DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL CIV 334 – FUNDAÇÕES SEGUNDA AVALIAÇÃO 2017/2 – FUNDAÇÕES PROFUNDAS
Aluno: Tarcísio Couto Carneiro Santos
Matrícula: 75092
1ª Questão:
Enumerar os principais problemas associados ao projeto e execução de cada
um dos tipos de fundação indicado nos itens abaixo. Em cada situação indique os procedimentos alternativos para contornar os problemas executivos.
(a) Grupo de estacas escavadas em solos granulares medianamente
compactos a compactos.
As estacas cravadas em solos granulares, medianamente compactos,
causam uma densificação ou aumento na compacidade desses solos na medida em que o volume da estaca, introduzido no terreno, acarreta uma redução do índice de vazios. Se o solo já estiver muito compacto, a introdução de estaca não causará mais aumento de compacidade, mas deslocamento do solo, o que poderá, eventualmente, ser danoso para outras estacas ou estruturas já executadas. Como os solos granulares são muito permeáveis, esses efeitos ocorrem praticamente durante o processo de execução e em alguns casos durante o processo de cravação. Para contornar esses problemas, pode-se recorrer à utilização de estacas metálicas, que devido à sua pequena seção e elevada resistência, não causam grandes movimentos de solos, e consequentemente causam menor influência nas estruturas vizinhas.
(b) Grupo de estacas cravadas em solos moles coesivos e espessos (>10 m)
Solos com baixa capacidade de suporte, como os solos argilosos moles,
necessitam geralmente de muitas estacas pra promover a transferência dos esforços. Quando uma estaca é cravada em um solo compressível, ocorre um aumento na poro-pressão que se dissipa ao longo do tempo com a expulsão de água do solo e, em função deste movimento relativo entre o solo e a estaca, desenvolve-se uma força de atrito com sentido descendente, oposto ao qual apareceria normalmente em uma fundação de estaca cravada. Este atrito descendente provoca um acréscimo de carga axial atuante sobre a estaca e, consequentemente, recalques adicionais, podendo ainda fazer com que os blocos de coroamento percam a sustentação fornecida pelo solo, apoiando-se apenas nas cabeças das estacas. Como alternativa construtiva para a minimização das solicitações nas estacas, a execução da superestrutura deverá ser realizada somente após a estabilização das deformações do solo (recalque), ou seja, após a dissipação de toda a poro pressão excessiva gerada pela execução das estacas.
(c) Grupo de estacas escavadas em solos moles, espessos e com NA próximo
à superfície.
Durante a execução de estacas escavadas em solos moles pode ocorrer,
devido ao alívio das tensões, o desmoronamento das paredes da escavação. É necessário vencer a camada de solo mol, chegando numa profundidade onde o solo apresente resistência suficiente às solicitações provenientes da superestrutura, com um recalque tecnicamente tolerável. Uma das medidas que existem para alcançar estas situações é a utilização de camisas metálicas antes da escavação. Outra medida importante é a utilização de lama bentonítica para estabilização das paredes da escavação na presença de solos moles.
(d) Grupo de estacas cravadas em solos coesivos rijos
Pode ser necessário o uso de ponteira metálica ou efetuar a cravação
usando água sob pressão. Os principais problemas associados à cravação em solos coesivos rijos relacionam-se com a elevada resistência que tais solos apresentam. Tal resistência faz com que sejam necessárias elevadas energias de cravação, o que pode levar a danos nestes elementos estruturais, como quebra dos mesmos, flambagem e amassamento. Como solução, pode-se adotar estacas metálicas (mais resistentes) que possam ser cravadas em solos muito compactos.
(e) Tubulão a céu aberto em perfil de solo tipicamente siltoso ou siltoso ou silto arenoso.
Pode ser realizado com ou sem escoramento e revestimento lateral.
Para solos argilosos, que apresentam coesão, geralmente a adoção de escoramento é dispensada. Entretanto, solos arenosos, silto-arenosos, siltosos, necessitam de escoramento e revestimento lateral. Além da adoção de escoramentos, que podem ser metálicos ou de madeira, pode-se adotar o uso de equipamentos mais sofisticados que não necessitam ou já possuem um sistema próprio de escoramento.
