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1.

A AUTO-AFIRMAÇÃO DA GEOGRAFIAS COMO CIÊNCIA


1.1. Originalidade do termo Geografia

Para Karl Ritter, um dos Geógrafos da Escola Geográfica Alemã ou Escola


Determinista, a Geografia é muito complexa e bastante abrangente, uma vez que está
envolvida em inúmeros assuntos humanos e naturais. A origem dessa ciência ocorreu na
Grécia Antiga, estudiosos gregos que viajavam para diversos pontos passaram a registar
tudo o que viam, com destaque para os recursos naturais e aspectos da cultura dos
povos.

Para grande parte da sociedade, a Geografia figura como uma disciplina didáctica que
integra o currículo escolar em todos os sistemas de ensino; considerando que essa
ciência é “decorativa”, isto é, os alunos são obrigados a decorar nomes de países, rios,
cidades, capitais, Estados, entre outros. O que não passa de uma conclusão errónea em
relação a essa importante ciência.

1.2. Geografia como ciência

Para ANDRADE (1987), a Geografia é uma ciência moderna, sistematizada enquanto


tal a partir do século XIX. Entretanto, não se pode dizer que antes disso ela não fosse
praticada. A expressão foi criada pelo filósofo Erastóstenes no século III a.C. Com o
tempo, essa ciência atravessou diferentes caminhos e teve diferentes definições.

1.3. Objecto de estudo da Geografia

Segundo BRANDÃO (2004), desde o seu surgimento, a Geografia preocupou-se em


estudar as relações entre o meio e os diferentes fenómenos físicos e humanos, tomando
em conta o carácter espacial. Embora existam diferenças no modo de encarar o objecto
de estudo desde a antiguidade até aos nossos dias, é consensual que o espaço é o objecto
de estudo da Geografia.

Para este autor, na antiguidade, o espaço geográfico era restrita zona mediterrânica e um
pouco as terras em redor, e era visto como palco de fenómenos que afectavam o dia-a-
dia do Homem. Havia a preocupação de localização absoluta dos fenómenos, mas esta
visão alterou-se com o tempo.

O desenvolvimento social e económico e o surgimento de novas correntes científicas e


filosóficas alteraram profundamente a concepção do espaço.
Actualmente, o espaço tem uma abordagem global em que há interacção entre
fenómenos físicos e humanos.

1.4. Quando a Geografia se auto afirma como ciência

A Geografia, ao fim do século XVIII, já apresentava as condições necessárias para se


emancipar, tornar-se ciência no sentido moderno. Podia compor seus elementos que
estavam espalhados nos mais diversos campos do conhecimento, e sistematizá-los.
Esses conhecimentos, muitos deles pertencentes a outras ciências, seriam tratados pela
Geografia de forma particular, depois de associados de maneira diferente, criou as
condições para uma descrição com bases mais científica da superfície terrestre
(SODRÉ, 1989, p. 29).

Segundo Ferreira e Simões (1994, p. 59), no séc. XIX, a Terra já estava toda conhecida.
A questão que começa a preocupar os geógrafos a partir de agora é a pergunta “O que
existe em tal lugar?”. Assim, passaram a se interessar e estudar dois problemas:

a) O estudo da diferenciação de espaços, e;


b) O estudo das relações homem-meio.

A geografia do século XIX vai desenvolver-se, inicialmente, com as grandes


contribuições de dois cientistas alemães – Alexander von Humboldt (1769-1859) e Karl
Ritter (1779-1859) serão considerados fundadores da Geografia, decorrente do caráter
sistemático e metodológico, que vão dar à geografia, possibilitando a mesma, ser
considerada uma ciência moderna.

1.5. Os métodos da Geografia

A partir de Humboldt e Ritter ficou estabelecida a metodologia da geografia descritiva,


empírica, observação, indutiva e de síntese. A influência de ambos foi, portanto,
decisiva para conferir à Geografia o seu verdadeiro carácter científico.

Segundo Moraes (1987, p. 48-49) a obra destes dois autores compõe a base da
Geografia Moderna Tradicional. Todos os trabalhos posteriores vão se remeter às
formulações de Humboldt e Ritter.

