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4.1 ESTACAS
Segundo a NBR 6122, estacas são elementos estruturais esbeltos que, colocados
ou moldados no solo por cravação ou perfuração, transmitem cargas ao solo por sua
resistência sob sua extremidade inferior (resistência de ponta ou de base), por sua
resistência ao longo de sua superfície lateral (resistência de fuste) ou por uma
combinação das duas.
Qr = Q p + Q f ,
Qp = resistência de ponta;
Qf = resistência por atrito lateral.
Os efeitos são mais pronunciados em solos arenosos onde a cravação resulta numa
grande compactação do solo
A) Estacas pré-moldadas
Estas estacas oferecem também boa resistência, mas podem ser danificadas pelo
processo de cravação, motivo pelo qual se empregam, para proteção, ponteiras de
aço e capacetes metálicos.
(cm) 20 25 30 35 40
Carga (kN) 120 200 300 380 450
Estacas de madeira
Faixa usual de carga: 500 a 1.700 kN (mas há variações de 400 a 3.000 kN).
Estas estacas podem ser cravadas verticalmente ou inclinadas de até cerca de 12°
com a vertical. Devem ser evitadas em terrenos com matacões e no caso de
construções vizinhas em estado precário, devido às vibrações durante a cravação.
Para a proteção da armadura, o cobrimento mínimo deve ser de 3cm e chegar a
8cm no caso de meios agressivos. O concreto deve ter a máxima densidade
possível, portanto, deve ser rico em cimento, com agregado bem graduado e
vibrado. A cabeça da estaca deve ser armada de forma a não ser danificada pelos
esforços de cravação e a ponta protegida com ponteira de aço para evitar sua
destruição na cravação.
Esta estaca não requer aparelhagem especial além de um pequeno pilão. Por
perfuração, faz-se penetrar no terreno um tubo metálico de diâmetro interno igual ao
da estaca, constituído de elementos rosqueáveis. Após abertura inicial do furo com
soquete, coloca-se o tubo e o soquete é substituído pela sonda a fim de penetrar e
remover o solo no seu interior em estado de lama. Atingida a cota desejada, enche-
se o tubo com 75 a 100cm de concreto, que é apiloado à medida que se retira o
tubo, o que se repete até o concreto atingir a superfície do terreno.
(cm) 25 32 38 45 55
Carga (kN) 200 300 400 600 800
(cm) 35 40 52 60
Carga (kN) 550 750 1300 1700
São as estacas moldadas in loco mais simples e que resistem às mais baixas
cargas. Sua execução é feita mediante a abertura de um furo em solo sem água, de
forma a não haver fechamento do furo nem desmoronamento, por meio de um trado
com diâmetro usual de 15 a 30cm. Os mais frequentes têm 20 e 25cm, mas
excepcionalmente podem atingir até 50cm.
Tipos de trado
As maiores vantagens deste tipo de estaca são o baixo custo, o fácil mecanismo de
execução e a inexistência de vibração no processo construtivo. Já as desvantagens
são a dificuldade em manter a perfeita verticalidade da estaca, os cuidados
necessários na concretagem, a baixa capacidade de carga, a impossibilidade de uso
abaixo do nível d’água, em solos arenosos e argilosos moles e o risco de mistura
solo - concreto.
Estaca broca
A estaca raiz é uma estaca escavada injetada. Foram idealizadas na década de 50,
na Itália, com a função básica de reforço de fundações comprometidas. Porém, além
de reforço, são adequadas para diversas fundações em situações especiais, como
locais com restrição de pé direito, dificuldade de acesso para equipamentos de
grande porte, ambientes em que vibrações são inadmissíveis, necessidade de
atravessar matacões, alvenaria ou blocos de concreto, obras de contenção de
taludes, e execução em qualquer direção (0 a 90°).
1) Perfuração: realizada por rotação dos tubos, com auxílio de circulação de água,
injetada em seu interior e que retorna pela face externa. Os tubos vão sendo
rosqueados à medida que a perfuração avança, e são recuperados após a
confecção do fuste. Normalmente o revestimento deve ser feito em toda a
perfuração, mas em condições especiais pode ser parcial. Os detritos da perfuração
são carregados para a superfície pela água injetada, que é obrigada a retornar pelo
interstício anelar que se forma entre o tubo e o terreno. Logo, o diâmetro final da
estaca é sempre um pouco maior que o do revestimento.
