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Compreensões originadas na pesquisa “O Território da ocupação: formação, cotidiano e suas
relações com a cidade”, realizada com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul
(FAPERGS) e integrada à rede de pesquisadores Observatório das Metrópoles. Participam da
pesquisa os bolsistas Amanda Christina Bahi de Souza Gottardo, Cristiano Correia Teixeira e Rodrigo
Costa de Aguiar.
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Professor Adjunto do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); e Bolsista de Produtividade em Pesquisa
do CNPq.
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posição na hierarquia de poder são os fatores causadores da segregação e da
aglomeração. Podem agir isoladamente, sobrepor-se e contradizer-se mutuamente. Muito
embora considere que o papel do espaço não é constante, compreende-o como
“socialmente construído; [e] o seu papel se altera com as alterações nas constelações
sociais: cultural, funcional, de status e poder” (MARCUSE, op. cit., p. 27). Assim, podemos
dizer que as relações estão impregnadas desse se fazer espaço, não se tratando somente
de uma materialidade física.
Com isso, busca-se entender a dinâmica da segregação constituída pela
ocupação “irregular” da cidade. Ela estabelece uma relação controvertida com a cidade, à
medida que diz respeito a sua busca (de todos os seus atributos) por parte de sujeitos que
não a têm integralmente (como endereço, direitos e serviços). Do lado da cidade, o diálogo
envolve a sua organização, que compreende iniciativas de regulação, contenção e
urbanização.
Para esta investigação, estamos considerando as áreas de ocupação irregular
como territórios, por uma razão fundamental: mesmo que a sua produção deva ser
concebida num quadro relacional, que tem a ver com a produção do espaço urbano, trata-se
também de um tipo de relação mais universal com o espaço, da ação de tomá-lo em posse
e utilizar isso como uma estratégia de conquista. E, do lado da cidade, ações como
contenção, remoção, regularização fundiária também devem ser consideradas como prática
territorial, à medida que se produzem espaços controlados, extinguidos, transformados ou
incorporados no espaço social da cidade.
Para explorar a discussão, o texto que segue estrutura-se em três tópicos: uma
discussão sobre a situação geral em contexto, com ênfase no espaço social da cidade; uma
apresentação geral da ocupação “irregular” e algumas situações em estudo, num esforço de
diálogo entre teoria e prática; e considerações resultantes das observações da pesquisa em
andamento.
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máquina que deva funcionar com fluidez; é uma comunidade humana, uma
coletividade territorial, uma população estabelecida de maneira mais ou
menos duradoura em um espaço até certo ponto bem delimitado, cujos
membros mantêm relações de interdependência regidas por determinadas
instituições.
Em tese, não há o que se objetar, pois de fato nos relacionamos nesse espaço,
que possui qualidades específicas de um modo de viver urbano, pessoas e grupos com
vidas particulares independentes, articuladas por relações e instituições típicas, nascidas e
próprias desse meio. Não obstante, isso também é uma situação ideal. É ao mesmo tempo
o que se busca, o que é e o que se acredita. Tudo isso, porém, não exime a possibilidade de
não ser encontrado. É difícil admitir que existam espaços não partícipes do urbano, quando
já não pertencem ao rural e se localizam na esfera de domínio territorial – portanto, jurídico
– da cidade. O problema é que esse qualitativo de territorial em boa medida se dá por suas
metades: em parte é paisagem, em parte outro espaço, outra territorialidade.
Como se expôs mais acima, as áreas de ocupação irregular são vistas por nós
como uma materialização no espaço das ações de sujeitos que pretendem pertencer à
cidade, usufruir de seus atributos. Nossas realidades mostram que os protagonistas dessas
territorialidades nem sempre a têm e, às vezes, a têm aos pedaços. Os espaços segregados
em que resultam nos fazem entender que a simples localização na cidade não dá a seus
ocupantes a plenitude desse usufruto, embora seja um caminho para isso.
A contradição do espaço vai se revelando dessa maneira, como expõe Henri
Lefebvre (2008a, p. 102):
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como renda, instrução, atividade ocupacional, relações institucionais, conhecimento formal e
simbólico.
