


 4.4.3. Estabilidade de Taludes
 Proteção dos Taludes
 De montante contra a ação de ondas que podem formar sulcos de erosão. Pode ser feito através
da construção de um rip-rap, isto é, camadas de enrocamento e transição na face do talude;

Figura 14. Exemplo de rip-rap em taludes. Fonte:


Naresi Jr. (2020)
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 4.4. Princípios para o Projeto


 4.4.3. Estabilidade de Taludes
 Proteção dos Taludes
 De jusante, em função de chuvas, através do lançamento de camada de pedrisco ou plantio de
gramas, em placas ou por hidrossemeadura.
 Largura mínima da crista: fixada geralmente em cerca de 3 metros para permitir o tráfego de
manutenção e inspeção da obra, ao longo de sua vida útil. Por vezes, a crista da barragem
transforma-se em pista de uma estrada, sendo então sua largura definida pelo tipo de estrada.

Figura 15. Exemplo de plantio de


grama em placas. Fonte: Central
da Grama (2015)
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 4.5. Sistema de Drenagem Interna em Barragens de Terra (MASSAD, 2010)


 4.5.1. Evolução Conceitual
 Houve um longo percurso desde a situação ilustrada na figura 16a até a figura 16g. O processo de
evolução foi empírico. Inicialmente o problema era a emergência d’água na face do talude de jusante e
possibilidade de piping (Figura 16a);
 Teoricamente, as opções (b) e (c) resolveriam o problema de (a) caso o solo compactado fosse
isotrópico, o que não corresponde à realidade, ou seja, o sistema exposto em (a) perdurou até as
propostas de Terzaghi (d), com filtros vertical (chaminé) e horizontal, interceptando o fluxo antes de
sua saída à jusante;
 Os demais casos correspondem a ideias mais recentes: (e) Melhora as condições de estabilidade do
talude de montante quando do rebaixamento rápido do N.A; (f) Mais favorável quando as fundações
são permeáveis, pois aumenta o caminho de percolação; (g) Combinação das vantagens dos dois
anteriores.
4. Barragens Figura 16. Drenagem interna em barragem de terra:
evolução conceitual. Fonte: Massad (2010)
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 4.5. Sistema de Drenagem Interna em Barragens de Terra (MASSAD, 2010)


 4.5.1. Evolução Conceitual
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 4.5. Sistema de Drenagem Interna em Barragens de Terra (MASSAD, 2010)


 4.5.2. Dimensionamento de Filtros
Para o dimensionamento dos filtros, procede-se da seguinte forma:
Determina-se a quantidade de água (vazão) a ser captada pelos filtros, através do
traçado da rede de fluxo utilizando os coeficientes de permeabilidades do maciço
compactado e dos maciços de fundação (de difícil estimativas);
Em função dos materiais granulares disponíveis, fixam-se valores para os coeficientes
de permeabilidade dos filtros e calculam-se suas espessuras, com base na Lei de
Darcy, ou na equação de Dupuit;
Verifica-se se os materiais do filtro e os solos que os envolvem e satisfazem o Critério
de filtro de Terzaghi, para se ter uma garantia segura contra o piping.
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 4.5. Sistema de Drenagem Interna em Barragens de Terra (MASSAD, 2010)


 4.5.2. Dimensionamento de Filtros
4.5.2.1. Determinação da Largura dos Filtros
 Filtros Verticais: o fluxo é praticamente vertical, pode-se admitir gradiente hidráulico unitário e
pela Lei de Darcy, tem-se:

𝑄 = 𝑘𝑓𝑉 . 𝑖. 𝐴 (1)
 Onde:
 Q = vazão absorvida pelo filtro e;
 kfv = coeficiente de permeabilidade vertical.

