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Capítulo 1

O espaço geográfico e as categorias espaciais

Ponto de partida
Imagens como as que veremos a seguir são comuns no nosso dia a dia ou pelo menos remetem a fatos que
já estiveram ao alcance da nossa visão. As imagens são formas de representar o espaço real observado em
suas múltiplas perspectivas, portanto, detêm significados. Por meio das categorias geográficas, as imagens
podem ser interpretadas tal qual entendemos o conceito de paisagem, que, nas palavras do geógrafo Milton
Santos, “é o espaço humano em perspectiva... é a história congelada... são as formas que se realizam, e no
espaço, as funções sociais”. Dessa forma, entendendo que o que movimenta a paisagem são as ações, as
imagens são, portanto, formas de representar a paisagem e carregam com elas o significado dessas ações e
contam a funcionalidade do lugar que observamos.

Consideramos, então, que as ações definem os lugares, e que as imagens que observamos os caracterizam.
Este capítulo tem o objetivo de explicar os conceitos geográficos, elucidando como podemos interpretar as
mudanças que ocorrem no espaço geográfico em função da ação humana, bem como pelo avanço da
técnica e da informação. De forma geral, vamos aprender como se configuram os lugares e como podemos
interpretá-los, atribuindo significados e entendendo suas funções. Sendo assim, observe as imagens a seguir
e identifique a funcionalidade do lugar que cada imagem representa.

Morador de rua em Belo Horizonte, MG Fachada principal do shopping JK Iguatemi, em São


Fonte: Shutterstock Paulo, SP
Fonte: Shutterstock

Geografia - Itinerário Integrador - 1ª Série do Ensino Médio: O espaço geográfico e as categorias espaciais 1 / 22
Vista aérea de um condomínio de luxo na praia,
Tabatinga, SP
Construções de moradias populares do Programa Fonte: Shutterstock
Minha Casa Minha Vida da cidade de Itamaraju, BA
Fonte: Shutterstock

Vendedor de frutas ambulante em Belém, PA Mulheres tentando entrar em ônibus lotado na


Fonte: Shutterstock metrópole de São Paulo, SP
Fonte: Shutterstock

Alguma vez você já se perguntou por que nos deparamos com realidades assim? Imagens que se
sobrepõem no espaço e, muitas vezes, evidenciam contradição? Já se perguntou por que os espaços
são seletivos, onde coisas parecidas permanecem em lugares parecidos e atividades diferentes são
isoladas de lugares com as quais não se padronizam? Com qual frequência você se depara com eventos
diferentes na sua casa, no seu bairro, na sua cidade, em cidades perto de você ou por todos os lugares
que você frequenta?

Compreender essas questões nos leva à percepção e ao entendimento de como são concretizadas as
relações sociais e as técnicas no espaço geográfico, ajudando-nos a compreender como essas relações
produzem e transformam o espaço geográfico habitual, e, por vezes, banal, do qual fazemos parte.
Neste capítulo, veremos como definir e compreender os conceitos comuns aplicados na área da
Geografia, como a concepção do espaço, da região, do lugar, da paisagem e do território. A
compreensão desses conceitos é imprescindível para interpretar e analisar as mudanças geográficas que
já ocorreram e que vêm ocorrendo sob nossos olhos, mas que nem sempre são comumente
interpretadas, é para isso que serve o estudo geográfico.

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Transformações do espaço geográfico
Como ciência social, a Geografia tem o objetivo de estudar a sociedade, que é analisada via cinco conceitos-
chave, os quais se referem à ação humana modelando a superfície da Terra. São eles: paisagem, região,
espaço, lugar e território.

A apropriação do espaço, atualmente, expressa-se nas necessidades territoriais de uma sociedade em função
de seu desenvolvimento tecnológico, do contingente populacional e dos recursos naturais. Os debates
atuais exprimem uma relação de equilíbrio entre sociedade e recursos naturais, mediados pela capacidade
técnica. Dessa forma, a preservação e a ampliação do espaço deve ser a razão pela qual deve funcionar o
Estado.

O espaço transforma-se por meio da política e das interações sociais, que se expressam no território, que é
um lugar de poder. São as diferentes práticas humanas que estabelecem diferentes conceitos sobre o espaço.
É nos lugares que se desenvolvem ações e mecanismos econômicos que ocorre a diferenciação do espaço
geográfico, e essa diferenciação das ações permite visualizar diferentes paisagens. As relações entre os
objetos, como dinheiro, tempo, energia e distância definem as questões socioeconômicas dos lugares. É essa
relação que determina o uso da terra. A distância infere de forma significativa na concepção do espaço atual,
seja pela relação centro - periferia, urbano - rural, natureza - sociedade, trabalho - mecanização, educação -
tecnologia etc.

Um exemplo comum no nosso dia a dia, principalmente em cidades menores, é uma inversão do que
acontecia em eventos anteriores, quando houve o chamado êxodo rural, em que pessoas do campo iam
para a cidade em busca de trabalho. Hoje, costumeiramente, vemos trabalhadores que vivem nas cidades
indo trabalhar no campo. Isso acontece, entre outros fatores, devido à mecanização do campo, que, ao
contrário do que se esperava, gerou novas formas de trabalho, uma vez que a população crescente das
cidades gera uma demanda maior de alimentos.

A paisagem
Na Geografia, é comum a diferenciação entre paisagem natural e paisagem cultural ou humanizada. A
paisagem natural refere-se aos elementos combinados, como relevo, vegetação, solo, rios etc., enquanto a
paisagem cultural consiste no espaço modificado pelo homem, seja ele rural ou urbano. Nos tempos atuais,
é pouco provável que encontremos espaços que já não tenham sido tocados pelo ser humano, portanto,
um espaço natural tem sido cada vez mais raro. A paisagem não é estática, pois ela é a representação de um
tempo que passou ou que se faz presente.

Podemos dizer que a paisagem é uma determinada porção do espaço e o resultado de uma combinação
dinâmica e instável de elementos físicos, biológicos e antrópicos, que, combinados uns com os outros, fazem
da paisagem um conjunto único e indissociável em contínua evolução. A paisagem está em um processo
constante de desenvolvimento, dissolução e substituição. A compreensão do espaço modificado pelo ser
humano e das suas formas de apropriação é fundamental para o entendimento da paisagem.

