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1.

Factores que contribuem para a fraca qualidade do ensino nos vários subsistemas de
ensino em Moçambique

A questão da qualidade da educação tem sido objecto de abordagem, discussão e análise desde a
antiguidade. Por isso, o seu significado deve ser devidamente contextualizado, tendo em conta os
processos de desenvolvimento social, económico, cultural, político, etc., não existindo um
entendimento comum acerca do que é a qualidade de educação (DUARTE, et ali, 2012, p.18).

O conceito de “qualidade” aplicado à educação em geral, e ao ensino em particular, é desde


algum tempo uma preocupação mundial, que se transformou numa questão de debate a partir de
1940, quando surgiram oportunidades para a expansão da escolarização da população
(HOBSBAWM, 1995).

GUSMÃO (2010) afirma também que a crescente incidência da questão da qualidade nas
discussões e políticas públicas educacionais é um fenómeno de escala mundial. O problema da
qualidade de ensino ocorreu também no Reino Unido, na França e outras nações desenvolvidas.
Evidentemente, as sociedades políticas menos desenvolvidas contam com maiores problemas
sobre a qualidade de ensino. Não há uma definição universal de qualidade, mas existem algumas
bem simples, como a de José Francisco Soares, a do presidente do INEP no Brasil (2009). Para
ele, escola de qualidade é aquela em que os alunos aprendem o que precisam aprender e saem da
escola no tempo certo.

O sucesso educacional pode ser definido a partir da realização do direito à educação, previsto
constitucionalmente. A realização desse direito compreende o acesso à educação de qualidade,
que permite o desenvolvimento de habilidades e competências para a vida plena em sociedade
(aprendizagem – desempenho), a partir da progressão nas sucessivas etapas da escolarização
(fluxo – rendimento) conforme observado por RIBEIRO, et. al. (2014). No informe de
monitoramento da Educação para Todos no Mundo (UNESCO, 2005a), mencionou-se que uma
educação de qualidade deveria abarcar três dimensões fundamentais: o respeito aos direitos
humanos, a eqüidade e a pertinência. A essas dimensões haveria que acrescentar a relevância,
assim como duas de caráter operativo: eficácia e eficiência. (UNESCO, 2008).
A qualidade de ensino pressupõe um julgamento de mérito que se atribui tanto ao processo
quanto aos produtos decorrentes das ações desenvolvidas, o que, de certa maneira, implica um
juízo de valor. A qualidade de ensino tem que ser entendida como satisfazendo critérios bem
definidos que expressam: (1) definição de critérios pedagógicos e sociais; (2) explicação de
indicadores; (3) planificação e execução de estratégias de avaliação mais amplas para validação
ou não da qualidade desejada.
A introdução do currículo para o ensino básico em Moçambique em 2004, que incorporou como
“grande politica educativa” as pasagenssemi-automáticas (PSA), atiçou ainda mais o debate sobre
a qualidade de ensino em Moçambique, porque as crianças passaram a ser deixadas avançar paraa
classe ou serie seguinte sem habilidades e competências na leitura, escrita e cálculos, o que teria
chamado atenção dos pais e encarregados de educação a nível nacional.

Foi a partir dessa constatação que passou se a fazer um debate acirrado na televisão, radio, e
outros órgão de informação. Nos últimos tempos, a questão sobre a qualidade de ensino em
Moçambique passou a incomodar também os políticos moçambicanos e tem estado a ser debatido
na Assembleia da República (no Senado ou Câmara dos Deputados).
A melhoria da qualidade da educação em Moçambique, deve–se orientar por estratégias que
estabeleçam metas de desempenho, diminuição de numero de alunos nos estágios muito críticos
de aprendizagem, alcance de medidas mínimas satisfatórias na avaliação externa e regularização
de fluxo escolar, diminuindo a evasão, a distorção idade / série e o abandono. Por outo lado, a
melhoria da qualidade da educação passa por melhorar a gestão, isto é, por intervenção pública
estruturada, orientada para resultados claros, longe do voluntarismo pedagógico que pouco tem
contribuído para solucionar os principais dilemas da educação (ARAUJO & LUZIO, 2006, p.69).
Este problema também tem estado a ser objeto de pesquisa pelos acadêmicos e outros
interessados, em forma de relatórios, livros, mas de forma ainda tímida. Isso porque Moçambique
não dispõe de uma instituição crível, a nível do Estado ou independente como nos países da
OCDE e da América Latina, para avaliação do seu sistema de ensino e que pudesse oferecer aos
pesquisadores resultados divulgados em bancos de dados e disponíveis para todos.
2. Referências bibliográficas

ARAUJO, C.H.; LUZIO, N..; Educação: Uma Aposta no Futuro. Brasilia: Editora OXFAM,
Serie Mania da Educação, V.2,2006.

DUARTE,S. et al.; Progressão por Ciclos de Aprendizagem no Ensino Básico: Desafios na


Mudança de Paradigmas de Avaliação. Maputo: INDEe Editora Educar- UP, 2012.

GUSMÃO, J.B. B. de; Qualidade de Educação no Brasil: Consensos e Diversidade de


Significados, USP, Faculdade de Educação, (Dissertação de Mestrado), 2010, São Paulo.

UNESCO. Educação de qualidade para todos: um assunto de direitos humanos. 2. ed.


Brasília:UNESCO, 2008.

UNESCO. Modelos InnovadoresenlaFormación Inicial Docente. Estudio de casos de modelos


innovadoresenlaformación docente en América Latina y Europa: coordinado por F. Javier
Murillo. Santiago: Chile: UNESCO, 2005

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