Para uma representação desse espaço social em Porto Alegre, utilizamos uma
tipologia socioespacial3 que considera fundamentalmente a composição do território por
categorias sócio-ocupacionais. Uma investigação preliminar sobre a formatação da
metodologia utilizada para essa exposição constatou a forte correlação entre as hierarquias
das posições ocupacionais e das posições dos ocupados na escala de distribuição do
capital escolar e econômico, no espaço social das metrópoles de São Paulo, Rio de Janeiro
e Belo Horizonte (RIBEIRO; LAGO, 2000). Destarte, considera-se como argumento
relevante que a posição no espaço social apresenta associação com as posições ocupadas
no território, devido à ampla gama de fatores que lhe dizem respeito. A distribuição da
materialidade da urbanidade, os atributos do urbano, como meios de consumo coletivos,
centralidade, infraestrutura urbana – e, notadamente, a diferenciação entre si e a
precariedade, ou mesmo a sua falta – também devem ser considerados elementos de
distinção.
No mapa 01, vê-se a cidade ocupada por quatro categorias ou extratos,
representativas de suas respectivas posições no espaço social: Superior, Médio, Operário e
Popular. Curiosamente, nota-se que tais grupos se distribuem geograficamente de modo
bastante coeso, quase sem descontinuidade. Não se quer dizer, evidentemente, que no
respectivo espaço não haveria localizações de pessoas pertencentes a um outro grupo, mas
que denota-se fundamentalmente a predominância de uma determinada posição. E a
grande vantagem em se conceber o conjunto de caracterísitcas em termos de espaço4 é
justamente isso: compreender uma posição, ou melhor, um conjunto de posições na
geografia da cidade. As quatro diferentes posições no espaço social de Porto Alegre
poderiam ser assim caracterizadas5:
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Mammarella e Barcellos (2005).
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Mammarella (2008) considerou os critérios: (a) distribuição da população, (b) continuidade e
contiguidade geográfica, (c) unidades urbanísticas e (d) correspondência entre áreas e seus limites,
para agregação dos dados.
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Além dos estudos já citados de Mammarella e Barcellos (2005) e Mammarella (2008), ver também
Mammarella e Barcellos (2009): “Uma abordagem tipológica da estrutura socioespacial da Região
Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) em 1991 e 2000”.
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O tipo superior é o lugar das elites. Na área que ocupa se concentram as
moradias das classes dirigentes e dos intelectuais, embora nelas também
seja significativa a presença de camadas médias. Há, em grau menos
expressivo, a localização de ocupações médias (pessoal de escritório,
atividades de supervisão, ocupações técnicas, nível médio de saúde e
educação, etc.). Estas demarcam a estruturação do tipo médio, embora haja
a presença variada de todas as ocupações, tendo-se em conta que a
característica mais forte é a menor participação das camadas operárias
(trabalhadores do secundário, do terciário especializado, operários da
construção civil e serviços auxiliares) e populares (trabalhadores do terciário
não especializado). No tipo operário, predominam os trabalhadores do
secundário tradicional e moderno, mas também há presença das mesmas
ocupações do tipo popular. Há em menor expressão a presença de
ocupações médias. E, no tipo popular, nota-se a presença predominante
dos trabalhadores do terciário não especializado, como os empregados
domésticos e, secundariamente, do terciário especializado (MAMMARELLA;
BARCELLOS, 2009).
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MAPA 01: Porto Alegre: extratos socioespaciais.
Fonte: Elaborado por Rodrigo de Aguiar, com base em DEMHAB, IBGE e FEE, consideradas as
bases de 2000.
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grande concentração delas no Extrato socioespacial Médio; (b) as áreas localizadas nos
extratos Operário e Popular estão majoritariamente próximas a esta última; (c) as que se
localizam junto aos Extrato Superior são reduzidas, de menor extensão e estão bastante
dispersas. Nosso argumento teórico é que elas se constituem como territórios, pois marcam
uma posição nesse espaço, em função de seus protagonistas pretenderem fazer parte do
universo urbano.
