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Os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio: uma análise dos desafios e

oportunidades do sistema de educação primário a nível dos serviços provinciais de


educação e desenvolvimento humano de Cabo Delgado (2018-2023)

The Millennium Development Goals: an analysis of the challenges and opportunities


of the primary education system in terms of provincial education and human
development services in Cabo Delgado (2018-2023)

Nelsa Maria Renato1

Resumo
O presente artigo visa analisar os desafios e oportunidades impostas pelos objectivos de desenvolvimento do milénio
ao sistema de educação primário a nível dos serviços provinciais de educação e desenvolvimento humano de Cabo
Delgado. A educação é uma actividade proposital direcionada para atingir determinados objectivos, como transmitir
conhecimentos ou promover habilidades e traços de carácter. Esses objectivos podem incluir o desenvolvimento da
compreensão, racionalidade, bondade e honestidade. Trata-se de um estudo que seguiu uma abordagem
qualitativa. Usou-se como técnica ou instrumentos de recolha de dados, a pesquisa bibliográfica e a pesquisa
documental. Os resultados obtidos nos dados analisados mostram que ainda existem muitos desafios por lidar a
nível dos serviços provinciais de educação e desenvolvimento humano de Cabo Delgado, de forma objectiva, refere-
se ao acesso à escola e o processo de aprendizagem., Modelo distorcido de formação de docentes, Falta de
investimentos generalizados e inovação, Desinteresse por parte dos alunos e Participação das famílias na vida
escolar.

Palavras-chave: Educação, Sistema de Educação e Objectivos do Milénio.

Abstrat
This article aims to analyze the challenges and opportunities imposed by the millennium development goals on the
primary education system at the level of provincial education and human development services in Cabo Delgado.
Education is a purposeful activity aimed at achieving certain goals, such as imparting knowledge or promoting skills
and character traits. These goals may include developing understanding, rationality, kindness and honesty. This is a
study that followed a qualitative approach. Bibliographic and documentary research was used as a technique or
instruments for data collection. The results obtained from the analyzed data show that there are still many
challenges to be dealt with at the level of the provincial services of education and human development of Cabo
Delgado, objectively, referring to access to school and the learning process., Distorted model of training of teachers,
Lack of widespread investment and innovation, Lack of interest on the part of students and Participation of families
in school life.

Keywords: Education, Education System and Millennium Goals.

1 Licenciada em Psicopedagogia e ensino de empreendedorismo pela Universidade Católica de Moçambique –


Faculdade de Gestão de Turismo e Informática. Email: Nelsarenato@gmail.com
Introdução
Apesar dos inúmeros caminhos sugeridos para a educação básica Moçambicana, o consenso que
emerge entre educadores, pais e estudantes é único: o sistema educacional do país está em crise.
De um dia para o outro, a educação em Moçambique passou a ser mediada pela tecnologia,
exigindo das escolas e da equipe pedagógica uma revisão e adequação urgente nos formatos que
garantem a aprendizagem assertiva dos estudantes.

Em setembro de 2000, líderes de 189 países se reuniram na sede da Organização das Nações
Unidas (ONU), em Nova Iorque, para adotar a Declaração do Milênio das Nações Unidas. Nesse
documento, as nações reiteram sua crença na organização e em um mundo mais pacífico,
próspero e justo. Além disso, listam os valores considerados fundamentais para o mundo no
século 21: Liberdade, Igualdade, Solidariedade, Tolerância, Respeito pela natureza e
Responsabilidade compartilhada. Entre os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, há um
total de 18 metas que devem ser alcançadas, em sua maioria, até 2015. Essas metas são
monitoradas e avaliadas através de 48 indicadores que utilizam dados de 1990 dos países como
linha de base. O ponto em analise neste artigo é referente a Educação básica de qualidade para
todos que consiste em garantir que, até 2015, todas as crianças, de ambos os sexos, terminem
um ciclo completo de ensino básico.

Já em 1975 o decreto nº12/75 definiu que a escolaridade primária era obrigatória, universal e
gratuita. O avanço do sistema fez-se sobretudo pelo forte aumento quantitativo dos que
frequentam o ensino básico, pelo alargamento do acesso ao ensino secundário e ao ensino
superior. Atualmente 70%da população em idade escolar frequenta a escola e pretende-se no
período de 2010 a 2015 alfabetizar um milhão de pessoas, alterando a atual taxa de
analfabetismo de 48,1% para 30% (ALI:2010).

