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CAPÍTULO 4 - FUNDAÇÕES PROFUNDAS

4.1 ESTACAS

Segundo a NBR 6122, estacas são elementos estruturais esbeltos que, colocados
ou moldados no solo por cravação ou perfuração, transmitem cargas ao solo por sua
resistência sob sua extremidade inferior (resistência de ponta ou de base), por sua
resistência ao longo de sua superfície lateral (resistência de fuste) ou por uma
combinação das duas.

As estacas são empregadas com as seguintes finalidades principais: transmissão de


carga às camadas profundas; estabilização de taludes; compactação de solo fofo.

As estacas que resistem às cargas, primordialmente, pelo atrito lateral são


denominadas estacas flutuantes. Quando há uma predominância da resistência de
base, a estaca é denominada estaca de ponta.

A carga de ruptura da estaca será

Qr = Q p + Q f ,
Qp = resistência de ponta;
Qf = resistência por atrito lateral.

Classificação das estacas do ponto de vista executivo


Existe uma grande variedade de estacas disponíveis no mercado. Do ponto de vista
executivo, as estacas podem ser classificadas em duas grandes categorias:

a) pré-moldadas: aço, concreto armado ou protendido e de madeira;

b) moldadas "in situ": concreto simples ou armado.

As estacas podem, também, ser classificadas com base na perturbação causada


pela sua instalação no terreno, conforme o esquema subsequente.

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As fundações em estacas tendem a amolgar o terreno na vizinhança da estaca e,
naturalmente, o grau de amolgamento depende da natureza do solo e do método
executivo da estaca. No caso de estacas escavadas, o amolgamento ocorre ao
longo do fuste da estaca em uma zona relativamente estreita, com alívio de tensões
laterais antes da implantação da estaca. No caso de estacas cravadas, o
amolgamento tende a ser maior em toda zona adjacente à estaca, havendo um
aumento das tensões laterais no solo causado pelo deslocamento do solo imposto
pela estaca.

Os efeitos são mais pronunciados em solos arenosos onde a cravação resulta numa
grande compactação do solo

4.1.1 Descrição dos diversos tipos de estaca

A) Estacas pré-moldadas

a.1) Estacas de madeira

Faixa usual de carga: 100 kN a 200 kN (excepcionalmente, até 450 kN).

A utilização das estacas de madeiras em fundações ocorre desde tempos remotos


para construção de palafitas em terrenos alagadiços. São empregadas em obras
provisórias ou em obras abaixo do lençol freático. No passado, empregavam-se
madeiras de lei como aroeira, braúna e peroba rosa. Devido à escassez de madeira
de lei, o eucalipto tem sido muito empregado.

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Desde que permaneçam abaixo do nível freático, a durabilidade das estacas de
madeira é absurdamente alta. A título de exemplificação, pode-se citar a
reconstrução em 1902 do Campanário de São Marcos, em Veneza, quando foram
encontradas estacas com mais de mil anos quase perfeitas.

Estas estacas oferecem também boa resistência, mas podem ser danificadas pelo
processo de cravação, motivo pelo qual se empregam, para proteção, ponteiras de
aço e capacetes metálicos.

O apodrecimento da estaca aparece nas zonas de transição, sujeitas à variação de


umidade, devido à ação de fungos, que é mais acentuada em ambientes marinhos.
Nestes casos, para aumentar sua durabilidade são empregados tratamentos de
preservação da madeira. As substâncias químicas usadas são os sais de mercúrio e
de zinco e o creosoto. Em obras marinhas costuma-se empregar proteção mecânica,
como por exemplo em envolver a estaca com uma camisa metálica ou de concreto.

Normalmente as estacas de madeira têm comprimento de 7 a 10 metros.


Excepcionalmente chegam aos 15 metros, e quando necessário podem receber
emendas para atingir grandes profundidades, por meio de luvas metálicas ou
sembladuras (ligação de peças de madeira por encaixes). A tensão limite
recomendada para a madeira é da ordem de 40 kgf/cm² (4MPa). Grosso modo, as
cargas de trabalho são indicadas no quadro:

 (cm) 20 25 30 35 40
Carga (kN) 120 200 300 380 450

Estacas de madeira

a.2) Estacas metálicas

Faixa usual de carga: 500 a 1.700 kN (mas há variações de 400 a 3.000 kN).

As estacas metálicas foram introduzidas há cerca de 100 anos, apresentam


facilidade de manuseio, transporte e cravação, rapidez na execução e elevada
capacidade de carga tanto à compressão quanto à flexão e à tração. Aceitam cortes
ou emendas com facilidade. Permitem atingir grandes profundidades pelo emprego
de emendas por soldagem ou aparafusamento. Em solos onde não há águas
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corrosivas, apresentam grande durabilidade. Provocam pequenas vibrações durante
a cravação. Por outro lado, apresentam custo relativamente elevado e possibilidade
de corrosão.

Podem ser constituídas de tubos, perfis metálicos ou trilhos. As tubulares têm


diâmetro de 20 a 100cm e compõem-se de tubos soldados no topo, de
comprimentos variáveis comumente de 8 a 12m. As espessuras dos tubos variam de
5/16" a 1/2" (8 a 12,5mm). Os perfis metálicos mais empregados são “I” e “H”. No
Brasil, é bastante comum o emprego de trilhos (simples, duplos, triplos ou
quádruplos) para a construção de estacas.

O problema da corrosão pode ser tratado sob duas condições:

a) Estacas metálicas totalmente enterradas geralmente dispensam proteção contra


a corrosão. Para cálculo da capacidade de carga, admite-se uma redução da
espessura de 1"/16 (1,5mm) ao longo de toda peça;

b) Estacas metálicas com trechos não enterrados exigem, na zona de flutuação do


NA (fundações de pontes e obras marítimas), proteção especial contra a
corrosão, tipo encapsulamento com concreto ou proteção catódica.

a.3) Estacas pré-moldadas de concreto armado

As estacas pré-moldadas de concreto armado, hoje largamente utilizadas em todo o


mundo, foram empregadas pela primeira vez em 1897, na Inglaterra.

Dentre suas diversas vantagens, podem-se apontar o controle de qualidade da


concretagem, a facilidade de instalação mesmo na presença do lençol freático, a
grande variedade de dimensões e comprimentos, a alta durabilidade e a
possibilidade de moldagem na obra. Em contrapartida, tem-se como principais
desvantagens a demora na cura do concreto, a dificuldade de alteração do tamanho,
o grande consumo de armadura para resistir aos esforços de manuseio e cravação,
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os problemas em solos com matacões e pedregulhos e a vibração causada pelo
processo de cravação.

A seção geralmente é quadrada ou circular (raramente, pode ser octonal), e seu


comprimento vai usualmente de 10 a 20m. A dimensão transversal usual varia de 20
a 60cm, podendo excepcionalmente chegar a um metro. A tensão à compressão
limite recomendada na seção transversal é da ordem de 50 kgf/cm² (5MPa) para o
concreto armado vibrado, 60 kgf/cm² para o protendido e 80 kgf/cm² para o
centrifugado.

Estas estacas podem ser cravadas verticalmente ou inclinadas de até cerca de 12°
com a vertical. Devem ser evitadas em terrenos com matacões e no caso de
construções vizinhas em estado precário, devido às vibrações durante a cravação.
Para a proteção da armadura, o cobrimento mínimo deve ser de 3cm e chegar a
8cm no caso de meios agressivos. O concreto deve ter a máxima densidade
possível, portanto, deve ser rico em cimento, com agregado bem graduado e
vibrado. A cabeça da estaca deve ser armada de forma a não ser danificada pelos
esforços de cravação e a ponta protegida com ponteira de aço para evitar sua
destruição na cravação.

Para cargas mais elevadas e grandes comprimentos utilizam-se estacas de concreto


protendido, que têm menor peso e exigem menor número de pontos de
levantamento, ou ainda as de concreto centrifugado. Obviamente, em qualquer
situação a estaca deve ser dimensionada para resistir às cargas de serviço, esforços
de manuseio, de transporte e de cravação.

