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Geografia Urbana

Material Teórico
Paisagens Urbanas e Desigualdades Espaciais

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Dra. Vivian Fiori

Revisão Textual:
Prof. Esp. Tiago Araújo Vieira
Paisagens Urbanas e Desigualdades
Espaciais

·· Paisagens Urbanas e Desigualdades Espaciais


·· A História da Habitação Social no Brasil

Evidenciar as desigualdades espaciais no território brasileiro em relação


ao espaço urbano. Analisar, mediante conceitos de paisagem e espaço, a
urbanização brasileira.

Espero que tenha tido um ótimo aproveitamento dos estudos até aqui e que continue se
empenhando.
Nesta unidade discutiremos alguns conceitos sobre paisagens urbanas e desigualdades
espaciais, enfatizando a questão da moradia urbana.
Para atingirmos satisfatoriamente nossos objetivos, nesta disciplina, saliento a importância da
leitura atenta do texto teórico e empenho na realização das atividades propostas.

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Unidade: Paisagens Urbanas e Desigualdades Espaciais

Contextualização

As paisagens urbanas brasileiras expressam grandes desigualdades sociais, frutos de um longo


processo excludente que levou milhares de famílias a viver em moradias precárias.
Cada vez mais, o espaço é uma mercadoria, sobretudo nas grandes cidades e Regiões
Metropolitanas, e isso dificulta o acesso à moradia, pois a valorização do espaço estabelece uma
luta pelo mesmo, entre as diferentes classes sociais e entre os diferentes atores sociais.
Desse modo, devido às condições do uso do território ser mediada pela condição capitalista,
pelo valor de troca enquanto mercadoria, o número de aglomerados subnormais (expressão
usada pelo IBGE para moradias precárias no Brasil), é bastante elevado, mesmo em cidades e
metrópoles importantes do país, do ponto de vista econômico.
Gráfico 1: Distribuição da população em aglomerados subnormais, total e proporção em relação a
população total em aglomerados subnormais, segundo as Regiões Metropolitanas - 2010

IBGE, Censo Demográfico 2010

É o caso, por exemplo, de São Paulo e Rio de Janeiro, importantes metrópoles do ponto de
vista dos serviços e das atividades comerciais, mas que ainda assim possuem um número bastante
grande de aglomerados subnormais, conforme se observa no gráfico acima apresentado.
Assim, as Regiões Metropolitanas, bem como as metrópoles brasileiras são espaços de grande
desigualdade. O papel dos promotores imobiliários nessas cidades ou regiões é bastante intenso,
promovendo a especulação imobiliária.
Para compreender o processo de desigualdades espaciais no Brasil, os atores sociais e as
diversas formas de apropriação e de moradias no Brasil leia atentamente o texto da disciplina.

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Paisagens Urbanas e Desigualdades Espaciais

Nesta unidade vamos discorrer sobre paisagens urbanas, bem como, evidenciar as
desigualdades espaciais existentes nas cidades brasileiras. Para isso, vamos discutir,
principalmente, a apropriação capitalista no espaço urbano, evidenciando, sobretudo, a questão
do mercado imobiliário e da moradia.

Paisagens Urbanas
Entende-se por paisagem, principalmente, aquela parte visível do espaço, que pode ser
alcançada com a visão a partir da observação. Trata-se de uma categoria geográfica importante,
pois a partir dela podemos iniciar o entendimento do espaço geográfico.
A paisagem, seja urbana ou não, vai sendo modificada ao longo do tempo. Essa paisagem
tanto pode ser natural, como também a paisagem transformada pelo trabalho humano.
Na paisagem, podemos distinguir diferentes formas espaciais. Essas formas representam uma
parte da história de um lugar e, portanto, a partir delas é possível compreender os processos
pelos quais passou e suas transformações.
Desse modo, por meio das diferentes paisagens, podemos verificar, por exemplo, como uma
cidade se transformou ao longo do tempo: quais elementos dessas paisagens foram acrescentados
ou subtraídos, modificando-as.
Para Milton Santos, a paisagem é sempre dinâmica, assim explica o autor:

A paisagem não é dada para todo o sempre, é objeto de mudança. É um resultado


de adições e subtrações sucessivas. É uma espécie de marca da história do
trabalho, das técnicas. Por isso, ela própria é parcialmente trabalho morto, porque
é formada por elementos naturais e artificiais. A natureza natural não é trabalho.
Já o seu oposto, a natureza artificial, resulta de trabalho vivo sobre trabalho
morto. Quando a quantidade de técnica é grande sobre a natureza, o trabalho
se dá sobre o trabalho. É o caso das cidades, sobretudo as grandes. As casas, a
rua, os rios canalizados, o metrô etc., são resultados do trabalho corporificado
em objetos culturais. Não faz mal repetir: suscetível a mudanças irregulares ao
longo do tempo, a paisagem é um conjunto de formas heterogêneas, de idades
diferentes, pedaços de tempos históricos representativos das diversas maneiras
de produzir as coisas, de construir o espaço (SANTOS, 2008, p. 74-75).

Logo, como diz o autor, mediante a observação da paisagem1, podemos distinguir os


diferentes usos do território existente numa cidade, bem como suas infraestruturas, casas, ruas,
meio de transporte, museus, praças, entre outros equipamentos e objetos.

1 Atualmente por meio do recurso do Google Street View é possível visualizar inúmeras cidades brasileiras e do mundo. Procure usar esse
recurso didático.

