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construtivo.
As lógicas mercadológicas no desenho da cidade como respaldo histórico da
elitização da “cidade formal”.
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a. Tema.
“A rua é um universo de múltiplos eventos e relações. A
expressão “alma da rua” significa um conjunto de veículos, transeuntes,
encontros, trabalhos, jogos, festas e devoções. Rua tem caráter e podem ser
agitadas, tranquilas, sedes de turmas, ponto e territórios. A par de caminhos,
são locais onde a vida social acontece ao ritmo do fluxo constante que mistura
tudo. Um “microssomo real” de espaços e relações que tem a ver com repouso
e movimento, com dentro e fora, com intimidade e exposição e assim por
diante. Que serve para referenciar bons e maus lugares.” (SANTOS, 1985,
p.76)
Como estão e por quais elementos morfológicos são compostos hoje os espaços coletivos
da cidade de Salvador? Quais são os agentes determinantes na caracterização de espaços bons
ou ruins e, principalmente, qual o respaldo social do uso e manifestação desses espaços na
sociedade? Existe relação social no espaço hoje conformado pelas arquiteturas individuais de lote?
Ao final, para quem(ns) se constrói a cidade?
No estudo dos elementos que compõem os limites entre público e privado, busca também
respostas na compreensão de como se compõem esses limites, entendendo a cidade como parte
de um processo histórico de acúmulo e sobreposição de diferentes capas arquitetônicas.
Para estudar espaços públicos ou coletivos, se faz pertinente algumas definições que
identifiquem de que elemento morfológico urbano de que estamos falando, já que como tudo em
arquitetura e urbanismo existe uma medida parte de um sistema normalizado, é assim de interesse
da presente investigação falar sobre espaços concretos que se entendem como parte da
continuidade urbana. Porém o estudo de espaços coletivos em si abre espaço para uma
ambiguidade conceitual, podendo ser esclarecidos com uma pergunta: Seriam espaços coletivos,
públicos ou privados?
Reforçando essa definição, os espaços públicos são os espaços fluidos da cidade, são os
espaços da continuidade, constituídos por suas ruas, avenidas, calçadas e praças. O espaço
público é definido por Solá-Morales em seu trabalho “Ações estratégicas de reforço do centro” parte
do livro “Os centros das Metrópoles” do programa Viva o Centro de 2001, como objeto de
“propriedade administrativa”, sendo assim definido a partir da identificação do agente administrativo
de tal espaço.
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O espaço coletivo, por sua vez, é onde, que por meio de encontro de grupos ou pessoas, as
atividades e manifestações acontecem. Portanto os espaços coletivos podem ser, do ponto de vista
administrativo, “privados” ou “públicos”.
Essas atividades, entre outras, enriquecem o ambiente urbano, uma vez público, tomado
por atividades coletivas, que desarmam inseguranças nas quais conexões emotivas são
constantemente reafirmadas pelo usuário em seu espaço de lazer. Sobre espaços coletivos Solá-
Morales acrescenta:
Portanto ao se discutir espaços coletivos não podemos resumir nossa análise às medidas
do espaço administrativo-físico-morfológico. Ao defini-lo como palco do desenvolvimento da vida
coletiva, o espaço ganha assim um significado social. Ruth Cardoso em seu texto “Identidades e
Convivência: o centro como ponto de encontro” descreve o potencial social da rua ao ser o local de
encontro e manifestações. Um espaço democrático de convivência de diferentes grupos com
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diferentes identidades, “onde se criam formas de convivência perfeitamente aceitáveis” e que na
sua potencial natureza mestiça, teria o poder de criar, então, espaços públicos desarmados.
Como mencionado anteriormente é de interesse desse estudo falar dos limites que
desenham as relações morfológicas do espaço, um espaço possível de ser medido e estudado por
meio de projeto. A investigação gostaria de analisar algumas ferramentas projetuais utilizadas em
diferentes recortes históricos que determinavam esses limites entre o público e privado, espaços
físicos morfológicos que ainda levam em consideração a extensão social que o espaço urbano tem
na formação da sociedade, na direta relação com a sensação de segurança urbana e principalmente
entendido como resultado endocêntrico de uma manifestação sociológica.