O Ministério da Educação através do INDE tem levado a cabo estudos sobre a qualidade do
sistema educativo, nomeadamente implementando um Projeto de avaliação educacional-
assente na comparação do desempenho dos alunos em português, matemática e ciências da
natureza e na análise da situação profissional e condições de vida dos professores em distritos
das três regiões. Um desses estudos, levado a cabo em 1999 nas províncias de Maputo, Zambézia
e Cabo Delgado, evidenciou que mais de metade dos alunos da sexta classe -fim da primaria -não
alcançaram as competências básicas previstas nas três áreas disciplinares e os resultados
diminuíram de sul para norte.

O INDE apresentou desafios e razões explicativas para a diversidade dos resultados: a qualidade
dos professores, os recursos da escola nomeadamente a existência de carteiras, livros escolares
e giz (em 1999 nas províncias de Cabo Delgado e Zambézia somente 20% a 30% dos alunos se
sentavam em carteiras, enquanto em Maputo província e cidade acima dos 80% dos alunos
tinham carteiras), o uso em família da língua portuguesa.
Fundamentação teórica
Educação

Segundo Oliveira (2003) a Educação é o ato de educar, de instruir, é polidez, disciplinamento. No


seu sentido mais amplo, educação significa o meio em que os hábitos, costumes e valores de uma
comunidade são transferidos de uma geração para a geração seguinte.

Educação é uma prática social que visa ao desenvolvimento do ser humano, de suas
potencialidades, habilidades e competências. A educação, portanto, não se restringe à escola. A
educação é um direito de todos e visa ao pleno desenvolvimento humano por meio do processo
de ensino-aprendizagem. A educação é essencial para a formação do cidadão e transformação
da sociedade. Ela é a responsável pela multiplicação do conhecimento e pelo desenvolvimento
de habilidades úteis para a atuação do indivíduo em sua comunidade.

sistema de educação

de acordo com Castiano (2013) o sistema de educação são organizações complexas, instaladas
nos diferentes países, com o propósito de articular as diversas atividades voltadas para a
realização dos objetivos educativos das respectivas populações. Implicam, por via de regra, três
elementos: a) um conjunto de princípios, valores e finalidades que devem guiar as atividades
desenvolvidas; b) um ordenamento jurídico constituído pelas normas de funcionamento do
sistema que obrigam a todos os seus integrantes; c) uma rede de estabelecimentos de ensino
com os correspondentes órgãos de normatização, administração, controle, coordenação,
supervisão e avaliação.

O Sistema de Ensino constitui-se em um dispositivo pedagógico-administrativo e reúne alguns


produtos e serviços educacionais que incidem sobre todas as instâncias da organização escolar,
definindo os protocolos de seus diferentes processos e os procedimentos de seus agentes nos
âmbitos individual e corporativo. Com um sistema educacional, você tem agilidade, eficiência e
fidelização de alunos. Por trás dos bons resultados de uma escola de sucesso, há sempre uma
gestão organizada, sem perda de tempo e com foco na eficiência, na produtividade e no
engajamento com a comunidade escolar.

objectivos de desenvolvimento do milénio

Em Setembro de 2000, os dirigentes mundiais reunidos na Cimeira do Milénio reafirmaram as


suas obrigações comuns para com todas as pessoas do mundo, especialmente as mais
vulneráveis e, em particular, as crianças do mundo a quem pertence o futuro. Comprometeram-
se então a atingir um conjunto de objectivos específicos, os Objectivos de Desenvolvimento do
Milénio, que irão guiar os seus esforços colectivos nos próximos anos no que diz respeito ao
combate a pobreza e ao desenvolvimento sustentável.
Desta Declaração foram extraídos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs). Os
ODMs sintetizam os maiores desafios enfrentados pela humanidade e estabelecem metas para
os países: diminuírem a pobreza, em todas as suas dimensões, como renda, fome, doenças, falta
de moradia adequada, etc.; e garantir os direitos humanos fundamentais das pessoas, de acordo
com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, como o aceso a educação, saúde e segurança.

Ao adotar a Declaração do Milênio das Nações Unidas, os Estados-membro da ONU


comprometeram-se a uma parceria global inédita para alcançar esses objetivos em todo o
mundo. Esse compromisso envolve países desenvolvidos e em desenvolvimento - aos primeiros,
cabe apoiar os segundos.

Entre os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, há um total de 18 metas que devem ser
alcançadas, em sua maioria, até 2015. Essas metas são monitoradas e avaliadas através de 48
indicadores que utilizam dados de 1990 dos países como linha de base.