[...] Aí ele falou para o meu marido, que ele é primo do meu marido, aí ele
disse assim “a gente vai invadir aquele pedaço do lado de lá”, porque isso
aqui era uns cômoros de areia, que eles tiravam do valão, tiravam do
Guaíba e atiram pra cá, então tinha uns lugar que eram uns buraco, tinha
outros que era areia até lá em cima [...] aí a gente foi, [...] aí a gente veio, aí
do lado a gente alugava 2 peça, que era eu, meu marido, meu filho mais
velho, que tá na faculdade hoje, e essa que mora aqui. Aí então a gente [...]
né, vamo se reunir com o pessoal e aí foi vindo, foi vindo, foi um, foi vindo
outro, e a gente foi pegando pedaço pra um, pedaço pra outro [...] aí foi indo
(moradora da Vila Icaraí II).
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Moraes (1999 e 2000).
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dos domicílios localizavam-se em terrenos desprovidos de serviço e equipamentos urbanos
(CASTELLO, 2009). Parece ser uma característica bastante peculiar desse processo
misturar as feições da constituição do espaço produzido às histórias particulares de luta por
uma moradia. Trata-se de uma necessidade dupla: de inserção na cidade e de condução da
vida. Para Nola Gamalho (2010, p. 132):
FIGURA 01: Vila Icaraí II, Arroio Icaraí. FIGURA 02: Vila Icaraí II.
Fonte: Foto de Amanda Gottardo e Cristiano Fonte: Geoprocessamento de Rodrigo de
Teixeira, 2010. Aguiar, com base em Quickbird e DEMHAB,
2008.
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contexto por intermédio do seu conjunto particular. Não é a comunidade em si, é apenas um
pedaço da cidade. E, como se trata disso, o território contém, além do fato em si, o
sentimento de fazer parte, de pertencer e sentir-se vinculado. Considerando a relação
dessas comunidades consigo mesmas nesses territórios, e delas e seus territórios com a
cidade, Ana Fontoura (2008, p. 381-382) explicita que se tem:
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no lugar, de estar na cidade. Quando indagados sobre o lugar em geral, reportam-se assim:
“aquilo ali não era de ninguém” (morador da Vila Chocolatão), ou “era lugar abandonado, a
gente é que deu o jeito nisso” (moradora da Vila Icaraí II). Também é comum a percepção
de que os poderes públicos possuem uma dívida com eles, um compromisso com o
problema que vivenciam, de lhes faltar serviços e equipamentos urbanos. Compreendem
isso a partir da comparação com os bairros bem atendidos.
As modalidades da chegada ao lugar são muito semelhantes, quase sempre
iniciadas por poucas famílias, as quais, com certa rapidez, somam-se pelos que
aguardavam um pouco de certeza: conhecidos e parentes. Mas o espaço não se completa
imediatamente, já que cresce a ocupação por subdivisão dos primeiros lotes.
A ocupação, o lugar “garantido”, dá a quem tem posse certo direito que pode ser
repassado por pequenas quantias, que em geral são estabelecidas com o parâmetro da
necessidade de quem se muda. É claro que quando passa mais tempo e a localização é
favorecida por algum incremento da cidade, pode-se auferir uma renda. Essa dinâmica se
entrelaça com a original, perfazendo certo conflito de estratégias: a de ganhar a cidade e a
de servir-se do recurso da ocupação como estratégia de reprodução social. Sobre esse
processo, Nabil Bonduki e Raquel Rolnik (1979, p. 129) entendem que tal expediente
contribui para a manutenção da baixa remuneração dos trabalhadores:
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reurbanização em realização no bairro Humaitá7. É composta de barracos e, conforme se
vê na figura 04, nota-se que boa parte foi removida. No entanto, como se vê na figura 03, na
área removida já se encontram novos barracos. Evidentemente que ocorre fiscalização, no
entanto, quando a instalação já está feita, e especialmente se na família houver crianças, a
instalação permanece. A territorialidade, dessa forma, possui grande complexidade, é
bastante instável, a memória coletiva é fragmentária, uns saem e outros chegam com muita
rapidez. Assim, as mudanças não envolvem apenas a paisagem, mas também os
compartilhamentos e, evidentemente, os sentidos das experiências.