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A dinâmica cultural explica a preservação das lembranças do passado e a conservação das paisagens, ou
seja, diferentes grupos culturais tendem a provocar
transformações diferenciadas nas paisagens. Sendo
assim, a paisagem passa a ser o reflexo da forma
intelectual como diferentes grupos sociais percebem
e interpretam a paisagem, construindo seus marcos e
significados.

Entendemos que a paisagem, em sua materialidade,


nasce quando surge o nosso planeta, por isso, pode
ser estudada desde a Pré-história. A partir do
momento em que o ser humano começa a distanciar-
se da natureza, a adquirir técnicas suficientes e a vê-
la como passível de ser apropriada e transformada,
surge a primeira interpretação e o processo de Desenvolvimento da técnica na Pré-história
evolução da paisagem. Fonte: Shutterstock

De forma geral, tomamos a paisagem como uma


entidade espacial que depende da história econômica, cultural e ideológica de cada grupo regional e de cada
sociedade, podendo ser compreendida como portadora de funções sociais, não um produto, mas um
processo que confere ao espaço significados ideológicos ou finalidades sociais com base nos padrões
econômicos, políticos e culturais vigentes.

Nas duas faces da Geografia, existe uma diferença na interpretação da paisagem. Enquanto na Geografia
física prevalece o entendimento da paisagem como um sistema ecológico, na Geografia humana, prevalece
uma abordagem mais interpretativa, uma dialética entre o concreto e o abstrato, seja em termos materiais
ou de significação. Trata-se de uma diferença necessária, uma vez que cada fenômeno requer uma análise
específica para cada nível de interpretação.

Quem sabe perceber uma paisagem consegue entender seu valor, observar a importância dela em sua
vida, criar um vínculo afetivo com ela e, consequentemente, defender sua perpetuação. Para que isso
ocorra, o indivíduo necessita estar de bem com a vida, possuir uma educação que lhe permita entender
sobre sua existência e de seu entorno, sendo necessária uma atitude cultural e psicológica equilibrada
para criar uma sociedade de justiça social (SCHIER, 2003).

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Vista de uma pequena aldeia na floresta Amazônica na Estação de pesquisa na Antártida
margem do rio Yanayacu, Peru Fonte: Shutterstock
Fonte: Shutterstock

O espaço geográfico
Com a nova Divisão Internacional do Trabalho -
DIT e, consequentemente, com a desigualdade que
se forma pela produção desigual do espaço,
podemos dizer que o espaço geográfico se
encontra dividido não mais por fronteiras políticas,
que são cada vez mais inexistentes, mas pelo
aspecto das relações e do poder que elas exercem,
seja por meio técnico, científico ou informacional.

Em termos de regionalização, que, num contexto


amplo, significa separar, agrupar, e diferenciar, seja
por semelhança ou por disparidades, tomamos
como exemplo a região Sudeste, que é considerada
a região mais desenvolvida economicamente. O
Sudeste concentra mais de 17% da pobreza do país
e é também a região com a maior desigualdade,
cerca de 64%, de acordo com o Instituto Brasileiro
Símbolo ilustrativo – desigualdade
Fonte: Shutterstock de Geografia e Estatística, o IBGE. É por meio da
distância que se mede a desigualdade, como afirma
[1]
o professor Érico Veras , pois, quando é considerado o limite inferior muito baixo (rendas mais baixas),
qualquer coisa no limite superior (rendas mais altas) torna a distância maior, e a desigualdade é uma questão
de proporção entre elas.

Com o avanço da tecnologia no mundo todo, a DIT deixa de ser restrita apenas às matérias-primas e a
produtos industrializados e passa a ser atribuída à exportação de tecnologias. Logo, um país que detém a
produção de aparelhos tecnológicos e softwares modernos deve ser adicionado à DIT para a distribuição
dessa produção ao restante do mundo que não possui potencial produtivo tecnológico.

Para facilitar o entendimento, pense na cidade em que você mora. Imagine que ela esteja completamente
isolada do resto do mundo e precise produzir todos os seus bens. É provável que as regiões mais afastadas
e com maior quantidade de terras férteis ficassem responsáveis pela agricultura. Ao mesmo tempo, os
bairros com maior desenvolvimento industrial ficariam encarregados de desenvolver tecnologias,
maquinários etc. É assim que funciona o mecanismo da Divisão Internacional do Trabalho, que, no fim, trata-
se de uma distribuição global de atividades que cada país deve executar a fim de exportar a produção e
suprir a necessidade mundial de um certo ingrediente, insumo ou produto.

Ao longo do processo de organização do espaço, o ser humano estabeleceu um conjunto de práticas através
das quais as formas e as interações espaciais são criadas, mantidas, desfeitas e refeitas. Essas práticas
espaciais são um conjunto de ações que impactam diretamente o espaço, hora alterando-o como todo ou
em parte, hora preservando-o em suas formas e interações sociais. Essas práticas espaciais vêm da
consciência que a humanidade tem da diferenciação espacial, a qual está ancorada nos padrões culturais de

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cada tipo de sociedade e nas possibilidades técnicas disponíveis em cada momento, que irão fornecer
significados distintos à natureza e à organização espacial.

Consideremos o espaço geográfico como uma relação infinita porque não se limita ao espaço local. O
espaço atual é produzido em redes de
movimentos expressas a partir da revolução
técnico-científico-informacional, que foi definida
por Milton Santos em meados dos anos 90. Os
lugares não mais se relacionam somente com
lugares próximos, ao contrário, estão interligados
espacialmente em redes globais de comunicação,
por tecnologias como fibras ópticas, pela
Indústria 4.0, pela mais atual rede 5G, pelas
redes de transportes e por imageamento de
satélites cada vez mais qualificados e robustos. A
tecnologia produz o espaço.
Jogo de xadrez representando a hierarquia imposta pela
Ora, se a distância e as tecnologias atualmente nova Divisão Internacional do Trabalho
transformam o espaço, a relação de produção do Fonte: Shutterstock
espaço depende de onde, de como e de quando

a presença de uma interfere na outra. Portanto,


a distância se define pelo acesso a um bem ou
serviço e não mais pelo quão distante se
encontra um lugar do outro. Significa, por
exemplo, morar ao lado de um condomínio de
luxo e ainda assim não ter uma rede de internet
ou, na pior das hipóteses, não ter condições de
providenciar, no mínimo, uma cesta básica.