Metodologia
Para a realização deste artigo, optou-se pela pesquisa quantitativa porque “Pesquisa
quantitativa é a pesquisa científica na qual os resultados podem ser quantificados, diferindo
da pesquisa qualitativa. É fortemente influenciada pelo positivismo. Centrada na objetividade,
foca na análise de dados brutos, adotando instrumentos padronizados e neutros na recolha dos
dados, sendo geralmente constituída por amostras grandes e representativas da população, e
por isso os resultados são encarados como um retrato real de toda a população alvo da pesquisa”.
Para a recolha de informação optou-se a duas fontes que são a pesquisa bibliográfica e pesquisa
documental, que segundo Yin (2001) a etapa da colecta de dados, requer habilidades específicas
do pesquisador, treinamento e preparação, desenvolvimento de um roteiro e a condução de um
“estudo-piloto”.
De acordo com Michaliszyn e Tomasini (2005), a pesquisa bibliográfica tem por objectivo explicar
um problema a partir de obras de referências: livros, artigos científicos, documentos, etc. com
vista a dar suporte a todas as fases de pesquisa, pois, possibilita ao pesquisador consulta de obras
para a fundamentação teórica do estudo.
Na pesquisa documental são investigados documentos com o propósito de descrever e comparar
usos e costumes, tendências, diferenças e outras características. As bases documentais permitem
estudar tanto a realidade presente como o passado, com a pesquisa histórica (Cervo et al, 2007),
ou seja, na visão de Gil (2009) a pesquisa documental visa materiais que não recebem
tratamento. Optou-se pela pesquisa documental porque, na pesquisa documental são
investigados documentos com o propósito de descrever e comparar usos e costumes, tendências,
diferenças e outras características.
Para analisar a informação recolhida, optou-se pela análise de conteúdo, considerada como uma
das técnicas mais comuns nas investigações empíricas realizadas pelas diferentes ciências sociais
e humanas (Vala, 1986). A análise de conteúdo é uma técnica para ler e interpretar o conteúdo
de toda classe de documentos, que analisados adequadamente nos abrem as portas ao
conhecimento de aspectos e fenómenos da vida social de outro modo inacessíveis (Olabuenaga
& Ispizúa, 1989).

Apresentação, análise e discussão dos resultados


As possibilidades de Metodologias para o ensino remoto: Metodologias Activas e Aplicação

Definindo de uma forma directa que a metodologia activa possibilita ao aluno participar
ativamente do processo de aprendizagem. Consiste em um padrão de implantação e
desenvolvimento da aprendizagem; no uso de variadas ferramentas e plataformas da tecnologia
a serviço da educação, OLIVEIRA (2006). Contudo o professor tem um papel importante de
mediador e orientador deste processo, ele constrói etapas na busca da solução de problemas.
Para Freire (1998), o aluno necessita compreender-se como “sujeito também da produção do
saber”, e deve também perceber que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 2002, p.25).

O professor diante de um momento na quebra de paradigmas precisa buscar variados caminhos.


As possibilidades de construir conhecimento adaptando-se a uma forma diferente de ensinar
podem apontar várias maneiras de aplicar e compartilhar este conhecimento de forma prática.
Com a construção de um planejamento organizado e de objetivos definidos, uma configuração
diferenciada pode realizar uma aula criativa e inovadora. O modelo pedagógico da metodologia
ativa é o futuro do ensino escolar.

A sala invertida, o desenvolvimento de projetos, estudo de caso na solução de problemas, jogos


e interatividade entre pares ou em grupos definidos, todos possíveis de serem aplicados de
maneira engajadora. Assim, os alunos precisam estar engajados totalmente nesta proposta
porque sua participação e sua voz são importantes. Assim, no ambiente e hora escolhida, pode-
se realizar leituras, assistir vídeos, infográficos, podcasts, ler artigos, percebendo sozinho onde
tem dificuldades de entendimento. Vale ressaltar que os caminhos e trilhas são construídos
estrategicamente pelo professor, com grau de dificuldade progressivo, como por exemplo
questionários ou jogos avaliativos.