Estacas Raiz – Fundação de ponte sobre rio (até = 400mm em solo e rocha)
Estas estacas moldadas in loco surgiram nos Estados Unidos por volta de 1950, e
no Brasil somente chegaram em 1987. São executadas mecanicamente por meio de
trado contínuo e injeção de concreto através da h aste central do trado
simultaneamente a sua retirada do terreno. Todas as operações são monitoradas
pela cabine do equipamento, normalmente tem diâmetros de 25 a 90cm (até 120cm
em casos especiais) e se utilizam concretos usinados com resistência característica
(fck) maior ou igual à 18 MPa. São recomendadas quando a vibração e o barulho
podem comprometer construções vizinhas e atingem profundidades de até 30m.
A perfuração consiste em fazer uma hélice penetrar no terreno por meio de torque
apropriado para vencer a sua resistência. A haste de perfuração é composta por
uma hélice espiral solidarizada a um tubo central, equipada com dentes na
extremidade que possibilitam a sua penetração no terreno. A metodologia de
perfuração permite sua execução em terrenos coesivos e arenosos, na presença ou
não do lençol freático e pode atravessar camadas de solos altamente resistentes
(SPT acima de 50).
Estacas hélice contínua - Usina Votorantim (Juiz de Fora) e Estádio Engenhão (RJ)
A capacidade de carga de uma estaca é dada pelo menor dos dois valores:
N crit = k CEI
Não havendo ruptura por flambagem, o cálculo é feito conforme o item 4.1.1.3 da
NBR 6118, majorando-se a carga de compressão na proporção (1 + 6/h), não inferior
a 1,1, onde h é o menor lado do retângulo circunscrito à estaca, em centímetros.
Exemplo:
Dimensionar a armadura de uma estaca maciça com diâmetro de 80cm, que recebe
uma carga de cálculo de 2.800kN. O diagrama de transferência de carga para o solo
é o apresentado abaixo. A resistência característica do concreto (fck) é 16MPa e o
aço utilizado é CA50, com módulo de elasticidade longitudinal de 210 GPa.
A = d2/4 = 0,5m2
Onde:
Nd = N . f, com f = 1,4 (não será utilizado porque já temos a carga de cálculo Nd);
fyd = fyk / s = 500/1,15 = 435 MPa ou 0,2% Es = 0,2% 210000 = 420 MPa
Voltando à equação:
2800 . 1,1 = 0,85 . 0,5 . 11400 + As’ 420000 = – 0,0042m2 As’ < 0
(usa-se armadura mínima)
- 20cm
- 80cm
- 12 x 2cm = 24cm
- t = 5mm = 20/4 ok!
Estribos de 5mm a cada
20cm
5 c 20cm 3m 820
28m 80cm
5 c 20cm
4.2 ESTAQUEAMENTO
Escolhido o tipo de estaca a ser utilizado, o número de estacas é dado pela razão
entre a carga no pilar e a carga admissível da estaca (conforme a seção transversal
e a resistência à compressão do material).
A tabela a seguir (Alonso, 2006) traz as cargas nominais para vários tipos e
dimensões de estaca. est é o espaçamento mínimo entre estacas e “a” é a distância
do centro da estaca até a divisa do terreno.
Fmed
Fser =
3
1,10 F
n=
F ser
Em blocos com mais de um pilar o centro de carga deve coincidir com o centro
geométrico das estacas. É recomendável estaqueamento independente para cada
pilar sempre que possível.
Deve-se evitar distribuição desalinhada de estacas em relação aos pilares, para que
não se introduza um momento de torção no bloco. Pilares e estacas devem estar
alinhados.
Nos casos de blocos de duas estacas para dois pilares deve-se evitar a estaca
embaixo de pilar, onde uma das ações é aplicada quase diretamente na estaca.
A distribuição das estacas em torno do centro de carga do pilar deve seguir sempre
que possível os blocos padronizados abaixo, para duas a cinco estacas. No caso de
distribuição em linha, a altura do bloco deve ser tal que as estacas estejam
submetidas a ações idênticas. Para cinco estacas, a alternativa mais econômica é a
do trapézio, pois neste caso o estaqueamento ocupa a menor área. No livro
“Exercícios de Fundações” (Alonso, 2006) há distribuições com mais estacas.
