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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Ambiente e Sociedade.

A FILOSOFIA DAS TÉCNICAS: o lugar da filosofia no


pensamento geográfico de Milton Santos.

Teófilo Otoni
2022

Milton Santos, por Saulo Nunes


UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI
Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Ambiente e Sociedade.

A FILOSOFIA DAS TÉCNICAS: o lugar da filosofia no pensamento geográfico de Milton Santos.

Linha de Pesquisa: Gestão e Sociedade


Sublinha de Pesquisa: Filosofia e Ética

Discente: Luiz Fernando Hollerbach


Orientador: Dr. Fran de Oliveira Alavina
Registro Projeto: 3992022

Teófilo Otoni
2022
• INTRODUÇÃO
O presente projeto é uma proposta multidisciplinar entre dois saberes: a Geografia e a Filosofia.
Esta investigação busca compreender os aspectos filosóficos existentes na obra de Milton Santos (1926-
2001), geógrafo baiano, de grande produção intelectual na sociedade brasileira.
Embora tenha expressão na imensa contribuição no aspecto geográfico, a produção de Milton
Santos apresentou aspectos filosóficos que necessitam de maiores estudos a fim de esclarecer e identificar
os pressupostos filosóficos existentes na sua produção acadêmica.
Portanto, buscaremos explorar as bases epistemológicas do pensamento de Milton Santos,
compreender quais as relações existentes entre a filosofia e a geografia na produção do espaço/tempo,
bem como entender como o autor pensa e afirma que o geógrafo é “um filósofo das técnicas”.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Milton Santos e os conceitos de espaço.
É, pois, da natureza das ciências a refutabilidade dos postulados estabelecidos. Isto posto, em linhas
exemplificativas, a geografia tradicional definiu e limitou o espaço ao aspecto material afastando, dessa
forma, as relações interpessoais que se dão no espaço. Sobre isso, comenta Corrêa (2001, p. 17) “a
abordagem espacial, associada à localização das atividades humanas e aos fluxos, era muito secundária
entre os geógrafos”. Desse modo, ao secundarizar as interações humanas, a geografia tradicional entregou
a significação de vazio existencial ao espaço. Em oposição ao hermetismo tradicional, postula Santos
(1978):
[...] O espaço por suas características e por seu funcionamento, pelo que
ele oferece a alguns e recusa a outros, pela seleção da localização feita
entre as atividades e entre os homens, é o resultado de uma práxis coletiva
que reproduz as relações sociais, [...] o espaço evolui pelo movimento da
sociedade total. (SANTOS, 1978, p. 171).
2. REFERENCIAL TEÓRICO

É possível entrever, por este autor, o espaço enquanto estrutura fluida que revela sua dinamicidade
por intermédio das interações humanas. Nesta ordem de ideias, as ações coletivas, no espaço,
materializam a geografia em estado de movimento. Ora, leituras geográficas herméticas reduzem o espaço
ao solo, ou mesmo à paisagem natural. Se, as categorias gravitam no âmbito universal; os conceitos
indicam o concreto material. Ao perceber os deveneris materiais conectos às ações humanas, tem-se “[...]
uma identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. E completa, ainda, que é a
base do trabalho, da residência, das trocas materiais e espirituais e da vida, sobre os quais ele influi”.
(SANTOS, 2002, p.96). Com efeito, o espaço geográfico é a possibilidade de sensação de pertença onde
os seres humanos se identificam e se humanizam.
2. REFERENCIAL TEÓRICO