 A partir da equação 1 pode-se determinar a largura dos filtros verticais

𝑄 = 𝑘𝑓𝑉 . 𝑖. 𝐴 = 𝑘𝑓𝑉 . 1. B. 1 = 𝑘𝑓𝑉 . B


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 4.5. Sistema de Drenagem Interna em Barragens de Terra (MASSAD, 2010)


 4.5.2. Dimensionamento de Filtros
4.5.2.1. Determinação da Largura dos Filtros
𝑄
B= (2)
𝑘𝑓𝑉

Figura 17. Filtro vertical. Fonte: Massad (2010)


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 4.5. Sistema de Drenagem Interna em Barragens de Terra (MASSAD, 2010)


 4.5.2. Dimensionamento de Filtros
4.5.2.1. Determinação da Largura dos Filtros
 Filtros Horizontais

Figura 18. Filtro horizontal tipo “sanduiche”. Fonte: Massad (2010)


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 4.5. Sistema de Drenagem Interna em Barragens de Terra (MASSAD, 2010)


 4.5.2. Dimensionamento de Filtros
4.5.2.1. Determinação da Largura dos Filtros
 Filtros Horizontais
 Filtro trabalhando em carga e com carga mínima:
𝑄.𝐿
𝐵= (3)
𝑘𝑓ℎ
 Filtro trabalhando livremente (sem provocar altas pressões de baixo para cima no aterro de
jusante.

2.𝑄.𝐿
𝐵= (4)
𝑘𝑓ℎ
 Nas expressões (3) e (4) temos:
 Q = vazão absorvida pelo filtro e; kfh = coeficiente de permeabilidade horizontal;
 L = comprimento do filtro conforme figura 18.
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 4.5. Sistema de Drenagem Interna em Barragens de Terra (MASSAD, 2010)


 4.5.3. Proteção contra o Piping
 Para a prevenção do fenômeno, não deve ocorrer o carreamento de partículas do solo na passagem
do fluxo de um meio (solo a ser protegido) para outro, mais poroso (filtro).
 As partículas do filtro devem ser suficientemente pequenas para impedir a passagem de partículas do
solo a ser protegido, e ao mesmo tempo não deve ser tão fino a ponto de impedir a passagem da
água. É nesse raciocínio que se baseia o Critério de Filtro de Terzaghi, no qual o material do filtro deve
ter as seguintes características:

𝐷15 𝑓𝑖𝑙𝑡𝑟𝑜 < 5 . 𝐷85 (𝑠𝑜𝑙𝑜) (5)

𝐷15 𝑓𝑖𝑙𝑡𝑟𝑜 > 5 . 𝐷15 (𝑠𝑜𝑙𝑜) (6)

Figura 19 - Escolha da faixa de variação granulométrica para filtros


de proteção. Modificado de Bueno & Vilar, (1985).
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 4.6. Tratamento de fundações de barragens (MASSAD, 2010)


 Em geral, o tratamento das fundações significa o controle da percolação. Capacidade de suporte e
compressibilidade dificilmente podem ser melhoradas.
 O controle da percolação consiste em: reduzir a permeabilidade das fundações; ou aumentar o
caminho de percolação. O primeiro, tende a ser mais eficaz. Os problemas a serem abordados referem-
se a casos em que a permeabilidade do solo compactado do aterro é bem menor que a do solo de
fundação como ilustra a Figura 20.
 Em primeira aproximação, pode se admitir que só as perdas d’água pelos solos de fundação são
significativas.

Figura 20. (a) Barragem de terra


apoiada sobre terreno muito
permeável; (b) Modelo de
permeâmetro. Fonte: Massad
(2010).
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 4.6. Tratamento de fundações de barragens (MASSAD, 2010)


 Da figura 20 e considerando a Lei de Darcy e perdas, tem-se as equações 7 e 8
respectivamente:

𝐻
𝑄𝑓 = 𝑘𝑓 . . 𝐷 (7)
𝐵
𝐻
𝑄𝑓 = 𝑘𝑓 . .𝐷 (8)
(𝐵+0,88𝐷)
 Onde:
 Qf = vazão absorvida pelo solo de fundação;
 kf = coeficiente de permeabilidade do solo de fundação;
 D = espessura do solo de fundação;
 H = carga total no talude de montante da barragem e;
 B = largura da base da barragem.
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 4.6. Tratamento de fundações de barragens (MASSAD, 2010)


 4.6.1. Trincheira de vedação (escavada e recompactada)
 A figura 21 mostra uma seção de barragem de terra com uma trincheira ou cut-off. Trata-se de uma
escavação, feita no solo de fundação, que é preenchida com solo compactado. É como se o aterro da
barragem se prolongasse para baixo, nas fundações.

