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NOME: Lara Mendes da Silva

DISCIPLINA: Fundamentos teóricos e epistemológicos da Geografia – PPGEO

RESENHA 5: PAISAGEM E LUGAR

TEXTOS: COSGROVE, D. A geografia está em toda parte: cultura e simbolismo nas


paisagens humanas. In: CORRÊA, R.L; ROSENDHAL, Z. (Orgs.) Geografia Cultural:
uma antologia. vol.1. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2012.
PONTE, P. Ver, ser e estar nas paisagens: trajetórias de um conceito em abertura.
GeoTextos. v.15, n.2, p.217-238, 2019.
SANTOS, M. O lugar: encontrando o futuro. RUA: Revista de urbanismo e
arquitetura. v.4, n.1, p.34-39, 1996.
Essa resenha refere-se à disciplina de Fundamentos teóricos e epistemológicos
da Geografia do programa de pós-graduação da Geografia Unifal. Tem como objetivo
resumir as ideias dos textos A geografia está em toda parte: cultura e simbolismo nas
paisagens humanas de Denis Cosgrove, Ver, ser e estar nas paisagens: trajetórias de
um conceito em abertura de Patrícia Ponte e O lugar: encontrando o futuro de Milton
Santos e, por fim, fazer uma síntese das ideias dos textos.
O texto do autor Denis Cosgrove foi publicado no livro Geografia Cultural:
uma ontologia e originalmente publicado como Geograpgy is everywhere: culture and
simbolism in the humam Land-scapes em 1989. Denis Cosgrove foi um geógrafo
britânico e professor de geografia na Universidade da Califórnia, com foco na temática
de Geografia Cultural. No texto em questão, o autor traz seu relato do cotidiano na
Inglaterra introduzindo sobre o conceito de paisagem na perspectiva fenomenológica.
Ele traz que a paisagem sempre esteve ligada com a cultura, com a ideia de formas
visíveis sobre a superfície da Terra e com a sua composição na geografia humana. Ele
afirma, ainda, que a paisagem é uma “maneira de ver”, uma maneira de compor e
harmonizar o mundo externo em uma unidade visual.
Sintetizando a paisagem, o autor traz que ela é um conceito complexo e traz três
especificações sobre implicações dela: 1) o foco na forma visível do mundo, a
composição e estrutura espacial; 2) a unidade, coerência e ordem ou concepção racional
do meio ambiente; 3) a ideia de intervenção humana e controle das forças modeladoras
do mundo. Dessa forma, para analisar a paisagem deve-se levar em consideração esses
aspectos para isso.
Ele traz ainda, que a geografia humana em influência de Carl Sauer seguiu uma
tradição da geografia cultural de concentrar-se nas formas visíveis da paisagem. A
cultura é entendida nesse contexto como um conjunto de práticas compartilhadas
comuns a um grupo particular de pessoas, sendo uma ação humana não reflexiva,
rotineiras da vida cotidiana, e, ligada ao poder. Assim como, a linguagem da cultura está
ligada à símbolos e significados dela, dessa forma, toda paisagem é simbólica por ser
resultado da apropriação e da transformação do meio ambiente pelo homem.
Por fim, Cosgrove (2012) encerra o texto trazendo os tipos de paisagem em
relação à expressão de poder das culturas. Tendo então: 1) paisagem da cultura
dominante: onde um grupo ou classe cuja dominação sobre outros está baseada no
controle dos meios de vida, em que eles determinam a alocação do excedente social
produzido por toda a comunidade; 2) paisagens alternativas: com culturas menos
visíveis que as dominantes; 3) paisagens residuais: aquelas paisagens do passado com
seus significados contemporâneos; 4) paisagens emergentes: culturas que trazem um
desafio à cultura dominante existente com visão de futuros alternativos; e 5) paisagens
excluídas: símbolos e imagens com interesse marginal ou levemente suspeito.
O segundo texto da geógrafa Patrícia Ponte traz um debate em cima do conceito
da paisagem, apresentando as trajetórias do conceito junto com os caminhos para usá-lo
por meio da fenomenologia. A autora é professora do Departamento e da Licenciatura
