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RESUMO
Desde a refuncionalização das praias cariocas, na virada do século XIX para o XX, tais
locais têm sido utilizados de diversas maneiras no âmbito do lazer, e dentre estas formas
se inserem as práticas esportivas, em variado leque de modalidades. Neste sentido, este
trabalho apresenta uma pequena contribuição para o tema das microterritorialidades
dentro do espaço praiano. Logo em seu primeiro mandato, em 2009, o então prefeito do
município do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, através de uma política de ordenamento
territorial, o Choque de Ordem, proibiu as práticas esportivas no espelho d’água em
horário estendido. Sendo assim, notamos que os praticantes deste esporte não se
conformaram com esta imposição arbitrária, sempre contestando este impedimento,
burlando as regras e praticando estas atividades de lazer no espelho d’água fora do
horário permitido.
INTRODUÇÃO
1
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia da UERJ.
Nosso objetivo consiste em analisar um dos inúmeros exemplos de
microterritorialidades que ocorrem entre os agentes que exercem alguma atividade
esportiva e o meio praiano – o altinho – ou seja, como estes produzem o espaço.
Utilizamos como metodologia o levantamento bibliográfico dos diversos
autores que poderiam vir a contribuir de alguma forma com a nossa temática. Após
leitura minuciosa, selecionamos as obras que de fato nos ajudariam na construção deste
artigo. Além disso, alguns trabalhos de campo foram necessários para que nossa
investigação fosse ainda mais rica nos detalhes. Portanto, nossa pesquisa mescla um
pouco de teoria e empirismo. É importante ressaltar que as conversas com os praticantes
de altinho foram extremamente informais, por isso, preferimos não chamá-las de
entrevistas, visto que este termo carrega alto grau de formalidade. Ademais, buscando
uma maior contribuição para o assunto, acessamos diversos portais de notícia com o
intuito de trazer ainda mais informações que pudessem agregar nossa investigação.
Uma das questões mais polêmicas envolvendo estes agentes foi a proibição
pelo então prefeito Eduardo Paes (2009-2016), ainda em seu primeiro mandato, através
da Operação Choque de Ordem, que tinha por objetivo impor a ordenação urbana à
cidade. Acerca desse tema, analisaremos o controverso impedimento de se praticar tal
esporte no espelho d’água (das oito da manhã até às dezessete horas da tarde), área
tradicionalmente tomada pelos jogadores. Assim, procuramos combinar este tópico com
a temática das microterritorialidades, assunto relativamente incipiente na Geografia.
Este trabalho está dividido em duas partes. A primeira consiste em uma breve
discussão sobre os conceitos de territorialidade e microterritorialidade, buscando uma
base teórica para nosso foco: as disputas de poder que ocorrem entre os praticantes de
altinho e a figura do prefeito, representado pela guarda municipal. A segunda parte
mostrará como a polêmica proibição de esportes na beira do mar afetou a vida dos
frequentadores da praia de Ipanema, promovendo lutas por pequenas parcelas do espaço
praiano – os microterritórios.
Outros dois autores que dão sentido ao tema em pauta são Benhur Pinós da
Costa e Antonio Bernardes (2013). Estes autores entendem que as microterritorialidades
estão associadas à apropriação de pequenos pedaços do espaço público por indivíduos
que irão produzir o espaço de acordo com determinadas identidades, as quais darão
sentido aos microterritórios estabelecidos. Para os autores
Neste sentido, a segunda parte deste trabalho irá analisar como a política
conhecida como Choque de Ordem interferiu na dinâmica espacial da orla de Ipanema.
Isto é, investigaremos tal apropriação de pequenas partes do espaço praiano pelos
jogadores de altinho e como a nova política de ordenamento do território modificou a
produção deste espaço.
2
Disponível em <http://www.rio.rj.gov.br/web/guest/exibeconteudo?article-id=87137>. Acesso em
11/07/2018.
boladas. Cachorro na areia, que comprometia tanto a saúde das pessoas
quanto a do próprio animal, também está terminantemente proibido.
As ilegalidades foram contidas por uma operação que mobiliza diariamente
cerca de 400 homens entre GMs e fiscais. O objetivo é oferecer ao carioca e a
todos que chegam à cidade uma praia mais nota de limpa e organizada 3.
3
Disponível em
<http://prefeitura.rio/web/seop/exibeconteudo;jsessionid=A71CFD809C170552F46AB2F49892D5A4.life
rayinst4?p_p_id=exibirconteudoportlet_WAR_conteudoportlet_INSTANCE_9H2x&p_p_lifecycle=0&p_
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portlet_INSTANCE_9H2x_viewMode=print>. Acesso em 11/07/2018.
