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CAPÍTULO 10 – BARRAGENS

10.1. Histórico

A primeira barragem de que se tem notícia é a barragem de Kosheish, que data de


290 AC e está situada no vale do rio Nilo. Trata-se de uma barragem de alvenaria, com
altura de 15m e comprimento da crista de 450m.

A barragem mais antiga ainda em uso é a barragem de Sethi, de enrocamento,


com altura de 6m e comprimento de crista de 2000m.

A partir do século XV, houve um grande desenvolvimento na Europa,


principalmente na Espanha, onde os árabes batem o recorde de altura com a barragem
de Tibi (1579-1589), de alvenaria, com altura de 46m, comprimento de 65m e espessura
variando de 20 a 34m. Esta barragem permaneceu como a mais alta do mundo por 3
séculos.

A adoção de conceitos empíricos na construção das barragens começa a produzir


catástrofes espetaculares. A partir de século XX, com o surgimento e desenvolvimento da
Tecnologia de Concreto, da Mecânica dos Solos, da Mecânica das Rochas, da técnica de
compactação de aterros, da mecanização das escavações, surgem as grandes
hidrelétricas, com seus recordes de altura e volume.

No Brasil, o início da construção e barragens teve origem em 1877, quando após a


“grande seca” no Nordeste, construíram-se uma série de barragens para acumulação de
água. A primeira barragem com fins hidrelétricos foi a de Marmelos (Matias Barbosa -
MG), em 1889.

10.2. Definições

Uma barragem é composta por uma série de estruturas: corpo da barragem,


paramentos, crista, base, ombreiras, fundações, ensecadeira, túnel de desvio, canal de
desvio, condutos forçados, casa de força, cortina de injeção, galeria de drenagem,
vertedouro, etc. Além disso, é importante definir-se altura estrutural, altura hidráulica. As
figuras a abaixo, mostram cada uma das estruturas e termos citados acima.

Figura 10.1 – Planta de uma barragem (Fonte: ABGE, 1998).


Figura 10.2 – Seção de uma barragem (Fonte: ABGE, 1998).

Figura 10.3 - Planta e seção da Barragem de Serra da Mesa, mostrando as estruturas que
compõem o empreendimento e o circuito hidráulico (Fonte: Furnas, 2002).
Figura 10.4 - Exemplo de vertedouro tipo tulipa.

Figura 10.5 - Vertedouro tipo rampa (barragem de Serra da Mesa).

10.3. Forças Atuantes em uma Barragem

Há uma série de forças que atuam sobre uma barragem. A resultante destas forças
é que define a estabilidade da obra. A Figura 10.6 mostra um esquema com as forças
atuantes após o enchimento de lago do barramento.
Figura 10.6 - Esquema de forças atuantes sobre uma barragem, onde Pc é o peso do
concreto, Hm é a pressão de água no paramento de montante, Hj é a pressão
de água no paramento de jusante, Paj é o peso de água sobre o paramento
de jusante, e U é a subpressão (Fonte: ABGE, 1998).

A resultante da ação destas forças podem originar dois mecanismos principais de


ruptura: tombamento e deslizamento. No caso do tombamento, a barragem tende a girar
em relação ao ponto P (Figura 10.6), tratando-se, por este motivo, de um mecanismo raro.
O mecanismo de ruptura mais comum é o deslizamento, em que há um deslocamento
para jusante, ao longo de uma superfície com baixa resistência ao cisalhamento. A Figura
10.7 exemplifica as resultantes destas forças para diversos tipos de barragens.

10.4. Classificação

As barragens podem ser classificadas de diversas maneiras, sendo as mais usuais


a classificação quanto à finalidade de uso ou quanto aos materiais utilizados em sua
construção.
Figura 10.7 - Forças atuantes em barragens de diversos tipos (Fonte: Cabral, 1987).

10.4.1. Quanto à Finalidade do Uso

As barragens podem ser:

9 Abastecimento;
9 Irrigação;
9 Hidrelétrica;
9 Acumulação de rejeitos;
9 Controle de poluição;
9 Piscicultura;
9 Recreação.

