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Elaine Mundim Bortoleto
AULA 1
BASES TEÓRICAS E CONCEITUAIS
DA ABORDAGEM SOCIAL E
CULTURAL NA GEOGRAFIA -
GÊNESE E EVOLUÇÃO
EVOLUÇÃO DA GEOGRAFIA E SUAS CONCEPÇÕES
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Nesse sentido, com maior ênfase no final do século XIX até a metade do
século XX, é proposta uma nova teoria de diferenciação regional da Terra,
baseada na existência de combinações de aspectos naturais e de artefatos
comuns em dados espaços, como resultante da ação conjugada das forças
naturais e da ação humana (por exemplo, as regiões agrícolas, industriais,
turísticas, históricas, etc.). Após essa evolução, um novo enfoque surge na
Geografia, que é o estudo da distribuição dos homens e sua inserção no meio
ambiente, com os grupos humanos passando a ser o centro da análise.
(CLAVAL, 1997, 2002; ROCHA, 2007).
Assim, a partir de autores como Carl Sauer, se reforça uma nova linha de
pensamento, a Geografia Cultural, a qual estava alicerçada em temas tais
como história da cultura no espaço, ecologia cultural e, principalmente,
paisagens culturais, sofrendo, de acordo com Corrêa (1999), críticas severas
relacionadas principalmente a questões conceituais e metodológicas (não se
tinha uma metodologia e conceitos de estudo claros), o que gerou uma
relativa perda de prestígio e, por fim, o seu declínio na década de 1940
(ROCHA, 2007).
GEOGRAFIA HUMANÍSTICA OU CULTURAL –
DEFINIÇÕES/FASES
Tem como base os trabalhos realizados por Carl Sauer, Yi-Fu Tuan, Paul Claval,
Anne Buttimer, Edward Relph, Roberto L. Corrêa, Zeni Rosendahl.
A Geografia Humanística ou Cultural procura valorizar a experiência do indivíduo ou
grupo, visando um meio para compreender o comportamento e as maneiras de sentir
das pessoas em relação aos seus lugares, ou seja, a cultura dos grupos sociais.
Para cada indivíduo, para cada grupo humano, existe uma visão diferente do mundo,
ou seja, cada grupo tem seu ponto de vista, criticando ou elogiando as condições
ambientais que, por sua vez, se expressa através das suas atitudes e valores para com o
ambiente. É o contexto pelo qual a pessoa valoriza e organiza o seu espaço e o seu
mundo, e nele se relaciona.
Os geógrafos culturais argumentam que sua abordagem merece o rótulo de "humanística",
pois estudam os aspectos do homem que são mais distintamente humanos: significações,
valores, metas e propósitos. (Entrikin, 1976, apud ROCHA, 2007).
Neste sentido, as categorias lugar e espaço ganham destaque. Lugar é aquele em
que o indivíduo se encontra ambientado e no qual está integrado, carrega
significância afetiva para uma pessoa ou grupo de pessoas.
O espaço envolve um complexo de ideias. A percepção visual, o tato, o movimento
e o pensamento se combinam para dar o sentido característico de espaço,
possibilitando a capacidade para reconhecer e estruturar a disposição dos objetos.
A integração espacial faz-se mais pela dimensão afetiva que pela métrica. Estar
junto, estar próximo, significa o relacionamento afetivo com outra pessoa ou com
outro lugar. Lugares e pessoas fisicamente distantes podem estar afetivamente
muito próximos.
O estudo do espaço é a análise dos sentimentos e ideias espaciais das pessoas e
grupos de pessoas. Valoriza-se o contexto ambiental e os aspectos que redundam
no encanto e na magia dos lugares, na sua personalidade e distinção. (MOURA
JUNIOR, 2014).
Para Claval (2002), a primeira fase da Geografia Cultural ocorre entre final
do século XIX e meados do século XX, a princípio na Alemanha e França e
posteriormente a partir de 1925 nos Estados Unidos. O segundo período nos
anos sessenta e setenta, relacionado ao tempo onde a geografia cultural
passou por reformulação na tentativa de uma formulação metodológica – a
Nova Geografia Cultural. A partir da década de 1970, é o período em que
Paul Claval (2002) destaca uma mudança significativa na Geografia Cultural,
em que ela deixa de ser tratada como um subdomínio da geografia, se
colocando no mesmo patamar que a Geografia Econômica e Geografia
Política, por exemplo (CORRÊA, 2017).
Corrêa (2017) ressalta que Geografia cultural não trata apenas sobre cultura,
mas busca tratar as espacialidades e o que advém dessa espacialidade como,
por exemplo: o território, a territorialidade, o espaço, o lugar, a paisagem.
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A vida quotidiana em uma aldeia africana na Bacia
do Congo.
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Para Speth (2011), Sauer tinha como base o historicismo, introduzindo na
geografia americana um sentido temporal relacionado ao homem e ao conceito
de cultura, influenciando, assim, o pensamento geográfico a distanciar-se da
explicação determinista: dando uma maior autenticação ao homem e sua relação
cultural com a natureza e as capacidades do mesmo de alterá-la. “A geografia
cultural se interessa, portanto, pelas obras humanas que se inscrevem na
superfície terrestre e imprimem uma expressão característica.” (SAUER, 2003,
p. 22). Segundo Corrêa (2003), as produções da escola de Berkeley, portanto
sauarianas – tratavam das sociedades tradicionais com pouca ênfase nas
sociedades urbano-industriais (CORRÊA, 2017).