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O Programa Integrado Entrada da Cidade (PIEC), conforme divulgado pela Prefeitura Municipal de
Porto Alegre, visa ao desenvolvimento urbano, socioeconômico e ambiental da região, e conta com
investimento de R$140 milhões. As ações são voltadas para a construção de habitações no próprio
local de ocupação, implantação de sistema viário e saneamento, atendendo 3.775 famílias com 3.061
novas casas e 714 lotes urbanizados. O programa conta com financiamento externo e recursos
municipais. Já foram entregues 1.629 Unidades Habitacionais. Restam aproximadamente seis vilas a
sofrerem intervenção, que estão em análise pelo PIEC.
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que o conjunto social dessas ocupações deve ser refletido (averiguado) como comunidades
detentoras de reservatórios de sentidos, que não seriam únicos, mas plurais. O sentido,
como compreendem Peter Berger e Thomas Luckmann (2004, p. 15-16), é:
[...] uma forma complexa de consciência [que] não existe em si, mas sempre
possui um objeto de referência. Sentido é a consciência de que existe uma
relação entre experiências. O inverso também é válido: o sentido de
experiências – e [...] ações – será construído em primeiro lugar por
especiais realizações “relacionais” da consciência. A experiência atual em
dado momento pode ser relacionada com uma experiência já acontecida há
pouco ou num passado remoto. Geralmente a experiência atual não é
relacionada com uma única outra experiência, mas com um tipo de
experiência, um esquema de experiência, uma máxima comportamental,
uma legitimação moral, etc., derivados de muitas experiências e
armazenados no conhecimento subjetivo ou tomados do acervo social do
conhecimento.
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locais da cidade. Os moradores, que atualmente perfazem 181 famílias, são
majoritariamente recicladores de materiais, popularmente conhecidos por catadores. A
distribuição dos barracos no lugar possui um arranjo que permite o encontro, a maneira de
uma esplanada; possui também um clube de mães, local onde ocorrem atividades sociais,
recepção de doações e reuniões com as muitas instituições de assistência social ou
organizações que ali procuram desenvolver algum apoio ou projeto8. Porém, tudo é muito
precário. O que há de infraestrutura melhor é um conjunto de quatro banheiros e tanques
com torneira, mas que está há muito tempo com os dutos estourados, fazendo espalhar o
esgotamento por baixo dos barracos. As ligações de energia elétrica – os chamados “gatos”
–, realizadas pelos próprios moradores, já ocasionaram diversos incêndios. Também é uma
ocupação em que há mudança dos moradores, mas permanece um grupo antigo, que
mantém a memória do lugar. Sabe-se, também, que é local em que ocorre criminalidade,
associada ao tráfico de drogas.
As três vilas, Areia, Chocolatão e Icaraí II, possuem um duplo aspecto buscado
por suas comunidades: centralidade e urbanidade. Estão localizadas em regiões da cidade
com acessibilidade a serviços, escolas e fonte de geração de renda (mapa 01). Guardam na
sua localização atributos da cidade. Todas elas estão em processo de regularização,
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Dentre inúmeras entidades que atuam na vila, destacamos as seguintes: Gajup – Grupo de
Assessoria Justiça Popular – e Caru – Coletivo de Apoio a Reforma Urbana –, ambos da
Universidade Federal do Rio grande do Sul; projeto Pim Pim Piá – Primeira Infância Melhor –, da
Prefeitura Municipal de Porto Alegre; CAMP – Organização não governamental (ONG) a serviço da
empresa Vonpar; diversas igrejas e grupos religiosos; CONTERRA – grupo contratado pela
empreiteira de obras para executar o Projeto de Trabalho Técnico Social de reassentamento; Grupo
de Apoio Social do Posto de Saúde Santa Marta; e a Rede para Sustentabilidade da Vila Chocolatão
– rede municipal da qual participam todas as secretarias da Prefeitura, algumas empresas como a
Vonpar, e representantes da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) e do Tribunal Regional Federal.