Agora, analisar esses limites que desenham a cidade de hoje, resultado de processos
histórico-políticos, precisamos identificar quais ferramentas urbanísticas possibilitaram as
transformações morfológicas da cidade no espaço-tempo. A cidade ou o espaço urbano pode ser
analisado como um único órgão contínuo de conexão entre áreas edificadas? Já que estamos
falando de desenho da cidade, finalmente, quem desenha o projeto da cidade?
Se formos entender a cidade a partir das leis que normalizam o uso do solo urbano (no
caso do Brasil e regionalmente do município de Salvador, que é objeto de estudo do presente
trabalho), chegaríamos ao zoneamento urbano que normaliza e rege a construção da cidade a partir
do parcelamento da terra, que administra e gera renda através da arrecadação de imposto cobrada
em cima do lote, este que pode ser de administração privada ou pública.
Ao mencionar essas condicionantes da vida urbana, Jacobs desmistifica essa rígida leitura
sobre a cidade que a generaliza ao mesmo tempo que determina seu uso pelo zoneamento do lote.
Essa leitura, parte dos planos urbanísticos presente nas principais cidades Brasileiras, fala da
funcionalidade do espaço e se preocupa com diretrizes higienistas ao determinar limites mínimos
nos padrões construtivos do lote, bem como recuos mínimos, índices de permeabilidade,
coeficientes de aproveitamento do solo urbano, índices de ocupação máxima etc. Mas não assume
nenhum papel ao entender como o espaço é composto, como se darão os limites entre o público e
o privado.
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O espaço morfológico, cenário de acontecimentos heterogêneos descritos por Jacobs,
acontece/manifesta em um palco centenário gerado no acumulo de arquiteturas no decorrer da
história de uma cidade. Essa qualificação do espaço que nossos planos urbanos não abordam,
quando muito geram dados pontuais do estado de conservação da condição das edificações
locadas em determinado espaço urbano, foi discutido no trabalho de 1978 de Colin Rowe e Fred
Koetter intitulado “Cidade Collage”. O trabalho de Rowe e Koetter constrói uma crítica ao movimento
moderno e propõem um novo modo de analisar o tecido urbano ao se basear no conceito de “capas
arquitetônicas” e sua construção histórica. Rowe e Koetter se apoiam no argumento da construção
de uma tradição arquitetônica mediante a soma de capas sobrepostas, criando, assim, o espaço
urbano. Desse modo, o estudo se propõe analisar a arquitetura e urbanismo
moderno/funcionalista/higienista, que a sua vez, se posicionam de forma a rechaçar a tradição e a
história de uma cidade, e para isso, baseavam-se em desconectar-se da tradição e do passado.
Esse curioso posicionamento que não somente entende o espaço como heterogêneo, mas
além disso, identifica e valida a existência de um somado natural de diferentes arquiteturas que
transformam constantemente o espaço urbano. É fundamental para a presente análise, que parte
com o interesse de investigar as transformações históricas dos limites físicos na cidade,
compreender por meio de que instrumentos projetuais se dão as relações de público-privado, nas
diferentes capas arquitetônicas.
“Já que sem profecia não existe esperança, porém sem memória não pode haver
comunicação”, esse paradoxo parece tão atual nos dias de hoje, e mesmo que escrito em 1978,
segue uma condição a qual nós como sociedade estamos sempre tencionando. A leitura particular
de Rowe e Koetter sob a cidade reconhece diferentes atores que se somam e compõem a cidade.
O argumento fundamentado na compreensão histórica da construção da cidade, inclusive, cria
meios para que se entenda a importância sociocultural na construção da mesma.