Banhistas e guardas municipais se envolveram numa confusão, na tarde desta
terça-feira (9), na Praia de Ipanema, na Zona Sul do Rio. De acordo com o relato
de um surfista que estava na praia, a briga teve início quando os guardas
municipais tentaram proibir jovens de jogar altinho — brincadeira em que se
forma uma roda e os participantes tentam não deixar a bola cair — na beira do
mar. Em nota, a Guarda Municipal (GM) confirma a repressão ao jogo, mas diz
que já foi recebida com barras de ferro, pedaços de madeira, cocos e cadeiras de
praia arremessados.
Um rapaz de 25 anos, identificado como João Pedro, foi para a 14ª DP (Leblon) e
os demais teriam fugido. Ainda segundo a GM, testemunhas estiveram na
delegacia e confirmaram as agressões.
O surfista, que pediu para não ser identificado, disse ao G1, no entanto, que os
guardas começaram as agressões com cassetetes. Segundo ele, os banhistas teriam
revidado o ataque atirando objetos e cocos nos guardas. Dois jovens foram feridos,
de acordo com a testemunha.
"Parecia um corredor de baile funk ou uma briga de torcida. A confusão foi
generalizada. Os guardas chegaram de uma forma muito mais ríspida que o
normal. Eles já chegaram com o cassetete na mão. Os meninos que jogavam
altinho foram espancados, um deles ficou caído no chão, cheio de marcas
vermelhas pelo corpo. Todo mundo ficou muito assustado", contou o surfista.
Um rapaz de 25 anos, identificado como João Pedro, foi para a 14ª DP (Leblon) e
os demais teriam fugido. Ainda segundo a GM, testemunhas estiveram na
delegacia e confirmaram as agressões.
O surfista, que pediu para não ser identificado, disse ao G1, no entanto, que os
guardas começaram as agressões com cassetetes. Segundo ele, os banhistas teriam
revidado o ataque atirando objetos e cocos nos guardas. Dois jovens foram feridos,
de acordo com a testemunha.
"Parecia um corredor de baile funk ou uma briga de torcida. A confusão foi
generalizada. Os guardas chegaram de uma forma muito mais ríspida que o
normal. Eles já chegaram com o cassetete na mão. Os meninos que jogavam
altinho foram espancados, um deles ficou caído no chão, cheio de marcas
vermelhas pelo corpo. Todo mundo ficou muito assustado", contou o surfista.
A briga aconteceu na Praia de Ipanema, entre as ruas Maria Quitéria e Joana
Angélica, por volta das 16h304.
4
Disponível em <http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2012/10/guardas-sao-acusados-de-agredir-
jovens-em-briga-na-praia-de-ipanema.html>. Acesso em 11/07/2018.
Imagem 1: Espelho d’água na praia de Ipanema Imagem 2: Briga entre praticantes do altinho e
dominado por praticantes de altinho. guardas municipais na praia de Ipanema,
Fonte: National Geographic. ocorrida em 09 de outubro de 2012.
Fonte: G1.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, podemos afirmar que o altinho é uma das práticas de lazer que produz
relações de poder bem específicas. Os conflitos que se desenvolvem pela disputa destes
microterritórios são sem dúvida uma das maiores formas de contestação por
determinadas parcelas do espaço que encontramos em nosso recorte empírico (já
estudamos outros esportes e podemos assim traçar paralelos).
É importante observar que apesar da proibição abarcar todas as práticas
esportivas presentes nesta parte da praia, o fato de em uma única roda de altinho, existir
a possibilidade de juntar muitos indivíduos de uma vez só, isso faz com que estes
tenham mais voz/ força na hora de enfrentar os guardas municipais no momento em que
irão disputar seus territórios. De qualquer forma, vale lembrar que outras atividades
também são praticadas no espelho d’água, como o frescobol e até mesmo a peteca.
Entendemos assim que as transformações trazidas pelo Choque de Ordem
alteraram bastante, e de forma negativa, a dinâmica do espaço praiano, afetando a vida
dos tradicionais jogadores de altinho na praia de Ipanema. Deste modo, concluímos este
artigo esperando ter contribuído com as discussões sobre o conteúdo das
microterritorialidades, bem como com os estudos da produção do espaço pelos
praticantes de altinho na orla de Ipanema.
REFERÊNCIAS