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Unidade: Paisagens Urbanas e Desigualdades Espaciais

Ao mesmo tempo, podemos verificar que numa mesma paisagem existem objetos de períodos
diferentes da história. No caso dos centros fundadores das cidades, por exemplo, é possível ver
casarões antigos coexistindo com outros prédios mais modernos. Essa combinação evidencia os
tempos espaciais existentes, bem como os diferentes momentos da história da cidade.
Sobre esta situação, Milton Santos explica:

Cada lugar combina variáveis de tempos diferentes. Não existe um lugar onde
tudo seja novo ou onde tudo seja velho. A situação é uma combinação de
elementos com idades diferentes. O arranjo de um lugar, através da aceitação,
ou rejeição, do novo, vai depender da ação dos fatores de organização existentes
nesse lugar, quais sejam, o espaço, a política, a economia, o social, o cultural
[...] (SANTOS, 2008, p. 106).

Assim, observa-se na paisagem, um arranjo e coexistência de objetos novos e antigos – muitos


deles sendo refuncionalizados, ou seja, estão sendo-lhes atribuídas novas funções. Esses são os
casos de antigos galpões de indústrias que são utilizados para casas de shows ou supermercados,
em outras palavras, as formas são mantidas, mas o uso passa a ser outro. A isso chamamos de
refuncionalização: a mesma forma espacial com conteúdo novo, com nova função.
Além disso, por meio da paisagem, podemos comprovar os diferentes usos do território,
considerando-se as condições das classes sociais. Nesse sentido, a paisagem também pode
demonstrar as desigualdades espaciais existentes, evidenciando os usos populares – casos de
favelas, moradores em situação de ruas –, bem como o dos condomínios de luxo e bairros da
classe média alta ou alta. Como pode ser vista na imagem da cidade do Rio de Janeiro, com a
favela da Rocinha e os prédios e orla da Zona do Rio de Janeiro (vide figura 1).
Assim, por meio da paisagem podemos identificar os espaços segregados existentes nas
cidades, seja uma segregação espacial oriunda das classes populares, seja uma autossegregação
dos mais ricos.
Por segregação espacial entende-se um determinado espaço com certa uniformidade ou com
alguns aspectos em comum, por exemplo, indicadores como renda, escolaridade das famílias ou
mesmo do ciclo de vida e características da família (bairros mais jovens ou de idosos etc.), entre
outros, são utilizados para entender esse conceito.

Figura 1: Vista da Favela Da Rocinha e da Zona Sul do Rio de Janeiro

todamateria.com.br

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Como afirma Roberto Lobato Corrêa, a segregação residencial é a expressão espacial das
classes sociais.
E ainda:
Em relação ao onde morar, é preciso lembrar que existe um diferencial espacial
na localização de residências vistas em termos de conforto e qualidade. Essa
diferença reflete em primeiro lugar um diferencial no preço da terra - que é
função da renda esperada, que varia em função da acessibilidade e das
amenidades. Os terrenos de maior preço serão utilizados para as melhores
residências, atendendo à demanda solvável. Os terrenos com menores preços,
pior localizados, serão utilizados na construção de residências inferiores a serem
habitadas pelos que dispõem de menor renda (CORRÊA, 2000, p. 63).

Para saber Segregação Residencial


mais Já vimos o papel do Estado na segregação residencial. Subjacente à ação estatal está
a classe dominante ou algumas de suas frações. Sua atuação se faz, de um lado,
através da autossegregação, na medida em que pode efetivamente selecionar para si
as melhores áreas, excluindo-as do restante da população, ou seja, irá habitar onde
desejar. A expressão dessa segregação da classe dominante é a existência de bairros
suntuosos e, mais recentemente, dos condomínios privativos, com muros e sistema
próprio de vigilância, dispondo de áreas de lazer e certos serviços de uso exclusivo,
entre eles, em alguns casos, o serviço de escolas públicas eficientes.
A classe dominante ou uma de suas frações, por outro lado, segrega os outros grupos
sociais na medida em que controla o mercado de terras, a incorporação imobiliária e
a construção, direcionando seletivamente a localização dos demais grupos sociais no
espaço urbano. Indiretamente, atua através do Estado.
Em realidade, pode-se falar em autossegregação e segregação imposta, a primeira,
referindo-se à segregação da classe dominante, e a segunda, à dos grupos sociais
cujas opções de como e onde morar são pequenas ou nulas. A segregação, assim
redimensionada, aparece com um duplo papel: o de ser um meio de manutenção dos
privilégios por parte da classe dominante, e o de ser um meio de controle social por
essa mesma classe, sobre os outros grupos sociais, especialmente, a classe operária e o
exército industrial de reserva. Este controle está diretamente vinculado à necessidade
de se manter grupos sociais desempenhando papéis que lhe são destinados dentro da
divisão social do trabalho, papéis que implicam em relações antagônicas de classe,
e impostos pela classe dominante, que precisa controlar um grande segmento da
sociedade, não apenas no presente, mas também no futuro, pois se torna necessário
que se reproduzam as relações sociais de produção.

Fonte: Trecho literal extraído de CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 2000, p. 64.

Portanto, a segregação espacial residencial é uma expressão das desigualdades sociais


existentes, podendo ser observada nas paisagens urbanas das cidades do Brasil e do mundo.
Contudo, após a identificação dos elementos dessa paisagem urbanizada, que pode ser ainda
mais pormenorizada, é importante buscar compreendê-la mais profundamente. Como afirma
Milton Santos:

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Unidade: Paisagens Urbanas e Desigualdades Espaciais

Quando nos referimos, por exemplo, àquela casa ou àquele edifício, àquele
loteamento, àquele bairro, são todos dados concretos – concretos pela sua
existência -, mas, na verdade, todos são abstrações, se não buscarmos
compreender o seu valor atual em função das condições atuais da sociedade.
Casa, edifício, loteamento, bairro estão sempre mudando de valor relativo
dentro da área onde se situam, mudança que não é homogênea para todos, cuja
explicação se encontra fora de cada um desses objetos e só pode ser encontrada
na totalidade de relações que comandam uma área bem mais vasta (SANTOS,
2008, p. 31).

Nesse sentido, o que leva, por exemplo, a formação das favelas? Por que algumas pessoas
moram em favelas? O que leva a haver padrões tão diferentes de moradia numa mesma cidade?
Por que há verticalização em algumas regiões? Por que algumas regiões de uma cidade são mais
valorizadas?
Como afirma Milton Santos (2008), a paisagem muda a cada momento. Se tirarmos uma
nova foto de uma mesma região, pode ser que no futuro os terrenos vazios venham a ser
ocupados, ou pelos mais pobres ou pelos prédios cujo processo de valorização do espaço leva
a intensificação de seu uso, ampliando-se assim, a verticalização.
A valorização do espaço intensifica o processo de desigualdade social, pois o uso do solo
é mediado pelo dinheiro, pelo acesso que, neste caso e em geral, é definido pelo processo
capitalista – pelo mercado, tornando o imóvel e o espaço uma mercadoria.
Assim, as explicações para as diferenças na paisagem (figura 1) não estão apenas na escala
local e nem se explicam apenas pela sua aparência.
A valorização do espaço eleva o preço do terreno, e faz com que a verticalização seja mais
vantajosa no processo capitalista, pois, no mesmo m², é possível construir um alto prédio e,
dessa forma, os promotores imobiliários podem auferir maior renda, conforme se observa nos
centros e subcentros das grandes cidades.

Os atores, ou agentes sociais, que atuam no espaço urbano.


O espaço urbano tem diferentes usos. Tanto do ponto de vista das atividades existentes,
tais como uso para moradia, uso industrial, para atividades comerciais e de serviços; assim
como, também, os usos do ponto de vista da apropriação das classes sociais. Por isso, existem
diferentes atores ou agentes sociais que atuam no espaço urbano.
Roberto Lobato Corrêa (2000; 2011) define que os principais agentes do espaço urbano são
os proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários, os promotores imobiliários,
o Estado e os grupos sociais excluídos. Assim afirma o autor:
São eles os proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários,
os promotores imobiliários, o Estado e os grupos sociais excluídos. A partir de
sua ação, o espaço é produzido, impregnado de materialidades, como campos
cultivados, estradas, represas e centros urbanos com ruas, bairros, áreas
comerciais e fabris, mas também pleno de significados diversos, como aqueles
associados à estética, status, etnicidade e sacralidade (CORRÊA, 2011, p. 44).

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Cada um desses atores ou agentes sociais tem um papel. No caso dos proprietários dos meios
de produção, sobretudo aqueles que utilizam mais espaço, caso dos grandes donos de indústria
que se utilizam do território, sobretudo, como meio de produção e, nesse caso, buscam terrenos
mais amplos e baratos na cidade, mais comumente, nas periferias menos valorizadas, onde,
geralmente, ainda há mais espaço e terrenos baratos.

Contudo, por necessitar de acessibilidade tanto para que sua mão de obra tenha acesso ao
trabalho, quanto para a circulação de mercadorias, não podem se localizar numa periferia onde
não exista sistema de transporte.

Já os proprietários fundiários, ou seja, os proprietários de terra, no espaço urbano procuram


auferir a maior renda possível e obter lucros a partir dessa propriedade. Há casos em que os
proprietários fundiários fazem especulação fundiária, ou seja, esperam que a região onde suas
terras estejam inseridas, seja valorizada, para que possam obter maior lucro.

Outro ator importante, sobretudo nas grandes cidades e metrópoles, são os promotores
imobiliários. Tais atores são formados por construtoras, incorporadoras, grupos técnicos
de arquitetos e engenheiros, sistema financeiro de habitação, entre outros. Os promotores
imobiliários, em muitos casos, só se interessam por produzir imóveis para as famílias de renda
mais alta, sobrando ao Estado construir moradia para os mais pobres.

Já o Estado é o principal agente do espaço urbano, pois, por meio do governo (municipal,
estadual e federal), sobretudo da prefeitura, cabe ao Estado definir as normas e leis existentes,
bem como, produzir planos e projetos para a cidade. Além disso, tem como função realizar obras
de drenagem, de arruamentos, coletar os resíduos sólidos urbanos, entre outras atividades.

Corrêa (2000) cita também, como agente importante no espaço urbano, os grupos sociais
excluídos, esses formados, sobretudo, pelas classes populares.

Desse modo, verifica-se, que o espaço urbano é reflexo e condicionante das classes sociais,
bem como dos atores hegemônicos e hegemonizados, como diz Milton Santos (2001).