10.4.2. Quanto ao Material de Construção

10.4.2.1. Concreto

Podem ser construídas em concreto estrutural ou CCR (concreto


compactado à rolo), cujo uso tem crescido bastante nos últimos anos. São divididas em
dois grupos: gravidade maciça e de contrafortes.
As barragens de gravidade resistem ao empuxo da água pelo peso da
estrutura e pela largura da sua base, motivo pelo qual a fundação tem que ser em
material com boa resistência, de preferência rocha sã. Em geral apresentam seção
triangular, com paramento de montante próximo da vertical (comum, mas não essencial).
A Figura 10.7, mostra um exemplo esquema de barragem de concreto de gravidade
maciça.

Figura 10.7 - Exemplo de barragem de gravidade maciça (Euclides da Cunha).

As barragens de contraforte, também chamadas de gravidade


aliviada, são constituídas por dois elementos: os contrafortes e a cortina ou laje de
vedação a montante (Figura 10.8). Neste tipo de barragens a pressão exercida pela água
na laje é distribuída para elementos estruturais dispostos transversalmente (contrafortes).
Assim, também neste caso, a fundação deve ser constituída de material de excelente
qualidade, melhor que na gravidade aliviada, posto que o empuxo deverá ser suportado
por menores áreas, implicando, portanto, em uma maior tensão.

Figura 10.8 - Barragem de contrafortes (Fonte: ABGE, 1998).


As barragens em arco podem ser de três tipos: arcos simples, arcos
múltiplos e abóbada (Figuras 10.9 e 10.10). Os dois primeiros tipos, caracterizam-se por
apresentar curvatura circular com concavidade para jusante, descarregando, desta forma,
o empuxo nas ombreiras. Apoiam-se em toda a extensão do vale, não necessitando de
base larga. São pouco espessas em relação à altura, sendo necessária, por este motivo,
uma menor quantidade de concreto para sua construção. Nas barragens de arcos
múltiplos a cortina de vedação é formada por uma série de arcos engastados engastados
no contraforte.

Figura 10.9 - Exemplo de barragem em arco simples (Funil – Furnas).

Figura 1.10 - Exemplo de barragem de contraforte em arcos múltiplos (Bartlett Dam, U.S.
Bureau of Reclamation, Fonte: Goodman, 1993).
Por fim, as barragens em Abóboda, que diferenciam-se das barragens
em arco por apresentarem dupla curvatura (horizontal e vertical). Por este motivo tanto a
fundação quanto as ombreiras tem de ser de excelente qualidade, de maneira à suportar
o empuxo da massa de água a montante (Figura 10.11).

Figura 10.11 - Exemplo de barragem em abóbada (Fonte: Sousa, 2001; arquivo pessoal).

10.4.2.2. Terra

Possuem grande volume, pois funcionam pelo peso do aterro,


composto por solo com peso específico (1.8 a 1.9 g/cm3) menor que o do concreto (2.4
g/cm3). Os taludes, suaves, devem ser compatíveis com a resistência ao cisalhamento do
material após compactação (Figura 10.12). Tem base larga para distribuir o peso e
aumentar a seção de percolação. Podem ter seção homogênea ou zonada, dependendo
da disponibilidade de materiais de construção nas proximidades do barramento. Nas
barragens zonadas há um núcleo de material impermeável e duas zonas externas, em
geral construídas com materiais mais permeáveis e mais resistentes aos deslizamentos.

Figura 10.12 - Seções típicas de barragens de terra homogênea e zonada (Fonte: ABGE,
1998).

Figura 10.13 - Exemplo de barragem de terra (Caxitore).

10.4.2.3. Enrocamento

São barragens construídas com fragmentos de rocha ou cascalho,


compactado em camadas com rolos vibratórios pesados. São livremente drenantes.
Podem ter núcleo de argila (mais comuns), como a barragem da Figura 10.14, ou face de
concreto, como a da Figura 10.15.

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