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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, LETRAS, ARTES, CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS


CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

RODRIGO ELIAS CARDOSO

POR UMA GEOGRAFIA NOVA:


DA CRÍTICA DA GEOGRAFIA A UMA GEOGRAFIA
CRÍTICA.

UBERABA – MG
2016
RESENHA

SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova: da crítica da Geografia a uma


Geografia Crítica. Editora da Universidade de São Paulo (Edusp), 2002.

Rodrigo Elias Cardoso1

Escrito por Milton Santos: Por uma Geografia nova: da crítica da


Geografia a uma Geografia Crítica é um tratado que foi editado pela primeira vez em
1978, considerado por muitos, uma das obras mais completas sobre a geografia humana
crítica. O livro apesar de escrito no pretérito continua contemporaneamente atualizado.
A obra apresenta boa diagramação, contém 285 páginas sem ilustrações, traz uma
introdução seguida de dez capítulos que mostram as principais tendências da era digital
e de como podemos equilibrar a interação seres humanos e máquinas.
Santos pretende com este volume problematizar o que impedem a
reestruturação geográfica para um víeis social mais amplo e edificante.
O tratado fomenta uma reestruturação crítica e analítica da Geografia e
sugere uma nova ótica de pensar e fazer a ciência na atualidade.
Desta feita, Santos trabalha com alguns conceitos geográficos, os quais são a
muito avaliados primordiais para o juízo do espaço em sua condição estrutural, entre
eles conta-se; forma, função, estrutura, processo e seus covalentes assuntos como
Prática, Teoria, Técnica e Método, sempre necessários nos processos de análises.
O livro pode ser estruturado ou subdividido em três partes básicas; sendo a
primeira A Crítica da Geografia, onde o autor afirma que a Geografia não se
desenvolveu mais, devido a sua tenra idade e as condições sócio-político-econômicas
que eclodiu. Não obstante, Milton Santos lembra a correlação existente entre o
colonialismo e o desenvolvimento geográfico realizado no final do século XIX, que

1 Discente do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).


E-mail: rodrigoeliascardoso@gmail.com
abonou as novas aquisições territoriais a favor dos interesses ideológicos do regime
imperialista dominante.
Conquanto ainda, dissertando o autor sobre a Geografia Colonial, o mesmo
critica a semelhança exagerada das ciências naturais bancada pela Geografia Humana e
salienta essa condição como um dos motivos de sua insuficiência enquanto ciência,
desde que segundo o autor, não se pode esperar comportamento semelhante ao dos seres
vivos elementares os trejeitos das coletividades humanas.
Eis que, os fatos observados pela historicidade nunca se realinham da
mesma forma, as correlações entre os grupos tem uma variação temporal e as condições
resolutivas se fazem a partir das casualidades. Não obstante, seria um deslize grave,
pensar que o arranjado no cotidiano seria expressamente idêntico ao já vivido
historicamente. Observando desde os geógrafos clássicos e seus anseios científicos,
passando pela “New Geography” 2, até o que fez da Geografia a “Viúva do Espaço”
(SANTOS, 2002, p. 119).
[...]o autor pretende uma análise pelas diferentes correntes do
pensamento geográfico, partindo dos fundadores clássicos e suas
pretensões científicas, passando pela “New Geography”, até chegar à
crise que fez da Geografia a “Viúva do Espaço”. A começar pela
Geografia Colonial, o autor, citando Freeman, lembra que este
considera que “existe mesmo uma relação entre a expansão geográfica
e a colonização”, sendo que até mesmo Vidal de la Blache às vezes
“deu a impressão de apreciar a obra colonizadora” (MOREIRA,
2016).