Normalmente as cargas usuais para as estacas pré-moldadas de concreto armado e


protendido podem ser de até 1.000 kN ( = 35 cm), entretanto, quando de concreto
centrifugado, podem ir a 1.700 kN ( = 60 cm) ou até 4.500 ( = 1 m).

Caso particular: Estaca Mega

Faixa usual de carga: 150 a 900 kN.

São estacas constituídas por segmentos pré-moldados de concreto armado,


cravadas por macaco hidráulico. Surgiram para reforço de fundações, e a reação do
macaco é encontrada na própria estrutura a ser reforçada. A cravação é efetuada
até a obtenção de resistência 50% maior que a carga de serviço estimada para a

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estaca. Terminada a cravação dos segmentos que compõem a estaca, os macacos
hidráulicos são substituídos por pilaretes de concreto.

Os segmentos são ocos e geralmente circulares, têm diâmetros de 20, 25 e 40 cm, e


comprimentos de 50, 100 e 200 cm. As principais desvantagens da estaca mega são
a demora da execução, o custo elevado e a necessidade de uma carga de reação.

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B) Estacas moldadas "in situ"

São estacas moldadas dentro do terreno, após a perfuração de um poço ou após a


cravação de um revestimento que pode ser recuperado ou perdido.

b.1) Estaca strauss

Faixa usual de carga: 200 a 800 kN.

Esta estaca não requer aparelhagem especial além de um pequeno pilão. Por
perfuração, faz-se penetrar no terreno um tubo metálico de diâmetro interno igual ao
da estaca, constituído de elementos rosqueáveis. Após abertura inicial do furo com
soquete, coloca-se o tubo e o soquete é substituído pela sonda a fim de penetrar e
remover o solo no seu interior em estado de lama. Atingida a cota desejada, enche-
se o tubo com 75 a 100cm de concreto, que é apiloado à medida que se retira o
tubo, o que se repete até o concreto atingir a superfície do terreno.

A execução da estaca exige cuidados especiais para evitar descontinuidade do fuste


e entrada de água e solo no interior do tubo. O uso desta estaca é desaconselhado
em terrenos argilosos moles abaixo do NA.

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As principais vantagens das estacas Strauss são: possibilidade de execução no
comprimento desejado; grande atrito estaca-solo; vibração quase inexistente;
possibilidade de execução em locais de difícil acesso, por seus equipamentos serem
leves; facilidade de locomoção dentro da obra; facilidade de execução próxima às
divisas do terreno, diminuindo a eventual excentricidade nos blocos; facilidade de
locomoção dentro da obra; possível conferência, por retirada de amostras do solo,
da sondagem realizada; possibilidade de verificar, durante a perfuração, a presença
de corpos estranhos ou matacões no solo, permitindo a mudança de locação da
concretagem; não são armadas (normalmente há apenas quatro barras de ligação
com o bloco de coroamento); baixo custo se comparada às outras estacas (exceto
estaca broca).

Em contrapartida, as desvantagens mais marcantes são: exige experiência do


operador na delicada operação de retirada do tubo; risco de descontinuidade ou
estrangulamento do fuste; não deve estar assente em areias puras submersas;
inadequada para solos arenosos abaixo do lençol freático e para solos argilosos
moles saturados; requer cuidados especiais na presença do nível d’água.

As cargas nominais são:

 (cm) 25 32 38 45 55
Carga (kN) 200 300 400 600 800

b.2) Estacas Franki

Faixa usual de carga: 550 a 1.700 kN.

A estaca Franki é executada da seguinte maneira: Posiciona-se um tubo de aço


(molde), tendo em seu interior, junto à ponta, um tampão de concreto de relação
água/cimento muito baixa. Este tampão é socado por um soquete (pilão), arrastando
o tubo para o interior do terreno devido ao forte atrito entre o concreto seco e o tubo.
Na profundidade desejada o molde é preso à torre, coloca-se mais concreto no
interior do molde e com o pilão provoca-se a expulsão do tampão até a formação de
um bulbo de concreto. Desce-se então a armadura e concreta-se a estaca em
pequenos trechos fortemente apiloados ao mesmo tempo em que se retira o tubo.

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Desta forma, duas características são marcantes nas estacas Franki: um grande raio
basal, superfície muito rugosa e grande compressão do terreno na vizinhança da
estaca.

As cargas nominais das estacas Franki estão indicados abaixo:

 (cm) 35 40 52 60
Carga (kN) 550 750 1300 1700

Vantagens das estacas Franki: possuem grande capacidade de suporte;


praticamente não têm limitações de comprimento, chegando a mais de 30 metros;
grande atrito estaca-solo; Execução no comprimento estritamente necessário; a
base alargada propicia um comprimento menor que o necessário se esta não
existisse; capacidade de carga do terreno utilizada ao máximo, melhorada pelo
processo executivo com a forte compactação em torno da base; matacões e outros
obstáculos podem ser ultrapassados, o esforço de cravação é resistido pelo tubo
Franki.

Desvantagens das estacas Franki: provoca grandes vibrações para as construções


vizinhas, logo é inadequada em áreas com construções em estado precário; risco de
estrangulamento em solos argilosos moles.

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Bate-estacas Franki Pilão do bate-estacas Base de estaca Franki

b.3) Estaca broca

Faixa de carga: 50 a 150 kN.

São as estacas moldadas in loco mais simples e que resistem às mais baixas
cargas. Sua execução é feita mediante a abertura de um furo em solo sem água, de
forma a não haver fechamento do furo nem desmoronamento, por meio de um trado
com diâmetro usual de 15 a 30cm. Os mais frequentes têm 20 e 25cm, mas
excepcionalmente podem atingir até 50cm.

A concretagem é feita pelo lançamento do concreto a pequena altura e apiloamento


manual do concreto, e o limite de comprimento é da ordem de 6m, com mínimo
geralmente de 3m. Sua execução é extremamente simples e compreende apenas as
fases de abertura da vala dos alicerces, execução do furo no terreno, compactação
do fundo do furo e lançamento do concreto. Inicia-se a abertura dos furos com uma
cavadeira americana e o restante é executado com trado até atingir a profundidade
desejada.

Tipos de trado

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Perfuração da broca

As maiores vantagens deste tipo de estaca são o baixo custo, o fácil mecanismo de
execução e a inexistência de vibração no processo construtivo. Já as desvantagens
são a dificuldade em manter a perfeita verticalidade da estaca, os cuidados
necessários na concretagem, a baixa capacidade de carga, a impossibilidade de uso
abaixo do nível d’água, em solos arenosos e argilosos moles e o risco de mistura
solo - concreto.

Estaca broca

b.4) Estaca raiz

Faixa de carga: até 1.000 kN (em situações excepcionais, 1.500 kN).

A estaca raiz é uma estaca escavada injetada. Foram idealizadas na década de 50,
na Itália, com a função básica de reforço de fundações comprometidas. Porém, além
de reforço, são adequadas para diversas fundações em situações especiais, como
locais com restrição de pé direito, dificuldade de acesso para equipamentos de
grande porte, ambientes em que vibrações são inadmissíveis, necessidade de
atravessar matacões, alvenaria ou blocos de concreto, obras de contenção de
taludes, e execução em qualquer direção (0 a 90°).

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Os diâmetros usuais das estacas raiz variam de 8 a 41cm (em casos especiais
chegam a 50cm). O fuste, construído com argamassa de cimento e areia, tem
elevada tensão de trabalho e é inteiramente armado. Atualmente, o advento de
equipamentos modernos com emprego de alta tecnologia aumentaram a
competitividade das estacas raiz em obras normais.

Sua execução envolve basicamente quatro fases consecutivas:

1) Perfuração auxiliada por circulação d’água;


2) Instalação da armadura;
3) Preenchimento com argamassa;
4) Remoção do revestimento.

1) Perfuração: realizada por rotação dos tubos, com auxílio de circulação de água,
injetada em seu interior e que retorna pela face externa. Os tubos vão sendo
rosqueados à medida que a perfuração avança, e são recuperados após a
confecção do fuste. Normalmente o revestimento deve ser feito em toda a
perfuração, mas em condições especiais pode ser parcial. Os detritos da perfuração
são carregados para a superfície pela água injetada, que é obrigada a retornar pelo
interstício anelar que se forma entre o tubo e o terreno. Logo, o diâmetro final da
estaca é sempre um pouco maior que o do revestimento.