Assim, é fundamental perceber que, por não termos uma sociedade justa, essas desigualdades
aparecem na paisagem e podem ser explicadas no espaço geográfico. Como diz o filósofo
Castoriadis, é fundamental que partamos da premissa que uma sociedade justa precisa sempre
ser buscada.
Sendo assim, para o supracitado filósofo:

[...] uma sociedade justa não é uma sociedade que adotou leis justas para
sempre. Uma sociedade justa é uma sociedade onde a questão da justiça
permanece constantemente aberta, ou seja, onde sempre existe a possibilidade
socialmente efetiva de integração sobre a lei e sobre o fundamento da lei. Eis aí
uma outra maneira de dizer que ela está constantemente no movimento de sua
auto-instituição explícita (CASTORIADIS, 1983 apud SOUZA, 2008, p. 175).

Portanto, é necessário que toda pessoa busque sempre a justiça social mediante a participação
na política; compreensão do espaço em que vive; ativismo político e social; e educação para
uma vida social mais justa.

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Unidade: Paisagens Urbanas e Desigualdades Espaciais

Devido a essas diferenças na sociedade, ocorre o fenômeno da segregação espacial. Vale


lembrar que ao longo da história humana, sempre houve segregação. Na cidade antiga, por
exemplo, havia diferenças entre reis, imperadores, faraós e as demais parcelas da população.
Contudo, a partir do capitalismo, essas segregações vão ter como característica principal, o
acesso à terra e à moradia, conforme explica Marcelo Lopes de Souza:

O fenômeno da segregação residencial é, sem dúvida, muito geral ao longo da


história da urbanização. Quase sempre existiram grupos que, à sua etnia ou
a outro fator, eram forçados a viverem em certas áreas (geralmente as menos
atraentes e bonitas, menos dotadas de infraestrutura, mais insalubres etc.),
sendo, na prática ou até formalmente, excluídos de certos espaços, reservados
para as classes e grupos dominantes da sociedade. A segregação (residencial)
induzida pode ser observada em cidades desde a Antiguidade. O moderno
capitalismo, inicialmente na Europa, depois em outras partes do mundo, irá,
todavia, acarretar uma mudança de magnitude (e de escala) no padrão de
segregação (SOUZA, 2007, p. 68).

Devido às diferentes condições de poder dos atores sociais, há aqueles que se apropriam
do espaço, visando-o como recurso, para através dessa apropriação obter lucro. É o caso, por
exemplo, dos grandes atores hegemônicos do setor imobiliário, denominados por Corrêa (2000)
como promotores imobiliários.
O Estado, em alguns casos, alia-se aos interesses capitalistas em detrimento dos interesses de
toda a população, sem se preocupar em adotar uma gestão para toda a população. É o que a
geógrafa, Arlete Moysés Rodrigues, denomina de Estado capitalista.
Segundo a autora:
O estado capitalista atua de forma diferente, dependendo dos agentes e dos
interesses em jogo. Os setores imobiliários, mesmo quando não cumprem
a legislação urbana e ambiental, são considerados alavancadores de
desenvolvimento sustentável e do progresso. Um dos aspectos da ilegalidade
atual é murar loteamentos (chamados de condomínios e/ou loteamentos
fechados), inconstitucionais, segundo o Ministro da Justiça. A geração futura
não é preocupação desses setores, pois, como diz Castoriadis (1987, p. 150),
não apenas o futuro é incerto, mas o presente é desconhecido com muitas coisas
acontecendo em toda parte (RODRIGUES, 2011, p. 214).

Reiterando o que diz a autora, há casos inconstitucionais, como por exemplo, de loteamentos
ou condomínios fechados em áreas de proteção ambiental, que restringem seu uso para moradia;
ou até mesmo, empreendimentos imobiliários que fecham a entrada para outros moradores da
cidade, utilizando-se do espaço de maneira privada, como acontece em muitas praias, mesmo
sendo contra a legislação brasileira, já que, a princípio, o mar e a praia são direitos de todos.
Desse modo, há casos em que o Estado atua em conformidade com o interesse dos atores
hegemônicos, em detrimento do uso do território para toda a população. A isso, Milton Santos
(2001) chama de espaço banal, ou seja, o espaço para todos.
Nesse sentido, o espaço urbano torna-se uma mercadoria, sendo disputado por diferentes agentes.

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A questão da moradia
No caso da moradia, há tipos diversificados nas cidades brasileiras. Em geral, os mais
pobres moram em favelas, cortiços, loteamentos irregulares e clandestinos, ou em conjuntos
habitacionais populares.
Sobre isso Roberto Lobato Corrêa comenta:

Para se entender a questão do como morar é preciso que se compreenda o


problema da produção da habitação. Trata-se de uma mercadoria especial,
possuindo valor de uso e valor de troca, o que faz dela uma mercadoria sujeita
aos mecanismos de mercado. Seu caráter especial aparece na medida em que
depende de outra mercadoria especial – a terra urbana –, cuja produção é
lenta, artesanal e cara, excluindo parcela ponderável, senão a maior parte, da
população de seu acesso, atendendo apenas a uma pequena demanda solvável
(CORRÊA, 2000, p. 62-63).