A Geografia de Ritter é regional e antropocêntrica, a de Humboldt busca abarcar todo o


Globo, uma geografia geral, sem privilegiar o homem. Estes autores criam uma linha de
continuidade no pensamento geográfico, até então inexistente. Além disso, há de se
ressaltar o papel institucional, desempenhado por eles, na formação das cátedras dessa
disciplina, dando assim à Geografia uma cidadania académica. Entretanto, apesar deste
peso no pensamento geográfico, não deixam discípulos directos.

Isto é, não formam uma “escola geográfica”. Deixam uma influência geral, que será
resgatada por todas as “escolas” da Geografia Tradicional

1.6. O enquadramento da Geografia nas ciências

A Geografia estuda e partilha matérias que são do domínio de outras ciências naturais e
humanas ou sociais, das quais se diferencia pelos objectivos de estudo.

Deste modo, mantém relações estreitas com a Meteorologia para obter explicações
sobre o comportamento da atmosfera e dos climas; com a Biologia pode colher
informações sobre os seres vivos; com a Pedologia, obtém conteúdos sobre a origem
dos solos, sua composição e características; com a Hidrologia permite entender a génese
dos recursos hídricos, rios, lagos, mares, oceanos e a sua distribuição geográfica; e em
relação à Geologia, obtém conhecimentos sobre estruturas geológicas, rochas e relevo.

Com a Geografia Económica estabelece relações económicas que lhe fornecem matérias
para o seu estudo do ponto de vista espacial dos fenómenos económicos. Por isso, os
geógrafos falam simultaneamente da Geologia, da Sociologia, da Climatologia, da
Economia, da Demografia, da Hidrologia, da Etnologia e da Botânica, mas este facto
não retira à Geografia o seu carácter espacial e de síntese.

Ao geógrafo interessa saber onde se localizam os fenómenos, a razão da sua


localização; que consequências dai derivam e como pode encontrar, as alternativas
espaciais a ser tomadas nas decisões políticas e económico-sociais para o benefício da
humanidade.

Com vista a situar a Geografia no contexto das ciências, alguns geógrafos procuraram
explicar o âmbito específico desta ciência. Entre os estudiosos destacam-se Emmanuel
Kant, Carnap e A. Hettener.
Emmanuel Kant (1724-1804) atribuiu à Geografia o carácter de ciência ideográfica.
Segundo ele, tinha a tarefa de descrever os fenómenos, sem possibilidade de formular
leis.

Por sua vez, A. Hettener (1859-1941), da corrente corológica, preocupou-se pela


unidade da Geografia, mostrando que ao longo da sua história, esta ciência é geral e
com perspectiva regional ou corológica, que se preocupa em descrever e interpretar as
características diferentes da superfície da Terra. Ou seja, ciência da diferenciação
regional.

Resumindo a Geografia é uma ciência de síntese que estuda os fenómenos físicos e


humanos do ponto de vista espacial ou de distribuição territorial, tomando em conta as
diversas correlações com outras ciências.

Correntes científicas e filosóficas que alteraram profundamente a concepção do espaço


que actualmente tem uma abordagem global em que há interacção entre fenómenos
físicos e humanos rumo à construção do espaço global e ecologicamente harmónico.
2. Referências bibliográficas

ANDRADE, M. C. Geografia, ciência da sociedade: uma introdução à análise do


pensamento geográfico. São Paulo: Atlas, 1987.

BRANDÃO. Maria A. (Org.). Milton Santos e o Brasil: territórios, lugares e saber. São
Paulo, 2004.

FERREIRA, C. C.; SIMÕES, N. N. A evolução do pensamento geográfico. São Paulo:


Gradiva, 1994.

MORAES, A. C. R. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 1987.

SODRÉ, Nelson Werneck. Introdução à geografia: geografia e ideologia. Rio de


Janeiro: Vozes, 1989.

WILSON, Felisberto. G11 - Geografia 11ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores,

https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/o-que-geografia.htm, acessado em 29 de
Abril de 2023.

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