O espaço atual engloba, mas também exclui. O


espaço, portanto, não é ponto de partida, onde
tudo pode acontecer, e nem ponto de chegada,
onde tudo se efetiva. O espaço é um meio de
transformação.

Rede luminosa representando as principais rotas


aéreas da Terra
Fonte: Shutterstock

Podemos interpretar as transformações do espaço através da configuração, das forças produtivas que se dão
pela relação entre a técnica, as ações humanas e o conhecimento atribuído. As tecnologias por si só não
transformam o espaço. Para que isso aconteça, é preciso um gerenciamento humano, e esse gerenciamento

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é baseado nas informações e no conhecimento que se têm sobre o meio em que se vive. Entendemos o
espaço como produto das relações humanas, portanto, a cultura de uma sociedade é fator-chave na
determinação de como o espaço pode ser transformado, seja pela atribuição de poder político, por
movimentos sociais ou pelo liberalismo econômico, que atualmente tem sido o principal responsável pela
transformação do espaço geográfico, uma vez que o Estado tem sido cada vez menos atuante em relação à
lógica de produção econômica de um país.

Isso explica porque existem lugares bem dotados de infraestrutura tornando-se atrativos, o que leva a
maiores investimentos e lugares marginalizados, isto é, que não atraem investimento porque não recebem
investimentos, que dependerão principalmente de políticas públicas. Nesse caso, o Estado seria o principal
intermediador, seja para investir em infraestrutura, seja para amenizar conflitos decorrentes dessa relação
desigual da produção do espaço. O problema é que nem sempre o Estado cumpre essa função, por isso
existem os movimentos sociais.

Milton Santos falava da Guerra dos Lugares, que é a especialização dos lugares, a qual, em parte, acentua a
divisão do trabalho. Portanto, partindo da relação desigual entre centro e periferia, percebemos que a
periferia é montada pelo centro para fazer o que ele precisa e não quer fazer em seu próprio território, o que
explica a divisão entre países pobres e países ricos pela exploração que os primeiros sofrem dos segundos.

Enquanto conjunto de relações sociais e força produtiva, devemos, como sociedade, identificar as anomalias
construídas e produzidas ao longo do tempo e decidir se essas anomalias (questões sociais e ambientais) são
dignas de reprodução, ou seja, se resolvem as questões humanitárias e identitárias do mundo moderno ou
se são dignas de transformação, não contribuindo para o desenvolvimento sustentável e para a equidade
social geral. O conhecimento, nesse caso, entra como um outro conceito-chave de como o espaço pode ser
transformado no mundo atual. Muitas vezes, nos limitamos àquilo que conhecemos, ou seja, deixamos de
apoiar causas por não saber os seus reais motivos. Isso gera o comodismo social, ou seja, banalizam-se
informações, acontecimentos, crises políticas, sociais e econômicas.

Questões identitárias podem ser definidas como as várias relações sociais que as pessoas estabelecem e
nas quais se engajam (RIBEIRO, 2015). Exemplo: movimento feminista, movimento LGBT, movimento
negro, movimentos contra a xenofobia, entre tantos outros.

De forma geral, podemos concluir que o espaço não pode ser considerado um instrumento político, onde
quem define o que acontece é somente quem tem poder e, portanto, controle sobre o território. Deve-se
considerar que territórios são vastos e múltiplos, e que existem outras formas de relações e de movimentos
que se apresentam no nosso dia a dia e que podem exercer influência. Um conceito que devemos entender
é que o Estado governa de acordo com uma visão geral das relações estabelecidas no território que ele
representa, no entanto, é a sociedade, como parte dessa relação, que deve identificar e sugerir mudanças
necessárias para o bem do convívio social e ambiental. Existe uma minoria presente que nem sempre está no
alcance da visão do Estado, e é ali que a sociedade deve agir.

As pessoas podem exercer influência sobre seu bairro, escola ou trabalho sem necessariamente ter algum
vínculo político ou ser dono de algum lugar ou negócio local. Em um exemplo simples, uma pessoa pode, ao
se sentir desconfortável com as altas temperaturas no verão, sugerir que pessoas de seu convívio plantem
árvores na calçada se entender que isso amenizará os efeitos da alta temperatura. O mesmo ocorre ao se

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identificar alguma outra causa social ou ambiental. É possível exercer poder e influenciar pessoas à sua volta
e, com isso, transformar o espaço ao seu redor sem necessariamente depender de leis ou de medidas
estatais.

 1. Professor do Departamento de Contabilidade da Faculdade de Economia, Administração, Atuária e


Contabilidade (FEAAC) da Universidade Federal do Ceará - UFC

Mão na massa
1 As imagens a seguir representam o crescimento de uma nova área em Binhai-China. Desde o início
do desenvolvimento, na década de 1990, essa região se tornou lar de inúmeras indústrias
aeroespaciais, petrolíferas, químicas e outras indústrias de manufatura. As mudanças ao longo de
vinte anos podem ser vistas nestas imagens adquiridas em 1992 e 2012. Imagens de satélites
atualmente são uma das melhores fontes de registro de mudanças da superfície da Terra. Assim como
os mapas, elas registram informações e contribuem de maneira significativa para a interpretação da
transformação de paisagens que constituem o espaço terrestre. Após a análise das imagens, reflita:
quem domina o espaço geográfico, o homem ou a natureza?

Crescimento da nova área de Binhai, China (antes e depois)


Fonte: Shutterstock

A imagem pode ser acessada via endereço eletrônico: https://cnec.lk/0nj7. É possível arrastar o cursor
para a esquerda e para a direita e visualizar melhor as alterações espaciais através da imagem. É uma
página internacional, por isso, caso deseje ver as informações, é possível clicar com o botão direito do
mouse em qualquer área da página e solicitar a tradução pelo Google.