2) Instalação da armadura: ao ser atingida a cota de projeto, continua-se a injetar


água sem avanços para limpeza do furo. Instala-se, então, a armadura (que pode
ser constante ou variável ao longo do fuste). Nas estacas sujeitas a compressão as
emendas das barras podem ser feitas por simples transpasse, já nas submetidas a
tração as emendas devem se feitas por soldas ou luvas.

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3) Preenchimento com argamassa: instalada a armadura, introduz-se o tubo de
injeção até o final da perfuração para injetar a argamassa de baixo para cima até
seu extravasamento pela boca do revestimento. A argamassa é confeccionada em
misturador de alta turbulência para garantir sua homogeneidade.

Misturador de argamassa (cimento ARI e água)

4) Remoção do revestimento: imediatamente após a moldagem do fuste, aplicam-se


injeções de ar comprimido no seu topo, concomitantemente com a remoção do
revestimento. As pressões utilizadas são baixas, de até 0,5 MPa, para garantir a
integridade da estaca.

Estacas raiz – Fundações de edifício comercial

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Estacas raiz – Microestacas de reforço em fundações de shopping center

Estacas Raiz – Reforço em estádio de futebol


(16 E.R.  = 250mm, L = 22m; 11 E.R.  = 150mm, L = 12m)

Estacas Raiz – Fundação de ponte sobre rio (até  = 400mm em solo e rocha)

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Resumo das etapas de execução de estacas raiz

b.5) Estaca tipo hélice contínua

Faixa de carga: 250 a 3000 kN.

Estas estacas moldadas in loco surgiram nos Estados Unidos por volta de 1950, e
no Brasil somente chegaram em 1987. São executadas mecanicamente por meio de
trado contínuo e injeção de concreto através da h aste central do trado
simultaneamente a sua retirada do terreno. Todas as operações são monitoradas
pela cabine do equipamento, normalmente tem diâmetros de 25 a 90cm (até 120cm
em casos especiais) e se utilizam concretos usinados com resistência característica
(fck) maior ou igual à 18 MPa. São recomendadas quando a vibração e o barulho
podem comprometer construções vizinhas e atingem profundidades de até 30m.

As fases de execução da estaca hélice contínua são: perfuração, concretagem


simultânea à extração da hélice e colocação da armação.

A perfuração consiste em fazer uma hélice penetrar no terreno por meio de torque
apropriado para vencer a sua resistência. A haste de perfuração é composta por
uma hélice espiral solidarizada a um tubo central, equipada com dentes na
extremidade que possibilitam a sua penetração no terreno. A metodologia de
perfuração permite sua execução em terrenos coesivos e arenosos, na presença ou
não do lençol freático e pode atravessar camadas de solos altamente resistentes
(SPT acima de 50).

Alcançada a profundidade desejada, o concreto é bombeado através do tubo central,


preenchendo simultaneamente a cavidade deixada pela hélice, extraída do terreno
sem girar ou girando lentamente no mesmo sentido da perfuração. Geralmente é
utilizada bomba de concreto ligada ao equipamento de perfuração através de
mangueira flexível, e o preenchimento da estaca com concreto é normalmente
executado até a superfície de trabalho. Logo, o método de execução exige a
colocação da armação após a sua concretagem.

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A armação é introduzida por gravidade ou com o auxílio de um pilão de pequena
carga ou vibrador. Estacas submetidas a compressão levam uma armação no topo,
em geral de 2 a 5m de comprimento. No caso de estacas sob esforços transversais
ou de tração, somente serão possíveis armações de até 16m, em função do método
construtivo. Neste caso de armações longas, as “gaiolas” devem ser constituídas de
barras grossas e estribo espiral soldado na armação longitudinal, para evitar sua
deformação durante a introdução no fuste da estaca.

O equipamento empregado para cravar a hélice é constituído, em geral, de um


guindaste de esteiras, no qual é montada a torre vertical de altura apropriada à
profundidade da estaca, equipada com guias por onde corre a mesa de rotação de
acionamento hidráulico.

Estação da Luz (Metrô SP): estacas em hélice contínua e colocação de armadura.


Detalhe: proximidade das edificações antigas da rua Mauá.

Estacas hélice contínua - Usina Votorantim (Juiz de Fora) e Estádio Engenhão (RJ)

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Detalhe de colocação de armadura

b.6) Estacas escavadas (estacões)

Faixa de carga: 1.000 a 30.000 kN.

Na ocorrência de cargas elevadas, em obras de vulto tal que seja justificada a


mobilização do equipamento, o tipo de estaqueamento correntemente mais
adequado é o de estacas de grande diâmetro moldadas “in loco”, com perfuração
mecânica a rotação, e eventual emprego de lama bentonítica.
As estacas escavadas possuem diâmetro de 60 a 300 cm. São empregadas quando
se desejam elevadas capacidades de carga, e alcançam grandes profundidades. A
execução é relativamente rápida e as vibrações são praticamente nulas, logo,
podem ser executadas junto a construções precárias. Além disso, tem ainda as
vantagens de fornecer um conhecimento imediato das camadas de solo
atravessadas, são adequadas a diversos tipos de solo, podem receber diretamente
os arranques dos pilares, eliminando a confecção de blocos de coroamento, podem
ser inclinadas e atingem profundidades de até 70 metros.
Podem ser utilizadas em presença de lâmina d’água, por isso são comuns em obras
marítimas e em construção de pontes. Nestes casos, a escavação mecânica e a
concretagem submersa são precedidas da cravação de camisa metálica. Os
equipamentos, quando necessários, serão montados em plataforma flutuante
(barcaças de convés chato). As camisas metálicas poderão ser perdidas ou
recuperadas.

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Etapas do método executivo:

a) Perfuração - O equipamento de perfuração consta essencialmente de uma mesa


rotativa que aciona uma haste telescópica acoplada a uma ferramenta de
perfuração, cujo tipo depende da natureza do terreno. O movimento de rotação da
haste é produzido por um motor diesel, e um cabo de aço é acionado pelo guindaste
para sua descida e levantamento. Se for abaixo lençol freático ou em solo de baixa
coesão, a perfuração se dá, normalmente, com encamisamento ou lama bentonítica,
que tem a finalidade de manter estável a parede da escavação.

b) Colocação da armadura - É colocada pelo guindaste, reforçada com anéis de


rigidez e com roletes distanciadores para garantir o cobrimento (mínimo de 5 cm).
c) Concretagem - A concretagem é submersa, de baixo para cima, contínua e
uniforme. O concreto é aplicado por gravidade, através de um tubo cuja extremidade
deve permanecer imersa no concreto.

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Esquema de execução de estacas escavadas

b.7) Paredes diafragma e estacas barrete

A parede diafragma realiza no terreno um muro de concreto armado vertical, capaz


de absorver cargas verticais, empuxos horizontais e momentos fletores, e pode ter
profundidades acima de 50m. Quando tem função apenas de impermeabilização
(controle de percolação em escavações, barragens, reservatórios ou proteção do
lençol freático contra poluentes) o diafragma pode ser plástico, constituído de
mistura de argila e cimento. A parede é executada em painéis, e as técnicas
executivas são essencialmente idênticas às das estacas escavadas.

As paredes diafragmas apresentam as vantagens:

- facilidade em adaptar-se à geometria do projeto;


- pequena vibração durante a execução;
- alcançar grandes profundidades abaixo do NA;
- servir de septo impermeabilizante;
- servir como contenção de escavação profunda.

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Parede diafragma

A estaca barrete corresponde ao uso de apenas um ou mais painéis das paredes


diafragma. Apresenta seção retangular ou combinação desta. A estaca pode ser
adequadamente orientada para absorver momentos fletores e cargas horizontais. A
técnica executiva é idêntica à da estaca escavada.

4.1.2 Dimensionamento estrutural de estacas

A capacidade de carga de uma estaca é dada pelo menor dos dois valores:

a) resistência estrutural do material da estaca;


b)resistência do solo que lhe dá suporte.