Assim, devido à valorização do espaço e dos imóveis, certas porções do espaço das cidades
ficam circunscritos ao uso dos que têm maior poder aquisitivo.
Como parte do acesso legal fica sujeita, geralmente, à compra e à venda, normalmente,
restam aos mais pobres formas de moradia que são irregulares do ponto de vista formal, da lei.
Este é o caso do loteamento urbano irregular, cujo loteamento (parcelamento do solo
urbano) pode possuir algum documento registrado na Prefeitura, mas não foi aprovado por
alguma irregularidade, ou falta algum aspecto que o torne legal, formalmente. Já o loteamento
clandestino é um loteamento que não teve nenhum processo na prefeitura, portanto, em
princípio, não tem existência formal.
É importante conceituar também o significado de favela e cortiço. Segundo Marcelo Lopes de
Souza, favela é um termo que já se tornou popular e usado muitas vezes no sentido pejorativo,
como uma forma de moradia estigmatizada dos mais pobres. Diz ele:

Favela é um desses termos que parecem já ter adquirido feições de vocábulo


naturalizado, mas que costumam carregar um conteúdo pejorativo que não
escapa à percepção daqueles que sofrem com valorações negativas por trazerem
a marca de um estigma sócio-espacial, no caso, os favelados. Não é à toa que,
algumas vezes, o termo favela é de algum modo, tácita ou explicitamente,
contestado [...] (SOUZA, 2011, p.151).

A definição de favelas para alguns municípios tem relação com uma forma espacial de
moradia popular, cujos terrenos foram ocupados de forma irregular e os moradores construíram
suas próprias moradias, geralmente contabilizados a partir de 51 domicílios. Portanto, favela é
diferente de loteamento irregular ou clandestino, porque não há um parcelamento do terreno
em lotes urbanos.
A cidade de São Paulo, por exemplo, segundo dados da Secretaria de Habitação2 (2014),
tem aproximadamente 1.658 favelas. Novamente, é fundamental ter um conceito para favela,
por que senão, como é possível contar quantas são as favelas, se não há uma definição sobre
o que são?

2 Fonte: http://antigo.habisp.inf.br/aspnet/aspx/espacohabitado/favelalista.aspx. Acesso em 15/06/2014

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Unidade: Paisagens Urbanas e Desigualdades Espaciais

Observe a imagem a seguir (figura 2). Trata-se de uma favela?


Figura 2: Vista de Comunidade do Parque das Flores – São Paulo – SP

Vivian Fiori, 2010

A resposta dependerá do conceito de favela. Popularmente, no senso comum, definimos favela


geralmente como um conjunto de moradias precárias, sem arruamento formal, desprovidas de
infraestrutura etc. Mas isso é senso comum. Como serão as definições científicas ou técnicas
para favela?
Segundo site da Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo (http://www.habisp.inf.
br/habitacao) a definição que a Secretaria utiliza para poder contar suas favelas é a seguinte:
Favelas são espaços habitados precários, com moradias autoconstruídas, formadas a partir da
ocupação de terrenos públicos ou particulares.
Desse modo, para descobrirmos se a imagem da Comunidade do Parque das Flores é uma
favela ou não, é preciso saber se esses terrenos mostrados na imagem foram ocupados por
moradores, sem a compra formal do terreno, ou concessão, e se eles mesmos construíram suas
casas. Se as respostas forem sim para ambos os casos, então, com certeza, trata-se de uma
favela para a Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo.
Desse modo, podemos ter casas ou moradias precárias que não sejam consideradas favelas,
caso, por exemplo, dos cortiços ou loteamentos irregulares.
Figura 3: Aglomerado Subnormal em São Paulo

Vivian Fiori, 2010

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Já o termo aglomerado subnormal estabelecido pelo IBGE, é mais amplo, servindo para
definir as formas de moradias precárias, incluindo o que, comumente, denomina-se por favelas
ou invasões, loteamentos irregulares ou clandestinos, e todos juntos. O IBGE usa um único
termo para tais moradias (vide figura 3).

Para saber Aglomerado subnormal


mais É um conjunto constituído de, no mínimo, 51 unidades habitacionais (barracos, casas,
etc.) carentes, em sua maioria de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo
ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e
estando dispostas, em geral, de forma desordenada e/ou densa. A identificação dos
aglomerados subnormais é feita com base nos seguintes critérios:

a. Ocupação ilegal da terra, ou seja, construção em terrenos de propriedade alheia


(pública ou particular) no momento atual ou em período recente (obtenção do
título de propriedade do terreno há dez anos ou menos); e
b. Possuir pelo menos uma das seguintes características:
• urbanização fora dos padrões vigentes – constatada por vias de circulação
estreitas e de alinhamento irregular; lotes de tamanhos e formas desiguais; e
construções não regularizadas por órgãos públicos; ou
• precariedade de serviços públicos essenciais, tais quais energia elétrica, coleta
de lixo e redes de água e esgoto.
Os aglomerados subnormais podem se enquadrar, observados os critérios de
padrões de urbanização e/ou de precariedade de serviços públicos essenciais, nas
seguintes categorias: invasão, loteamento irregular ou clandestino, e áreas invadidas e
loteamentos irregulares e clandestinos, regularizados em período recente.
Fonte: IBGE, 2013, p. 18.

Nesse sentido, os terrenos ocupados das favelas podem ser tanto públicos quanto privados.
Pela nova legislação brasileira, tanto pelo Código Civil de 2002, quanto pelo Estatuto das
Cidades, de 2001 (BRASIL, 2001), o morador que ocupar um terreno que não foi comprado e
nem concedido, desde que o seu dono não o reclame, formalmente, por um período de cinco
anos, poderá ter direito a duas formas de regularização, aplicáveis tanto no caso das favelas,
quanto no dos cortiços. São elas:
 Usucapião especial urbano. Essa serve apenas para os terrenos privados;
 Concessão especial para fins de moradia (Cuem). Essa se aplica aos terrenos públicos,
mas desde que tenham sido ocupados antes de 2001. É bom lembrar que em ambos os
casos, o ocupante não poderá ter outra moradia e essa não poderá ter mais de 250 m².
Assim como define o Estatuto das Cidades(Lei no 10.257/2001), poderá se beneficiar da
usucapião especial urbano:
Art. 9o Aquele que possuir como sua área ou edificação urbana de até duzentos e
cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição,
utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde
que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural (BRASIL, 2001, s/p.).

