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1.

A arquitetura como ferramenta de construção da cidadania

O termo arquitetura, em sua etimologia, é formado pela união dos termos gregos arché e tekton, o
primeiro termo pode ser denominado como algo antigo, de origem ou princípio, o segundo termo remete
a construção, a parte onde acontece a materialização, “transformar algo em realidade”.

A frase de Louis Kahn expressa muito bem como a arquitetura transforma a natureza: “o que o homem
faz deve responder às leis da natureza. O que a natureza faz, faz sem o homem, e o que o homem faz, a
natureza não pode fazer sem ele”

Logo pensamos na forma em que se materializa o princípio, sendo a partir da construção de simples
paredes, teto e piso. Mas o que realmente importa quando o imaginário se transforma em realidade são
os valores aplicados, a função, o significado que conecta desde o princípio até a materialização.

“O homem habita, portanto, quando é capaz de se orientar em um ambiente e de se identificar com o


mesmo. ” O senso de habitar é muito mais que simplesmente buscar refúgio, é a conexão, criar uma
identidade que traga o sentimento de pertencer àquele local, não apenas morar.

Sendo assim o objetivo da arquitetura é dar ao homem a possibilidade de projetar sua identidade.

Falando em escala micro, essa identidade seriam nossas casas, onde o sentimento de liberdade individual
está em maior evidência, logo na escala macro, partimos para os espaços públicos, onde é possível
identificar a identidade de um todo, um grupo maior, cheio de memórias e cultura.

1.1. A identidade do espaço público (Praça)

A manifestação da sua identidade funcional, o espaço público é o fenômeno que torna visível os
valores e a cultura de uma determinada comunidade.

Logo se pensarmos em um símbolo no espaço público que pode transmitir essa imagem é a
praça, que é dotado de maior importância e valor simbólico em todas as culturas nas
comunidades.

Por isso a praça está sempre presente junto aos mais importantes equipamentos públicos,
palácios de governo, teatros e igrejas.

“Estabelecimento de um vínculo de identidade com o indivíduo é a base da relação de


reciprocidade. ” Autor

A praça, portanto, tem o papel simbólico de representar o acordo sobre o qual se baseia a
convivência em sociedade, e que exige uma impostação responsável por parte do indivíduo. Ela
é o lugar da cidadania, o espaço de mediação entre um cidadão e os demais, o qual tem sua
existência e direitos reconhecidos enquanto respeita exatamente os mesmos termos em relação
ao outro.

O espaço público é o reflexo direto da manutenção ou rompimento de uma cultura que suporte
o exercício da cidadania.

1.2. O Urbanismo

Urbanismo aplicado a partir do século XX sacrificou a qualidade e a importância dos espaços


públicos, e que, nas grandes cidades, a maioria das praças se tornaram o local de reunião de
todos os comportamentos viciosos e degradantes, justamente opostos à noção de cidadania.

No pós-guerra vemos a perda da importância do espaço e o as pessoas perdem o senso de


comunidade e de cidadania, transformando o homem em massa e não em cidadão.
1.3. Comunidade de Paraíso

O bairro paraíso, localizado em Horizontina no Rio Grande do Sul, é um exemplo de com o


abandono do espaço público afeta a comunidade. Na cidade, a organização não governamental
Global Communities (GC), promove, desde 2015, um projeto voltado para comunidades de baixa
renda chamado “Semeando o Futuro”. O projeto começou identificando comunidades em
situações de vulnerabilidade social, e incentivou a criação de associações de bairro e criou
parcerias com as faculdades da cidade para oferecer cursos profissionalizantes aos moradores.

No Bairro Paraíso, a GC se deparou com a intenção de executar uma revitalização na praça do


bairro, em colaboração com o escritório que faz o texto: Boa Arquitetura.

O bairro é razoavelmente isolado, seus moradores possuem um perfil de baixa renda e


escolaridade, o transporte para o centro é feito por ônibus, com baixa frequência, e as crianças
devem se deslocar até outras localidades para ir à aula, visto que a escola do bairro foi fechada
já há alguns anos.

A praça e o edifício da escola encontram-se abandonados. A praça está abandonada em todos


os aspectos, sem iluminação que permita seu uso noturno, sem pavimentação que permita
caminhar em dias úmidos e sem nenhum suporte para o convívio entre os moradores.

O resultado disso é o sentimento de não pertencimento, causa um cenário de não cidadania.

1.4. O projeto

A princípio o projeto buscava conectar a população ao seu meio, sendo assim envolvendo a
comunidade na concepção da praça. Para que assim a comunidade desenvolvesse o sentimento
de responsabilidade e expressassem o que eles realmente queriam.

Crianças e adultos desenharam e apresentaram suas justificativas para as necessidades


alavancadas, com intuito de construir um espaço que transbordasse cidadania.

O projeto final aproveitou bastante da topografia, criando espaços de esportes, recreação e de


integração. A escola em ruínas, será transformada no principal catalisador do sentido de
cidadania, o Centro de Integração, dando o suporte necessário para que todas as atividades
comunitárias que precisem. criando uma relação de identidade com os moradores do bairro.

1.5. A atuação da Arq:

A arquitetura, nesse caso, atua como catalisador das relações entre usuário e espaço capazes
de reforçar a apreensão de um sentido de comunidade e, portanto, de cidadania, baseada sobre
o indivíduo responsabilizado.

O projeto para a praça do Bairro Paraíso nos mostra o importante papel que a arquitetura tem
na retomada de valores humanos fundamentais na dialética de nossa realidade urbana

A cidadania só pode existir se for garantida a existência do cidadão, e esse só existe como tal se
salvaguardar sua identidade funcional.
Perguntas

1. A arquitetura e urbanismo são os meios de transformações mais puros, possibilitado


que um simples conceito e/ou problema seja resolvido e materializado, dando ao
homem a possibilidade de projetar sua identidade. Falando em escala micro, essa
identidade seriam nossas casas, onde o sentimento de liberdade individual está em
maior evidência, logo na escala macro, partimos para os espaços públicos, onde é
possível identificar a identidade de um todo, um grupo maior, cheio de memórias e
cultura.
2. O arquiteto e urbanista são os responsáveis por transformar e materializar um sonho,
independente da escala, mostrando a necessidade de tudo ter um sentido, não só
levantar 4 paredes e chamar de casa, mas sim conectar aquela pessoa ao local em que
habita, fazendo com que o sentimento de pertencimento seja predominante. Em uma
escala de sociedade, a cidadania é implantada quando o morador tem o senso de
responsabilidade daquele espaço público, mas para que esse senso seja alcançado o
usuário deve ser capaz de se identificar com aquele lugar, por isso nós como Arquitetos
e Urbanistas temos um papel catalisador em meio a cidadania, onde o morador se sinta
um cidadão digno de habitar e cuidar do local, criando o sentimento de comunidade.
3. O cotidiano muitas vezes passa despercebido ao meio das preocupações e da pressa do
dia a dia, justamente por ser uma rotina, mas ver a cidade em funcionamento é
fascinante, tanta correria, os carros focados em seu destino final, mas quase nunca o
simples e bonito é notado, pois é engolido pela rapidez do cotidiano.
4. Sim, observar e identificar os fatores que geram a vida urbana, seus problemas e suas
potencialidades é algo de extrema importância. Mas deixo a falhar quando o assunto é
realmente entrar em conexão com a cidade.

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