em Geografia do Instituto Federal da Bahia, tem foco de atuação na área de geografia
humana, em especial na geografia urbana e na geografia populacional com trabalhos na
temática da paisagem, arte, cidade, corporeidade, estudos populacionais e da
alimentação.
Ponte (2019) inicia seu texto trazendo que a palavra paisagem vem das palavras
“landschaft” e “landscape”, onde a primeira surge na idade média e remetia a porção de
terra delimitada pelos costumes e culturas de uma comunidade e a segunda surgiu na
língua inglesa no início do século XVII remetendo ao cenário em um sentido espacial.
Nesse sentido, ela traz que nos anos 1970 a paisagem foi tratada como conceito central
na geografia cultural.
Por meio da fenomenologia, a autora traz que a paisagem é a experiência
imediata do espaço, uma experiência do corpo e dos sentidos, se delimitando, segundo
Besse (2014), por meio do sentir. Ela ressalta que não se deve se delimitar apenas aos
significados individuais, e sim buscar o ponto de conexão das experiências de paisagem
dos sujeitos, sendo esse caminho pouco explorado na geografia, devido à atribuição de
centralidade à visualidade como condição própria do conceito.
Por fim, ela traz que é necessário do pesquisador entender a paisagem para além
do olhar, como também a entender enquanto inseridos nela, pois ele também pertence à
ela, além de, essa noção deslocar a ideia de contemplação da paisagem para a noção de
implicação. Essa noção implica na experiência política da paisagem, onde ela é forma-
de-vida em exposição, cuja possibilidade de transformação é potência, possibilitando
afirmar que, além do pesquisador estar na paisagem, ele mesmo é paisagem.
Por último, o texto do autor Milton Santos traz a noção de lugar fundamentada
na perspectiva do materialismo-histórico-dialético, se diferenciando na abordagem dos
outros dois textos mencionados acima. Milton Santos foi um geógrafo referência para a
geografia brasileira, com destaque nas temáticas de geografia urbana e globalização
com posicionamento crítico ao capitalismo. O texto trabalhado para a resenha defende
que cada lugar se define tanto por sua existência corpórea quanto por sua existência
relacional. Dentro desse processo de definições de cada lugar, o mundo tem sua
existência revelada pelo lugar, onde então as regiões se tornaram lugares funcionais do
todo.
Santos (1996) traz que o lugar se define como funcionalização do mundo e é por
ele que o mundo é percebido empiricamente. Por essa razão a região pode ser
considerada como um lugar, desde que a regra da unidade e da contiguidade do
acontecer histórico se verifique. Além de que, o lugar não deve ser visto como passivo,
mas como globalmente ativo e nele a globalização não pode ser vista apenas como uma
fábula.
Finalizando as ideias de Santos (1996), o lugar é a oportunidade do evento, ao
tornar-se espaço não perde suas marcas de origem e ganha características locais. O
evento é entendido como deformante e deformado, no lugar existe a possibilidade de
construir histórias que sejam diferentes do projeto dos autores hegemônicos, o que o
autor Ricouer (1986) chama de autonomia dos lugares.
Enfim, os textos abordam temáticas parecidas por pontos de partidas distintos,
onde Cosgrove (2012) e Ponte (2019) aborda a paisagem e região por meio da
perspectiva fenomenológica e Santos (1996) aborda o lugar pela perspectiva do
materialismo-histórico-dialético. As distintas abordagens levam à conceitos diferentes,
como já dito, a paisagem é conceito chave da geografia cultural e justamente é o
conceito de distinção do materialismo-histórico-dialético, por isso a escolha de Santos
(1996) de abordar o lugar para trabalhar as especificidades dos espaços e que mesmo
assim sofrem modificações pelas forças hegemônicas.

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