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Unidade: Paisagens Urbanas e Desigualdades Espaciais

Nesse caso, o proprietário não pode ser chamado de proprietário privado. Como o nome
aponta, trata-se de uma concessão para uso daquela família. À medida que a família morre, a
propriedade só poderá ser usada pelos familiares que já estiverem morando juntos, não podendo
a mesma, do ponto de vista legal, ser comercializada. Também não pode ser regularizada
propriedade em áreas de risco ou em Áreas de Proteção Permanente (APP), por exemplo, sem
que se façam estudos físico-ambientais e esses sejam aprovados.
Outra situação de moradia popular são os cortiços, comuns nas cidades maiores, geralmente
localizados nos núcleos fundadores das cidades, os chamados centros antigos ou em áreas de
expansão desse centro.
Os cortiços são moradias coletivas, multifamiliares, podendo ser a ocupação de prédios
antigos, antigos casarões ou outras edificações no mesmo lote urbano, que podem ser alugadas,
subalugadas, cedidas ou ocupadas ilegalmente. A ocupação pode ser tanto regular, pagando-se
um aluguel, ou irregular. Dessa forma, não se pode confundir favela com cortiço.
Comumente, os cortiços se situam em regiões que passaram por um processo de desvalorização,
o que impacta no valor dos imóveis, e faz com que seu proprietário busque auferir lucros a partir
do aluguel de um mesmo espaço, para várias famílias. Há casos também de proprietários que
acabam abandonando a manutenção do imóvel pelos altos custos ou por ficarem devendo
impostos à prefeitura, por isso são prédios ou casarões abandonados.
Contudo, segundo Estatuto das Cidades (2001) toda propriedade tem de ter função social,
não podendo ficar abandonada e sem uso. Nesse caso, poderá ser cobrado IPTU progressivo
do proprietário para que seja dado um fim social à propriedade, e em casos de descumprimento
da lei, a mesma poderá ser comprada pelo poder público, e concedida como Habitação de
Interesse Social (HIS).
É fato que a precariedade dessas moradias vai variar de lugar para lugar. Mesmo em
favelas, há casos de moradias que têm melhores condições, enquanto outras estão sujeitas a
enchentes, problemas de habitabilidade, e outras questões. Conforme explica a urbanista
Ermínia Maricato:
O espaço urbano da moradia precária inclui as várias formas de provisão de
moradia pobre: casas inacabadas, insalubres, congestionadas, localizadas em
favelas, em áreas de risco geotécnico ou sujeitas a enchentes, enfim, não há aqui
a necessidade de um rigor técnico quantificável. Há moradias de boa qualidade
em favelas e há moradias insalubres em bairros nobres, mas o objeto se refere à
generalização da ilegalidade e da precariedade, estrutural e necessária para um
processo de acumulação que tem especificidades. Parte-se do princípio marxista
de que o espaço urbano, como qualquer mercadoria, é uma produção social e
envolve relações. O universo da moradia precária é estratégico para denunciar
o conjunto da produção da cidade no capitalismo periférico, e por meio dele
denunciar, também, as especificidades desse processo de acumulação. Um
mercado formal restrito que ignora a grande maioria da população, uma taxa
de lucro fortemente baseada na renda fundiária, uma força de trabalho barata
que, excluída do mercado formal e das políticas públicas, produz boa parte da
cidade com sua próprias mãos e suas próprias regras (intrínsecas às condições
dessa produção). (MARICATO, 2012, p. 105).

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Exemplificando com o caso de São Paulo – que, no entanto, também é comum em outras
cidades brasileiras – o geógrafo Adriano Botelho explica que essas áreas de loteamentos
irregulares, muitas vezes, são destituídas de infraestrutura básica, mas isso também varia,
conforme nos explica o autor:

A imensa periferia pobre de São Paulo apresenta, de acordo com Celine Sachs
(1999:71), uma grande heterogeneidade sob a forma de um arquipélago de
loteamentos que se encontram em diferentes estágios de consolidação: existem
loteamentos totalmente autoconstruídos, onde a urbanização produziu condições
que permitem a seus moradores ter acesso a alguns serviços urbanos essenciais,
a densidade é mais elevada, os transportes coletivos se encarregam, bem ou
mal, das necessidades dos moradores, e a prefeitura, tendo reconhecido como
fato consumado os loteamentos irregulares, instalou equipamentos urbanos e
asfaltou as ruas; no extremo oposto encontram-se os loteamentos mais recentes,
distantes e sem nenhuma infraestrutura, onde o transporte é raro e muito
deficiente, e a densidade de ocupação é baixa, sendo aí que se encontram os
moradores mais pobres (BOTELHO, 2007, p. 146).