Saquet e Silva (2008), ao analisarem a obra Por uma Geografia Nova – 1978, erigida por Milton
Santos, demonstram que o conceito de espaço é central; devendo ser compreendido enquanto conjunto de
formas representativas de relações sociais entre o passado e o presente onde se estruturam representações
por relações que estão acontecendo e manifestando-se por meio de processos e funções. O espaço, nesta
linha, é processo e imanência de fluxos sensíveis; jamais foi e será lugar vazio.
Em Santos (1978), o espaço é campo de forças cuja formação é desigual. Eis a razão pela qual a
evolução espacial não apresenta de igual forma em todos os lugares. Portanto, a unidade do espaço é
caracterizada em campo de conflitos permanentes. Deste modo, com o passar, o conceito de espaço passa
por evoluções decorrentes de suas transformações estudos.
O espaço deve ser considerado como uma totalidade, a exemplo da
própria sociedade que lhe dá vida (...) o espaço deve ser considerado
como um conjunto de funções e formas que se apresentam por processos
do passado e do presente (...) o espaço se define como um conjunto de
formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por
uma estrutura representada por relações sociais que se manifestam através
de processos e funções. (SANTOS, 1978, p. 122).
2. REFERENCIAL TEÓRICO

Para Brito et al (2019), o elemento central para a construção do pensamento social brasileiro,
proposto por Milton Santos, é a apreensão das categorias e, em centralidade, a socioespacial. Em suma, a
compreensão do pensamento brasileiro se dá pela dinâmica das relações sociais, no espaço, devendo, com
isso, colocar em atualização por novas leituras, o estatuto dos conceitos e categorias.

2.2 A Filosofia das Técnicas


Inicialmente, deve-se considerar que Santos (2004) postula como sendo essencial o estudo das
técnicas, deste modo:

É por demais sabido que a principal forma de relação entre o homem e a


natureza, ou melhor entre o homem e o meio é dada pela técnica. As
técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o
homem realiza sua vida, produz e ao mesmo tempo cria espaço.
(SANTOS, 2004, p. 29-48).
2. REFERENCIAL TEÓRICO

Morgado (2021), em seus estudos acerca da obra de Milton Santos, complemente que técnica e
informação são chaves para a mudança na atual fase de globalização para compreender o mundo
geográfico atual. Deste modo, importante destacar que a técnica permeia os trabalhos do homem, do
espaço e as compreensões que Milton Santos considera quando da análise do espaço.
Brito et al (2019), em suas considerações, percebe que a perquirição realizada por Milton Santos
sobre a construção de uma geografia crítica o leva a conceber por meio da mesma a “Filosofia das
Técnicas” que inclui uma relação dialética entre as ordens global e local.
Conforme Santos (2002) afirma, em relevo, que a história do meio geográfico é dividida em três
etapas: o meio natural, o meio técnico e o meio técnico-científico-informacional. Em outro ponto, o autor
revela essencialmente a psicosfera da técnica. Neste ponto, considera-se a psicosfera da técnica, estrutura
basilar deste projeto de pesquisa, como segue:
2. REFERENCIAL TEÓRICO

Essa psicosfera, tem uma base técnica, a produção, as condições de vida


das pessoas. Eu tive essa ideia da geografia como filosofia das técnicas há
35 anos. Mas esta elaboração só podia ser concreta e sistematizada num
livro com a globalização. É visível a insperabilidade do individual e do
universal, através do lugar e do mundo [...]”. (SANTOS, 1999, p. 5-6).