A resistência referente ao item “b” é dada por métodos de cálculo de transferência


de carga, como os de Aoki-Veloso, Décourt-Quaresma e outros. De modo geral, as

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sondagens nos garantem esse resultado. Abordaremos, portanto, o aspecto da
resistência estrutural.

Se a estaca resistir apenas a cargas de compressão com tensões médias inferiores


a 5MPa, não haverá necessidade de armadura, a não ser que o processo executivo
a exija. Se a tensão ultrapassar este valor, a estaca deverá ser armada no trecho em
que esta tensão for superior a 5MPa até a profundidade em que a transferência de
carga por atrito lateral diminua a tensão para valores inferiores a este.

O dimensionamento de trechos das estacas deverá seguir o disposto na NBR 6118


e NBR 6122, adotando-se valores para a resistência característica do concreto e
coeficientes de majoração das cargas e minoração das resistências.

4.1.2.1 Dimensionamento na compressão

O cálculo estrutural de estaca sujeita a compressão com tensão média superior a


5MPa segue as prescrições normativas, com coeficiente mínimo de segurança
global igual a 2. Se as estacas (ou tubulões) tiverem cota de arrasamento acima do
nível do terreno, levada em conta eventual erosão, ou atravessarem solos moles,
devem ser verificadas à flambagem. A carga crítica de ruptura por flambagem pode
ser dada por:

N crit = k CEI

Onde k é um coeficiente que varia de 8 a 10, C é a coesão da argila não drenada, E


e I são o módulo de elasticidade e o momento de inércia da seção da estaca.

Não havendo ruptura por flambagem, o cálculo é feito conforme o item 4.1.1.3 da
NBR 6118, majorando-se a carga de compressão na proporção (1 + 6/h), não inferior
a 1,1, onde h é o menor lado do retângulo circunscrito à estaca, em centímetros.

A expressão a adotar será:

Nd (1 + 6/h) = 0,85 Ac fcd + As’ fyd


Onde:
Nd = f N ;
fcd = fck / c ;
fyd = fyk / s ou fyd = 0,2% Es (por segurança, o menor dos dois valores).

A armadura mínima a adotar será 0,5% A, onde A é a área da seção da estaca.

Em estacas parcialmente enterradas, obtém-se o comprimento de flambagem pelo


modelo de Davinson e Robinson, conforme apresentado no livro “Dimensionamento
de Fundações Profundas” (Alonso,1989). De acordo com o índice de esbeltez
encontrado, o cálculo será feito pelo processo simplificado acima ( ≤ 40), ou
levando-se em conta a situação de flexão composta (40 <  ≤ 200). Neste caso,
podem ser usados os ábacos do referido livro, págs. 5 a 8.

4.1.2.2 Dimensionamento na tração

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Nestes casos, a estaca será sempre armada, sendo a seção de aço condicionada
pela abertura máxima aceita para as fissuras. Maiores detalhes no livro mencionado.

4.1.2.3 Dimensionamento na flexão simples e composta

A flexão em uma estaca pode ser decorrente de esforços de manuseio e transporte


ou devido à própria estrutura. Se a estaca for circular, o cálculo é feito utilizando-se
os ábacos de flexão composta citados. Se for de seção retangular, podem-se usar
tabelas existentes em livros de dimensionamento de vigas retangulares, como a
tabela 1.2 do livro referido. Uma observação pertinente é que a armadura de flexão
não deverá ser inferior a 0,15% A.

Outro aspecto importante neste caso é a verificação do esforço cortante. Em seções


retangulares o dimensionamento dos estribos é simples, seguindo o determinado
pela NBR 6118. A área mínima de aço é de 0,14% bw por metro de estaca.

Exemplo:

Dimensionar a armadura de uma estaca maciça com diâmetro de 80cm, que recebe
uma carga de cálculo de 2.800kN. O diagrama de transferência de carga para o solo
é o apresentado abaixo. A resistência característica do concreto (fck) é 16MPa e o
aço utilizado é CA50, com módulo de elasticidade longitudinal de 210 GPa.

Verificação da tensão na estaca:

A = d2/4 = 0,5m2

 = Nd/A = 2800 / 0,5 = 5600 kN/m2, ou 5,6 MPa

O comprimento total da estaca, para transmissão de carga apenas por resistência de


fuste, será:

L = (10 . 2800) / 1000 = 28m

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A estaca será armada até a profundidade em que a tensão no fuste seja inferior a 5
MPa. Logo:

(Nd – Pdisip) / 0,5 = 5 MPa  2800 – Pdisip = 5000 . 0,5  PL = 300 kN

A estaca deverá ser armada até a profundidade:

z = (10 . 300) / 1000 = 3m

Como a estaca está sob compressão e totalmente enterrada:

Nd (1 + 6/h) = 0,85 Ac fcd + As’ fyd

Onde:

Nd = N . f, com f = 1,4 (não será utilizado porque já temos a carga de cálculo Nd);

1 + 6/h = 1 + 6/80 = 1,075 (adota-se 1,1) ;

fcd = fck / c = 16/1,4 = 11,4 MPa = 11400 kN/m2 ;

fyd = fyk / s = 500/1,15 = 435 MPa ou 0,2% Es = 0,2% 210000 = 420 MPa

Voltando à equação:

2800 . 1,1 = 0,85 . 0,5 . 11400 + As’ 420000 = – 0,0042m2  As’ < 0
(usa-se armadura mínima)

As’min = 0,5% A = 0,5% 5000 = 25 cm2  8  20mm

Para armadura de 820mm, adotando estribos de 5mm, o espaçamento dos estribos


pode ser definido pelo método simples frequentemente usado para pilares:

- 20cm
- 80cm
- 12 x 2cm = 24cm
- t = 5mm = 20/4 ok!
Estribos de 5mm a cada
20cm

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820

5 c 20cm 3m 820

28m 80cm

5 c 20cm

4.2 ESTAQUEAMENTO

O estaqueamento consiste em definir geometricamente em planta a disposição das


estacas existentes em um projeto para os pilares de uma edificação. A partir dele
tem-se a locação das estacas e as dimensões em planta dos blocos de coroamento,
que solidarizam as "cabeças" dos grupos de estacas (ou de uma única estaca),
distribuindo para elas as cargas dos pilares e dos baldrames.

4.2.1 Procedimentos gerais de projeto

A seguir são apresentados os procedimentos gerais de determinação do


estaqueamento ideal para uma situação de carga qualquer.

Escolhido o tipo de estaca a ser utilizado, o número de estacas é dado pela razão
entre a carga no pilar e a carga admissível da estaca (conforme a seção transversal
e a resistência à compressão do material).

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C arg a no pilar
N de estacas =
C arg a admissível da estaca

Este cálculo só é válido se o centro de carga coincidir com o centro do


estaqueamento e se forem usadas estacas do mesmo tipo e mesmo diâmetro.

A tabela a seguir (Alonso, 2006) traz as cargas nominais para vários tipos e
dimensões de estaca. est é o espaçamento mínimo entre estacas e “a” é a distância
do centro da estaca até a divisa do terreno.

De modo geral, após a escolha do tipo de estaca, adota-se a carga de trabalho,


dentre as várias disponíveis, a ser utilizada no projeto.

Valores de capacidade de carga de estacas de concreto (Alonso, 2006)

É comum proceder-se da seguinte forma: calcula-se a carga média de todos os


pilares (Fmed) e divide-se por 3 para que boa parte dos blocos tenham 3 estacas,
pois blocos com 3 estacas têm boa estabilidade e rigidez e são econômicos. Assim:

Fmed
Fser =
3

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Determinada a carga de trabalho F ser de projeto, o número n de estacas, necessário
para transferir a ação vertical F de um pilar para o solo, é dado por (o coeficiente
1,10 leva em conta o peso próprio do bloco):

1,10  F
n=
F ser

O número de estacas é aproximado para o maior número inteiro acima do cálculo


anterior. Quanto maior o número de estacas, maior será o custo do bloco. Logo, é
conveniente evitar blocos com mais de 5 ou 6 estacas. Pode-se adotar duas cargas
de trabalho, uma para pequenas ações e outra para ações mais intensas. Isto
ocorre quando o projeto apresenta variação muito ampla de ações dos pilares. Num
mesmo bloco, todavia, utilizam-se estacas com mesma carga de trabalho.