O projeto busca estudar elementos projetuais como muros, muretas, gradis, jardins, meio
fios, etc. que compõem projetualmente os limites entre projeto e cidade, em específico, como esses
limites são hoje desenhados pela capa imobiliária. Se propõe compreender a lógica construtiva e
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sua evolução no passar dos séculos e os principais agentes determinantes de projeto lesgislativo,
do conjunto edificado existente. A cidade de Salvador, é composta por bairros históricos da
fundação do país, que fazem assim o papel de registrar os processos históricos. Espaços estes que
relatam o início da colonização luso no novo continente e são marcados pelos contrastes da
hierarquia vertical social estabelecida já em sua gênesis. Entender a arquitetura “colonial” como
comumente nomeada é descobrir uma quantidade ampla de representações e plasticidades que
compõe a arquitetura que os “criolos”¹ responsáveis pela colonização e criação desse novo mundo
produziram nesse sitio. Registra também a diferença social dos imigrantes presentes na cidade e
no momento fundacional do país.
c. Justificativa
Retomo aqui o que significa a brevemente mencionada dicotomia social entre colônia e
colonizados e o respaldo na nossa cidade. O que representa essa relação sociológica de sociedade
mestiça e colonizadores no desenho das nossas cidades? Como se desenharam, durante os
séculos, os limites das capas arquitetônicas e qual o resultado desse desenho no espaço coletivo?
Já nos primórdios da colonização portuguesa, se tenta criar uma “aldeia portuguesa”. Essa
postura ao abordar o colonizado é decisiva na repercussão de anos de transformação que marcarão
o planejamento das nossas cidades. A solução para o colonizador, neste caso, e podendo se
estender à experiência do cone sul de colonização (tanto das coroas portuguesas como
espanholas), está em uma aproximação idealizada da vida nos países originários. Cristian
Fernández Cox classifica essa postura como uma “Atitude exocêntrica”, onde comenta:
Importante distinguir aqui que, diferente da coroa espanhola, a coroa Portuguesa exerceu
uma presença ainda mais forte ao decidir mudar-se para o Brasil no início do século 19. As relações
de posturas exógenas ficam ainda mais interessantes, que no caso de uma colonizadora recém-
chegada em território americano, cria tensões ainda mais significativas com o imaginário europeu
que só existia em forma de memória. E considerando importantes movimentos históricos
reformistas, no campo das artes e engenharia, avançando ao século XX, a importante presença de
Le Corbusier no continente sul-americano que marca profundamente o início do modernismo sul-
americano.
Assim que, para voltar ao tema do desenho passaremos a analisar diferentes recortes
urbanos parte de processos históricos da cidade, chegando à capa mais desconexa historicamente,
a recente capa desenhada pela especulação imobiliária. Menciona-se como desconexo histórico
por estabelecer um rompimento da cidade no seu crescimento por capas e referências históricas
na criação dos espaços.
A leitura de Rowe e Koetter em análise à cidade me parece ainda mais curiosa em espaços
onde a ação imobiliária foi tão brusca que representou a criação de novos bairros em um curto
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espaço de tempo. De acordo com dados da SUCOM de 2009, a Prefeitura Municipal de Salvador
licenciou entre os anos de 2001 a 2009, 6.972 empreendimentos imobiliários, correspondendo em
25.058.577,84 m² de área construída, sendo que o uso residencial representa 53,29% da
distribuição de empreendimentos construídos, uso misto 21,24%, comércio e serviços 9,03%, uso
especial e conjugado representam respectivamente 7,61% e 7,94% e finalmente uso institucional
apenas 0,75%.
Arquiteto Chileno Eduardo Bresciani em seu texto para Achitectural Design de 1999
nomeado “Arquitectura inmobiliaria o inmo v iliaria?” exemplifica que a tipificação da lógica imobiliária
acontece devido a três variáveis: a localização, as ‘facilities’, e o valor de venda. Erminia Maricato
adiciona ao discutir a lógica imobiliária quando comenta:
Bresciani, a sua vez, retoma o tema do desenho ao apontar que tanto os “programas não
diferem entre si e tanto a linguagem arquitetônica como as formas construídas são reiterativas”.
Portanto, quais são as lógicas compositivas dessa “capa arquitetônica” imobiliária, que representou
(nos últimos 30 anos) a criação de tantos novos espaços na cidade de Salvador?!
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esse sistema privado de construção se baseia em um arranje numérico de variáveis, que adaptam
os projetos à uma abstração quantitativa de mercado.
Se as lógicas de acúmulo passam a ditar o desenho desses novos edifícios que constroem
a cidade, o bem de consumo que nos é vendido precisa ser estudado com fim de entender como
esses edifícios fazem do espaço construído o negócio da cidade, bem como os instrumentos
públicos que possibilitam a ação dessa lógica imobiliária.