O Portal de Mapas do IBGE é uma excelente fonte de informações geográficas para análises
territoriais. O IBGE possui o objetivo de “retratar o Brasil com informações necessárias ao
conhecimento de sua realidade e ao exercício da cidadania”. O IBGE é o principal provedor de
dados e informações do país e atende às necessidades dos mais diversos segmentos da sociedade
civil, bem como dos órgãos das esferas governamentais federal, estadual e municipal.

Nesta atividade, iremos explorar alguns indicadores sociais, ambientais, políticos e econômicos,
visualizar, nos mapas, como cada um deles se distribuem pelo território brasileiro e buscar atribuir o
conceito de regionalização. Para a atividade, o aluno deve escolher uma escala de análise espacial
(mundial, nacional, regional ou estadual) e, com isso, definir um eixo/tema a ser analisado,
descrevendo, de forma crítica, como esse indicador se distribui em sua escala de análise. É necessário
também explicar por que essa distribuição ocorre de tal forma, tendo como base os conceitos

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adquiridos anteriormente sobre a transformação do espaço geográfico. É importante que o aluno
compreenda que a ausência de um indicador em uma certa região implica na presença de outro e que
ambos podem ser interdependentes ou interligados entre si. Por isso, ele precisará entender qual é a
relação entre eles. O aluno pode comparar, por exemplo, se existe relação entre a taxa de educação
num estado com a taxa de desigualdade, comparando com um outro mapa. Esse tipo de relação é
interessante para que o aluno desenvolva um senso crítico sobre a produção e a transformação do
espaço geográfico.

Instruções: Ao acessar o portal de mapas pelo endereço eletrônico: https://cnec.lk/0njh, é possível


acessar diversos mapas sob os diversos eixos temáticos que registram informações do território
brasileiro. Na aba “Galeria”, ao selecionar “mapas” e exibir por “temas”, é possível navegar por diversos
eixos, como “Atlas”, “Informações Ambientais”, “Organização do Território” e outros. Ao clicar, por
exemplo, em “Atlas”, “Nacional” e depois “Atlas Nacional do Brasil”, há várias opções, como “Brasil no
mundo”, “Redes geográficas”, “Sociedade e economia” e “Território e meio ambiente”, e, abaixo de cada
tópico, há alguns indicadores sociais e ambientais importantes para a análise do território, seja no
Brasil ou no mundo. No eixo “Temático” também há várias outras opções.

Atividades de sala
2 O que propiciou inicialmente a transformação do espaço geográfico de um meio natural para um
meio totalmente humanizado?

3 O que transforma o espaço geográfico e ao mesmo tempo é capaz de produzir diferenciações no


espaço produzido? Explique.

4 Milton Santos foi um importante geógrafo brasileiro que definiu uma nova forma de revolução e
organização do espaço através do que ele denominou de “revolução técnico-científico-informacional”.
Descreva esse conceito e explique como essa revolução se caracterizou e vem transformando o
espaço geográfico atual.

5 No texto “Transformações do Espaço Geográfico” (Seção 1.2), são tratados alguns fatores que
basicamente definem ou interferem na configuração do espaço geográfico atual. A presença de um
desses elementos e a ausência do outro podem impactar na configuração de territórios e na maneira
como podem se tornar desiguais entre si. Quais são esses fatores?

6 Analise a notícia e o gráfico a seguir.

“O Brasil não só continua sendo um dos países mais desiguais do mundo, como está piorando: em
2020, seguindo uma tendência mundial acelerada pela pandemia do novo coronavírus, a
concentração de renda aumentou no país e, com isso, atingiu o pior nível em pelo menos duas
décadas. Em 2020, quase a metade da riqueza do país foi toda para a mão do 1% mais rico da
população: 49,6%...” .

CNN/Brasil. Disponível em: https://cnec.lk/0nrq. Acesso em: 25 jul. 2021.

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Nível de desigualdade entre países em 2020, medido pelo coeficiente de Gini
Fonte: Shutterstock

Responda: por que o Brasil tem se tornado o país mais desigual do mundo?

Conhecendo o espaço geográfico local


O lugar é a base da reprodução da vida e pode ser analisado por meio da relação habitante — identidade —
lugar. A cidade, por exemplo, é reflexo dos indivíduos que a compõem. Na escala local, as relações que os
indivíduos mantêm com os espaços habitados se exprimem todos os dias nos modos de uso sob as
condições mais banais. É o espaço sentido, pensado, apropriado e vivido através do indivíduo. O lugar é a
porção do espaço apropriável para a vida. É o bairro, a praça, a rua, e, nesse sentido, poderíamos afirmar que
não seria jamais a metrópole ou mesmo a cidade latu sensu (grande e ampla), a menos que seja a pequena
vila ou cidade (vivida-conhecida-reconhecida) em todos os cantos, como afirma a geógrafa Ana Fani Carlos.

O lugar antes era interpretado como local de singularidade. No entanto, a definição de lugar emerge
como uma necessidade diante do processo de globalização que se realiza hoje de forma cada vez mais
acelerada. Para Milton Santos, o lugar pode ser definido a partir da densidade técnica presente na
configuração do território atual e também por meio das informações que chegam e dos meios de
comunicação em geral (CARLOS, 2007).

Consideremos que a metrópole não é “lugar”, pois ela só pode ser vivida parcialmente, o que nos remeteria
à discussão do bairro como o espaço imediato da vida das relações cotidianas mais finas, portanto, passíveis
de descrição e compreensão. Entendemos que a globalização se materializa concretamente no lugar, é onde

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se lê, se percebe e se entende o mundo moderno em suas múltiplas dimensões, numa perspectiva mais
ampla, o que significa dizer que no lugar se vive e se realiza o cotidiano, e é aí que o mundial ganha
expressão. O mundial que existe no local redefine seu conteúdo, sem, todavia, anular as particularidades.