2ª Questão:
Explique conceitualmente os princípios de transferência de carga lateral e de
ponta para estacas de “pequeno deslocamento” e estacas de “grande deslocamento”. Cite exemplos de processos executivos de estacas para cada um destes casos e os fatores que influem na determinação das parcelas de resistência lateral e de ponta. Em qual dos grupos acima você classificaria as estacas do tipo “Hélice contínua” e “Ômega”? Justifique a sua resposta.
As estacas de deslocamento são aquelas introduzidas no terreno por
meio de algum processo que não provoca a retirada de material. São do tipo moldada in loco e se caracteriza pelo deslocamento lateral do solo que é compactado na parede do furo (carga lateral) até atingir a profundidade do projeto (carga de ponta). A mobilização total da resistência por atrito lateral ao longo do fuste ocorre com pequenos deslocamentos. Entretanto, para se atingir a mobilização da reação de ponta, são necessários deslocamentos bem maiores, principalmente em estacas escavadas. Em geral, os deslocamentos totais são expressos em percentuais associados ao diâmetro das estacas. Estacas Cravadas com Grande Deslocamento são aquelas introduzidas no solo sem a retirada do solo - provoca assim um grande deslocamento do solo adjacente a estaca. Temos como principais exemplos as estacas pré- moldadas de concreto, de madeira, estacas Franki, entre outras. As estacas de madeira podem ser cravadas com um martelo de queda livre desde que a relação do peso do pilão e o peso da estaca não seja menor do que 1,0, devendo ser a maior possível A ponta da estaca de madeira deve ter diâmetro maior do que 15 cm e deve ser protegida com ponteira de aço caso a estaca necessitar penetrar ou atravessar camadas resistentes de solo. O topo da estaca deve ter diâmetro maior do que 25 cm e devem ser protegidos para minimizar danos durante a cravação. A estaca Franki é um tipo de fundação profunda que apresenta grande capacidade de carga e pode alcançar grandes profundidades. São executadas enchendo-se de concreto as perfurações executadas por meio da cravação de um tubo de ponta fechada com o auxílio de um bate-estacas. A armadura e o concreto são inseridos na estaca à medida que o tubo vai sendo retirado do solo. Estacas Cravadas com Pequeno Deslocamento também são introduzidas no solo sem a retirada do solo, porem provocando um pequeno deslocamento do solo adjacente a estaca. Refere-se a estacas esbeltas. Temos como principais exemplos às estacas metálicas, mega, entre outras. Estacas metálicas podem ser por perfis laminados ou soldados, tubos de chapas dobradas (seção circular, quadrada ou retangular), tubo sem costura e trilhos. Podem ser cravadas com um martelo de queda livre desde que a relação do peso do pilão e o peso da estaca não seja menor do que 0,5 e nem o martelo tenha peso inferior a 10 KN. A estaca Mega (“Estaconsolida”) é constituída por tubos de concreto simples ou armado, vazados, com diâmetro externo de 25 cm e interno de 8 cm. O comprimento de cada tubo é de 50 cm. A estaca é formada pela justaposição vertical de diversos tubos, cravados no terreno por meio de um macaco hidráulico acionado por uma bomba injetora de óleo. Classificação:
Grande deslocamento: A estaca ômega é uma estaca com o fuste
moldado no solo. Durante a sua implantação no solo, dispositivos especiais no trado do processo provocam uma ação dupla de deslocamento do solo, inicialmente durante a fase de perfuração e posteriormente durante a fase de concretagem do fuste. Não há escavação (retirada do solo) durante a execução dessa estaca. Pequeno deslocamento: A estaca hélice contínua por ser executada no solo sem a retirada do solo adjacente a estaca. Não provocam assim nenhum deslocamento adjacente quando da execução da estaca
3ª Questão:
Descreva resumidamente os principais métodos e/ou teorias de cálculo da
capacidade de carga de fundações profundas (Métodos clássicos baseados nas teorias de capacidade de carga, Métodos semi-empíricos baseados em correlações com resultados de ensaios de campo, e provas de carga estática e dinâmica). Indique as condições de aplicabilidade, os parâmetros necessários em cada método ou teoria e a forma de obtenção destes parâmetros. Utilize gráficos e esquemas para ilustrar a sua resposta.