My
N
C.C. Mx
yi Mx
xi
N
My
N M y x i M x yi
Pi =
n x i2 yi2
N M y x i M x yi
Pi =
n x i2 yi2
P 7000
ne = = 6,4 ne = 8 estacas
N est 1100
x 2
i = 4 (1,952 + 0,652 ) = 16,9m 2
y 2
i = 8 0,652 = 3,38m 2
Divisa
P1 P2
150 500
A situação ideal é que o estaqueamento de cada pilar possa ser feito de forma
independente, e para isso o centro de carga de cada pilar deve coincidir com o
centro geométrico do seu estaqueamento. Assim, para o pilar P1, teremos:
P1 6000
ne 1 = = = 4,29 ne1 = 5 estacas
N est 1400
Divisa
150
CC 75
75
150
P2 3500
ne2 = = = 2,5 ne2 = 3 estacas
N est 1400
166
86,6
P1 83 150 P2 150 130
43,4
83
166 150
150
100 50 75 425
Divisa
P2
P1
5 300
A situação ideal é que o estaqueamento de cada pilar possa ser feito de forma
idenpendente, e para isso o centro de carga de cada pilar deve coincidir com o
centro geométrico do seu estaqueamento. A princípio, para o pilar de divisa, seriam
necessárias três estacas:
P1 3000
ne 1 = = = 2,14 ne1 = 3 estacas
N est 1400
150
CC P2
V.E.
150
45 55
P1 = 3.000kN P2 = 5.000kN
R1 R2
e = 55 d = 245
e 55
P = P1 = 3000 = 673,47 R1 = P1 + P = 3.673,47kN
d 245
R 1 3673,47
ne 1 = = = 2,62 ne1 = 3 estacas
N est 1400
Mesmo com o acréscimo de carga, as três estacas ainda são suficientes para o pilar
P1. No pilar P2, levando-se em conta o alívio de metade de P, o número de estacas
será:
R2 4663,26
ne2 = = = 3,33 ne1 = 4 estacas
N est 1400
150
CC P2 75
V.E.
75
150
75 75
45 55
R+c+
u≥
D/2 + 15cm
Onde:
R = raio de dobramento do aço;
c = cobrimento (mín. de 3cm);
= diâmetro da armadura;
D = diâmetro da estaca.
Asl = 0,1% bw x h
Nestes casos, o bloco atua como um elemento de transferência de carga, necessário por razões
construtivas, para a locação correta dos pilares, chumbadores, correção de pequenas
excentricidades da estaca, uniformização da carga sobre a estaca, etc. A altura do bloco
deve ser da ordem de 20% maior que o diâmetro da estaca, e no mínimo igual ao
comprimento de ancoragem da armadura do pilar. A armadura não precisa ser
calculada, pois a transmissão de carga pode ser vista como direta e vertical para a
estaca. Consiste, portanto, em uma gaiola de estribos horizontais (esforço de
fendilhamento) e verticais (construtivos).
A figura subsequente mostra um bloco sobre duas estacas, com a biela de concreto
comprimido e o esquema de forças atuantes (b = largura do pilar; e = distância entre eixos das
duas estacas; α = ângulo de inclinação da biela comprimida entre os eixos da semilargura do
pilar e da cabeça da estaca).
P/2 d
tg α = e tg α =
TX e/2 − b/4
P(2e − b)
TX =
8d
Onde:
V = esforço na biela comprimida
a = distância horizontal do eixo da estaca ao centro da biela (neste caso, a ≈ e/2);
bw = largura do bloco na seção considerada;
d = altura útil do bloco;
= f x c (geralmente, 1,4 x 1,4 = 1,96).
Exemplo:
Calcular um bloco para duas estacas (=40cm) que recebe um pilar de 50x50cm
com carga de 700kN. Dados complementares: Aço CA50, fck=15MPa, e=1,40m.
- Estimativa da altura:
- Verificação da biela:
γV
= 1,4MPa ( 3MPa) ok! (não há esmagamento da biela)
bw d
Armadura principal:
Estribos verticais:
A s 9,3
A s' = = = 1,2cm2 Em 1,90m, 11 5mm c/19cm
8 8
(para respeitar o espaçamento máximo de 20cm)
- Detalhamento final:
710.0 c 10cm
516.0 c 15cm
115.0 c 19cm
710.0 c 10cm
115.0 c 19cm
516.0 c 15cm
Tx
γ f TX 1,61 TX
As = As = (para γ f = 1,4 e f yk = 1,15 f yd )
f yd f yk
Onde:
V = esforço na biela comprimida
a = distância horizontal do eixo da estaca ao centro da biela (neste caso, a ≈ e/2);
bw = largura do bloco na seção considerada;
d = altura útil do bloco;
= f x c (geralmente, 1,4 x 1,4 = 1,96).