O desenvolvimento de projetos educativos com metodologias inovadoras, impõe a busca por


conhecimentos tecnológicos e propicia uma maneira diferente de ensinar. Propiciam aos
estudantes a alegria em aprender, falar em descobrir e a necessidade de construir e pesquisar
(OLIVEIRA, 2006). Podemos citar várias ferramentas digitais para o uso de metodologias ativas
como o Jamboard, Mentimeter, Dotstorming, Answergarden, Slido, Kahoot, Quizlet e também o
uso de variadas plataformas de Comunicação remota como o Telegram, Whatzap, Google Meet.
Os ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), que podem ser utilizados como Google Classroom,
Microsoft Teams, Moodle, Chamilo, Blackboard. Contudo é necessário que principalmente o
professor também adquira conhecimento para o uso de forma razoável e tranquila durante todo
o processo. Enfim, como educadores temos possibilidades quase infinitas a desbravar nesta era
tecnológica no ensino remoto.

Papel da sociedade civil na educação e na formação: desafios, potencialidades e contingências

Castiano, Ngoenha e Beithond (2012) consideram que existem no sistema educativo


moçambicano 4 grandes áreas problemáticas para as quais as soluções são difíceis de encontrar:
centralização versus descentralização da administração do sistema educativo; a extensão e a
qualidade do sistema; formação técnico-profissional e formação humanística geral e finalmente
uniformidade de um sistema nacional e valorização da diversidade cultural regional Podemos
falar na existência de uma visão sobre o que deve ser a educação mas as estratégias têm sido
difíceis de conceber e sobretudo de implementar.

A sociedade civil tem vindo a intervir de forma a ajudar a colmatar alguns dos problemas que
persistem no sistema de ensino. Considerando o ensino primário verifica-se um forte contributo
das ONG e das igrejas na criação de infraestruturas nomeadamente em meios rurais, no
fornecimento de recursos materiais e na formação de professores em institutos privados. Tem
vindo também a ser criada a rede de escolinhas vocacionadas para o pré-escolar, pretendendo o
Estado introduzir experimentalmente o pré-escolar em Maputo província, Gaza, Tete , Nampula
e Cabo Delgado, assente numa gestão comunitária.

No ensino técnico profissional, em pleno desenvolvimento atualmente, as expectativas em


relação à participação da sociedade civil vão desde a identificação de necessidades, à
disponibilização de recursos, à participação na lecionação, à assunção de estágios, avaliação de
alunos. Multiplicam-se as escolas profissionais e institutos médios privados. No ensino superior,
ao lado das instituições públicas, têm vindo a ser criados institutos e universidades resultantes
da iniciativa privada e do contributo das igrejas. A administração escolar considera relevante o
papel dos encarregados de educação no acompanhamento dos filhos e se o ensino primário
dispensa o pagamento de propinas o mesmo não acontece nos outros níveis de ensino.

Supervisão integrada na DPEDH de Cabo Delgado: desafios e perspectivas

Concordando com a perspectiva de Stones (1984), a supervisão deve ser entendida como uma
visão aprofundada de facto para promoção do que se pretende construir e neste caso particular
a garantia da melhoria da qualidade do PEA.

Todavia, a actividade de supervisão em qualquer vertente, não deve ser tomada como absoluta,
porque, tratando-se de uma acção dependente de circunstâncias como é o caso da supervisão
integrada na DPEDH de Cabo Delgado, que surge por causa da insuficiência de recursos para a
sua realização, ela permitiu inovações no que se refere ao envolvimento de técnicos de diversas
áreas para fazer uma supervisão pedagógica que comprometeu a qualidade do PEA, vejamos:
Nesta perspectiva, para o acompanhamento do professor em exercício em prol da melhoria do
PEA, a DPEDH de Cabo Delgado, optou por constituir equipas de supervisão compostas por
quatro (4) técnicos (1 Pedagógico, 1 Recursos Humanos, 1Planificação e 1 área financeira). Com
esta equipa mista, a supervisão pedagógica foi denominada por supervisão integrada em nome
do uso racional dos recursos e nova estratégia/inovação.

A supervisão integrada é incumbida de trazer tudo o que tiver a ver com todos os campos do
Sector da Educação, desde os Serviços Distritais de Educação, Juventude e Tecnologia (SDEJT) à
escola/sala de aula.

Indo concretamente para a supervisão integrada, os técnicos constituintes das equipas criadas
pela DPEDH de Cabo Delgado, são munidos de termos de referência previamente elaborados e
incumbidos a intervir em todas as áreas, daí, a observação de uma supervisão pedagógica
comprometida não só por insuficiência de tempo, mas também, pela necessidade de apoio
pedagógico que os professores necessitam de facto.