Santos desenvolve suas explicações a respeito da revolução quantitativa


sobrevinda das grandes mutações na ciência após a Segunda Grande Guerra, na qual
emergem novos desafios, novas necessidades, novas formas de pesquisa, novos objetos
e novos paradigmas.
Ainda que a contribuição quantitativa seja pouco útil, e ate mesmo maléfica.
É palpável que a melhoria do método não ocorre sem a melhoria teórica o que sem as
duas não há avanço científico. Conquanto a exatidão da elocução matemática tenha
proporcionado à Geografia o status científico almejado, tornou-se um erro grave o
2 O termo neogeografia tem sido usado pelo menos desde 1922. No início de 1950 em os EUA foi um
termo usado na sociologia da produção e do trabalho. O filósofo francês François Dagognet usou no
título de seu livro de 1977 Une Epistemologie de l'espace concret: Neo-geographie (FLANAGIN e
METZGER, 2008).
privilégio atribuído às técnicas por si mesmas. Segundo Milton Santos, o maior dúbio
da Geografia Teorética, foi o de “[...] considerar como um domínio teórico o que era
apenas um método e, além do mais, um método discutível” (SANTOS, 2002).
Ele ainda adverte que a Nova Geografia excomungou a condição social da
realização científica e expurgou de suas analises o local social e seu contexto
permanente dando o título de viúva do espaço a Geografia. Desta feita, o espaço
geográfico é estudado como se não fosse resultado de um processo onde o homem, a
produção e o tempo exercem o papel essencial, ou seja, ignora a dinâmica do espaço.
A geografia deixou de lado o campo da antropologia. Principalmente na
segunda metade do século XX, muitos estudos voltaram-se ao estudo da demografia de
animais e de plantas (SANTOS, 1988).
Quanto a Geografia da Percepção e do comportamento,
é enfática a crítica do autor, que refuta a análise psicológica
como um método único de pesquisa da realidade social. Para
ele, esta vertente confunde percepção individual com
conhecimento, uma vez que a simples apreensão dos objetos
por seus aspectos externos fornece apenas o que ele apresenta e
não o que representa. Nesse caso, a sociedade total, a dimensão
do trabalho e da produção é desconsiderada, somente a
percepção individual é valorizada (FÜHR, 2011).
Na segunda parte da obra sob o nome Geografia, Sociedade, Espaço, são
denotadas várias ensaios da geografia em busca da interdisciplinaridade e da certeza
quase que absoluta dos geógrafos em se trabalhar de forma interdisciplinar, mesmo que
na realidade isso não ocorra. Verissimamente nota-se, por exemplo, um grande número
de matérias ligadas ao social que averiguam o mesmo objeto de estudo desdenhado
umas as outras, orquestrando com seus próprios processos e criando sua própria
metodologia, muito distante de uma consistência comum. Todavia, à pregressa confusão
entre interdisciplinaridade e multidisciplinaridade é ainda latente. Entendamos que
quando se denota-se multidisciplinaridade está dizendo que o esboço de um fenômeno
determina uma colaboração de disciplinas diversas, mas isso não garante uma
uniformidade entre elas, desde que isso só seria alcançável por meio da
interdisciplinaridade, isto é, através de uma calcação entre estudos diversos correlatos a
um mesmo “sujet”. É forçoso inferir que o adiantamento de toda ciência sempre ocorre
nos confins de disciplinas que se unem, para consentir e refletir interpretações
complementares da realidade humana. Milton Santos predispõe em forma coadunante a
perspectiva de espaço como fator na modalidade do capital e a relativa e sua totalidade
em relação ao social, mostrou ainda a correlação ao “Tempo Espacial” (SANTOS,
2002, p 258).
A inflexão dialética é o movimento de diversificação da
natureza, processo mediante o qual a natureza se renova pela
modificação dos seus aspectos, renovando sua identidade, e à
qual o homem superpõe a divisão do trabalho (natureza natural
e natureza socializada do livro de 1978, reinventadas no de
1996). A totalidade tão buscada pelo geógrafo é não mais então
que uma dialética de diversidade-unidade, onde cada modo de
diversificação sucede um outro modo de diversificação, a
diversidade se resolvendo na unidade e a unidade se reabrindo
na diversidade, numa dialética de trocas de posição constantes
sobre a qual a ação humana intervém e cujo resultado é o lugar.
(MOREIRA, 2016)