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remoção ou reassentamento. A Vila Areia, como vimos acima, é objeto de reurbanização. A
Vila Chocolatão, remoção para o Bairro Mário Quintana, muito distante da área central que
ocupa atualmente. A Vila Icaraí II está sendo removida e parte de seus ocupantes será
reassentada em diversas regiões da cidade, em projetos de habitação popular, enquanto
outros estão sendo indenizados, com o compromisso de adquirirem outro imóvel e não
retornar9. Desse modo, um componente da experiência é também a localização.
Completa-se, com isso, o significado territorial: trata-se de um fato em si – a
materialidade –, que é produzido por atores, é resultado de um agir e se faz como tal por ter
sido compreendido – em ação e materialidade – e ter uma representação. Possui enlaces
com o poder, em que seu princípio básico, como compreendido por Robert Sack (1986), é
constituir-se em estratégia, alçada especialmente quando as outras formas que estruturam a
ordem social não surtem efeito, como o diálogo, a política e o consenso, por exemplo.
Temos visto aqui, que muito mais que uma restrição de acesso, os territórios produzidos são
estratégias para ganhar a cidade e também garantir uma forma de reprodução social. A
compreensão de que se trata de uma relação e não um fato consolidado é mais bem
visualizada quando o diferenciamos do próprio espaço, como o faz Jöel Bonnemaison
(2002, p. 126):
Por isso, podemos pensar que os sujeitos desse processo são atores que se
envolvem numa luta pelo espaço da cidade e, não sendo uma comunidade de vida10, um
grupo articulado, vêem-se diferenciados por meio da geografia que produzem. É por ela que
possuem uma identidade. Por ela é possível elaborar uma fala sobre si em relação aos
outros.
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O programa prevê a remoção das famílias para conjuntos habitacionais em diferentes pontos da
cidade. Para as que optam pela indenização de R$40.000,00, por medida contratual, obriga-se a
aquisição de outro imóvel. Os recursos de indenização são originários de medidas mitigatórias da
implantação do Centro de compras Barra Shopping Sul.
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Ver Berger e Luckman (op. cit.).
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Considerações
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formal, da sua materialidade. Muitas vezes, porém, essa conquista vem acompanhada das
taxas de direito de uso, energia elétrica e água, que nem todos os antigos ocupantes estão
capacitados a consumir formalmente. Em muitos desses casos, a periferia se encontra no
centro.
Damos-nos por conta, então, que ganhar a cidade não é simplesmente residir
nela, mas se precisaria trazer de volta a sua essência: um espaço de convívio, de mercado,
de política e de civilidade, fazendo dessa ideia integralmente um fato.
Bibliografia consultada
BONDUKI, Nabil; ROLNIK, Raquel. Periferia da Grande São Paulo. Reprodução do espaço
como expediente de reprodução da força de trabalho. In: MARICATO, Ermínia. (Org.). A
produção da casa (e da cidade) no Brasil Industrial. São Paulo: Alfa-Omega, 1979, p.
117-154.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Lisboa: Difel; Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
DI MÉO, Guy; BULÉON, Pascal. L’espace social. Lecture géographique des societés.
Paris: Armand Colon, 2007.
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MAMMARELLA, Rosetta; BARCELLOS, Tanya M. de. Estrutura social e segmentação do
espaço metropolitano. Um retrato da Região Metropolitana de Porto Alegre em 2000.
Cadernos Metrópole. São Paulo: EDUC, n. 13, p. 133-169, jan/jun. 2005.
MARCUSE, Peter. Enclaves, sim; guetos, não: a segregação e o Estado. Espaço &
Debates. São Paulo: NERU, v. 24, n. 45, p. 24-33, jan./jun. 2004.
RAFFESTIN, Claude. Repères pour une théorie de la territorialité humaine. In: DUPUY,
Gabriel et al.. Reseaux territoriaux. Caen: Paradigme, 1988, p. 263-279.
RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz; LAGO, Luciana Corrêa do. O espaço social das grandes
metrópoles brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Revista Brasileira de
Estudos Urbanos e Regionais, n. 3, p. 111-129, nov. 2000.
SACK, Robert David. Human territoriality. Its theory and history. Cambridge: Cambridge
University Press, 1986.
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