A princípio, a situação ideal é que o número de estacas em um bloco seja igual ou


maior que 3, para que o bloco tenha indeslocabilidade em relação a dois eixos
ortogonais. Porém, pode-se utilizar apenas duas ou mesmo uma estaca, desde que
exista algum elemento estrutural de travamento, como por exemplo, viga baldrame
ou viga alavanca. Na figura subsequente, a viga trava o bloco na direção transversal
e, duas estacas na direção longitudinal conferem estabilidade nesta direção. No
caso de bloco com uma estaca deve-se projetar duas vigas ortogonais para travar o
bloco.

a) bloco travado em uma direção b) bloco travado em duas direções

Distribuição em planta das estacas


Na distribuição das estacas o espaçamento mínimo deve ser respeitado, não só
entre estacas do próprio bloco, mas também entre estacas de blocos contíguos.

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Estacas alinhadas devem seguir, sempre que possível, a direção da maior dimensão
do pilar. Isto leva a blocos com menor consumo de concreto. Só será escolhido o
bloco da situação “b” quando a distância das estacas do bloco contíguo for
insuficiente.

a) recomendável b) não recomendável

Em blocos com mais de um pilar o centro de carga deve coincidir com o centro
geométrico das estacas. É recomendável estaqueamento independente para cada
pilar sempre que possível.

Deve-se evitar distribuição desalinhada de estacas em relação aos pilares, para que
não se introduza um momento de torção no bloco. Pilares e estacas devem estar
alinhados.

a) não recomendável b) recomendável

Nos casos de blocos de duas estacas para dois pilares deve-se evitar a estaca
embaixo de pilar, onde uma das ações é aplicada quase diretamente na estaca.

a) não recomendável b) recomendável

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Deve-se também evitar, quando possível, blocos contíguos de grande extensão.

A distribuição das estacas em torno do centro de carga do pilar deve seguir sempre
que possível os blocos padronizados abaixo, para duas a cinco estacas. No caso de
distribuição em linha, a altura do bloco deve ser tal que as estacas estejam
submetidas a ações idênticas. Para cinco estacas, a alternativa mais econômica é a
do trapézio, pois neste caso o estaqueamento ocupa a menor área. No livro
“Exercícios de Fundações” (Alonso, 2006) há distribuições com mais estacas.

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4.2.2 Cargas em estacas de pilares sob carga vertical e momento

Em pilares submetidos a carga vertical e momento utiliza-se o método da


superposição de efeitos, no qual a carga de cada estaca é calculada somando-se
separadamente os efeitos da carga vertical e dos momentos.

My
N
C.C. Mx
yi Mx

xi

N
My

Este processo só é válido se os eixos x e y forem os eixos principais de inércia e as


estacas forem verticais, do mesmo tipo, diâmetro e comprimento. A carga atuante
numa estaca genérica i de coordenadas xi e yi é:

N M y x i M x yi
Pi =  
n x i2 yi2

N é a carga vertical na cota de arrasamento das estacas (incluído o peso próprio do


bloco), n é o número de estacas, e Mx e My são os momentos na cota de
arrasamento, considerados positivos conforme a indicação da figura anterior: em
relação a My, as estacas da direita terão sinal positivo e as da esquerda, negativo;
em relação a Mx, as estacas de cima terão momento negativo, e as de baixo,
positivo.

O problema de estaqueamento sujeito a momentos é resolvido por tentativas,


lançando-se um estaqueamento e calculando-se as cargas atuantes nas estacas. O
estaqueamento será aceito se as cargas forem, no máximo, iguais às cargas
admissíveis de compressão e tração na estaca.

Há diversos exercícios de estaqueamento no livro “Exercícios de Fundações”


(Alonso, 2006), pg. 78 a 92, adequados para consolidação dos aspectos aqui
abordados.

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4.2.3 Cálculo de estaqueamento – exemplos

A seguir, são apresentadas algumas situações para determinação de


estaqueamentos adequados.

Exemplo 1. Projete um estaqueamento adequado para um bloco de coroamento de


fundação, utilizando estacas pré-moldadas de concreto. O pilar em questão tem
carga de cálculo de 7000kN, além de momentos nas direções x e y, nos valores,
respectivamente, de 800kNm e 500kNm. A estaca utilizada tem as seguintes
características: diâmetro () de 50cm carga máxima de compressão (Nc.máx) cd
1100kN, carga máxima de tração (Nt.máx) de 80kN e distância mínima entre estacas
(Lest) de 130cm.

Como há momentos nas direções x e y no pilar, a carga atuante em uma estaca


genérica i de coordenadas xi e yi no estaqueamento será dada pela equação já
mencionada:

N M y x i M x yi
Pi =  
n x i2 yi2

Portanto, o número de estacas necessárias deve ser superior a:

P 7000
ne  = = 6,4  ne = 8 estacas
N est 1100

Adotamos 8 estacas, em vez de 7, por duas razões: a disposição de estaqueamento


com sete estacas fica geometricamente comprometida, pela necessidade de figuras
como um heptágono, ou centralizar uma estaca abaixo do pilar, e além disso,
fazendo-se o cálculo, ainda assim o pilar mais carregado não passaria na verificação
da carga máxima de compressão. Escolhemos, portanto, 8 estacas de concreto pré-
moldado, com a disposição a seguir:

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Calculando os somatórios da equação da carga por estaca, teremos:

x 2
i = 4  (1,952 + 0,652 ) = 16,9m 2

y 2
i = 8  0,652 = 3,38m 2

A carga de compressão máxima ocorrerá na estaca 4, e a carga de tração máxima


(ou compressão mínima) ocorrerá na estaca 5. Seus valores serão:

7000 500 1,95 800  0,65


N 4(máx) = + + = 1.086,5kN ok!( N c.máx )
8 16,9 3,38

7000 500 1,95 800  0,65


N 5(mín) = − − = 663,5kN ok!( N c.máx )
8 16,9 3,38

Conclui-se, portanto, que a disposição apresentada atende de forma adequada ao


problema de estaqueamento proposto.

Exemplo 2. Dois pilares, P1 (80x40) e P2 (40x40), dispostos no terreno conforme a


figura abaixo, recebem respectivamente cargas de 6000kN e 3500kN. Sabe-se que
nas fundações de ambos serão usadas estacas Franki com 52cm de diâmetro e
capacidade de carga de 1.400kN. Sendo a distância mínima entre eixos de estacas
150cm, e entre eixo de estaca e a divisa, 100cm, projete o estaqueamento mais
adequado para esta situação.

Divisa
P1 P2

150 500

A situação ideal é que o estaqueamento de cada pilar possa ser feito de forma
independente, e para isso o centro de carga de cada pilar deve coincidir com o
centro geométrico do seu estaqueamento. Assim, para o pilar P1, teremos:

P1 6000
ne 1 = = = 4,29  ne1 = 5 estacas
N est 1400

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A partir do CC do pilar, fazendo um estaqueamento trapezoidal, a disposição ideal é
um trapézio com CG a 2h/5 da base maior e 3h/5 da base menor. Respeitando as
distâncias mínimas de 150cm entre estacas e 100cm de eixo de estaca à divisa:

Divisa

150
CC 75

75
150

100 2h/5 3h/5


(50cm) (75cm)

Calculando o valor da distância d entre as estacas inferiores:

d2 = 1252 + 752  d = 145cm (<150cm, NÃO PASSA!)

Para garantir a distância mínima entre todas as estacas, é necessário aumentar a


base maior do trapézio, já que não podemos mexer em sua altura. Assim, impondo
d=150 e h=125:

1502 = 1252 + y2  y = 83cm

Naturalmente, esse comprimento y de 83cm será metade da distância entre as


estacas tanto na base maior quanto na base menor. Desta forma garantimos que as
diagonais entre estacas sempre guardarão a distância mínima de 150cm.

Logo, isso as distâncias entre as estacas da base maior e da base menor do


estaqueamento do pilar P1 serão de 166cm.

Para o pilar P2, teremos:

P2 3500
ne2 = = = 2,5  ne2 = 3 estacas
N est 1400

Como não há restrição geométrica, adota-se um estaqueamento triangular


(equilátero).