A essência da filosofia das técnicas proposta por Milton Santos encontra vigor em Morgado (2021)
ao perceber que ele (2000) refere-se à um sistema de objetos e sistema de ações, chamando-nos a atenção
para a contraposição do estatuto da dicotomia e afirmação da ordem da dialética. Com efeito, os sistemas
incluem-se reciprocamente e, também reciprocamente, modificam-se. Portanto, essencial a compreensão
desses sistemas de objetos e sistemas de ações, da técnica e do espaço para a análise e apreensão dos
conceitos e bases filosóficas propostas por Milton Santos. No deslinde destas ideias, elucida-se que, por
tais relações, se dão à interface entre a Geografia e a Filosofia para o desenvolvimento da proposta de
pesquisa apresentada.
3. OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Analisar as bases epistemológicas do pensamento de Milton Santos para a produção da Geografia
como Filosofia das Técnicas.
3.1 Objetivos Específicos:
• Identificar os pressupostos filosóficos no pensamento de Milton Santos;
• Verificar a relação espaço/tempo enquanto campo de imanência conceitual para a produção da
filosofia das técnicas;
• Compreender a natureza do espaço enquanto estatuto epistemológico para uma geografia filosófica.
4. HIPÓTESE
Ao aprofundar teoricamente a obra de Milton Santos, encontra-se a existência de elementos filosóficos
em sua geografia, assim sendo, busca-se com este projeto postular a seguinte hipótese interpretativa:
Quais as relações entre a filosofia e a geografia nas produções de Milton Santos para a possível
constituição da filosofia das técnicas, considerando as categorias de espaço/tempo?
5. JUSTIFICATIVA
Trata-se de uma proposta de pesquisa interdisciplinar que transita entre o pensamento geográfico
de Milton Santos e o saber filosófico, estando em consonância com a interdisciplinaridade proposta pelo
Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Tecnologia, Ambiente e Sociedade, ofertado pela
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – Campus do Mucuri.
Ademais, justifica-se também, o apresentado projeto, considerando a necessidade de investigar
elementos filosóficos na obra de Milton Santos, tendo em vista que este autor dedicou seu trabalho à
história do pensamento geográfico; outrossim há referências da filosofia das técnicas em seus tratados
geográficos.
Por último, há escassez de obras geográficas em apreensão filosófica, nesse sentido, deve-se
considerar que os seres sociais se constituem ontologicamente no espaço e no tempo, elementos estes
estudados enquanto objeto de uma geografia filosófica.
6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Trata-se de pesquisa de caráter bibliográfico que propõe uma análise crítica e em conformidade com
a hipótese de trabalho.
Partindo da estrutura bibliográfica, a segunda etapa do percurso metodológico é pautada pela análise
crítica do material.
Considerando a etapa analítico-crítica serão realizados estudos síncronos da obra de Milton Santos,
em conexão com os demais autores que dialogam com o tema, propostos na hipótese de trabalho.
7. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRITO et al. A formação socioespacial brasileira na visão de Milton Santos. Revista de Geografia, Recife, v.
26 nº 2, 2019.
CORRÊA, R. L. “Espaço: um conceito chave da geografia”. In: CASTRO, I. E. de; GOMES, P. C. da C. e
CORRÊA, R. L. (orgs). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro, Bertrand, 2001.
GRIM, F. C. A. Trajetória epistemológica de Milton Santos. Uma leitura a partir da centralidade da técnica, dos
diálogos com a economia política e da cidadania como práxis. 2012. 307 f. Tese. (Doutorado em Geografia
Humana). Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade
de São Paulo. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-26062012-143800/en.php
Acesso em 04/07/2022.
MORGADO, F. M. Um prólogo à filosofia das técnicas de Milton Santos. Revista Polemos, 2021. UNB.
Disponivel em: https://docplayer.com.br/211908614-Um-prologo-a-filosofia-das-tecnicas-de-milton-santos-a-
prologue-to-milton-santos-philosophy-of-techniques.html Acesso em 26/06/2022.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SANTOS, M. Por uma nova geografia. São Paulo: Hucitec, Edusp, 1978.
SANTOS, M. Espaço e Método. São Paulo, Nobel, 1985.
SANTOS, M. Entrevista. Revista Teoria & Debate. Fev/abr. 1999
SANTOS, M. La Natureza del Espacio, Técnica e Tempo. Razon y emoción. Trad. Maria Laura Silveira.
Barcelona: Editora Ariel, S. A, 2000
SANTOS, M. A natureza do espaço – técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo, Edusp, 2004.
SAQUET, M. A. SILVA, S. S. Milton Santos: concepções de geografia, espaço e território. Revista GEO
UERJ – Ano 10, v.2 n.18, 2008.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 24ª ed. rev. e atual. São Paulo:
Cortez, 2016.

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