Capacidade de carga é o valor nominal de carga que, se aplicada à
estaca isolada, causa a ruptura ou o escoamento do solo e/ou recalques excessivos. Para cálculo dessa capacidade existem três meios: fórmulas teóricas, provas de carga e correlações. As formulas teóricas são baseadas em teorias difundidas no meio técnico e reduzidas a um fator de segurança. Os métodos teóricos podem ser analíticos (teorias de capacidade de carga) nos domínios de validade de sua aplicação, que contemplem todas as particularidades do projeto, inclusive natureza do carregamento (drenado ou não drenado). O ensaio da prova de carga (estático ou dinâmico) resulta em uma curva carga x recalque, que a partir dela é possível determinar a capacidade de carga. A figura abaixo apresenta exemplos de gráficos obtidos a partir destes ensaios. Figura 1 - Prova de Carga, estático.
Figura 2 – Prova de Carga, dinâmico.
Por conta da complexidade dos parâmetros dos métodos teóricos,
muitos pesquisadores desenvolveram métodos semi-empíricos baseados em estudos estatísticos, retroanálise de provas de carga e em sua própria experiência, levando em consideração as características do solo de determinada região. As correlações são feitas usando dados do cone estático, dados do SPT ou fórmulas dinâmicas. Para o cone estático, é feito um ensaio que consiste basicamente na penetração de um aparelho com ponta cônica no solo. São medidas as resistências de ponta e lateral de 20 em 20cm. Com esses dois valores é possível calcular a carga de ruptura. Em solos arenosos ocorre uma compactação maior da areia em torno das estacas elevando os valores de resistência de ponta e lateral. Na correlação com o ensaio SPT, existem vários métodos de cálculo, dentre eles o de Meyerhof, o de Aoki-Velloso e o de Decourt-Quaresma. No método de Aoki- Velloso, através da fórmula apresentada na Figura 3, tendo os valores de área lateral, área da ponta, qp (caso não tenha resultados do ensaio de cone pode-se usar a correlação q = K.N), fs (α.qp) e alguns coeficientes estabelecidos pelo método, é possível encontrar a capacidade de carga. Os parâmetros K e alfa são obtidos em função do tipo de solo.
Figura 3 - Esquema de uma fundação profunda.
As fórmulas dinâmicas se baseiam na ideia de que o esforço para cravar
uma estaca depende da resistência que o solo oferece para cravar a mesma. Essas fórmulas são baseadas na teoria de choques e na conservação da energia. Parâmetros como o peso da estaca, velocidade de cravação, nega e altura de queda do martelo são algumas das informações necessárias para calculo da capacidade de carga.
4ª Questão:
Quais os principais cuidados a serem observados no projeto e controle de
estaqueamento para os seguintes tipos de fundação:
a) Estacas escavadas com e sem base alargada: escavação manual e por
trado mecânico. Para estacas escavadas o controle geotécnico é feito analisando se o material escavado mantém as características do material encontrado na sondagem mais próxima, bem como por comparação entre o volume previsto e o volume utilizado na execução. No projeto, é importante saber da topografia do terreno, da presença de outras fundações próximas e outros.
b) Estacas pré-moldadas de concreto armado
Deve-se observar atentamente o tipo de martelo, peso e altura máxima de queda do martelo. O controle desse tipo de estaca pode ser feito comparando a nega para estacas com cargas e comprimentos próximos. Além disso, podem ser feito ensaios de prova de carga estáticos ou estudos do repique elástico. É importante saber que para solos com Nspt superior a 15, esse tipo de estaca começa a apresentar dificuldades de cravação podendo até quebrar. Antes da cravação, deve-se notar a presença de fissuras significativas que podem atrapalhar a vida útil da estaca. Inconveniente: tem comprimentos pré estabelecidos, precisando de emendas.