São os lugares que o ser humano habita dentro da


cidade (ou meio rural, se for o caso) que dizem
respeito ao seu cotidiano e ao seu modo de vida,
onde se locomove, se trabalha, se passeia, ou seja,
locais que o ser humano se apropria e que ganham
o significado dado pelo uso. A história do indivíduo
é aquela que produziu o espaço e que a ele se
imbrica, por isso, ela pode ser apropriada (o ser
humano se apropria porque conhece o espaço que Pessoas caminham em direção a um estabelecimento
ele próprio produziu) e ele jamais se reconhecerá local movidos pela propaganda
num espaço, cujas características são divergentes Fonte: Shutterstock
daquelas do espaço vivido e produzido por ele.
Com isso, o local também se torna território contraditório de poder e de lutas, de resistências compostas
por pequenas formas de apropriação. Os espaços da monumentalidade se cruzam, sendo os espaços do
poder e “do ver”. O espaço é construído em função de um tempo e de uma lógica que impõem
comportamentos, modos de uso, tempo e duração do uso (CARLOS, 2007).

O que a geógrafa Ana Fani Carlos explica é que os espaços são constituídos para determinados fins
(transporte, comércio, lazer, turismo), mas há de se considerar a relação que os indivíduos mantêm com
esses espaços. Dessa forma, museus, parques (turísticos e de lazer), aeroportos, shoppings e avenidas
são construídos para um determinado fim e para um público-alvo predefinido. Mas será que esses
monumentos têm relação com as pessoas locais ou foram feitos para atender à demanda do capital
global? É justamente essa relação de pertencimento e de identidade que irá diferenciar o local do global.

Uma avenida, por exemplo, pode atrapalhar o fluxo local se ela for construída para atender a uma demanda
regional ou de maior escala. Uma rua que era calma passa a ganhar cada vez mais movimento e, com isso, a
relação que o morador local tinha com a rua muda, porque o público que agora faz parte daquele espaço já
não é mais o mesmo. Mudam-se as relações com o comércio local, porque a avenida foi construída para
atender a um fluxo mais distante, seja para dar acesso a um novo shopping ou a um museu. Porque o
espaço agora é moeda de troca, ele é construído em função do que for mais rentável.

A produção do espaço realiza-se no plano do cotidiano e aparece nas formas de apropriação, utilização e
ocupação de um determinado lugar num momento específico. Ela revela-se pelo uso como produto da
divisão social e técnica do trabalho que produz uma morfologia espacial fragmentada e hierarquizada. Assim,
entendemos que as formas de apropriação, utilização e ocupação não são iguais para todos, pois o espaço
vira mercadoria, é comercializado e será produzido conforme uma lógica de interesse, por isso, é
hierarquizado.

As comunicações diminuem as distâncias, tornando o fluxo de informações contínuo e ininterrupto. Com


isso, cada vez mais o local se constitui na sua relação com o global. O lugar é produto das relações humanas
entre homem e natureza, tecido por relações sociais que se realizam no plano do vivido, o que garante a
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construção de uma rede de significados e sentidos tecida pela história e cultura civilizadora. Tudo isso produz
a identidade, na qual o homem se reconhece, porque é o lugar de vida.

Praça na cidade de São Luiz do Paraitinga, SP Moradores de rua abrigados debaixo de viaduto em
Fonte: Shutterstock Salvador, BA
Fonte: Shutterstock

Comércio frente a uma praça com restrição de uso de bicicleta, Londrina, PR


Fonte: Shutterstock

Mão na massa
7 Na moderna e globalmente conectada sociedade atual, é cada vez mais importante entender o
mundo ao nosso redor. O Google Earth e as ferramentas de mapeamento do Google não estão
relacionadas apenas à Geografia. Um lugar é universal, abrange diferentes culturas, disciplinas e
paisagens naturais, conectando todos nós ao mundo que nos cerca. Com o Earth e as ferramentas de
mapeamento do Google, você pode aprender sobre diversidade em diferentes biomas e cidades,
avaliar como o curso de um rio mudou ao longo do tempo ou criar um projeto que destaca estilos
arquitetônicos de épocas distintas.

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A proposta é desenvolver um projeto, através do Google Earth, relacionado a um local de interesse
do aluno. Pode ser uma cidade, um parque, um bairro, uma praça ou uma fazenda. Entretanto, é
necessário que o aluno tenha algum vínculo com esse local, seja por pertencimento, seja por querer
fazer parte dele. Para a execução e montagem do projeto, será necessário que o aluno tenha fotos ou
vídeos do local que deseja compartilhar com o mundo através da plataforma Google Earth.

É hora de revelar o seu lugar especial ao mundo, então, capriche no seu projeto e use bastante sua
criatividade! Acesse o site: https://cnec.lk/0njt e, antes de acessar o seu projeto, clique em “visão
geral” e leia as informações contidas na página. Elas podem lhe ajudar na montagem do seu projeto.
Em seguida, clique em “Abrir Earth” (botão superior à direita) e deixe carregar a página.

Ao abrir, vá para o canto esquerdo e clique na opção Projetos, depois Novo Projeto e Criar
projeto no Google Drive. Em Projeto sem título dê um nome ao seu projeto; pode ser o nome do
local que escolheu. Depois, clique em Novo elemento e pesquise pelo local que deseja adicionar no
seu projeto.

Lembre-se que, caso seja um bairro, uma praça, uma fazenda ou algum lugar assim, é preciso
pesquisar o nome da cidade e depois encontrá-los no mapa. É possível navegar por meio do zoom
ou então arrastar a imagem dentro do mapa até encontrar o local desejado.

Depois, clique em Adicionar marcador ou então em Desenhar linha ou forma e clique no local do
seu projeto no mapa. Essa ação abrirá uma caixa de texto na qual você poderá colocar o nome do
lugar e o título do projeto caso ainda não tenha feito isso. Na mesma caixa, clique em Editar lugar
para abrir uma caixa lateral em que você poderá inserir as informações do seu local.

Clique no ícone de imagem e selecione o arquivo que deseja adicionar, seja foto ou vídeo. Caso não
tenha arquivos do lugar que escolheu, é possível também pesquisar por imagens no Google. Fique
à vontade para selecionar quantos itens desejar.