Cabe reiterar que loteamento pode ser regular, considerando-se a formalidade existente nas
prefeituras – do tamanho do lote e da formalização legal (escritura no terreno etc.) –, bem
como pode ser irregular, nesse caso, muitas vezes, o morador compra o lote, mas dentro de um
processo informal e, portanto, é considerado irregular ou clandestino.
Por outro lado, as cidades brasileiras possuem algumas regiões mais valorizadas, o que
dificulta o acesso dos mais pobres e mesmo da classe média baixa, e algumas regiões
extremamente valorizadas, que interessam à lógica dos mercados imobiliários, como aponta
Ruben Katzman, a seguir:

[...] o aumento da densidade urbana potencializa o impacto da ampliação


das disparidades de renda sobre a segregação residencial. À medida que a
densidade urbana aumenta, os preços da propriedade em localidades diversas
vão se diferenciando. As moradias, por sua vez, vão se localizando onde os
preços condizem com o poder aquisitivo, devido à lógica própria dos mercados
imobiliários. A ampliação consequente das distâncias físicas entre as classes
aprofunda as lacunas territoriais das disparidades econômicas, elevando a
visibilidade das desigualdades sociais (KATZMAN, 2007, p. 321).

O mercado imobiliário, nas metrópoles e grandes cidades brasileiras, busca auferir a maior
renda possível. Tais agentes formados por grandes construtoras e incorporadoras (estas fazem o
projeto da construção) atendem a uma parcela da população, cada vez mais segmentada e de
alta renda.
Criam-se preços artificiais com uso da propaganda e do discurso que existem ilhas de
tranquilidade em condomínios fechados etc.. Utilizam-se da psicosfera da crença e do discurso
para vender esses espaços, geralmente, de autossegregação espacial e residencial.
Dessa maneira, existem vários tipos de segregação espacial no Brasil.

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Unidade: Paisagens Urbanas e Desigualdades Espaciais

A História da Habitação Social no Brasil

Após a criação da Lei de Terras do Brasil, de 1850, e com o fim do tráfico de escravos e
o final da escravidão, no final do século XIX, os negros não tiveram direito a terra no Brasil,
diferentemente, do que ocorreu nos Estados Unidos.
Desse modo, o processo de inclusão social e a possibilidade de acesso à terra para os negros
e para os mais pobres, não ocorreu, ficando esses grupos marginalizados em relação à questão
da legalidade e da apropriação da terra.
Como diz Ana Fani Alessandri Carlos, a cidade hoje está cada vez mais submetida ao
valor de troca, ou seja, transforma-se numa mercadoria, o que dificulta o acesso à moradia.
Diz a autora:

O plano de habitação revela o plano do vivido, nesta direção, as relações


sociais, na metrópole, podem ser lidas no plano da vida cotidiana, enquanto
prática sócio-espacial, concretizada no modo como as pessoas se apropriam
de um espaço, fragmentado por estratégias dos empreendedores imobiliários,
na medida em que, a propriedade privada como solo urbano, condiciona o
uso à realização do valor de troca – nesta direção a casa é entendida como
mercadoria. Neste contexto a cidade inteira, hoje, está submetida ao valor
da troca, como conseqüência da generalização do mundo da mercadoria, o
que significa que os modos possíveis de apropriação se realizam nos limites e
interstícios da propriedade privada do solo urbano, que delimita o acesso dos
cidadãos à moradia (definido e submetido pelo mercado fundiário), ao mesmo
tempo em que determina e orienta outras formas de uso (o momento definido
enquanto lazer, por exemplo) (CARLOS, 2004, p. 117).

Para uma imensa parte da população brasileira resta viver em loteamentos irregulares, favelas,
cortiços e até mesmo em situação de rua. Portanto, ao tratar de moradia, é importante perceber
os diferentes usos do território e também evidenciar que para além da própria moradia, há
diferenças em relação aos tipos de atividade de lazer, aos serviços públicos que, muitas vezes,
nas áreas mais pobres, são em quantidade e qualidade mais precários.

No Brasil, em 1964, o governo federal criou o Sistema Financeiro de Habitação (SFH),


segundo a concepção da época, para facilitar a aquisição da casa própria, para as famílias de
baixa renda. Este sistema era financiado pelo extinto Banco Nacional de Habitação (BNH).

A partir de 1973, devido à crise do petróleo, entre outras questões, o Brasil passou a ter
vários problemas econômicos com os quais muitos mutuários não conseguiam pagar as suas
casas devido ao desemprego e à alta inflação, ao longo dos anos 1980.

A partir da década de 1980 acirra-se o quadro de pobreza no país, sobretudo com o processo
de globalização, as desigualdades no Brasil vão ser ampliadas, e essa condição se evidencia no
aumento de favelas, cortiços e loteamentos irregulares nas cidades brasileiras.

18
Conforme explica a urbanista Ermínia Maricato:

A partir dos anos de 1980, a globalização acirra o quadro de pobreza e aprofunda


a desigualdade na cidade brasileira. A queda do crescimento econômico tem
como conseqüência a queda nos investimentos públicos e privados e o aumento
do desemprego. Essa estratégia é acompanhada de outra: a implementação de
políticas neoliberais. Sob inspiração do Consenso de Washington, do Fundo
Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BIRD), o estado brasileiro
executa o ajuste fiscal, o corte de subsídios nas políticas públicas, a privatização
do patrimônio público, a desregulamentação financeira e trabalhista, atingindo
também os serviços públicos. As conseqüências dos recuos financeiros nos
investimentos públicos não se fizeram esperar: o aumento da violência, aumento
exponencial da população moradora em favelas, aumento da população
moradora de rua, aumento da infância abandonada e o retorno de epidemias
já erradicadas, entre outras mazelas (MARICATO, 2012, p. 180).