Assim, a disposição final do estaqueamento será:

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Divisa

166
86,6
P1 83 150 P2 150 130
43,4
83
166 150

150

100 50 75 425

Exemplo 3. Dois pilares, P1 (80x20) e P2 (30x60), dispostos no terreno conforme a


figura abaixo, recebem respectivamente cargas de 3.000kN e 5.000kN.
Considerando que suas fundações serão construídas com estacas Franki (52cm,
Nmáx = 1.400kN, lest=150cm, dest-div=100cm), projete o estaqueamento mais
adequado para esta situação.

Divisa
P2
P1

5 300

A situação ideal é que o estaqueamento de cada pilar possa ser feito de forma
idenpendente, e para isso o centro de carga de cada pilar deve coincidir com o
centro geométrico do seu estaqueamento. A princípio, para o pilar de divisa, seriam
necessárias três estacas:

P1 3000
ne 1 = = = 2,14  ne1 = 3 estacas
N est 1400

Entretanto, a presença da divisa impede a coincidência entre os centros de carga e


geométrico. Será, portanto, imperativa a existência de uma viga de equilíbrio ligando
o estaqueamento do pilar de divisa ao estaqueamento do pilar interno, para que a
excentricidade do primeiro pilar seja compensada.

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Divisa

150
CC P2
V.E.

150

45 55

O esquema de cálculo será:

P1 = 3.000kN P2 = 5.000kN

R1 R2

e = 55 d = 245

e 55
P = P1  = 3000  = 673,47  R1 = P1 + P = 3.673,47kN
d 245

R 1 3673,47
ne 1 = = = 2,62  ne1 = 3 estacas
N est 1400

Mesmo com o acréscimo de carga, as três estacas ainda são suficientes para o pilar
P1. No pilar P2, levando-se em conta o alívio de metade de P, o número de estacas
será:

R 2 = P2 - P/2 = 5000 − 336,74  R 2 = 4.663,26kN

R2 4663,26
ne2 = = = 3,33  ne1 = 4 estacas
N est 1400

O estaqueamento final será, portanto:

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Divisa

150
CC P2 75
V.E.

75
150

75 75

45 55

4.3 BLOCOS DE COROAMENTO

Blocos de coroamento são elementos estruturais superficiais prismáticos, maciços,


de concreto armado, responsáveis por solidarizar as “cabeças” de um grupo de
estacas (ou de uma única estaca), distribuindo-lhes as cargas dos pilares e dos
baldrames. Têm também a função de absorver momentos produzidos por forças
horizontais, excentricidades e outras solicitações. As estacas devem ser preparadas
previamente, com limpeza e remoção do concreto de má qualidade que se encontra
normalmente acima da cota de arrasamento das estacas moldadas "in loco".

Na foto anterior tem-se uma visão aérea de um canteiro de obras na fase de


execução dos blocos de coroamento de suas fundações. Observe-se que serão
confeccionados blocos para diversos estaqueamentos com números de estacas
diferentes – duas, três, quatro, cinco, oito estacas.

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4.3.1 Recomendações práticas

a) Dimensão mínima do centro da estaca à face externa do bloco:

R+c+
u≥
D/2 + 15cm

Onde:
R = raio de dobramento do aço;
c = cobrimento (mín. de 3cm);
 = diâmetro da armadura;
D = diâmetro da estaca.

b) Em peças com grande altura de seção ou com grandes cobrimentos da


armadura principal, deve-se evitar a fissuração superficial excessiva com o
emprego de armadura de pele. Essa armadura é formada por barras de aço
paralelas e próximas às faces dessas peças. Segundo a NBR 6118/03, a
armadura de pele é obrigatória para peças com altura de seção maior que
60cm. A área total dessa armadura, em cada face da peça, deve ser:

Asl = 0,1% bw x h

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Onde:
h = altura do bloco;
bw (2 estacas) = largura do bloco
bw (3 ou + estacas) = est + balanço livre
em cada lado da estaca.
Espaçamento máximo = 20cm e d/3

c) Armadura superior: quando não há necessidade estrutural (existências de


esforços que a demandem), o assunto é polêmico. Alguns autores
recomendam o uso de uma armadura mínima, enquanto outros a dispensam
por argumentarem que sua presença dificulta a confecção do bloco, trazendo
mais desvantagens que vantagens. Esta é a linha adotada aqui.

4.3.2 Blocos sobre estacas

Os blocos de coroamento podem ter dimensões variadas, desde os mais simples


para uma única estaca até os mais robustos, que podem abranger dezenas de
estacas. A seguir, são analisados blocos para uma, duas ou três estacas.

1) Bloco sobre uma estaca:

Nestes casos, o bloco atua como um elemento de transferência de carga, necessário por razões
construtivas, para a locação correta dos pilares, chumbadores, correção de pequenas
excentricidades da estaca, uniformização da carga sobre a estaca, etc. A altura do bloco
deve ser da ordem de 20% maior que o diâmetro da estaca, e no mínimo igual ao
comprimento de ancoragem da armadura do pilar. A armadura não precisa ser
calculada, pois a transmissão de carga pode ser vista como direta e vertical para a
estaca. Consiste, portanto, em uma gaiola de estribos horizontais (esforço de
fendilhamento) e verticais (construtivos).

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Observação importante: é altamente recomendável o uso de cintas para travamento
destes blocos isolados.

2) Bloco sobre duas estacas:

A figura subsequente mostra um bloco sobre duas estacas, com a biela de concreto
comprimido e o esquema de forças atuantes (b = largura do pilar; e = distância entre eixos das
duas estacas; α = ângulo de inclinação da biela comprimida entre os eixos da semilargura do
pilar e da cabeça da estaca).

Pode-se obter as duas relações seguintes para a tangente do ângulo α:

P/2 d
tg α = e tg α =
TX e/2 − b/4

Igualando as expressões e isolando a força de tração na armadura inferior:

P(2e − b)
TX =
8d

A área de aço será, portanto:

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γ f  TX 1,61 TX
As =  As = (para γ f = 1,4 e f yk = 1,15  f yd )
f yd f yk

Para definir a altura útil, parte-se de um valor d ≥ e/2 e verifica-se se não há


esmagamento da biela comprimida. Para isso, calcula-se o valor de V/bd:

2 ftk (blocos com a/d ≤ 1);


γV 0,1 fck para fck ≤ 18MPa;
 ftk (blocos com 1 < a/d ≤ 1,5); ftk =
bw  d 0,06 fck + 0,7 para fck > 18MPa.
0,4 ftk (blocos com a/d > 2;

Onde:
V = esforço na biela comprimida
a = distância horizontal do eixo da estaca ao centro da biela (neste caso, a ≈ e/2);
bw = largura do bloco na seção considerada;
d = altura útil do bloco;
 = f x c (geralmente, 1,4 x 1,4 = 1,96).

Exemplo:

Calcular um bloco para duas estacas (=40cm) que recebe um pilar de 50x50cm
com carga de 700kN. Dados complementares: Aço CA50, fck=15MPa, e=1,40m.

- Estimativa da altura:

d ≥ e/2  d ≥ 140/2  d = 70cm

- Verificação da biela:

γV γ  V 1,96  350


a/d = 57,5/70 < 1   2f tk  = = 1,4MPa
bw  d bw  d 0,7  0,7

fck = 15MPa  ftk = 0,1 fck  ftk = 1,5MPa  2ftk = 3MPa

γV
= 1,4MPa ( 3MPa) ok! (não há esmagamento da biela)
bw  d

- Cálculo da força de tração:

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P(2e − b) 700(2 1,4 − 0,5)
TX = =  TX = 287,5kN
8d 8  0,7

- Cálculo das armaduras:

Armadura principal:

1,61 TX 1,61 287,5


As = = = 9,3cm2  516mm
f yk 50

Estribos verticais:

A s 9,3
A s' = = = 1,2cm2  Em 1,90m, 11 5mm c/19cm
8 8
(para respeitar o espaçamento máximo de 20cm)

Armadura de pele (h>60cm):

A sp = 0,1% b w  h = 0,001  70  80 = 5,6cm 2  710 mm

- Detalhamento final:

710.0 c 10cm

516.0 c 15cm
115.0 c 19cm

710.0 c 10cm
115.0 c 19cm

516.0 c 15cm

3) Bloco sobre três estacas:

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No caso de bloco de coroamento para três estacas, o esquema de distribuição de forças será o
indicado na figura subsequente, onde “b” é a largura do pilar; “e” representa a distância entre
eixos de duas estacas; e “α” é o ângulo de inclinação da biela comprimida, medido entre a
cabeça da estaca e o seu respectivo ponto de carga no pilar.