Após fazer upload dos arquivos, coloque as informações de seu local na caixa de texto, descrevendo-
o. É importante pensar geograficamente para fazer essa descrição. Defina também um marcador de
acordo com o local que selecionou. Depois, basta clicar em Visualizar apresentação na parte
superior da barra.
Pronto, seu projeto será adicionado ao mapa. Se quiser, você pode capturar a visualização de seu
projeto e compar tilhá-lo para que outros usuários também visualizem o seu local no mundo.

No mapa também é possível visualizar o seu projeto em 3D e, a partir da ferramenta Street View, você
também pode visualizar alguns locais. Basta arrastá-la para o mapa e identificar quais locais são
visíveis através da indicação da linha azul que aparecerá. Se ainda tiver dúvidas, acesse esse tutorial
pelo endereço de ajuda do Google Earth: https://cnec.lk/0njg.

Atividades de sala
8 Defina o conceito de lugar, explicando o espaço geográfico local.

9 Por que podemos afirmar que a metrópole não se articula ao conceito de lugar?

10 Explique o fragmento do texto descrito por Ana Fani Carlos: “o local também se torna território
contraditório de poder e de lutas, de resistências compostas por pequenas formas de apropriação.”
Geografia - Itinerário Integrador - 1ª Série do Ensino Médio: O espaço geográfico e as categorias espaciais 13 / 22
11 O texto trata também de “espaços de monumentalidade, sendo espaço de poder e do ver”. O que
entender dessa proposição?

12 Com base na questão anterior, descreva, a partir do seu contexto local, mudanças espaciais
observadas. Escreva o que mudou na sua região.

Pesquisar as mudanças geográficas da região


A globalização tende a desterritorializar coisas, pessoas e ideias. Tudo tende a desenraizar-se: mercadorias,
moeda e capital. Tudo está para além dos territórios, fronteiras, sociedades nacionais, línguas, dialetos,
bandeiras, moedas, hinos, aparatos estatais, regimes políticos, tradições, heróis, santos, monumentos, ruínas.
O café brasileiro pode ser encontrado em uma cafeteria de Paris; o pão de queijo mineiro pode ser
encontrado em São Paulo; um lanche McDonald’s pode ser encontrado em qualquer lugar do mundo. De
repente, o que se mantém territorializado já não é mais o mesmo, muda de aspecto, adquire outro
significado, desfigura-se. Rompem-se os quadros geográficos e históricos remanescentes de espaço e tempo,
e emergem outras conotações para o que é singular, particular e universal, em outras mediações.

Desterritorialização é o movimento pelo qual se abandona o território. O processo de


desterritorialização pode ser tanto simbólico, com a destruição de símbolos, marcos históricos,
identidades, quanto concreto, político e/ou econômico, pela destruição de antigos laços/fronteiras
econômico-políticos de integração (HAESBAERT, 2003). A migração pode ser um exemplo claro desse
processo, uma vez que migrantes terão acesso a outra cultura. A derrubada do muro de Berlin em 1989
é um outro exemplo clássico na Geografia, pois foi um marco contra ideologias políticas. Um outro
exemplo simples no eixo econômico é a desterritorialização do açaí da Região Norte para o Brasil e o
mundo, pois, tradicionalmente, as pessoas o consomem salgado, mas, desterritorializado, esse produto
tem sido consumido adocicado.

O território
No seu sentido mais restrito, território é um nome político para a extensão de um país. Em outras palavras,
o território pode ser entendido como uma porção do espaço geográfico ou como uma extensão espacial de
uma jurisdição de governo. Aos conteúdos naturais do espaço, acrescentavam-se conteúdos políticos, os
quais definiram o território como um verdadeiro corpo político que se baseia numa construção histórica.
Não há sociedade sem um espaço que lhe seja próprio, no qual gerações se sucedem numa continuidade tal
qual se realiza uma identificação entre um povo e seu território. Trata-se não do território em si, mas do
território usado.

Podemos dizer que a existência de um país supõe um território e um Estado e, em decorrência disso, a ideia
de soberania, mesmo quando pode existir uma nação sem território e sem Estado. Nesse caso, a
territorialidade não faltará, pois o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence, embora permaneça

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apenas como reivindicação, sempre estará na ideia de nação. É a preocupação com o destino e com a
construção dos lugares que perpassa o uso do território e, por conseguinte, a respectiva nação. De certa
forma, não há como explicar o território sem sua utilização.

Para compreendermos melhor a formação e a importância de um território, precisamos voltar aos


conflitos existentes entre palestinos e judeus. Depois de inúmeras diásporas, os judeus buscavam sua
terra santa, e, no fim do século XIX, surgiu o movimento sionista, que tinha o objetivo de criar um
Estado judeu na região da Palestina, que é considerada o berço do judaísmo. No entanto, essa região já
estava ocupada por árabes-palestinos. Com o holocausto ocorrido na Segunda Guerra Mundial,
cresceram as migrações de povos judaicos para a região da Palestina, aumentando as pressões pela
criação do Estado de Israel, que foi fundado pela Organização das Nações Unidas, a ONU, em 1948. A
ONU decidiu dividir o território da Palestina em dois Estados independentes: o Estado da Palestina e o
Estado de Israel. Porém, essa decisão não foi bem recebida pelos palestinos.

De acordo com a divisão feita pela ONU, os árabes ficaram com a região da Cisjordânia e da Faixa de
Gaza e Jerusalém, como região sagrada para as principais religiões monoteístas, seria um território
neutro. Porém, isso gerou um grande descontentamento entre os árabes, que apesar de representarem
2/3 da população, ficaram com apenas pouco mais de 40% do território. Não demorou para eclodirem
intensos conflitos entre palestinos e israelenses. Em 1993, mediado pelos Estados Unidos, israelenses e
palestinos assinaram os Acordos de Oslo, no qual representantes da Organização pela Liberdade da
Palestina reconheceram a criação do Estado de Israel. No entanto, atualmente, setores radicais
israelenses e palestinos ainda mantêm intensos conflitos pela ocupação da região da Palestina.

Muro de separação entre o território palestino e Israel


Fonte: Shutterstock

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O território usado envolve todos os atores, sejam eles empresas, instituições e indivíduos.
Independentemente de sua força e apesar de essas forças serem desiguais, a história do território acontece.
O território usado abriga as ações passadas, cristalizadas em objetos e normas, e as ações presentes, que se
realizam diante dos nossos olhos.