Com o fim do BNH em 1988, a Caixa Econômica Federal assume o Sistema Financeiro
de Habitação (SFH) no Brasil. Desse modo, atualmente, é esse o sistema responsável pelo
financiamento da casa própria, entretanto, há alguns problemas nesse acesso à casa própria,
pois, as classes populares têm dificuldade em pagar o financiamento, porque os juros são
elevados ou, principalmente, porque não têm como provar renda formal, nem endereço.
Outra questão importante é o fato de que, no atual momento brasileiro – final do século XX
e, principalmente, no início do século XXI –, sobretudo nas grandes cidades, houve uma grande
valorização do espaço e os preços dos imóveis tornaram-se bastante elevados. O que dificulta o
acesso até da classe média, devido aos valores exorbitantes.
Mais recentemente, foi criado pelo Governo Federal, com o intuito de construir casas
populares, o Programa Minha Casa Minha Vida. Tal Programa pretende criar para as famílias
de baixa renda, ou de classe média baixa, moradias subsidiadas, em parte, pelo Governo
Federal, e em parte com o apoio das prefeituras, já que depende de espaço para a construção
dessas moradias. Trata-se, portanto, de um Programa Federal, mas em parceria com as
prefeituras brasileiras.
Trata-se de um Programa de larga escala, que atende parcialmente aos problemas de moradia
no Brasil.
Finalizando esta unidade, reiteramos que há diferentes paisagens e desigualdades espaciais
urbanas no Brasil, que precisam ser compreendidas como processos complexos, ampliados pelo
modo de produção capitalista e pelos interesses do mercado.

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Unidade: Paisagens Urbanas e Desigualdades Espaciais

Material Complementar

Leituras:
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Demográfico 2010: Aglomerados
subnormais: informações territoriais. Rio de Janeiro: 2013. Acesso em 20/10/2014. Disponível em:
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/552/cd_2010_agsn_if.pdf

CARLOS, Ana Fani Alessandri. O espaço urbano: novos escritos sobre a cidade. São Paulo: FFLCH, USP, 2007.
Acesso em 20/10/2014. Disponível em:
http://gesp.fflch.usp.br/sites/gesp.fflch.usp.br/files/Espaco_urbano.pdf

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO (PMSP). Cortiços: a experiência em São Paulo. Secretaria de Habitação,
2010. Acesso em 20/010/2014. Disponível em:
http://www.habisp.inf.br/theke/documentos/publicacoes/corticos

Vídeo:
IPEA. (27min39). Panorama Ipea discute as favelas no Brasil. Disponível em:
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=21041

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Referências

BONDUKI, Nabil. Origens da habitação social no Brasil. São Paulo: Estação Liberdade e
FAPESP, 1998.

BOTELHO, Adriano. O urbano em fragmentos: a produção do espaço e da moradia pelas


práticas do setor imobiliário. São Paulo: Annablume: FAPESP, 2007.

BRASIL. Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001. Brasília, Presidência da República,


2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm. Acesso
22/10/2014.

CARLOS, Ana Fani Alessandri. O espaço urbano: novos escritos sobre a cidade. São Paulo:
Contexto, 2004.

CORREA, Roberto Lobato. Sobre agentes sociais, escala e produção do espaço. In: CARLOS,
Ana Fani Alessandri; SOUZA, Marcelo Lopes; SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão (orgs.).
A produção do espaço urbano: agentes e processos, escalas e desafios. São Paulo: Contexto,
2011, p. 41-52.

CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 2000.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Demográfico


2010: Aglomerados subnormais: informações territoriais. Rio de Janeiro: 2013.

KATZMAN, Ruben. A dimensão espacial nas políticas de superação da pobreza urbana. In:
RIBEIRO, Luiz Cesar de Queirós e SANTOS JUNIOR, Orlando Alves dos (orgs.). As metrópoles
e a questão social brasileira. Rio de Janeiro: Revan, Fase, 2007.

MARICATO, Ermínia. O impasse da política urbana no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2012.

RODRIGUES, Arlete Moysés. A matriz discursiva sobre o meio ambiente: produção do espaço
urbano – agentes, escalas e conflitos. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri; SOUZA, Marcelo Lopes;
SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão (orgs.). A produção do espaço urbano: agentes e
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SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos


da Geografia. São Paulo: Edusp, 2008.

SANTOS, Milton. O papel ativo da Geografia: um manifesto. São Paulo, Depto de Geografia,
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SOUZA, Marcelo J. Lopes. Mudar a cidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

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Unidade: Paisagens Urbanas e Desigualdades Espaciais

SOUZA, Marcelo Lopes. A cidade, a palavra e o poder: práticas, imaginários e discursos


heterônomos e autônomos na produção do espaço urbano. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri;
SOUZA, Marcelo Lopes; SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão (orgs.). A produção do espaço
urbano: agentes e processos, escalas e desafios. São Paulo: Contexto, 2011, p. 147-166.

SOUZA, Marcelo Lopes. A prisão e a ágora. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

SOUZA, Marcelo Lopes. ABC do desenvolvimento urbano. Rio de Janeiro: Bertrand


Brasil, 2007.

SOUZA, Marcelo Lopes. O desafio metropolitano: um estudo sobre a problemática sócio-


espacial das metrópoles brasileiras. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

SOUZA, Marcelo Lopes. O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In:
CASTRO, I. E.; GOMES, P. C. C.; CORRÊA, R. L. (orgs.). Geografia: conceitos e temas. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.

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Anotações

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