Os desafios no ensino básico no sistema nacional da educação moçambicana

O sector da Educação em Moçambique, particularmente do ensino básico, enfrenta vários


desafios, dentre os quais, melhorar a qualidade do ensino através do aumento das habilidades
de leitura, escrita e cálculo numérico nos ciclos iniciais para alcançar uma escolarização de 9 anos
no ensino básico, assegurando um equilíbrio entre a qualidade e a expansão do ensino. É neste
âmbito que se encontrou duas abordagens distintas, mas com o mesmo foco. A primeira
abordagem tem como objetivo buscar melhores estratégias para expandir o acesso quantitativo
do ensino básico. Esta visão tem como referência de partida uma expansão quantitativa de
infraestruturas escolares, inspirados no âmbito do plano de educação básica para todos.

De acordo com o programado nos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, todas as crianças


em idade escolar deveriam frequentar o ensino básico de qualidade, o que significa que
Moçambique deveria alcançar a escolaridade primária universal até 2015 (ONU, 2013, p. 14). A
universalização do ensino primário atingiu 80% de crianças em idade escolar, o que significa, em
termos práticos que, em cada 100 crianças moçambicanas em idade escolar, somente 80 crianças
são escolarizadas e as restantes não usufruem o direito à educação consagrado na constituição
de 2004. Não tendo alcançado os objetivos do milénio, quais seriam as razões que concorrem
para o não alcance dos mesmos? Apesar de mais de 6 milhões de alunos, dos 6 aos 12 anos,
estarem a frequentar o ensino primário, ainda há crianças em idade escolar que não frequentam
a escola (JORNAL O PAÍS, 2014, p. 12), Castiano e Ngoenha reafirmam esta tese, sustentando
que; o sistema formal de ensino não consegue absorver todas as crianças em idade escolar
deixando de fora cerca de 50% das crianças pois verifica-se ainda a insuficiência de
infraestruturas, o que constitui uma fonte permanente e sistémico de crescimento da população
analfabeta no país” (CASTIANO e NGOENHA, 2013, p. 173). E umas das razões (outra razão) a
situação da falta de infraestruturas, mas as autoridades estatais têm envidado esforços no
sentido de construir mais escolas e salas de aulas, o que possibilita o aumento de números de
alunos no sistema nacional de educação (SNE) e minimiza o problema da superlotação nas salas
de aulas, de forma a garantir que todas as crianças tenham a oportunidade de completar o ensino
primário.

De acordo com o Relatório de Desempenho do Sector da Educação publicado no Jornal “O País”,


para o ensino primário considerado prioritário pelo Governo, foram construídas nos últimos
cinco anos mais de 1.200 escolas do 1º grau. E no que refere-se ao acesso, o ensino básico do 1º
grau compreendia em 2010, um total de 10.444 escolas, frequentadas por 4.456.585 alunos. Em
2014, o número de escolas era de 11.742, sendo frequentadas por 4.857.259 alunos3 (JORNAL O
PAÍS, 2014 p. 4). No 2º grau do ensino básico, o número de instituições subiu 70% e atualmente
conta com um total de 5.086, contra as anteriores 2.999 (JORNAL O PAÍS, 2014 p. 2). Como
podemos ver nestes dados, existe uma desigualdade em termos de oferta de instalações de
ensino para acomodar os alunos que transitam o ensino primário do 1º grau para o ensino
primário do 2º grau.

Em 2012, o Instituto de Estudos Sociais e Económicos desenvolveu um estudo intitulado


“Moçambique e a Explosão Demográfica: Somos Muitos? Somos Poucos?” que faz uma análise
para aferir como é que o ritmo de crescimento populacional afecta o processo de
desenvolvimento socioeconómico do país. Neste estudo constatou-se que Moçambique tem um
ritmo de crescimento cerca de 2,5% por ano, que corresponde aproximadamente a 700 mil
pessoas (FRANCISCO, 2012, p. 57).

Portanto, anualmente o Estado consegue construir 14.0004 salas do EP e 200 para o ensino
secundário. O ritmo de crescimento da população constitui um risco inviabilizador do projeto
educativo porque não é acompanhado no sector da educação por medidas estruturais eficazes
em termos de construção de escolas e, por isso, cerca de 70 mil alunos estudam ao relento (céu
aberto ou ar livre) e, no Plano Económico Social 2015-2019 fez-se a previsão de a construir de
1.027 salas de aulas (MOÇAMBIQUE, 2015, p. 34). Esta medida prevista no Plano Económico
Social não resolve o problema da insuficiência de infraestruturas escolares.