Tx

Utilizando-se as relações trigonométricas, vem:

P P e 3/3 − b 2/6 P(2e 3 − b 2 )


TX = tg α =   TX =
3 3 d 18d

A área de aço será dada pela mesma equação anterior:

γ f  TX 1,61 TX
As =  As = (para γ f = 1,4 e f yk = 1,15  f yd )
f yd f yk

Novamente parte-se de um valor d ≥ e/2 para definir a altura útil do bloco,


verificando-se a ocorrência de esmagamento da biela comprimida por meio do
cálculo de V/bd como no caso de bloco sobre duas estacas.

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2 ftk (blocos com a/d ≤ 1);
γV 0,1 fck para fck ≤ 18MPa;
 ftk (blocos com 1 < a/d ≤ 1,5); ftk =
bw  d 0,06 fck + 0,7 para fck > 18MPa.
0,4 ftk (blocos com a/d > 2;

Onde:
V = esforço na biela comprimida
a = distância horizontal do eixo da estaca ao centro da biela (neste caso, a ≈ e/2);
bw = largura do bloco na seção considerada;
d = altura útil do bloco;
 = f x c (geralmente, 1,4 x 1,4 = 1,96).

A armadura pode ser disposta de duas formas distintas: a) nas direções estaca-mediana do
lado oposto; ou b) na direção estaca-estaca, acompanhando os lados do bloco. Na disposição
“b” a força de tração Tx nas armaduras será dada por:

a) b)

P(2e 3 − b 2 ) 3
TX = T ' X = TX
18d 3

Obs: Embora o modelo de bielas admita que a carga vertical seja transmitida às
estacas por meio das bielas principais comprimidas, no comportamento real dos
blocos surgem bielas secundárias entre as estacas. Ou seja, parte da carga vertical
se propaga para o intervalo entre as estacas, região onde não existe um apoio
direto. Logo, em determinados casos deve-se “suspender” essa parcela de carga por
meio de armaduras de suspensão (estribos). A NBR 6118/2003 considera
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obrigatória a armadura de suspensão quando o espaçamento entre os eixos das
estacas for maior que 3est. A área total de armadura de suspensão entre duas
estacas é calculada por:

Nesta expressão, n é o número de estacas e P é a força vertical de cálculo (carga do


pilar acrescida do peso próprio do bloco).

Exemplo:

Calcular um bloco para três estacas (=50cm) que recebe um pilar de 40x40cm com
carga de 3.000kN. Dados complementares: Aço CA50, fck=18MPa, e=1,50m.

- Estimativa da altura:

d ≥ e/2  d ≥ 150/2  d = 75cm

- Verificação da biela:

a/d = 86,6/75 > 1 

γV γ  V 1,96  1,0


150 150  f tk  = = 3,27MPa
bw  d b w  d 0,8  0,75

a ≈ 86,6
γV
150 f tk = 1,8MPa   f tk Há esmagamento da biela!
bw  d
Aumentando-se a altura útil para 1m, a relação a/d será inferior a 1. Assim:

γV γ  V 1,96  1,0


 2f tk  = = 2,45MPa
bw  d bw  d 0,8  1

γV
2f tk = 3,6MPa   2f tk Ok!
bw  d

- Cálculo da força de tração (adotando a disposição ‘a’):

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P(2e 3 − b 2 ) 3000  (2 1,5  3 − 0,4  2 )
TX = = = 771,74kN
18d 18 1

- Cálculo das armaduras:

Armadura principal:

1,61 TX 1,61 771,74


As = = = 24,85cm2  5 25mm
f yk 50

Armadura de pele (h>60cm):

A sp = 0,1% b w  h = 0,001  80  110 = 8,8cm 2  1110 mm

- Detalhamento final:

525.0 c
15cm

A
1110.0 c
9cm

A
B B

Corte AA Corte BB
1110.0 c 9cm 1110.0 c 9cm 525.0 c 15cm
525.0 c 15cm

4.4 TUBULÕES

Tubulões são elementos estruturais de fundação profunda que transmitem as cargas


para o solo diretamente, por sua base. São executados a partir da concretagem de
uma escavação aberta no terreno, em que ocorre a descida de operário pelo menos
em sua fase final. Constituem-se de um fuste e uma base alargada.

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Historicamente, os tubulões se dividem em dois tipos básicos: os tubulões a céu
aberto e os tubulões a ar comprimido (pneumáticos), sempre revestidos. O
revestimento pode ser feito com camisa de concreto armado ou de aço. Neste último
caso, a camisa pode ser perdida ou recuperada.

Entretanto, recentemente, em 2020, houve uma reformulação da NR-18, que versa


sobre uma série de questões relativas à segurança do trabalho em obras de
engenharia. Dentre as mudanças que mais afetam a construção civil, estão as novas
regulamentações para execução de tubulões. A nova legislação determina a
proibição da execução de tubulões a ar comprimido após dois anos da entrada em
vigor da nova NR-18, fato que ocorreu em janeiro de 2022. Determina ainda o
aumento do diâmetro mínimo do fuste dos tubulões a céu aberto de 70cm para
90cm, a profundidade máxima de 15m e a exigência de encamisamento obrigatório.
A nova norma recomendou ainda a mudança da nomenclatura oficial de “tubulão a
céu aberto” para “tubulão escavado manualmente”.

Elementos do tubulão

Concretagem de tubulão

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4.4.1 Tubulões a céu aberto (ou escavados manualmente)

Os tubulões a céu aberto são os mais simples, e resultam da concretagem de um


poço aberto manualmente (ou excepcionalmente por escavação mecânica) no
terreno a céu aberto. São normalmente executados acima do nível d'água natural ou
rebaixado, ou, em casos especiais, em terrenos saturados que permitam
bombeamento sem risco de desmoronamento. Caso haja apenas cargas verticais,
os tubulões não precisam ser armados, havendo apenas uma ferragem de topo para
ligação com o bloco de coroamento.

Tubulão a céu aberto: corte e perspectiva

Escavação de tubulão e camisas de concreto

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Tubulão a céu aberto com base alargada

Normalmente, o fuste do tubulão tem seção circular e a partir da NR-18, diâmetro


mínimo de 90cm, para garantir maior segurança e trabalhabilidade aos operários.
Sua base pode ser circular ou em falsa elipse. Neste caso, a relação entre os
comprimentos a/b não deve ultrapassar 2,5.

Seções típicas de tubulões

A área da base do tubulão é calculada de modo análogo ao das fundações rasas,


desprezando-se seu peso próprio. Assim, sendo Ab a área da base do tubulão, P a
carga atuante e s a tensão admissível do solo, pode-se afirmar:

A partir desta equação, chega-se às seguintes expressões para bases circulares ou


em falsa elipse:

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A área do fuste é calculada como se este fosse um pilar com área de aço igual a
zero:

Nesta expressão, Af é a área da seção transversal do fuste, f e c são coeficientes


de majoração das cargas e de minoração da resistência do concreto (1,4 e 1,6 pela
NBR 6122/2019), P é a carga no tubulão e fck é a resistência característica do
concreto.

Para não ser armado, a tensão no fuste de concreto deve ser, no máximo, de 5
MPa, e que a área mínima do fuste será a razão entre a carga P e a tensão no
concreto, chega-se à seguinte fórmula para o diâmetro do fuste:

Em tubulões a céu aberto normalmente se adota o ângulo  de inclinação da base


como sendo 60°. Assim, a altura da base do tubulão será dada, conforme o tipo de
base utilizada, por:

A NBR 6122/2019 recomenda que a altura máxima da base seja de dois metros, a
menos que se tomem cuidados especiais para garantir a estabilidade do solo.