c) Estacas pré-moldadas de aço (perfis ou tubulares)
Deve-se observar atentamente o tipo de martelo, peso e altura máxima de queda. Detalhes como retilíneidade do eixo (perperdicularidade topo e eixo). Verificar a possibilidade de corrosão no aço. Vantagem em atravessar terrenos resistentes sem romper. Quando cravadas em solos de baixa resistência existe a possibilidade de encurvamento do eixo.
d) Estacas escavadas tipo hélice contínua
Para estacas em hélice contínua, deve-se observar o valor do torque aplicado e o valor da pressão de bombeamento do concreto. Esse tipo de estaca possui o inconveniente do elevado custo de mobilização do equipamento. Podem atingir profundidades superiores a 20m e Nspt entre 30 e 50. Vantagem: ausência de vibração grande rendimento 5ª Questão Para o perfil de solos apresentado no relatório de sondagem SPT, indique qual o tipo de fundação a ser utilizado considerando as seguintes situações: 1. Edificação residencial de 4 pavimentos com carga máxima por pilar da ordem de 700 kN; 2. Edificação residencial de 10 pavimentos com carga máxima por pilar de 2890 Kn; 3. Faça uma análise do problema anterior (item 2) considerando que não existe a presença do Nível da água. Nota: Considerar as devidas justificativas para o tipo de fundação escolhido, a cota de assentamento da base da fundação e as dimensões estimadas do(s) elementos de fundação a serem utilizados em cada caso.
1. Para um pilar com carga da ordem 700 KN é possível a construção de
uma fundação utilizando estacas Raiz (com o uso de camisa metálica, para proteção contra o lençol freático), visto que a capacidade de suporte deste modelo de estaca varia de 100 kN a 1300 kN. Apesar de o lençol freático estar presente a 4,90 m não é aconselhável a utilização do solo, existente acima desta cota, como um solo de apoio para a estaca, visto que se trata de um solo com baixo valor de Nspt (Nspt de 1 a 4 – solo mole). Dimensões de 25,0 cm de diâmetro e 14,0 m de profundidade possivelmente atenderiam ao projeto. Além de atender estruturalmente, as estacas raiz apresentam vantagens como vibração e ruídos de baixa intensidade, execução com máquinas de perfuração reduzida, com possibilidade de acesso mesmo em lugares muito restritos. 2. Uma boa solução para essa edificação seria a estaca metálica já que a carga do pilar possui valor elevado (2890 kN) e portanto a estaca adotada terá que atingir grandes profundidades. As estacas metálicas são capazes de atingir maiores valores de Nspt que são encontrados em profundidades maiores. Por ser uma estaca cravada com capacidade de suporte variando de 600 kN a 5000 kN. e não apresenta problemas quanto a presença do nível d’água, as estacas metálicas são uma boa solução para o problema. A cota de assentamento pode estar situada a 21,0 m (impenetrável a percussão) e o perfil pode ser I ou H. Para uma edificação de 10 pavimentos, outra vantagem, se encontra na facilidade do transporte e manuseio das peças, ocupando pouco espaço no canteiro. 3. Quando não há a presença de nível d’água é possível utilizar estacas cravadas ou estacas escavadas desde que sejam capazes de atingir camadas de solos resistentes e grandes profundidades. Uma boa escolha seria a estaca hélice contínua, pois apresenta rapidez de execução e atende a solicitação do pilar. Esse tipo de estaca apresenta vantagens em relação a pré-moldada no que diz respeito a necessidade de emendas, a possibilidade de danificação da estaca na cravação, a redução de ruídos na execução e por apresentar uma capacidade de carga mais elevada. Como solução, poderia ser utilizada então, estaca em hélice com diâmetro de 80,0 cm e cota de assentamento de 21,0 m.