O território usado é tudo aquilo que o constitui materialmente, ou seja, as infraestruturas, como os sistemas
de engenharia, a agricultura, a indústria, o meio urbano, as densidades demográficas e técnicas, e também
aquilo que podemos chamar de imaterial, como as ações, as normas, as leis, a cultura, os movimentos sociais
e fluxos de toda ordem, incluindo ideias e dinheiro. Sendo assim, quando analisamos o fenômeno técnico,
estamos analisando a constituição do território, isto é, como, onde, por quem, por quê e para quê o
território é usado.

Os sistemas técnicos autorizam, a cada momento histórico, uma forma e uma distribuição do trabalho. Por
isso, a redistribuição do processo social não é indiferente às formas herdadas, e o processo de reconstrução
da sociedade e do território pode ser entendido a partir da categoria de formação socioespacial. De certa
forma, a divisão territorial do trabalho cria uma hierarquia entre os lugares e redefine, a cada momento da
formação socioespacial, a capacidade de agir das pessoas, firmas e instituições.

Mudanças regionais
A condição da localização atual está baseada na indústria de alta tecnologia, que impõe uma trajetória de
crescimento intensiva em conhecimento e requer uma infraestrutura de natureza diferente da anterior,
porque antes bastava ter o domínio da técnica, entretanto, hoje, o conhecimento científico e informacional
articulado através das redes é fundamental. As telecomunicações, por exemplo, envolvem a instalação de
fibras óticas, os satélites espaciais, as redes de comunicação de dados e uma mão de obra altamente
qualificada. Contudo, é um processo que se dá com grandes distorções, pois as áreas beneficiadas muitas
vezes são aquelas que detêm melhores condições e são mais equipadas, o que aprofunda a desigualdade do
processo, tornando o espaço sempre hierarquizado.

O desenvolvimento da técnica vem implicando profundas transformações no processo produtivo. As


mudanças nos meios de comunicação que ligam os espaços em redes de fluxos cada vez mais densas,
ultrapassando fronteiras, colocam, antes de mais nada, uma necessidade de repensarmos a natureza do
espaço num momento em que uma relação espaço-tempo se transforma de modo incontestável.

O jornal, o rádio e a televisão se sucederam ao longo da história sem que o aparecimento de um novo meio
de comunicação de massa excluísse o outro. Atualmente, a Internet reúne todos esses meios em um único
aparelho. Nessa era informacional, os meios de comunicação exercem um papel social muito importante.
Nunca o volume de notícias foi tão grande, e sua difusão, tão rápida, e, do mesmo modo, nunca foi tão
amplo o poder de manipulação da mídia, que, muitas vezes, seleciona ou distorce os acontecimentos,
divulgando-os segundo seus próprios interesses políticos e econômicos. No meio atual, a informação,
portanto, não é neutra ou imparcial, ela é selecionada, transmitida e interpretada segundo o ponto de vista
e os interesses de países, empresas, partidos políticos, movimentos sociais e pessoas. Por isso, nos dias
atuais, se faz importante o conhecimento, que depende da capacidade de estabelecer conexões e dar
significado a dados e informações.

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De acordo com Milton Santos (1988), num estudo regional, deve-se tentar detalhar sua composição
enquanto organização social, política, econômica e cultural, abordando fatos concretos para reconhecer
como a área se insere na ordem econômica global. A busca da explicação das transformações passa pela
compreensão dos grandes grupos de variáveis que compõem o território, a começar pelos indicadores mais
comuns e indo aos mais complexos, os quais são reveladores das grandes mudanças ocorridas no período
técnico-científico: tipologia das tecnologias, dos capitais, da produção, do produto, das firmas e instituições;
intensidade, qualidade e natureza dos fluxos; captação dos circuitos espaciais de produção; peso dos
componentes técnicos modernos na produção agrícola; expansão das agroindústrias; novas relações de
trabalho no campo; desmaterialização da produção etc. Tais variáveis são interdependentes, umas são causa
e/ou consequência de outras, portanto, não possuem real valor se não forem analisadas em conjunto.

Conceito de comunicação global da Internet


Fonte: Shutterstock

Agroindústria: armazenamento e secagem de grãos Cartão de crédito: símbolo de poder de compra e


Fonte: Shutterstock comércio eletrônico
Fonte: Shutterstock

Mão na massa
13 A partir dos conceitos anteriores apresentados, a proposta é discutir a configuração territorial dada à
evolução da técnica, pois, no começo da história do homem, a configuração territorial era
simplesmente o conjunto de complexos naturais. À medida que o tempo foi passando, a configuração
territorial era dada pelas obras dos homens: estradas, plantações, casas, portos, fábricas etc. Cria-se

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uma configuração territorial que é cada vez mais o resultado de uma produção histórica que tende à
negação da natureza natural, substituindo-a por uma natureza inteiramente humanizada (MILTON
SANTOS, 2006).

Proposta de atividade/Tutorial: A plataforma MapBiomas é uma plataforma intuitiva e de acesso


facilitado ao público em geral. Nela, apresenta-se um projeto de mapeamento anual do uso e da
cobertura da terra no Brasil. É uma iniciativa que envolve uma rede colaborativa com especialistas nos
biomas, nos usos da terra, no sensoriamento remoto, no SIG e na ciência da computação e que utiliza
processamento em nuvem e classificadores automatizados desenvolvidos e operados a partir da
plataforma Google Earth Engine para gerar uma série histórica de mapas anuais de uso e cobertura
da terra do Brasil. Através dela, é possível identificar anualmente mudanças graduais da
transformação do espaço no Brasil, como infraestruturas urbanas, agricultura, vegetação, entre outras
opções. Sobretudo, é possível identificar como o meio natural vem sendo transformado sob a ótica da
produção do espaço, dado o avanço da mecanização do setor agrícola e os avanços na infraestrutura.