A armadura pode ser disposta de duas formas distintas: a) nas direções estaca-mediana do
lado oposto; ou b) na direção estaca-estaca, acompanhando os lados do bloco. Na disposição
“b” a força de tração Tx nas armaduras será dada por:
a) b)
P(2e 3 − b 2 ) 3
TX = T ' X = TX
18d 3
Obs: Embora o modelo de bielas admita que a carga vertical seja transmitida às
estacas por meio das bielas principais comprimidas, no comportamento real dos
blocos surgem bielas secundárias entre as estacas. Ou seja, parte da carga vertical
se propaga para o intervalo entre as estacas, região onde não existe um apoio
direto. Logo, em determinados casos deve-se “suspender” essa parcela de carga por
meio de armaduras de suspensão (estribos). A NBR 6118/2003 considera
Prof. Dr. Jonathan M. B. Nunes - UESPI 131
obrigatória a armadura de suspensão quando o espaçamento entre os eixos das
estacas for maior que 3est. A área total de armadura de suspensão entre duas
estacas é calculada por:
Exemplo:
Calcular um bloco para três estacas (=50cm) que recebe um pilar de 40x40cm com
carga de 3.000kN. Dados complementares: Aço CA50, fck=18MPa, e=1,50m.
- Estimativa da altura:
- Verificação da biela:
a ≈ 86,6
γV
150 f tk = 1,8MPa f tk Há esmagamento da biela!
bw d
Aumentando-se a altura útil para 1m, a relação a/d será inferior a 1. Assim:
γV
2f tk = 3,6MPa 2f tk Ok!
bw d
Armadura principal:
- Detalhamento final:
525.0 c
15cm
A
1110.0 c
9cm
A
B B
Corte AA Corte BB
1110.0 c 9cm 1110.0 c 9cm 525.0 c 15cm
525.0 c 15cm
4.4 TUBULÕES
Elementos do tubulão
Concretagem de tubulão
Para não ser armado, a tensão no fuste de concreto deve ser, no máximo, de 5
MPa, e que a área mínima do fuste será a razão entre a carga P e a tensão no
concreto, chega-se à seguinte fórmula para o diâmetro do fuste:
A NBR 6122/2019 recomenda que a altura máxima da base seja de dois metros, a
menos que se tomem cuidados especiais para garantir a estabilidade do solo.
O processo de execução dos tubulões a céu aberto deve seguir as seguintes etapas:
Tubulões Mecanizados
4Ptotal 4 1700
D= = D = 1,90m
πσ adm π 600
Pilar P1:
Prof. Dr. Jonathan M. B. Nunes - UESPI 140
Área da base (verificando-se inicialmente se é possível adotar base circular):
4P1 4 1200
D1 = = D 1 = 1,60m
adm 600
P1 1200
A b1 = = = 2,0m 2
σ adm 600
π b2 π 12
A b1 = + bx + 1 x = 2 x = 1,22m
4 4
Fazendo a verificação da relação entre os lados da base, tem-se a/b = 2,22/1 = 2,22
(a/b < 2,5 ok!).
Pilar P2:
A área da base do pilar P2, para ser circular, terá que ter diâmetro máximo igual à
distância entre pilares subtraída da semilargura da base 1 e do espaçamento
mínimo de 10cm entre bases:
4P2 4 2000
D2 = = D 1 = 2,06m (ok!)
πσ adm π 600
A pressão máxima de ar comprimido empregada é de 3,4 atm, razão pela qual estes
tubulões sempre tiveram profundidade limitada a cerca de 30 metros abaixo do nível
d’água. Porém, a nova limitação imposta pela NR-18 de 15 metros de profundidade
vale também para este tipo de tubulão, enquanto ainda pode ser executado. Os
equipamentos empregados em sua execução devem permitir rigorosa atenção aos
tempos de compressão e descompressão prescritos pela legislação.
Tubulões a ar comprimido
O cálculo é feito para o Estado Limite Último, com a camisa sendo a armadura
longitudinal, e para o Estado Limite de Utilização, considerando-se apenas a seção
de concreto. A carga máxima adotada no tubulão é a menor das duas.
a) E. L. Último:
b) E. L. Utilização:
Como a camisa só existe do topo da base para cima, é necessário utilizar uma
armadura de transição quando o critério de dimensionamento for o da hipótese ‘a’.
Essa armadura não leva estribos, e é cravada na base logo após a concretagem da
mesma.