Na terceira e última parte, com título Por uma geografia crítica, Milton Santos
coloca-se como profeta e inicia a defensoria da ideia Paradigmática da Natureza e sua
relação Ideológica com a geografia, reserva ainda a discussão sobre a Geografia Crítica
e exora a criação de um espaço como banjo vital e não uma mercadoria trabalhada por
outra, o homem artificializado. Milton Santos comenta que toda a teoria revolucionária
traz a condição de paradigma e a natureza de seus paradigmas, comenta ainda sobre
espaço total de nossos dias, onde a produção do espaço necessário a universalidade da
economia de espaço. Toda a sua inter-relação com a perversa universalização, o papel
da estrutura interna totalizando a dialética do espaço.
Santos denota o espaço como fato social sendo exclusivamente produto da ação
humana, mas também como fator, através de suas rugosidades. As rugosidades são o
espaço construído, o tempo da historicidade que se demudou em paisagem,
incorporando-se ao espaço. Contudo, esse prosélito torna-se testemunho de um
momento no mundo, o que leva o autor a reafirmar que o espaço não pode ser apenas
um reflexo dos fatos atuais mas a soma dos fatos decorridos pelo tempo. Milton Santos
traz então para a geografia o extrato da ideia de espaço tempo onde o espaço é
modificado através do tempo. Esta estrutura de interpretação do espaço, proposta por
ele, pretende desmistificar o espaço e encará-lo como uma condição social, portadora de
autorresolução no interior do todo e coparticipando de um desenrolar independente,
combinado e desigual com as outras estruturas. Para o autor, a Geografia tal como é
hoje, ajuda a reproduzir e a manter um saber ideológico, não presidido pelo interesse
social. Dessa forma, resta aos geógrafos apenas duas alternativas “Justificar a ordem
existente através do ocultamento das reais relações sociais no espaço ou analisar essas
relações, as contradições que elas encobrem, e as possibilidades de destruí-las”. É
notório que as condições atuais exigem a criação de novas bases de reconstrução de um
espaço geográfico que seja realmente espaço do homem e não o espaço a serviço do
capital e de alguns. Não obstante, essa nova proposta para ser aceita demanda coragem
para desvencilhar de velhos hábitos, conceitos e paradigmas incrustados pelo tempo,
que ainda são descontinuamente reproduzidos na atual Geografia. É visto que a cada
mudança tecnológica profunda, há uma mudança organizacional e social, surgem novas
percepções da realidade e novos desafios que exigem a formulação de novas teorias. Por
subsecutivo, cabe ressalvar que não é a teoria nova que renova os fatos, mas é a
ordenação dos fatos observados no espaço que juramenta a concepção de uma nova
conjetura. Assim sendo, na obra resenhada o espaço é adoto como objeto por
supremacia, sujeita a correlação espaço - tempo e a organização espacial desponta,
através dos andamentos fáticos, um circuito de estruturas espaciais no qual o valor
atinente de cada sito está sempre transformando no transcursar da historia.
Imediatamente, através do pensamento geográfico em tese evolutiva, o autor propôs
uma geografia nova, absorvida, principalmente com o cômodo da humanidade e de uma
ciência que seja influente em prol do restauro da decoro humano e da constituição de
um espaço fraterno.
Por fim, convém reforçar o mérito desse autor para a
ciência Geográfica em especial às suas profundas reflexões
sociais e à sua busca incessante em tentar transformar a
realidade cotidiana no mundo capitalista. A densidade das
análises presentes na obra “Por uma Geografia Nova” em
muito vem contribuir para os estudos geográficos e para um
novo perfil de pesquisador, mais preocupado com as
contradições socioespaciais. Não é por menos que Milton
Santos é considerado um dos fundadores da Geografia Crítica
(FÜHR, 2011).
O professor Milton Almeida dos Santos analisou, em sua obra Por Uma
Geografia Nova – da crítica da Geografia a uma Geografia Crítica, o andamento de
conflito por que passava a ciência geográfica, por meio do raciocínio crítico, numa
sugestão de uma percepção nova sobre como refletir e como desenrolar a Geografia
como ideia Por Uma Geografia Nova.
REFERÊNCIAS

DICIONÁRIO EDITORA DA LÍNGUA PORTUGUESA, Dicionário Porto Editora,


Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2016.
FLANAGIN, AJ; METZGER, MJ (2008). "A credibilidade da informação geográfica
voluntária". GeoJournal . 72: 137-148.
FÜHR, J OM, (2011), Resenha: Por uma Geografia nova, Perspectiva Geográfica.
UNIOESTE, V. 6, N. 7, 2011. ISSN-4801
MOREIRA, R. Ciências Humanas e Sociais - Por Uma Geografia Nova
<<http://ciencias-humanas-e-sociais.hi7.co/por-uma-geografia-nova-
56c6a67908140.html>>, HI7.co, Acesso: Visitado em 17 de Novembro de 2016.
SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado, fundamentos Teórico e metodológico
da geografia. Hucitec. São Paulo 1988
SANTOS, M. Por uma Geografia Nova: da crítica da Geografia a uma Geografia
Crítica. Editora da Universidade de São Paulo (Edusp), 2002.

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