Segundo o Relatório Anual do Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento, existem grandes disparidades no acesso do ensino primário entre as
diferentes províncias, derivadas das limitações de oferta de lugares no sistema (PNUD, 2000, p.
34).
Qualidade de ensino no ensino básico sistema de educação moçambicana a nível de DPEDH de
Cabo Delgado

A necessidade de melhorar a qualidade do ensino básico constitui atualmente o centro do debate


político e social, consequentemente um enorme desafio. A percepção da comunidade no geral é
que a qualidade oferecida nas escolas do ensino básico é fraca e o sector da educação tem
envidado esforços em busca de melhores estratégias para solucionar o problema.

No que concerne à melhoria da qualidade, as ações definidas no PEE 2012 incidem na


necessidade de: a) Continuar a produção e a distribuição do livro escolar, assegurando a sua
racionalização para a inclusão do livro no ensino bilingue, bem como de livros de leitura
complementar para estimular a cultura de leitura e compra de livros em braile para os deficientes
visuais; b) Dar continuidade a revisão do currículo, tendo em conta o reforço das áreas de leitura,
escrita e cálculo numérico em termos de competência definidas por ciclo de aprendizagem; c) A
prioridade do ensino primário é reformar a formação e capacitação de professores através da
introdução, com base num projeto-piloto do novo modelo de formação inicial dos professores,
garantindo uma componente prática na sala de aulas e a introdução de aspectos de gestão
escolar (MINED, 2012, p. 67-69).

Embora se tenham verificado progressos na distribuição de grandes quantidades de livro


(manuais didáticos) após a introdução do novo currículo do ensino básico em 2004, permanecem
ainda muitos constrangimentos. Os livros escolares fornecidos pelo Governo tendem a chegar
muito tarde devido à morosidade na logística de distribuição e transporte para zonas recônditas
e, são frequentes os desvios para o mercado informal. E, aliado a isso, verifica-se a falta de
capacidade de compra por parte dos pais e/ou encarregados de educação. O

s livros são fornecidos gratuitamente por ministério de educação para as crianças da 1ª a 7ª


séries com base na projeção do número de matrículas. De acordo com a UNICEF, em 2007, 53%
das crianças da 6ª séries tinham uso exclusivo de um livro de leitura e 14% partilhavam um livro
com um colega de turma, enquanto que 25% partilhavam um livro com dois ou mais colegas. Não
havia livros disponíveis em 8% das salas de aulas da 6ª série (UNICEF, 2011, p. 122).

No debate da qualidade coloca-se em questão primeiramente o desempenho e a qualificação do


professor. Observando a realidade, pode-se aferir, com base em juízos empíricos que, em muitas
escolas, principalmente nas zonas rurais, existe um grande número de professores sem formação
ou qualificação pedagógica mínima. Estes são colocados face aos alunos sem o auxílio necessário,
oferecendo uma qualidade de preparação de aulas nas séries iniciais muito fraca.

Nota-se nesta ordem de ideia e conforme Castiano e Ngoenha (2013), o enfoque do Governo era
mais ou menos economicista sobre a qualidade da educação7 O princípio fundamental da visão
economicista da educação é que quanto mais dinheiro investido nas atividades educativas,
melhor seria a qualidade dos serviços oferecidos.

Considerações finais
Perante cenário atual educacional de aulas remotas, não existe mais espaços para resistência a
adaptação às ferramentas tecnologias, tanto professores quanto alunos necessitam passar por
momentos de superação, rompimento de barreiras, dedicando-se à nova modalidade de ensino
que estará presente nos contextos de sala de aula.

O sistema de educação em Moçambique tem uma das suas características oferecer uma
formação muito genérica. Mas, em contrapartida, a estrutura social do mercado do emprego e
os imperativos do desenvolvimento socioeconómico exigem para que a educação esteja voltada
ao saber-fazer do que ao saber-conhecer, isso constitui um desafio, e não menos importante o
ensino básico tem outros desafios como: a insuficiência no provimento de professores;
inadaptação dos currículos às atuais necessidades do mercado de trabalho, e orçamentos
insuficientes, de desistência de alunos nas escolas. É preciso criar um sistema que não seja
discriminatória e nem elitista.

Mas, para tal dever haver maior capacidade de diálogo entre os agentes e atores do sistema
nacional de educação moçambicana e é preciso um ajustamento de políticas educativas e que o
compromisso com a massificação tem que continuar na pauta (política), sem descurar o
investimento no ensino básico que pode possibilitar acesso epistémico.

Referências bibliográficas
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