Figura 21. Barragem de terra com


trincheira de vedação em que d
representa a profundidade de
penetração da trincheira e D a
espessura do solo. Fonte: Massad
(2010).
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 4.6. Tratamento de fundações de barragens (MASSAD, 2010)


 4.6.1. Trincheira de vedação (escavada e recompactada)
 Considerando as dimensões apresentadas na figura 21, a partir do traçado das redes de fluxo verifica-
se que a eficiência do sistema para uma trincheira com 80% de penetração, é de apenas 50%. Para se
ter uma redução significativa da vazão, a penetração deve ser 100%. A figura 22 mostra um exemplo
em que a eficiência do cut-off fica comprometida devido ao baixo fator de penetração no solo.
 Sob o aspecto construtivo, as trincheiras de vedação tem, por vezes, os inconvenientes tanto to
rebaixamento do lençol, para possibilitar os trabalhos de recompactação, quanto da garantia de
estabilidade de taludes da escavação. Por isso, os custos são elevados e prazos dilatados.

Figura 22. Exemplo de comprometimento do cut-off. Fonte:


Massad (2010).
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 4.6. Tratamento de fundações de barragens (MASSAD, 2010)


 4.6.2. Diafragmas plásticos e rígidos
 Trata-se de uma solução moderna, que consiste na escavação de uma vala estreita ou "ranhura" e seu
preenchimento com uma mistura de solo cimento (diafragma plástico) ou com concreto (diafragma
rígido), conforme a Fig. 23a. A escavação é feita com equipamento mecânico apropriado, até o
substrato impermeável, com o uso de lama bentonítica, para manter a estabilidade das paredes da
vala. A ferramenta de escavação (clam-shell) é que dita as dimensões da vala, que é feita em painéis.

Figura 23. Diafragmas para interceptar o fluxo de água pelas fundações. Podem ser de mistura de
solo cimento (diafragma plástico) ou em concreto (diafragma rígido). (a) diafragma sob a barragem.
(b) planta de paredes diafragmas e estacas justapostas. Fonte: Adaptado de Massad (2010)
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 4.6. Tratamento de fundações de barragens (MASSAD, 2010)


 4.6.2. Diafragmas plásticos e rígidos
 Trata-se de uma solução moderna, que consiste na escavação de uma vala estreita ou "ranhura" e seu
preenchimento com uma mistura de solo cimento (diafragma plástico) ou com concreto (diafragma
rígido), conforme a Fig. 23a. A escavação é feita com equipamento mecânico apropriado, até o
substrato impermeável, com o uso de lama bentonítica, para manter a estabilidade das paredes da
vala. A ferramenta de escavação (clam-shell) é que dita as dimensões da vala, que é feita em painéis.

Figura 23. Diafragmas para interceptar o fluxo de água pelas fundações. Podem ser de mistura de
solo cimento (diafragma plástico) ou em concreto (diafragma rígido). (a) diafragma sob a barragem.
(b) planta de paredes diafragmas e estacas justapostas. Fonte: Adaptado de Massad (2010)
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 4.6. Tratamento de fundações de barragens (MASSAD, 2010)


 4.6.2. Diafragmas plásticos e rígidos
 Diafragmas plásticos apresentam a vantagem de serem mais deformáveis do que os diafragmas
rígidos, que, por recalques diferencias, podem provocar fissuras ou trincas no contato aterro-topo da
parede pondo a perder a almejada estanqueidade: é como se a parede rígida puncionasse a basse do
aterro.
 Na Fig. 23a, as fundações podem ser encaradas como um permeâmetro com dois solos diferentes: o
solo natural, com permeabilidade kf, e o material do diafragma, com permeabilidade kd. Tem-se um
fluxo em série e o coeficiente de permeabilidade equivalente (keq) do sistema é a média harmônica
entre kf e kd isto é:
𝐵
𝑘𝑒𝑞 = 𝐵−𝑏 𝑏 (9)
+
𝑘𝑓 𝑘𝑑

 Onde
 b é a largura do diafragma.
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 4.6. Tratamento de fundações de barragens (MASSAD, 2010)