Ao abrir a plataforma MapBiomas pelo endereço https://cnec.lk/0nju, navegue até Mapas e Dados e
clique em Acesse a plataforma. Clique em Acessar tutorial ou em Acessar plataforma. Em
Acessar tutorial, a plataforma irá indicar o passo a passo de como navegar e selecionar os dados
para o mapa. Acessando a plataforma diretamente, na aba cober tura, selecione recor te territorial,
selecione o recorte territorial que deseja visualizar (estado, município, bioma, região hidrográfica etc.)
e, abaixo, na parte de legenda, selecione as classes que deseja analisar. Em cada classe, como “Floresta;
Formação natural não florestal; Agropecuária; Área não vegetada; Corpos d’água” existem subtópicos
que podem ser selecionados ou removidos de acordo com seu interesse. Depois, basta selecionar no
mapa a escala temporal que deseja comparar. Para isso, basta clicar em cada um dos pontos para
aparecer, no mapa, o ano com as classes mapeadas. O MapBiomas possui dados do ano de 1985 até
2019, no momento atual. Se tiver dúvidas, pode acessar, a qualquer momento, o tutorial na barra
lateral à direita.

Imagem ilustrativa dos mapas-base de imagens de 3m de resolução do MapBiomas


Fonte: Shutterstock

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Feita essa análise, registre as classes modificadas ao longo dos anos na sua região e também as
mudanças visíveis que identificou no seu dia a dia, que vão desde mudanças no setor agrícola até as
mudanças mais banais na área urbana onde frequenta. É preciso ter em mente que cada modificação
no espaço geográfico, por mais banal que pareça, sempre gera impactos, e, como analisa Milton
Santos, toda mudança é interdependente de outros fatores, podendo ser causa e/ou consequência de
outras, e não farão sentido se não forem analisadas em conjunto.

Atividades de sala
14 Compreender mudanças geográficas em uma região requer entender como ela está configurada
perante a nova ordem mundial. Sendo assim, explique como sua cidade vem se transformando e se
configurando diante dessa nova ordem.

15 Os padrões culturais definem, na maioria das vezes, a configuração do espaço regional. Escolha, na
sua região, uma prática comum, seja um serviço ou um produto. Cite-o e defina como esse produto
ou serviço se mantém ou tem se modificado ao longo dos anos através da configuração do espaço
atual.

16 Identifique, na sua região, alguma empresa multinacional ou internacional, privada ou concessionada,


e descreva como é essa relação/interação com o seu meio social e como o governo de sua cidade
contribui para atenuação dessa relação empresa versus sociedade.

17 Como explicar as transformações regionais de acordo com Milton Santos?

18 Defina o circuito espacial de produção de um produto de sua região.

Ilustração de uma cadeia de produção até a comercialização final


Fonte: Shutterstock

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Instruções: Escolha um produto e defina a origem da matéria-prima, como ela é processada e para
onde é encaminhada (setor/indústria). Defina como esse produto é produzido, as relações de
trabalho, se ele é uma indústria local, nacional, ou se é produto de uma empresa estrangeira. Defina
onde está o centro de comando dessa empresa, como é feita a comercialização do produto, quem são
os consumidores e para onde esse produto é enviado. Se necessário, crie uma tabela.

Resolução de problemas
19 (ENEM) A expansão das cidades e a formação das aglomerações urbanas no Brasil foram marcadas
pela produção industrial e pela consolidação das metrópoles como locais de seu desenvolvimento. Na
segunda metade do século XX, as metrópoles brasileiras estenderam-se por áreas de ocupação
contínua, configurando densas regiões urbanizadas.

MOURA, R. Arranjos urbano-regionais no Brasil: especificidades e reprodução de padrões. Disponível


em: www.ub.edu. Acesso em: 11 fev. 2015.

O resultado do processo geográfico descrito foi o(a)

a) valorização da escala local.


b) crescimento das áreas periféricas.
c) densificação do transporte ferroviário.
d) predomínio do planejamento estadual.
e) inibição de consórcios intermunicipais.

20 (ENEM) O planejamento deixou de controlar o crescimento urbano e passou a encorajá-lo por todos
os meios possíveis e imagináveis. Cidades, a nova mensagem soou em alto e bom som, eram
máquinas de produzir riquezas; o primeiro e principal objetivo do planejamento devia ser o de azeitar
a máquina.

HALL, P. Cidades do amanhã: uma história intelectual do planejamento e do projeto urbanos no


século XX. São Paulo: Perspectiva, 2016 (adaptado).

O modelo de planejamento urbano problematizado no texto é marcado pelo(a)

a) primazia da gestão popular.


b) uso de práticas sustentáveis.
c) construção do bem-estar social.
d) soberania do poder governamental.
e) ampliação da participação empresarial.

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21 (ENEM) A Divisão Internacional do Trabalho significa que alguns países se especializam em ganhar e
outros, em perder. Nossa comarca no mundo, que hoje chamamos América Latina, foi precoce:
especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento
se aventuraram pelos mares e lhe cravaram os dentes na garganta. Passaram-se os séculos e a
América Latina aprimorou suas funções.

GALEANO, E. As veias abertas da América Latina. São Paulo: Paz e Terra, 1978.

Escrito na década de 1970, o texto considera a participação da América Latina na Divisão


Internacional do Trabalho marcada pela

a) produção inovadora de padrões de tecnologia.


b) superação paulatina do caráter agroexportador.
c) apropriação imperialista dos recursos territoriais.
d) valorização econômica dos saberes tradicionais.
e) dependência externa do suprimento de alimentos.

22 (ENEM) “Saudado por centenas de militantes de movimentos sociais de quarenta países, o Papa
Francisco encerrou no dia 09/07/2015 o 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em Santa
Cruz de La Sierra, na Bolívia. Segundo ele, a “globalização da esperança, que nasce dos povos e
cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença”.

Disponível em: http://cartamaior.com.br. Acesso em: 15 jul. 2015 (adaptado).

No texto há uma crítica ao seguinte aspecto do mundo globalizado:

a) Liberdade política.
b) Mobilidade humana.
c) Conectividade cultural.
d) Disparidade econômica.
e) Complementaridade comercial.

Simulado on-line
Faça a leitura do código a seguir para resolver questões referentes ao conteúdo deste capítulo.

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