O volume da base alargada será :

O processo de execução dos tubulões a céu aberto deve seguir as seguintes etapas:

1) A partir do gabarito marca-se o eixo do tubulão com um piquete de madeira. A


seguir, com um arame e um prego, marca-se no terreno a circunferência do fuste do
tubulão, com diâmetro mínimo de 90cm;

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2) Escava-se até a cota especificada em projeto. Se houver presença de água,
recorre-se ao bombeamento simultâneo da água acumulada no poço. Conforme a
NR-18, o encamisamento passou a ser sempre obrigatório, devido ao risco de
desmoronamento das paredes da escavação;

3) Faz-se o alargamento da base conforme as dimensões do projeto;

4) Verifica-se o poço: profundidade, alargamento, altura e tipo de solo da base,


limpeza;

5) Colocação da armadura, se necessária;

6) Executa-se a concretagem, lançando-se o concreto da superfície.

Execução de tubulões – preparo da base e ferragem de espera

Acidente em escavação inadequada de tubulão sem encamisamento

Tubulões Mecanizados

Os tubulões podem ser executados mecanicamente, por meio de equipamentos


também utilizados na confecção de estacas. Porém, ainda assim há a necessidade
de descida de operário para execução da sua base alargada. São moldados no local
após a escavação do solo, executados utilizando-se torres metálicas, acopladas a
caminhões, guinchos, conjunto de tração e haste de perfuração hidráulica,
constituídas de trados em sua extremidade, procedendo-se o avanço através de
prolongamento telescópico.

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A vantagem desta solução está na grande mobilidade e produção do equipamento,
permitindo a amostragem do solo escavado, atingindo a profundidade determinada
em projeto e a ausência de vibração, podendo ser executada próximo à divisa sem
dano às construções vizinhas.

Perfuratriz para confecção de fuste

4.4.2 Aplicações deTubulões a céu aberto

A seguir, são apresentadas algumas situações para cálculo de fundações em


tubulão a céu aberto.

Exemplo 1. Projete, para os pilares da figura subsequente, uma fundação em


tubulão, a uma profundidade tal que a taxa de resistência do solo seja de 0,6 MPa.
O pilar A (30x50) e o pilar B (100x30) recebem cargas, respectivamente, de 1400 e
1000 kN/m. Considere a tensão de compressão no concreto de 5 MPa, para que não
seja necessária armadura longitudinal.

O primeiro passo é determinar um centro de carga para os pilares, conforme as


expressões:

PA  xA + PB  xB 700 15 + 1000  50


xcc = =  xcc = 35,6cm
PA + PB 1700

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PA  yA + PB  yB 700  55 + 1000 15
ycc = =  ycc = 31,5cm
PA + PB 1700

O cálculo do diâmetro da base circular para o tubulão é dado por:

4Ptotal 4 1700
D= =  D = 1,90m
πσ adm π  600

E o diâmetro do seu fuste vem da equação:

A partir destes valores, determina-se a altura da base do tubulão:

Finalmente, o detalhamento em planta e em corte do tubulão será:

Exemplo 2. Projete, para os pilares da figura subsequente, fundações em tubulão, a


uma profundidade tal que a taxa de resistência do solo seja de 0,6 MPa. Os pilares 1
(20x40) e 2 (30x50) recebem cargas, respectivamente, de 1200 e 2000 kN/m.
Considere a tensão de compressão no concreto de 5 MPa.

Pilar P1:
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Área da base (verificando-se inicialmente se é possível adotar base circular):

4P1 4 1200
D1 = =  D 1 = 1,60m
 adm   600

Observa-se que a semilargura necessária para se adotar base circular seria de


80cm. Entretanto, o espaço disponível em planta entre a face direita do poço e o
eixo do pilar é de apenas 50cm, impossibilitando a utilização de base circular no
tubulão 1. Adota-se, portanto, tubulão em falsa elipse, com 1m de largura para
aproveitar ao máximo a distância existente.

Área da base de P1 (considerando base em falsa elipse):

P1 1200
A b1 = = = 2,0m 2
σ adm 600

π  b2 π 12
A b1 = + bx  + 1 x = 2  x = 1,22m
4 4

Fazendo a verificação da relação entre os lados da base, tem-se a/b = 2,22/1 = 2,22
(a/b < 2,5 ok!).

O pilar P1 terá diâmetro de fuste e altura da base do tubulão de:

Pilar P2:

A área da base do pilar P2, para ser circular, terá que ter diâmetro máximo igual à
distância entre pilares subtraída da semilargura da base 1 e do espaçamento
mínimo de 10cm entre bases:

D2 máx = (180 – 50 – 10) x 2 = 2,40m

4P2 4  2000
D2 = =  D 1 = 2,06m (ok!)
πσ adm π  600

O diâmetro de fuste e altura da base do tubulão do pilar P2 serão:

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Desta forma, do detalhamento final dos tubulões será:

T1 (duas direções) T2 (igual nas duas direções)

4.4.3 Tubulões a ar comprimido

Os tubulões a ar comprimido ou pneumáticos estão com os dias contados, pois


estarão proibidos a partir de 2024, quando se completam dois anos do início da
vigência da NR-18. Esta solução de fundação é empregada quando se deseja
executar tubulões em solos com água de esgotamento impossível. Utilizam-se de
uma câmara de equilíbrio em chapa de aço e um compressor. O princípio é manter,
pelo ar comprimido injetado, a água afastada do interior do tubulão.

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Esquema de tubulão a ar comprimido

Os processos construtivos se diferenciam conforme o tipo de camisa utilizada:

- Camisa de concreto: todo o processo de cravação da camisa, abertura e


concretagem da base é feito sob ar comprimido, pois é realizado manualmente, com
auxílio de operários;

- Camisa de aço: a cravação é feita por equipamentos a céu aberto, e apenas a


abertura e concretagem da base ocorre sob ar comprimido.

A pressão máxima de ar comprimido empregada é de 3,4 atm, razão pela qual estes
tubulões sempre tiveram profundidade limitada a cerca de 30 metros abaixo do nível
d’água. Porém, a nova limitação imposta pela NR-18 de 15 metros de profundidade
vale também para este tipo de tubulão, enquanto ainda pode ser executado. Os
equipamentos empregados em sua execução devem permitir rigorosa atenção aos
tempos de compressão e descompressão prescritos pela legislação.

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Instalação da campânula para tubulão a ar comprimido

Tubulões a ar comprimido

O cálculo da base é idêntico ao dos tubulões a céu aberto. A diferença está no


cálculo do fuste:

1) Camisa de concreto: o fuste é dimensionado como um pilar, e geralmente a


armadura é colocada na camisa de concreto. O fck mínimo deve ser de 18 MPa.

O cálculo é feito para o Estado Limite de Ruptura:

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Devido à atuação sob ar comprimido, os estribos devem resistir a pressão 30%
maior que a pressão de trabalho. Assim, o cálculo da área dos estribos será feito
pela expressão:

2) Camisa de aço: se a camisa de aço permanecer totalmente enterrada, pode-se


considerar sua seção transversal como armadura longitudinal, descontando-se
1,5mm por eventual corrosão. As espessuras mínimas das camisas são 1/4", para
diâmetros de até 100cm, e 5/16” para diâmetros superiores.

O cálculo é feito para o Estado Limite Último, com a camisa sendo a armadura
longitudinal, e para o Estado Limite de Utilização, considerando-se apenas a seção
de concreto. A carga máxima adotada no tubulão é a menor das duas.

a) E. L. Último:

b) E. L. Utilização:

Como a camisa só existe do topo da base para cima, é necessário utilizar uma
armadura de transição quando o critério de dimensionamento for o da hipótese ‘a’.
Essa armadura não leva estribos, e é cravada na base logo após a concretagem da
mesma.

Ressalte-se ainda que deve ser verificada a necessidade ou não de ancorar a


camisa metálica devido à força E resultante do empuxo, para cima, provocado pelo
ar comprimido.

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No livro “Exercícios de Fundações” (Alonso) há fórmulas para cálculo de armaduras
e um detalhamento construtivo dos tubulões a ar comprimido, tabelas de
cargas/diâmetro, empuxo devido à pressão interna, além de tabelas de
dimensionamento dos tubulões a céu aberto.

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