 4.6.2. Diafragmas plásticos e rígidos
 Substituindo a equação 9 na equação 8, temos que
𝑘𝑓 .𝐻.𝐷
𝑄𝑓 = 𝑘𝑓 (10)
0,88.𝐷+𝐵+𝑏. 𝑘𝑑
−1

 4.6.3. Tapetes “impermeáveis” de montante


 São um prolongamento da barragem para montante com o objetivo de aumentar o caminho de
percolação. Com isto consegue-se:
 Aliviar as pressões neutras a jusante da barragem;
 Diminuir os gradientes de saída, também alcançado pelas soluções anteriores, mas a um custo
bem mais elevado;
 Reduzir a vazão ou perda d’água, mas de forma bem menos eficiente que as soluções anteriores.
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 4.6. Tratamento de fundações de barragens (MASSAD, 2010)


 4.6.4. Poços de Alívio
 Poços abertos e preenchidos com material granular, mais permeável do que o solo de fundação, com
o objetivo de controlar a saída d’água. Com isso, intercepta-se o fluxo, impedindio sua saída na
vertical e de forma ascendente, junto ao pé do talude de jusante, que pode levar ao fenômeno de areia
movediça ou ao levantamento do solo (blow out).

Figura 24. Poços de alívio para o controle da saída d’água a jusante. Fonte: Massad (2010)
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 4.6. Tratamento de fundações de barragens (MASSAD, 2010)


 4.6.5. Filtros Invertidos
 Visa combater o fenômeno de areia movediça ou o levantamento do solo, como na solução anterior. Princípio: o
material granular é ao mesmo tempo pesado e permeável. Por ser pesado, o filtro impede a "perda de peso" da
coluna de solo de fundação, que está na essência do fenômeno de areia movediça.
 Por ser permeável, o filtro deixa a água passar. É composto de várias camadas, dispostas de forma que o material
de uma das camadas deve ser "filtro" da camada subjacente, no sentido do critério de filtro de Terzaghi. Essa
disposição do material mais fino na base e do mais grosso no topo, é que está na origem do nome filtro invertido".

Figura 25. Filtro invertido para controle de gradientes de saída. Fonte: Massad (2010)
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 4.6. Tratamento de fundações de barragens (MASSAD, 2010)


 4.6.6. Fundações de Barragens de Concreto: Injeções e Drenagem
 O maciço das fundações de barragens de concreto é rochoso, com fraturas e descontinuidades (em geral),
por onde a água percola, podendo gerar subpressões ou perdas d’água excessivas. As formas de
tratamentos consistem então da realização de injeções de calda ou nata de cimento e, às vezes,
chumbamentos de armação e protensões e drenagem do maciço.

Figura 26. Consolidação superficial do topo rochoso de fundações de barragens de concreto, injeção de nata de cimento
e drenagem. Fonte: Massad (2010)
4. Barragens
Aula 4

 Exercícios
 01. Uma barragem de terra de 40 m de altura e taludes de 1V:2H (de montante e jusante) será construída em local onde
ocorrem 2 m de espessura de solo residual, de baixa permeabilidade (ver tabela a seguir), sobrejacente à rocha
praticamente impermeável. Estimativas indicam que a vazão do corpo da barragem é da ordem de 5.10-6 m³/s, já majorada.
Dimensionar o sistema de drenagem interna da barragem (filtros vertical e horizontal). Utilizar os materiais da tabela a
seguir. A argila siltosa da tabela será o solo a ser empregado no aterro compactado da barragem.
4. Barragens
Aula 4

 Exercícios
 02. Considere-se a seção de barragem com 40 m de altura, B = 220 m, apoiada sobre as areias aluvionares
com 20 m de espessura (D) e kf = 10-3 cm/s. Determine a distância de percolação para a situação
representada. Caso fosse feito um tratamento de fundação com diafragma plástico com kd = 10-7 cm/s,
determine a eficiência do sistema. Qual seria o coeficiente de permeabilidade do diafragma necessário para
que o sistema tenha 99,9% de eficiência?
 Dados
𝑄𝑓
𝐸 =1− (11)
𝑄𝑓0
 Onde
 E = eficiência
 Qf = perda de água com trincheira
 Qf0 = perda de água sem trincheira

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