O discutido por Folin acima, apoiado no argumento de Aymonino, tece uma crítica à lógica
construtiva que abstrai o usuário do processo compositivo no desenho da cidade. A criação dessa
“cidade genérica”, que não cria soluções à base dos problemas sociais existentes, e que desenha
a partir da tipificação do usuário e suas famílias “padronizadas”, deixa hoje seu marco na cidade
por meio de bairros onde as ruas, e seus possíveis espaços coletivos, são meros conectores. Sobre
o tema Richard Sennett comenta que “a máquina significava que as diferenças sociais – diferenças
importantes, necessárias para se saber da própria sobrevivência, num meio de estranhos em rápida
expansão – tornavam-se ocultas, e o estranho cada vez mais intratável, com um mistério” (1988).
d. Objetivos
Nessa lógica construtiva imobiliária (capitalista) o espaço coletivo, então, se torna um bem
de consumo, onde por meio de propagandas é vendido como área de lazer devidamente protegida
das inseguranças urbanas. O coletivo se torna uma das maiores facilites utilizadas pelo mercado
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imobiliário, que vende lazer e segurança em seu produto. Retomamos aqui ao desenho dos limites
da parcela, agora na pretensão de estabelecer o desenho da cidade a partir dessa lógica
comentada. Se o que nos protege do desconhecido são muros e grades, em um único local encontro
um público de mesmo perfil financeiro, de poder aquisitivo semelhante, quem são esses
desconhecidos?
- Estudar elementos compositivos projetuais dos limites entre privado e coletivo, e seu
papel no conjunto de capas que compõem o coletivo urbano;
- Compreender o exercício imobiliário e seu papel como compositor desse conjunto urbano
do limite em defesa de interesses mercadológicos;
e. Metodología
f. Cronograma
Tendo cumprido 10 dos 20 créditos em disciplinas do curso enquanto aluno especial (nas
disciplinas: Arquitetura e Urbanismo Contemporâneo na América Latina, CR=03, Historiografia e
Crítica da Arquitetura Moderna, CR=03 e Teorias da Cidade, CR=04) o objetivo é concluir os demais
créditos de disciplinas do curso até o fim do primeiro ano como aluno regular do programa de
Doutorado. Distribuindo então, os créditos de Trabalhos Programados (CR=06) no desenvolvimento
da pesquisa acompanhando o cronograma de preparação para os exames de qualificação I e II,
bem como previstos em regimento interno do PPGAU. Com a bagagem dos cursos e
aproveitamento de crédito como aluno especial, o objetivo é concluir pesquisa e tese anterior aos 8
semestres permitidos para o programa de Doutorado.
g. Referências bibliográficas:
FERNÁNDEZ Cox, Cristián. Hacia una modernidad apropriada: obstáculos y tareas internas.
Em: “Nueva Arquitectura en America Latina: presente y futuro”. GG/México, 1990. pp.74
FIGUEIREDO, Glória Cecília dos Santos. Produção imobiliária da cidade de Salvador: entre
o público e o privado. Salvador, BA: EDUFBA, 2015. p.284-285 ISBN 97823213435 (broch.).
FOLIN, Marino. La ciudad del capital y otros escritos. Editora GG Ediciones. Mexico, D.F.
1977.
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IOMMI, Godofredo. CRUZ, Alberto. CRUZ, Fabio. EYQUEM, Miguel. DEGUY, Michel.
SIMONS, Edison. Amereida. Editorial Cooperativa Lambda, Santiago do Chile, 1967.
JACOBS, Jane. Muerte y vida de las grandes ciudades. Capitán Swing Libros. Salamanca
España, 2011 [título original: The Death
ROWE, Colin. KOETTER, Fred. Ciudad Collage. GG Prints, 1998, Barcelona [1ª edición 1981]
pp. 64
SANTOS, Carlos Nelson F. dos. Quando a rua vira casa. São Paulo, Projeto, 1985.
SENNETT, Richard. Construir e Habitar. Ética para uma cidade aberta. Rio de Janeiro: Editora
Record, 2018.
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