Os trabalhos da escola de Sauer tratam sobretudo das sociedades dos etnólogos do
mundo norte-americano e das grandes civilizações tradicionais. Eles se ocupam,
sobretudo dos ameríndios e da América Latina, mas o Extremo Oriente, a Europa
e o mundo mediterrâneo não são negligenciados (CLAVAL, 2014, p. 39).
Mathewson e Seeman (2008) destacam que Sauer teve influência tanto dos
geógrafos Alemães como dos Franceses – influência esta que seus colegas e
mentores não possuiam. As leituras de Sauer apresentaram a ele o conceito de
paisagem cultural dos autores alemães e a abordagem histórico regional da escola
francesa. Sauer, então, incorporou o conceito de paisagem tornando-a palavra
chave em sua obra. Outro aspecto importante em Sauer e seu trabalho é o
rompimento com o determinismo ambiental, muito presente na geografia dos
Estados Unidos. Através da abordagem histórica, Sauer mostra entender dois
modelos de paisagem: a natural e a cultural. A paisagem natural, de acordo com
Mathewson e Seeman (2008), se relaciona a áreas anteriores à ação do homem e à
paisagem cultural. É a área geográfica que contêm, em seu último significado, as
obras do homem caracterizando a paisagem (Sauer, 1998). O autor ainda destaca
que a paisagem natural está sendo transformada pelo homem, pois através de sua
cultura há alteração no meio ou até mesmo sua destruição (CORRÊA, 2017).
É significativo destacar a análise de Ducan (1980), pois, para o autor, Sauer foi
uma figura hegemônica na geografia cultural americana, e também os principais
temas desse campo – ecologia cultural e a percepção da paisagem estiveram
presente em seu trabalho. Contudo, percebe que os geógrafos, através da
influência de antropólogos, aceitaram o conceito de cultura supra-orgânica, não
sabendo ao certo o quanto esse conceito afetou os alunos de Sauer.
“A cultura constitui-se assim um nível independente da realidade, externa ao
indivíduo, explicável por si própria, dentro de uma visão holística” (CORRÊA,
2001, p. 25). Para Ducan (2003), com isso, não se tem a necessidade do indivíduo
e seus processos psicológicos. O supra-orgânico estabelece que os fatos culturais
transcendem o indivíduo e molda as suas ações. De acordo com Corrêa (2001),
“Sauer teve influências da antropologia de Kroeber, ou seja, houve a influência do
supra-orgânico. [...] Entretanto, Sauer postumamente simplesmente definiu
cultura como um “modo de vida” (CORRÊA, 2017, p. 42-43).
Zanata (2009) aponta que a geografia cultural na década de quarenta tinha a paisagem
como meio de entender a cultura, através da transformação do homem e também a noção
de gênero de vida. De acordo com Claval (2014), a modernização acaba atingindo os
lugares e, com isso, uma certa uniformização dos utensílios e artefatos ocorrem, o que
acabou ocasionando a inadequação da análise do gênero de vida, ficando, assim,
inapropriado para o mundo urbano e industrializado. De certa forma, a Geografia cultural
entra em declínio. A abordagem dos geógrafos se baseava numa perspectiva positivista
ou naturalista, não se analisava as questões imateriais, psicológicas e mentais de uma
determinada cultura. A cultura nesse período foi entendida como material, tendo a técnica,
a paisagem e o gênero de vida como o método de análise cultural. As questões referentes
à representatividade relacionadas ao lugar não existiam nesta abordagem: não se
trabalhava com as questões ontológicas. No entanto, Sauer e a escola de Berkeley foram
importantes para o fortalecimento da Geografia Cultural, e são as influências que
ajudaram a constituir a base do que é hoje a Nova Geografia Cultural (CORRÊA, 2017).
NOVA GEOGRAFIA CULTURAL
Thompson (1978, apud Cosgrove 2003), adverte que um dos maiores desafios
do materialismo histórico é não cair em um idealismo ou materialismo
apequenado, mas sim trabalhar a dialética da cultura e natureza: o que acaba
inicialmente se esbarrando em obstáculos e equívocos (CORRÊA, 2017).
De acordo com Corrêa (2017), a visão de Gramsci é uma das formas do
marxismo de encarar a cultura. Contudo, na atualidade o trabalho de Hall e
seu grupo do Centro de Estudos Culturais Contemporâneos da Universidade
de Birmingham, traz contribuições em variados temas como os das minorias,
abordando: feminismo, agressões físicas, racismo, o jovem e suas subculturas,
entre outras abordagens.
Para Stuart Hall, “a cultura é o meio pelo qual as pessoas transformam o
fenômeno cotidiano do mundo material num mundo de símbolos, significativos,
ao qual dão sentido e atrelam valores.” (COSGROVE; JACKSON, 2003, p.
141). Constata-se, assim, que na abordagem cultural marxista se encontra essa
constante preocupação com o social, dando um olhar crítico às diversas questões,
sendo elas: de gênero, classe social, entre outras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS